quarta-feira, outubro 17, 2001

Dia 16/10/2001

Fechei o terceiro mês aqui na França... Fazendo um resumo desse tempo todo daqui, acho que eu estou gostando mesmo. Tirando que eu não estou exatamente no lugar que eu deveria estar no momento, e que não estou estudando nem trabalhando o tanto que a minha vida profissional mereceria, está tudo muito bem. Estou conhecendo lugares e pessoas que eu nunca imaginaria conhecer, e espero que isso ajude em alguma coisa o meu futuro. Se isso não ajudar, bem, eu acho que já valeu a pena. Todas essas experiências estão sendo ótimas, e não tenho nada do que reclamar na verdade. Além do dinheiro estar dando bem, mesmo com as compras esdrúxulas que a gente faz, ainda penso em viajar, e compro coisas que eu gosto... Provavelmente em alguma parte eu vou ter que entrar nas minhas reservas de dinheiro, principalmente na época de grandes viagens como essa que está próxima... Mas isso não tira nem um pouco o brilho das coisas que estão por acontecer. Por enquanto eu penso só em continuar mais ou menos na faculdade e aproveitando o tempo livre para aprender coisas por conta própria e conhecer o resto do pessoal... Tem muita gente legal, e muita gente interessada na cultura do Brasil da mesma maneira que eu estou interessado na cultura deles. Fiquei falando hoje com um marroquino que estuda com a gente lá, e ele ficou falando da cultura islâmica e um pouco do país dele... Provavelmente em alguma das minhas próximas viagens eu irei para lá de Marraquesh (de verdade dessa vez), e conhecer um pouco dos países lá... Pena que estamos em um momento tão ruim para fazer isso...

Hoje foi um dia todo cheio de aulas. O pouco tempo que eu tive fiquei lendo emails e aprendendo coisas novas. Além disso, fiquei lendo sites de viagens como o Fodors.com, que tem roteiros muito interessantes, e fiquei vendo sites de mapas para poder me achar por la... Porque provavelmente vou ser o que menos sabe do que esta acontecendo comigo durante a viagem... Eu sempre sou um pouco perdido mesmo, mas pelo menos sei me virar sozinho quando necessário. E dessa vez eu acho que a gente vai precisar de toda a atenção, principalmente nesses países bizarros do leste. Imagino o pessoal da Alemanha, que já foi para o Egito, e agora está indo para a Rússia... Esse pessoal é meio maluco.

Para variar, aprendi só o que eu já sei, e o que eu não sei das matérias ninguém da sala entendeu... para terem uma idéia, o cara colocou tanta notação de lógica no quadro que eu me perdia copiando... Isso não é necessariamente o que eu chamo de uma boa aula... Mas como aqui ninguém reclama da aula (simplesmente não vai mesmo) continua desse jeito. Pelo menos os trabalhos dirigidos são bem legais (apesar desse ficar me ensinando Java) e ainda por cima rola aquela social de ‘ajudar o próximo’ durante eles... Estou gostando bastante do pessoal...

Eu tou precisando estudar... Vou chegar em uma segunda à noite se tudo der certo nessa viagem, e, depois de ter matado 5 dias de aula, vou ter uma prova na quarta... Será que eu vou bem nessa porcaria? Eu diria que não, mas a matéria da prova é algo que eu deveria saber de cor e salteado... Só que eu não vou saber ainda enrolar o professor em Francês... Acho que vou até pedir mais tempo para fazer a prova, porque só o tempo normal não vai dar muito certo não...

Aliás, falando em francês, outra coisa que não lembrei de fazer ainda é ver quando começa o meu curso... As outras línguas já foram pro espaço há muito tempo, só que eu também não avisei para ninguém...

Amanhã vou ter que sair bem cedo para resolver os vários problemas que me afligem... Meu correio não chega, eu preciso de uma carta que deveria chegar do banco, e ainda preciso de várias roupas de frio que ficaram na outra residência... Espero que o pessoal de lá me deixe entrar, porque eu só tenho dois casacos aqui, sendo que nenhum deles é quente o suficiente para o frio que eu estou esperando passar esses dias...

Falando em frio, andar de bicicleta no frio da manhã aqui é mortal. Principalmente para a figurinha aqui, que não está muito bem... Minha garganta está uma porcaria nesse momento, mas ou eu vou de bicicleta ou eu vou a pé e demoro anos... Vou comprar uma luvinha e uma máscara, e usar o cachecol para ir até lá...

terça-feira, outubro 16, 2001

Dia 15/10/2001

Já é a segunda vez que isso me acontece. Ir até a faculdade bem de manhã (eu tenho que acordar 6 e meia para poder chegar na hora na faculdade) e quando chegar descobrir que tinham mudado a aula que eu deveria assistir por uma que eu não precisaria... tive que ficar na internet lendo sobre os países que eu vou visitar e checando/escrevendo emails... Não que isso seja ruim, mas eu não necessariamente precisaria acordar tão cedo para fazer tal coisa... Depois saí para comprar uma lanterna (depois de comprar só falta isso e um colchão inflável talvez) e voltei para o N7 para almoçar... A tarde foi reservada para ver de novo as coisas da viagem. Comprei uma passagem Praga-Viena e uma passagem Toulouse-Paris-Toulouse, tudo por 586 francos... Comprando por dólar eu consegui a melhor taxa possível de conversão: 7.28, sendo que as taxas das casas de câmbio e dos bancos não passao de 6.85... Bem, quem sou eu para reclamar disso com a SNCF... Acho que eles tão cheios de dinheiro e eles podem fazer essa camaradagem comigo. Depois fui ver o visto da Rep. Tcheca e recebi a maravilhosa notícia que eu devo ter que ir a Paris para buscar esse visto... Isso não é um problema, porque a gente passaria por lá já de qualquer maneira...

A última parada hoje foi no Carrefour. Eu fui atrás de uma bicicleta, porque meu passe de ônibus ilimitado acabava hoje... Finalmente eu encontrei uma bicicleta mais ou menos por 600 francos, que anda bem mas não tem muitas frescuras... Pelo menos agora não tenho que demorar 1 hora para ir para o centro, em esperar ônibus e pegar trânsito... O único problema da França nesse aspecto é que eu tive que comprar um anti-vol (uma corrente) de quase 100 francos, só para ter uma pequena esperança de que não me roubem... O número de roubos de bicicleta por aqui é assustador... Por outro lado, a quantidade de lugar para os ciclistas e o respeito dos motoristas para conosco é exemplar... Aliás, para voltar para casa do Carrefour eu tive que andar de bicicleta durante uma hora (Viu mãe! Tou fazendo exercício!), andando praticamente pela estrada (o Carrefour não fica exatamente em Toulouse...). E óbvio, não cheguei a tempo de pegar o restaurante universitário aberto, e cá estou eu de novo comendo pão com salame e queijo...

Outra coisa que eu notei hoje é o quanto eu estou me afastando de novo dos meus colegas franceses. Eles são obrigados a fazer todas as matérias, e geralmente não podem ficar matando muita aula... Eu estou fazendo exatamente o contrário. Só faço 2 das 5 matérias que estão sendo dadas nesse momento, e ainda por cima não faço línguas (estou saindo de Inglês, Alemão e Italiano... era muito), e provavelmente não devo pegar educação física obrigatória, já que cada falta me tira 2 pontos (de 20 no ano todo...). Aí eu fico meio isolado. Além disso, eu não tinha como voltar para casa tarde, e então não estava participando de nenhum clube...Quem sabe isso muda agora com eu tendo uma bicicleta? Daqui a pouco (mais de um mês na verdade) eu volto para minha casa de novo, e depois de entrar um pouco no ritmo talvez eu possa entrar em algum clube e tal... (já houve reunião do clube cozinha e ninguém me chamou, apesar de eu ter falado que eu queria participar...). Mas de qualquer forma eu tou viajando e conhecendo os países daqui... Quase todo mundo de Toulouse foi para Lyon nesse fim de semana, e eles gostaram muito de lá... Talvez eu vá lá em novembro, quem sabe...

Dia 14/10/2001

Mais um domingo que eu passo em Toulouse. Eu deixei de ir em uma caminhada nos Pirineus com o pessoal do clube montanha, que estava saindo daqui 7 da manha (que cedo!) para poder dormir um pouco mais e usar o domingo para estudar (afinal, vou ter que matar algumas aulas para a minha viagem e vou ter uma prova logo depois, além de ter matado algumas já) e para dormir um pouco mais. Quem disse... 8 da manhã eu estava acordado e fiquei lendo até umas 11 e pouco, quando me deu sono de novo. Mas isso não durou muito. O Ivan bateu aqui para pedir amaciante de roupa (!!) e depois acabou que a gente foi almoçar lá no centro, em um lugar que a gente come até dizer chega por 36 francos... É caro relacionado com o restaurante universitário, mas é o único lugar que eu posso comer razoavelmente bem nos fins de semana aqui (os restaurantes universitários estão fechados, e sem cozinha...). Depois fomos visitar o museu dos Augustins, que fica lá no centro. A entrada é grátis para estudantes. Lá era um antigo mosteiro, com uma igreja enorme dentro dele (com o órgão tradicional) e com muitas esculturas da época romana, incluindo estátuas e colunas com motivos bíblicos. Além disso eles têm uma grande coleção de pinturas também baseadas em histórias da Bíblia e além disso há uma coleção de pinturas da Renascença... Passei umas boas horas lá vendo tudo isso... A história de Toulouse com os romanos é enorme pelo que pude ver por lá... Depois disso eu dei uma passadinha na catedral da cidade, a Catedral de Saint-Etienne, que é um ponto de passagem para uma das quatro rotas do caminho de Santiago de Compostela... Lá também foi realizada a missa de 7o dia do pessoal que morreu na explosão, e lá estavam o Chirac e o Jospin no dia... É uma catedral que tem a sua parte romana (já agora quase inexistente) e grande parte dela já é do período gótico. Eu tirei algumas fotos e depois passei para tirar fotos do monumento aos mortos nas duas guerras (que existe em praticamente todas as cidades da França).

Só restou a mim ir ao cinema, porque não estava com vontade de estudar mais. Mas, no caminho, passei por uma máquina que aluga filmes automaticamente (só colocar o cartão do banco) e peguei um dvd. Tem alguma coisa errada com essa porcaria de Windows e o som ficou muito ruim, mas eu vi o filme de qualquer jeito (vi ‘Meet My Parents’ em inglês mesmo porque a dublagem era muito ruim). Depois tive que ir devolve-lo de bicicleta (eles cobram 10F por 6 horas de aluguel para quem não é sócio...) num frio que não é muito agradável... Valeu a pena pelo menos...

Agora estou aqui, sem muito o que fazer, olhando umas cópias que eu tirei da matéria de sistemas operacionais... Não sei que tipo de prova eu devo fazer dessa porcaria... Acho que vou ficar estudando outras coisas que não essas para a faculdade... E ficar ouvindo música também que eu ganho mais.

Dia 13/10/2001

Hoje eu notei o quanto eu fui sábio em não ter ido viajar... Estava precisando mesmo dar uma descansada... Acordei até meio cedo para ir até o Carrefour e lojas de esporte do lado procurar barraca para utilizar na viagem (e economizar alguns dias de hospedagem) e na volta estava quase apagando de tanto sono... Comprei uma barraca de 2 pessoas por 250 francos (alias, muito boa também). Chegando ao centro depois de uma viagem de 1 hora (como os Carrefour aqui são longe da cidade!) vi que o fim de semana em Toulouse é um caos. Não dá quase para andar na rua de tanta gente, e ainda por cima hoje tinha a visita do nosso amado Chirac que veio para uma reunião sobre a explosão aqui em Toulouse... Tava uma bagunça, e tive que andar pra caramba para pegar o ônibus que vinha para cá... Cheguei, e caí na cama... Acordei agora há pouco, e tou aqui relaxando... Daqui a pouco vou ter que começar a estudar, porque vou ter uma prova logo depois da semana que a gente vai estar viajando, e como eu vou matar muita aula... Melhor prevenir do que remediar...

Dia 12/10/2001

Hoje eu não tinha aula (era um dos motivos pelos quais eu queria viajar) e então aproveitamos para ficar a manhã inteira vendo negócios da viagem. Compramos o passe de ônibus que dava direito a vários trechos de ônibus: Paris-Praga, depois mais trechos entre os países que a gente vai visitar, e depois AlgumLugar-Paris, para depois voltarmos para cá. Depois fomos ver passagens de trem entre os países que não são cobertos por esse passe e também a passagem de Toulouse-Paris (porque o ônibus saindo de Paris nos dá mais opções de dias e horário). Depois disso fomos tirar xerox de documentos e leva-los (pagando mais um pouco também) para tirar os vistos para a Rep. Tcheca (droga de país que ainda pede essas porcarias). Esse visto é um dos maiores motivos de preocupação, porque ele tem que chegar até segunda-feira antes da nossa viagem (viajamos na terça-feira 23), porque senão a gente está um pouco perdido...

Além do visto, fomos alugar o carro na Áustria e na Hungria (que são dois lugares onde a gente quer visitar mais cidades, e passagens de trem não ficam muito em conta se forem pagas separadamente). O Ivan também aproveitou para reservar o hotel para o ano-novo em Paris (só eu que não sei o que eu vou fazer no natal/ano-novo! Buaaaa)... Nisso tudo que a gente fez hoje foram 2300 francos... Ainda depois fui ver um mochilão para mim (que eu acho que vou precisar para uma viagem desse tamanho) e gastei mais 600 francos... Somando tudo, foi quase meia bolsa gasta só com isso hehe.

À noite fomos ver ‘Good Will Hunting’ na casa de um alemão amigo nosso que mora perto da faculdade, e ficamos bebendo algumas coisas... eu tentei voltar para casa antes do último ônibus, mas ele nunca apareceu... Fiquei esperando quase meia hora, e como ele não vinha, tive que andar até aqui em casa... E não é uma caminhada pequena não... Daqui a pouco eu desisto de sair de vez de casa, principalmente quando meu passe de ônibus ilimitado acabar...

Dia 11/10/2001

Hoje foi um dia que começou com uma notícia muito boa logo depois da minha aula (que eu matei porque tinha chegado atrasado e usei esse tempo para ficar mandando as minhas fotos). Tirei um extrato da minha conta e vi que tinham debitado 2100 francos do carro que eu aluguei em Strasbourg, ao invés de ser 970 francos, o preço que haviam me dado. O Azzolin me liga logo depois para dizer a mesma coisa, porque a conta tinha chegado na casa dele. Eu precisava da conta para ligar para Strasbourg e saber o que tinha acontecido... Aí fiquei o dia inteiro por conta disso e por conta do visto para a República Tcheca e planejamento da viagem... Acabei desistindo de ir para Grenoble+Lyon também... Finalmente consegui falar com o pessoal da Avis e eles disseram que vão resolver o problema, colocando o dinheiro de volta na minha conta (vamos ver...). Além disso, tive que ir suspender minha linha telefônica (que está sendo de graça para os atingidos pela explosão) e vi a conta... 670 francos... impressionante o que a gente paga nessa porcaria de país. Mais isso tudo que eu perdi nesse dia. O dinheiro na minha conta vai caindo em uma velocidade... Isso sem contar que eu não comecei a gastar o dinheiro para entrar nessa viagem maluca e tal... Imagina quando eu começar... Além disso, uma boa parte desse dinheiro da conta de telefone deve voltar para mim na próxima conta, mas ela não vai vir até janeiro do ano que vem... Por isso, estou contando por enquanto como dinheiro perdido.

Depois disso fomos ver preços de passagens lá na gare da Rep. Tcheca para Áustria, e outras coisas... Essa viagem vai sair bem cara mesmo... Espero que valha a pena pelo menos... Estou ansioso para chegar lá.

À noite o pessoal acabou saindo, mas não fui porque eu moro um pouco longe e tava com preguiça de ter que voltar andando em alguma parte da noite... Ficar em casa de vez em quando é muito bom...

Dia 10/10/2001

Aulas... E nada mais... Durante a semana aqui, principalmente quando não se tem muita vontade de participar dos clubes da galera fica uma coisa um pouco sem sentido. A princípio estou querendo viajar amanhã para Grenoble e Lyon, passar o fim de semana, e chegar aqui na segunda-feira de manhã... Amanhã devo comprar a passagem. Até fui à gare também, para saber o preço dessas passagens, além de também ter começado a planejar, juntamente com o Ivan e o Daniel, a nossa viagem de Toussaints, quando vamos ter uma semana de férias (e mais uns dias que a gente deve matar para aproveitar...). A viagem deve incluir República Tcheca, Áustria, Hungria e outro país, que não decidimos ainda (ou Polônia ou Croácia...). Vai ser uma viagem cara, pelos preços que pegamos lá (mesmo indo de ônibus e demorando anos, que é o mais barato), mas acho que é uma viagem que vale a pena, e que deve cortar esses países do leste europeu...

Dia 09/10/2001

Ah... finalmente pude dormir em uma cama... Saí apenas meio-dia para ir almoçar lá na faculdade, e poder entrar na internet um pouco antes de ir para a aula... Depois de uma aula chatinha (que eu não entendia nada, mas que no final dela já até estava explicando para os outros), eu voltei para a internet, e fiquei lá um pouco relaxando... Afinal, não tinha muito o que fazer depois de um fim de semana cansativo desses... Jantei sozinho em casa (jantar entre aspas, porque eu comi besteira só) para não ter que ficar andando de ônibus...

Dia 08/10/2001

Acordamos bem cedo, 6 da manhã, para tentar sair o mais cedo possível e dirigir até Strasbourg. Deveríamos chegar lá antes do meio-dia (óbvio, menos de 400 quilômetros, em uma autoroute que não tem limite de velocidade, e quando tem é de 120 km/h)... Não foi bem assim. O Fabiano dirigiu a primeira metade (porque eu estava morto) e eu dirigi a segunda, mas toda hora o trânsito era enorme e às vezes a gente até parava de tanta gente que tinha (claro! Obras! Em todo lugar do mundo tem essa porcaria e atrapalha minha vida). Fomos o mais rápido que pudemos, sem se arriscar (porque aí também não há sentido) e chegamos em Strasbourg um pouquinho antes de meio-dia... Só que a gente não sabia o caminho para ir para a Gare direto... Nos perdemos um pouquinho e pedimos ajuda a uma mulher que estava no carro do lado... Ela praticamente nos levou até a entrada que deveríamos pegar, e chegamos lá... 12:10.. Até pegar tudo, entregar o carro, chegar lá... Perdemos o trem obviamente. Tivemos que muda-lo de 12:12 para as 6 da tarde... ou seja, várias horas para conhecer Strasbourg. No caso, fomos comer para ver se a chuva parava, mas não parou... Tive que andar em Strasbourg me molhando mesmo, já que não tinha nada o que fazer e não queria ficar na Gare dormindo (haveria tempo de sobra no trem).

Strasbourg é uma cidade com estilo alemã (ela foi alemã durante muitos anos), e as casinhas são bem do estilo... Eu tirei algumas fotos dessas casinhas... Além disso, a catedral é magnífica... Tem só 142 metros de altura, e o interior é impressionante também. Há lá um relógio astronômico que segundo a guia só atrasa no máximo 8 segundos por ano (se for verdade, nada mal para um relógio construído em 1842 hein!) e umas esculturas... O mais legal é ter que colocar um franco para iluminar o relógio por um tempo (senão fica tudo escuro) e a guia fez esse favor para a gente...

Depois de se molhar bastante vendo pracinhas de Strasbourg e o trenzinho interno (que aparece até em alguns cartões postais). Voltamos para a Gare para se esquentar um pouco e esperar o trem, comprar comida, essas coisas... Não deu tempo para tentar ir ao parlamento da União Européia (é, a sede é lá)...

Pegamos finalmente o trem, e fomos até Lyon sem problemas (dormindo muito bem, obrigado). Em Lyon, fizemos a farofada e depois, na hora de pegar o trem, encontramos outro brasileiro (ô praga!) que mora em Montpellier, e que estava indo para casa... Eu e o Coruja ficamos conversando com ele até a chegada lá (ou seja, não dormimos...), e até dormimos um pouco depois até a chegada aqui em Toulouse. Quase que perdemos a descida, de tanto que estávamos apagados (e até me deram o susto de novo dizendo que tínhamos perdido a descida)... Chegamos em Toulouse às 6 da manhã, e eram quase 7 quando eu cheguei em casa... Caí na cama, obviamente, sabendo que eu não teria a primeira aula na faculdade (aula só à tarde).

Dia 07/10/2001

É... A festa ainda não acabou. Só que como estava todo mundo morto, a galera só ficou pronta lá perto das duas horas. Onde fomos comer?? Acho que não é necessário dizer!

A festa hoje estava bem mais vazia (afinal, último dia, e segunda feira o pessoal trabalha), mas mesmo assim continuava divertida. Ao menos eu não era empurrado a cada dois segundos... Hoje eu liguei para uma amiga minha da Alemanha para que ela viesse se juntar ao nosso grupo... Eu falo com ela há um tempão e foi legal finalmente conhece-la... Aliás, meu inglês tá uma porcaria, eu não consigo falar 2 frases inteiras em inglês sem que eu tenha que falar alguma palavra ou expressão em francês... Só depois de algumas horas falando que eu comecei a relembrar...

Comprei finalmente duas camisetas da Oktoberfest (espero que elas durem esse ano todo!), e voltei para me juntar à galera. Aí acontece uma cena meio interessante... Começa a tocar a música ‘It’s raining man’, e o Eric, o cara mais certinho de todos que estava lá, depois de tomar um Mass, pega um canecão e quebra no chão, no meio do corredor da Oktoberfest (e grita, ‘ah! Essa música de novo!’). Nisso vêm 4 seguranças bizarros, agarram o cara, e começam a levar ele para fora, como se ele fosse o pior criminoso do mundo. Eu tive que ir atrás dele para tentar fazer com que eles não o machucassem, porque estava sinistro, mas os seguranças eram de uma delicadeza exemplar e quase que sobra para mim. Além disso, os caras quase meteram a porrada nele, e eu tive que ir lá para dizer que tudo estava ok... Mas eles não falavam inglês, e um dos brasileiros de Munique tiveram que intervir para falar algo em alemão com os seguranças... Foi até legal lembrando depois, mas na hora todo mundo fica nervoso e não sabe o que fazer...

Voltando à festa (agora sem muita gente porque tiveram que ir embora depois dessa), vimos o final dela. Ao som de We Are The Champions, todo mundo cantou, e as garçonetes subiram nas mesas, tiraram o avental que fazia parte da roupa tradicional, e ficaram rodando... Logo depois começaram a tocar pela última vez a música que todo bêbado alemão conhece segundo o pessoal daqui:

Eeeeey hey baby! Ha, Hu, I wanna knowwww if you’ll be my girl! (depois 1, 2, 3…8 em alemão que eu nao sei escrever).

E todos cantando muito alto! Foi muito legal a cena (claro que no meio tinha umas pessoas vomitando, particularmente um gordo careca que estava na mesa do lado, mas isso não atrapalhou em nada)... Eu tirei até uma foto com uma garçonete com roupas típicas lá, mas acabei perdendo a porcaria da foto. A gente resolveu ir lá para onde as garçonetes estavam, porque onde eu estava já começava a ficar vazio... Quando chegamos lá, adivinhem quem estava em cima das mesas? Os mesmos seguranças que tiraram o meu amigo da festa. E adivinhem o que eles fizeram? Quebraram canecas no chão! (Alguém vê algum problema nisso? Ou sou só eu?). Eles só pararam quando levaram um esporro de uma garçonete mais velha e de um outro segurança, que deve ter falado que a baderna iria começar (realmente, a quantidade de canecas que começaram a quebrar depois disso aumentou consideravelmente). E eles começaram uma outra moda também: guerra de cerveja. Depois que eles jogaram cerveja um no outro, todo mundo começou a jogar cerveja, e foi uma bagunça geral... Algumas garçonetes, que estavam no meio de todo mundo, ficaram totalmente encharcadas... Sobrou para mim também porque eu fui tirar foto de um amigo meu, e adivinhe em quem ele jogou cerveja? Isso até está registrado em uma foto...

Saindo de lá, encontramos o expulso da festa, e fomos indo para casa... No caminho passamos para pegar umas canecas que a galera tinha escondido lá fora (segundo eles, para completar a coleção...) e pegamos o metrô para ir para casa. Eu fiquei com fome essa noite, porque estava cansado a ponto de não conseguir andar até um McDonald’s para comer... De qualquer forma tinha uma fatia de pão ainda lá... Na próxima viagem vou lembrar de comprar comida para guardar em caso de emergência... Era para eu dormir cedo, pois a viagem iria começar bem cedo, mas só fui dormir umas 2 da manhã...

Dia 06/10/2001

Acho que todo mundo tirou o dia (menos eu) para dormir um pouco mais. O problema é que quando um acorda todos têm que acordar, dado que estão 6 no quarto... Qualquer um que começa a se mexer acorda os outros... Todo mundo acordou, mas demoramos para sair porque havia um grupo de pessoas (que ninguém conhecia diretamente) que havia dormido no apartamento comunitário do andar (há um apartamento só para a galera deixar algumas coisas e é de todo mundo do andar) e que queria usar o banheiro... Todo mundo tomou banho antes da gente e saiu. Foi meio abuso, mas como os 6 estavam com cara de zumbi, acho que não teve tanto problema... Depois disso, todo mundo limpinho, fomos para o centro da cidade comer alguma coisa antes de ir para a festa (de novo!). Descobri que na Alemanha existe o Burger King, coisa que não existe na França (aqui o concorrente do McDonalds é um tal de Quick, que seria o equivalente do Bob’s do Brasil). Como o sanduíche é bom! A carne realmente tem gosto de carne, e o resto é muito bom também! O único problema é pagar 10 reais por uma promoção... Lá ficamos discutindo diferenças entre Alemanha e França (afinal, eles já estão há quase um ano na Alemanha...), e descobrimos que muitas das coisas são iguais... Realmente, primeiro mundo não é tão diferente quanto a gente pensa, tirando que as pessoas tendem a ser mais educadas aqui (ou certinhas, o nome que preferir).

Com a barriga cheia era muito mais fácil de agüentar o pique de ficar horas em pé com uma caneca pesada e cheio de gente se encostando em você. Mas como tudo é festa, estava tranqüilo... Principalmente porque o grupo de brasileiros era grande... Era muito divertido, menos nas partes onde vinham os seguranças mal-encarados-que-não-sabem-inglês-e-são-umas-ladys-em-educação falar que a gente não poderia ficar no caminho das pessoas, e já vinham empurrando... mas não havia espaço em nenhum outro lugar... E como o grupo estava ali, eu não queria me separar dele só porque um guarda me mandou sair... Ainda por cima o pessoal de Rennes estava lá (a galera que ficou com a gente em La Rochelle), e foi muito legal o reencontro... Encontrei também amigos do Rio que estão na Alemanha... Foi uma confraternização muito maneira... Os brasileiros começaram a cantar nos intervalos que a bandinha dava ‘Eeeeeu, sou brasileirooooo, com muito orgulhoooo, com muito amoooooor’, e era alto pra caramba... Só que havia muitos italianos por lá, e eles começavam a gritar ‘Italia!’... Todos os brasileiros ficavam levantando os 4 dedinhos... Era muito engraçado. Era engraçado também ver os brasileiros que estavam bebendo um pouquinho demais perdendo a linha... E o Adler só tirando fotos (porque ele não bebe), e a gente rindo depois das caras do pessoal bêbado...

Antes de começarmos a beber também, eu fui visitar o parque... Fui à uma montanha russa de 5 loopings (de onde eu tirei algumas fotos, e duas fotos da festa vista de cima), e também em um brinquedo maluco, no qual a gente fica girando para todos os lados e nunca sabe para onde vão te puxar novamente... Realmente, esse foi bem pior que a montanha russa... Ainda bem que fazia um tempinho que eu havia comido. Nesse último nem dava para pensar em tirar fotos, dado à violência que eu era jogado de um lado para outro. De tão forte eu ficar segurando (não precisava, porque eu estava preso...) minhas mãos ficaram brancas...

Voltamos para casa apenas para nos arrumar de novo e sair para uma discoteca que ficava um pouco mais longe da residência (na verdade a gente teve que pegar um trenzinho para lá...), e chegamos lá um pouco tarde. Eu, como não poderia deixar de ser, tive a idéia brilhante de não levar um casaco (porque não estava frio... idiota) e fiquei passando frio o tempo todo. Nem todos conseguiram entrar lá (os seguranças se davam o direito de barrar as pessoas que não pareciam estar em um bom estado, i.e. bêbados quase caindo), mas mesmo assim foi uma noite muito engraçada. O esquema da discoteca era muito legal, com dois ambientes, sendo que um era enorme... Não estava tão cheia (isso não necessariamente é uma coisa ruim), e as bebidas eram bem baratas (e para entrar eram só 20 reais... uma pechincha! Hah). Teve um que foi mas não aproveitou nada, porque estava tão chapado que não conseguia ficar acordado... Então sentou em uma cadeira e dormiu a maior parte do tempo...

Na volta para casa o pessoal não quis pegar o trem (porque não havia um na próxima meia hora), e ainda resolveu comer alguma coisa no Burger King (como verão, essa ainda não foi a última vez no grande B.K.). Imaginem eu, morrendo de frio, 4 da manhã, andando nas ruas de Munique com mais um monte de brasileiro... É uma coisa para se lembrar para sempre. Ainda por cima tinha gente tão bêbada que ficava cansado e resolvia deitar no chão para ‘descansar’... Mas ao chegar ao Burger King que a gente viu que estávamos bem: havia ‘milhões’ de pessoas chapadas dormindo no chão perto do Burger King (que ficava na Gare de Munique)... Pedimos o sanduíche, e aí vimos o quanto a cultura é diferente em alguns aspectos. Como não havia mesa, tínhamos que pedir para alguém sair da mesa... Só que quase todas estavam ocupadas por pessoas dormindo, arrasadas... Mas foi só pedir que a galera que estava em uma das mesas saiu! Se fosse no Brasil, se não rolasse briga, ao menos rolaria aquele básico ‘Vai tomar no ...’. Isso foi uma das coisas mais impressionantes que eu já vi... Ainda passamos um tempinho conversando lá, e depois voltamos para casa para poder aproveitar depois o último dia da Oktober...

Dia 05/10/2001

Sexta-feira é um dia no qual as pessoas trabalhadoras acordam cedo e saem de casa. Isso aconteceu com o nosso anfitrião, que está no período de estágio deles. Mas com a gente não. Eu queria acordar mais cedo para ir visitar o castelo de Ludwig II, que é um castelo bem mais moderno do que visitamos até hoje, mas que é muito bonito, fica no meio de umas montanhas, e foi o castelo que inspirou a Disney para fazer o desenho da Branca de Neve (acho que é esse). Mas acho que era só eu que queria ir lá... Os outros só queriam saber da festa. Tudo bem então... Acordamos mais tarde para poder descansar um pouco da viagem... Logo depois resolvemos sair para conhecer a cidade de Munique, e também ir para a Oktoberfest logo depois. Quando chegamos na estação do metrô, encontramos uma outra brasileira, a Júlia, que mora em Viena mas estava ali com o mesmo grupo da CAPES para participar da festa. Ela acabou indo com a gente visitar os monumentos (apesar de já tê-los visitados...). De qualquer forma foi legal porque a gente não sabe nada de alemão e ela podia dar uma ajuda para a gente.

Munique é uma cidade com uma arquitetura diferente da França. Todos os monumentos não são grandiosos, mas não têm uma riqueza de detalhes como os daqui... E continuam sendo bonitos, fazer o quê... O único problema é que eu não conseguia guardar nome nenhum, dado que todos os nomes são em alemão... Como eles tem mais de 20 letras por nome de monumento, eu só sabia se era uma igreja, um teatro, uma estátua... Só vou descobrir onde eu estava quando eu comprar um guia de Munique (ou da Alemanha, que eu acho que vou precisar no futuro) e ver as fotos e os nomes relacionados. Até lá, vou deixar isso de lado. Acho que alemão vai ser uma das primeiras línguas que eu vou estudar quando eu acabar com francês... Eu ficava desesperado de andar em uma cidade na qual eu não entendia nem onde ficava a saída (depois eu vi que era algo tipo Ausgang). Comemos em uma pracinha na qual tinha uma feira (um pouco mais civilizada que nos outros lugares, porque as barraquinhas eram construídas e não montadas na hora) e lá tinha os pretzels, e uns sanduíches com frutos do mar... O mais legal era voltar a usar o real como moeda (um marco alemão é só um pouco maior que o real agora...), mas as coisas continuam sendo caras! Tentamos comprar depois um colchão inflável grande, mas não tivemos muita sorte. Só achamos um que custava 40 marcos (e que tinham achado já por 20 um bem parecido), e ainda por cima não poderíamos enche-lo com a boca (teríamos que comprar uma bombinha também). Acabamos desistindo e devolvemos (recebendo dinheiro de volta... que diferente).

Fomos para a Oktober sozinhos mesmo, já que os trabalhadores só iriam chegar bem mais tarde lá. Fomos ao barracão da cerveja Hacker, que parecia o mais animado (e onde conseguimos mesa também), e ficamos lá até receber uma ligação de um dos brasileiros-alemães, que iria nos encontrar na HB (a cervejaria de sempre). Ficamos lá até a festa quase acabar, e voltamos para casa. Dessa vez não encontramos muita gente (ficamos em um grupo com 7 pessoas...), mas quando chegamos em casa vimos que havia muita gente lá... O Coruja tinha chegado (sozinho, de trem), e já tinha pegado um lugar no quarto que a gente estava (afinal, o amigo é mais dele)... Só que jogamos ele para dormir na cozinha, já que eram 4 contra um. Ele teve que dormir no chão frio, coitado... Mas ele tinha bebido um pouquinho demais, e não acho que ele sentiu muita coisa enquanto dormia...

Antes de dormir ainda fomos para uma festa que estava tendo na própria residência dos estudantes... Há uma pequena discoteca em um dos prédios, e lá estavam todos os brasileiros que agüentaram alguma coisa depois de beber alguns litros de cerveja. Realmente eram muitos (mais de 50), e ainda havia uns grupos agregados que tinham chegado para dormir por lá também... Voltamos para casa meio tarde... Mas amanhã é sábado...

quinta-feira, outubro 11, 2001

Dia 04/10/2001

Dormir em trem não é uma das melhores experiências, mas posso dizer que é bem melhor que dormir no chão. Pelo menos minhas costas não ficam doendo tanto... Chegamos em Lyon bem cedinho, 5 da manhã, e continuamos a farofada que estávamos fazendo (tínhamos comprado um monte de pão, queijo, presunto, suco de laranja...). A próxima parada seria Strasbourg, e teríamos que trocar de trem, que demoraria mais 1 hora para sair... Nesse tempo rolou o meu café da manhã. O trem só chegou em Strasbourg 11:40 da manhã, e tivemos que esperar um pouquinho para pegar nosso carro. De qualquer forma, o preço dessa vez estava correto (ao menos o cara do balcão disse o preço bonitinho), mas pagamos mais 200 francos para que não tivéssemos que pagar franquia em caso de roubo ou acidente (4000 e 3000 francos respectivamente)... Não fica tão mais caro porque dividimos tudo por 4 pessoas...

Achamos o carro e fizemos nosso almoço, sempre comendo coisas muito saudáveis: pão, queijo, presunto, maionese, cebola... tomando suco de laranja industrializado... (como disse depois um cara da Alemanha: essa viagem não vai prestar...). Pegamos o superTwingo e fomos cruzar a fronteira. Strasbourg é uma cidade que fica exatamente na fronteira da França, e atravessando uma ponte chegamos à cidade irmã na Alemanha: Kehl. Depois disso, foi decidido (contra a minha vontade) de que na ida iríamos por uma estradinha ruim, pelo meio da Floresta Negra. Realmente a paisagem é muito bonita, mas só a quantidade de curvinhas me deixou cansado (era eu dirigindo...). As paisagens eram bem campestres, cheias de árvores tipo pinheiros, parecia cenas de cartão postal... Só que eu estava um pouco cansado da viagem de trem, e eu tinha que ficar prestando muita atenção por causa das curvas. Depois de passar através da floresta, foram só auto-estradas até Munique. As autoroutes alemãs longe de cidades não tem limite de velocidade, mas isso não queria dizer nada para o nosso superTwingo... ele não passava de 150 nem se a gente metesse o pé bem fundo... Bem, da próxima vez que formos para a Alemanha alugaremos um carro um pouco melhor... Eu troquei de lugar com alguém para poder dormir um pouco. Quando chegamos perto de Munique eu acordei para ajudar a galera a chegar na residência dos brasileiros... A gente se perdeu um pouco, tendo que dar umas paradas para perguntar às pessoas na rua (lembrem-se que a gente estava na Alemanha! E que nem todo mundo, ao contrário do que me disseram, fala inglês!), mas acabamos um ônibus que iria para o Studentstadt (residência deles), e o seguimos quase até lá... A primeira etapa estava vencida, mas ainda faltava outro problema: a gente não sabia onde eles moravam exatamente. São bilhões de apartamentos, e não sabíamos em qual dos prédios eles estariam. Entrei no primeiro prédio e logo vi que tinha uma lista de nomes de pessoas relacionando-os aos quartos... Notei alguns sobrenomes de brasileiros (entre eles o de um amigo meu lá da PUC), e fomos batendo no quarto deles. Nenhum sucesso. Ficamos sem saber muito o que fazer (além de ficar batendo na porta dos brasileiros dos outros prédios), e ficamos um pouco ali na frente. De repente a gente parou para escutar e viu que o cara do lado (uma figura de chapéu), que estava no celular, estava falando em português. Óbvio, brasileiro é praga. Esperando ele acabar de falar no telefone, chegou outro brasileiro, que era o Humberto da USP, que a Andréa já conhecia. Levamos a tralha para o quarto dele, e ficamos falando um pouco antes de ir para a Oktoberfest.

Chegamos na festa, e só lá que eu percebi o quão grande a festa é... É absurdo o tamanho do parque onde fica a festa... São vários barracões de cervejarias, cada um diferente do outro. Cada barracão tem várias mesas gigantes, onde a gente tem que estar para poder comprar as cervejas, que são servidas em uns canecões gigantes chamados Mass (na verdade esses dois ‘s’ é na verdade um beta, mas não consigo escrever isso aqui acho). Achamos facilmente lugares em uma mesa (afinal, é quinta-feira!! Pessoas trabalham!!) e pedimos um só para começar. Descobri também que é normal as pessoas tentarem roubar um canecão desses para levar de souvenir, e que tem uns guardas na porta que ficam lá especialmente para impedir isso... Mas toda a noite sai um monte de gente com essas canecas. Como eu queria uma de lembrança, logo no primeiro dia saí com uma, utilizando a técnica milenar do Humberto (que já tem a coleção completa das canecas de todas as cervejarias). Voltamos para casa cedo, porque amanhã tem mais...

Dia 03/10/2001

Hoje começa a empreitada da Oktoberfest 2001... Depois de algumas aulas, voltei para casa correndo (já era mais de 6 horas e o trem saía 11 e pouco), e fui jantar na brasserie que tem aqui na minha residência. Como já tinham dito para mim, a comida ali é até boa, mas todos os extras são pagos, contrastando com todos os outros restaurantes universitários, que dão uma entrada e uma sobremesa além do prato quente pelo mesmo preço. Já não havia mais tempo para ir até um outro restaurante, e então foi ali mesmo. Só é meio depressivo comer sozinho, mas acho que eu não tinha muita escolha no momento... Depois de comer foi só arrumar a mala, tomar um banho, e partir para a gare.

Não consigo chegar em cima da hora em uma partida de trem, com medo de perde-lo... Por isso, eu acabei indo um pouco cedo demais. Pegando um trem aqui 9 e pouco, cheguei na gare perto de 9:40... Tive que ficar esperando até 11 e pouquinho, que era quando o trem realmente saía. Os outros três do grupo (Azzolin, Fabiano e Andréa) chegaram 20 minutos antes do horário... Corajosos... (realmente eu não saberia o que fazer caso eles não tivessem chegado antes de o trem partir). Tentamos entrar no trem, e só aí descobrimos que o trem estava um pouquiiinho atrasado... Ele só chegou uma hora depois do horário marcado... Era um train de nuit, e como a tradição manda dormimos até chegar no destino final... Só rolou um stress porque o trem era dividido em duas partes. Em um dado momento na viagem, ele se separaria em dois e uma parte iria pra Itália enquanto a outra iria para Genebra (que era a parte que deveríamos estar... o problema é que não sabíamos disso). Eu resolvi pedir informação só bem mais tarde, mas demos sorte de estar na parte certa....

terça-feira, outubro 09, 2001

Dia 02/10/2001

Hoje, depois da aulinha de manhã, fui atrás de uma lenda... Disseram que talvez iria rolar para os ex-habitantes das residências que ficaram destruídas uma ajuda (em dinheiro). Fui até lá mas não foi bem assim... A gente preencheu um papel e uma assistente social iria examinar o caso e ver se íamos receber o dinheiro ou não... Dos 3 que foram hoje, só eu recebi um papel para ir em outro lugar, mas acho que também não vou receber... Os outros dois foram reconhecidos por uma mulher, que falou que eles já estavam em outra residência (verdade) e que a bolsa era suficiente (mais verdade ainda). Eu não levei esse fora, mas fico com medo de leva-lo depois de pegar o dinheiro... Acho que é pior desse jeito... Vou ver se amanhã eu tenho uma resposta definitiva... Um amigo nosso conseguiu ganhar 2000 francos de ajuda... Bem que ajudaria bastante, pagando minhas viagens...

À tarde fui até o INSA almoçar e pegar minhas últimas coisas (só tinha roupa suja praticamente lá), e também organizar a viagem para Munich, que iria ser amanhã. A gente resolveu ir de trem até Strasbourg (fronteira com a Alemanha) e lá pegar um carro para ir dirigindo até Munich, e assim ficar um pouco mais barato (as passagens de trem para fora da França são um pouco mais caras...). Depois de muito analisar (até demais, já estava me dando nos nervos...), resolvemos nós 3 que estávamos lá (eu, Azzolin e Fabiano) alugar um carro na própria SNCF (a empresa que cuida dos trens na França). O preço era muuuuito mais barato, parecia até irreal (depois de a gente ver o cara errando várias coisas por ser um estagiário, mais irreal ainda). Tão irreal que eu fui na empresa de aluguel de carros que tem convênio com a SNCF perguntar o preço do carro que eu tinha reservado, e a mulher me deu o dobro do preço... Tive que voltar para o guichê para discutir com outra mulher que havia algo errado... A mulher foi super simpática, mas de repente apareceu um chefe bigodudo que começou a ser grosso com a gente (talvez por a gente ser jovem e estudante e não saber muito francês). Eu, para não deixar por menos, utilizei a dica que todos tinham me dado: aumentei mais ainda a voz, e comecei a falar francês como eu nunca tinha falado, falando que eu queria ter certeza absoluta de que iria ter o preço reduzido quando eu chegasse em Strasbourg, e que queria que eles me dessem essa certeza. Eu discuti tanto com o cara que ele viu que estava errado, e foram consertar as coisas... Só nisso foi mais de uma hora, que a gente ficou lá parado esperando a mulher anular todas as passagens e fazer tudo de novo... As pessoas da fila estavam impacientes, principalmente porque francês tem mania de ir embora na hora certa e danem-se as pessoas que estavam na fila... 6 horas é 6 horas e não 6 e 15 e muito menos 6 e meia... Bem, tudo resolvido (claro que fui na Avis checar...), eu vim para casa lavar roupa. Finalmente consegui lavar roupa direito (nada demais, mas é que dessa vez realmente ficou limpinho) e agora não estou mais na situação ridícula de ter que reciclar camisetas porque não tinha mais nenhuma limpa... Essa vida de desabrigado é muito dura para mim hehe.

Vou viajar amanhã à noite, e devo visitar vários lugares perto de Munich se der tempo. Vou ter que matar mais aulas do que eu desejaria, mas fazer o que... Como todos os outros bolsistas dizem, a bolsa é para aproveitar... E além do mais, ficar nesse chambre aqui me deprime... Como eu sinto saudades da minha cozinha, do meu banheiro, do meu quarto iluminado... Que venha a Oktoberfest com suas cervejas de 1 litro.

Dia 01/10/2001

Uma segunda feira depois de um fim de semana cansativo não ajuda muito... Eu matei a primeira aula (que é sempre sobre coisas que eu já vi no Brasil, eu acho), e fui pela primeira vez à aula de inglês... Foi só simulação de testes, um saco. Descobri ainda que vou ter que fazer uma apresentação em dezembro sobre um assunto qualquer... não sei se vou realmente continuar essa porcaria de matéria, ainda mais por ser na segunda e por ter presença obrigatória... Vou ver o que eu posso fazer para tira-la... À tarde só tive uma aula idiota sobre Java (que eu já estou meio cansado de saber)... O legal foi só ficar falando com os outros estrangeiros, sacaneando a professora porque as traduções francesas para alguns termos de programação são ridículos... Por exemplo, uma coisa que se chama ‘signature’ em inglês foi traduzido para ‘en-tête’... Vai entender.

Hoje também peguei os resultados da prova de francês que eu fiz na semana passada para saber qual o nível que eu poderia pegar nos cursos... tive uma boa surpresa, com o nível máximo... Eu nem sei tanto francês assim, mas tou realmente tendo progressos enormes depois de ter começado a faculdade e depois de ser forçado a expressar minhas idéias na língua... Acho que só assim a gente aprende mesmo. Agora tenho que perder a preguiça e começar a escrever em francês para ver se eu pego fluência para escrever também...

Dia 30/09/2001

Hoje o dia foi praticamente acordar, comer, arrumar a casa (porque quem não arrumasse teria que pagar 200F de limpeza), arrumar as coisas e cair na piscina porque não deu tempo de mais nada... Aliás, é impressionante o que dois dias perto da praia causam: tinha praticamente um quilo de areia dentro da casa, sem contar com as coisas que a gente tinha deixado molhado. A gente pegou o ônibus umas 3 da tarde (claro que atrasamos por causa de uns babaquinhas que tinham resolvido ir para a praia) e chegou em Toulouse por volta de 7 e meia. No caminho passamos de novo pela frente da maldita usina AZF que explodiu aqui, e vimos o tamanho do estrago... É realmente impressionante, parece que foi bombardeada e destruída... Da fábrica não sobrou praticamente nada, só ferragens... Os prédios nos arredores foram praticamente destruídos também, sobrando só as paredes... as janelas foram embora. Passamos na frente da universidade de química que ficou inutilizada. Fico imaginando como ‘somente’ 29 pessoas morreram, tamanho é o estrago causado pela explosão... Pensando bem, a minha residência nem foi tão destruída assim...

Passei só no McDonalds antes para pegar uns hambúrgueres e vim direto para casa depois disso... Estava muito cansado, e precisando dormir na minha caminha (ao menos na minha nova caminha...).

Dia 29/09/2001

Acordei até meio cedo (por volta de 11 horas) para poder aproveitar o brunch que iria até 1 e meia. A comida estava muito boa, apesar de não ser alguma coisa que alimentava... Comi até quase morrer e fomos para a praia. Hoje seria o dia em que aconteceriam as competições de esporte entre os departamentos. Eu havia me inscrito em futebol, mas meu nome não estava lá. O futebol seria na praia, e apesar de eu não conseguir me mexer dado que eu havia comido muito, eu ainda fui lá e joguei uma partida. Logo no primeiro lance um francês cavalo conseguiu me dar uma canelada que deixou minha perna roxa... Não foi nem por isso que eu saí, mas porque o titular conseguiu chegar e pegou meu lugar... Aproveitei para ficar passeando e conversar com a galera. Também entrei na água super gelada do mar (que quase me fez virar um picolé), mas pelo menos não me destruí com as ondas igual aos franceses burros. Acho que a maioria não está acostumadas com as ‘pequenas’ ondinhas...

Voltando para casa (sozinho, porque os outros ficaram jogando futebol) eu notei uma movimentação diferente e perguntei o que era. Segundo os organizadores, iria começar a Vachette. Eu realmente não tinha nenhuma idéia do que era, e fui atrás de toda a galera para saber. Conversando com o pessoal da minha sala no caminho, eu não notei que a gente estava indo para um centro de shows. Chegando lá, vi uma arena, como se fosse para um rodeio. E era praticamente isso. Na verdade colocaram isso lá para que alguns malucos (que se inscreveram por livre e espontânea vontade). Foi muito engraçado ver os caras fugindo dos touros (com uns chifres gigantescos, mas sem ponta), e tentando completar as provas... Uma delas era para ficar estourando balões no chifre do touro, outra era para ficar desviando dele com a ajuda de um balanço no meio da arena, outra ainda era um futebol, tendo um touro no meio do campo... Era muito engraçado ver os pulos desesperados da galera, e enquanto isso ficar gritando ‘oeeeee!’. Os outros brasileiros só chegaram depois, e perderam as horas que todo mundo dentro da arena ia junto em cima do touro e o segurava, fazendo-o voltar para dentro da casinha... Eu só ficava com pena do touro, coitado, que não tinha nada a ver com isso. Até teve uns que ficaram machucados, mas só foram uns arranhões... Claro que eu nem pensei em me inscrever...

Depois disso teve a corrida dos 50 metros com pastis, que consistia em correr uma distância tomando mais rapidamente possível os bilhões de copos... A galera já chegava no final da corrida bêbada. Eu também resolvi só observar porque não estava a fim de cair inconsciente tão cedo... Ainda teria o jantar e a última festa... Não queria deixar de aproveitar. Aproveitei a corrida para ir tomar banho porque eu estava com frio depois de ter caído na piscina e não ter levado toalha (depois fui saber que perdi a final, na qual um cara caiu de bêbado na hora que foi pegar o último copo...). O jantar foi um pouco melhor, com pato e batatas assadas, e comi dois pratões de peão... Durante o jantar foi uma bagunça ainda maior que ontem, porque eles tavam dando o resultados dos jogos entre os departamentos, e como sempre (pelo menos eles falaram lá) os da informática perderam, sendo chamados de doigts carrés (dedos quadrados). A zoação foi muito grande, e os de Telecom ganharam... Bem, era só um jogo mesmo, mas a galera de cada departamento ficava gritando que nem uns desesperados... muito engraçado de qualquer maneira.

Ensinamos truco para um grupo de franceses (entre eles estava um franco-brasileiro que tinha morado no Brasil um tempinho, e que já tinha aprendido mas esquecido o truco). Eles foram com a gente para a festa. A noite foi muito engraçada hoje também, com o nosso grupo bebendo menos, mas com o resto da galera bebendo mais. A gente ficou até 5 da manhã com direito até a lambada brasileira (‘sooonhando se foi...’), rock e uma música que a gente sempre escuta aqui, que se chama Samba de Janeiro, que a gente fica que nem doido pulando... Em uma hora tocou Hot Stuff e praticamente todos os homens (aliás, só tinha homem, tava até meio gay...) tiraram a camisa... Bem, deixa isso para lá... A volta para casa dessa vez foi mais tranqüila, sem muitos problemas.

Dia 28/09/2001

O primeiro dia do WEI (weekend d’integration) começou bem cedo, porque obviamente eu tinha que acordar para arrumar minhas coisas. Eu não tenho muita coisa limpa (tenho que lavar roupa urgente!), e então foi fácil colocar as coisas na mochila. Como eu era o único no Chapou a ir para a excursão, fui direto para a faculdade, e encontrei os outros lá. Vi que eram bilhões de pessoas (9 ônibus cheinhos, e outros iriam de carro), e que a organização deveria ser imensa. A gente pegou o ônibus e foi para o destino desconhecido. O destino se chama Segnosse, que fica entre Bordeaux e a Espanha na praia (ou seja, Atlântico do lado errado). Eu estava morrendo de sono, mas o pessoal da organização não deixava ninguém dormir, e ficavam cantando umas músicas que depois que eu li a letra até eu fiquei vermelho de vergonha... Nem no Brasil a gente canta músicas com letras tão bizarras...

Chegando lá, fomos para o nosso bangalô. Colocamos os 5 brasileiros que tinham ido em um só bangalô, que pelo menos continuaria cheio de gente conhecida... As atividades no primeiro dia foram livres, tendo antes apenas um lanchinho (com pão, um negócio com arroz e atum, um patê e uma geléia e um queijinho) que foi nosso almoço, juntamente com uma bebida bizarra que eles chamam de jaja (com grenadine, vinho, limonada e outros bichos) que parece xarope pra tosse. Houve o discurso do Presidão (o presidente do BDE, chamado carinhosamente assim porque o presidente antigo se chamava Adão) e após quase todos foram para a praia. Os que ficaram jogaram futebol e tênis, e houve também umas partidas de paintball (das quais eu não pude participar porque tinha que ter me inscrito ainda em Toulouse, mas claro que perdi as inscrições...). Eu resolvi ir para a praia mesmo, para conhecer essa parte do Atlântico que eu não vi ainda. Posso garantir que eu fiquei surpreso quando eu vi um mar forte, cheio de ondas, com um monte de gente surfando, e eu não podendo entrar na água por duas razões: primeiro porque estava frio demais e eu não poderia me secar pois a única toalha que eu tinha teria que durar vários dias (ou seja, sem areia); segundo, porque o mar é mais perigoso ali do que no Brasil, por causa de formações de baïnes, que são uns bancos de areia bizarros. Eu, como não estava com vontade de pagar o maior mico na França e começar a pedir ajuda logo no primeiro dia, resolvi ficar na areia falando francês. Falando nisso, essa viagem foi um dos melhores laboratórios de francês já criados, a menos dos momentos onde nós brasileiros ficávamos juntos... Tínhamos que falar francês custe o que custar para que pudéssemos saber o que vinha depois...

Depois disso, voltei para casa para tomar um banho e participar do jantar que também estava incluído (tudo estava incluído... não gastei um franco lá, só na estrada para comprar um lanchinho). Tiver que comer um arroz com frutos do mar (que eu detesto) com frango (que eu já gosto mais um pouco). O jantar foi uma das coisas mais divertidas, porque todos começavam a cantar e a gritar (as mesmas musiquinhas do ônibus, mas agora com 500 pessoas). O barulho foi tanto que os funcionários do ‘hotel’ que a gente estava pediram para que parássemos... À noite houve um pequeno show, com uma banda muito da ruim que tocava músicas heavy metal. O show foi praticamente cortado no meio dado que a maioria das pessoas estava fora do salão de festas... Por isso, a soirée começou mais cedo, com o dj tomando conta... As bebidas eram totalmente liberada (depois dos nossos 400 francos...). O Tavares e o Coruja tomaram mais do que deveriam, e no final da noite estavam totalmente detonados. Eu estava levando todo mundo para casa (porque só eu conseguia pensar no caminho de casa...) e o Coruja fez o favor de parar para ficar discutindo os 3 a 0 do final da copa de 98 com um francês (o assunto mais comentado com a gente disparado) e se perdeu da gente. Meia hora depois que a gente estava bem instalado chega a figura gritando, mandando a gente tomar naquele lugar, falando que tinha se perdido na floresta, que não achava a casa... Ele ainda conseguiu cair, ralar o joelho (e destruir a calça) e as mãos... E em um dado momento, acho que ele pensou que estava em casa e jogou o óculos dele para trás. O problema era que ele estava na parte de cima do beliche (não me pergunte como ele conseguiu subir lá estando tão bêbado) e conseguiu quebrar uma das lentes... Eu ri muito, mas dormi bem, até os momentos em que o Coruja ficava falando enquanto dormia...

Ah, encontramos outro brasileiro que estuda na nossa escola. O perdido está na França já há uns 2 anos, e está fazendo normalmente a faculdade, como um outro francês qualquer. Pelo menos temos mais um para falar português aqui...

segunda-feira, outubro 01, 2001

Dia 27/09/2001

Estou na minha casa nova! Posso dizer que é quase uma porcaria, mas tem uma vantagem que não havia na casa dos meus amigos: estou sozinho. No mais, estou sem cozinha, sem banheiro nem ducha no quarto, sem luz (só tem uma luzinha mixuruca em cima da cama e um abajur). Resolvi acordar bem cedo para acabar com essa minha situação vergonhosa, em que todas as pessoas que estavam morando de favor já tinham se mudado (ou viajado), e eu ainda estava lá... Todo mundo meio que me apunhalou pelas costas, mas acho que não fizeram por mal. De qualquer forma, a Marie Christine, nossa responsável, foi super gentil, e me arranjou o quarto na hora (mesmo tendo vários estudantes querendo um quarto e não conseguindo). Vim direto para cá ver o meu quarto, depois fui depositar dinheiro, e fui para a faculdade ver em que ônibus eu estava.

Aliás, eu não falei que eu ia viajar. Todo ano, na minha faculdade (e eu fiquei sabendo que na maioria das faculdades), eles fazem um fim de semana de integração. O diretório de estudantes, que é bem forte por aqui, organiza esse fim de semana sempre em uma cidade com praia perto daqui, sendo que a cidade exata sempre é um segredo até que entremos no ônibus. Muita gente se inscreve (quase todo mundo que entrou agora e a grande maioria dos veteranos) porque a viagem tem fama de ser muito legal... Dessa vez deve ter umas 450 pessoas inscritas... A viagem é baratíssima (400 francos para três dias com tudo incluído) e ainda tem vários jogos e diversões para todo mundo. É uma grande chance de ficar conhecendo pessoas e ficar batendo papo em francês. Aqui o esquema é bem diferente, porque é uma escola de engenharia e, como tal, sempre tem a maioria de homens. Ou seja, a galera vai lá para perder a linha. Vou levar minha câmera e vou ficar esperando os momentos interessantes... Estou partindo amanhã.

O fim do meu dia não foi um dos mais agradáveis. Eu tive que andar de ônibus pela cidade toda, só para ir até o INSA, pegar minhas coisas, traze-las (sendo que estava muuuuito pesado) até minha nova casa. Eu trouxe muita coisa, mais do que meus braços e costas podem carregar, como sempre. Na verdade, sempre carregamos mais do que podemos... Esse negócio de mudança nunca foi muito divertido... Eu ainda por cima já tinha andado metade do caminho para o ponto de ônibus lá no INSA, e só aí eu consegui lembrar que eu havia esquecido minha toalha lá... não agüentei voltar para pega-la, e vou depender do Coruja para que ele traga amanhã... Se ele não trouxer, vou ter que me utilizar de uma camiseta durante 3 dias... Ainda depois de carregar tudo isso eu fui jantar com o pessoal da outra residência lá no restaurante universitário deles (que é um pouco melhor). Melhor uma pinóia. Eu comi purê de batata (ruim, tava doce) e presunto (presunto? Que diabos!). O que me salva é a sobremesa, que era um lancezinho de chocolate (agora lembro que esqueci minha barra de chocolate lá também... e meu xampu e sabonete...). E ainda tenho que andar de ônibus toda hora. Ainda bem que eu comprei por 1/3 do preço um ticket de ônibus ilimitado durante 20 dias, porque o Rodrigo não ia mais utiliza-lo... Daqui a pouquinho vou dormir, sem tomar água (não tou com espírito de aventura hoje, e não vou experimentar a água da torneira da minha pia aqui no quarto) e dentro de um saco de dormir (porque obviamente não trouxe uma roupa de cama para usar aqui...

Dia 26/09/2001

Droga. Hoje eu não quis matar aulas, e acabei ficando em duas aulas que não me acrescentaram nada (a não ser um pouco mais de francês), e acabei não tendo tempo de ir ao CROUS ver meu quarto. Quase todo mundo conseguiu lugar... Amanhã sem falta tenho que ir lá...

Hoje tivemos umas aulas práticas. A primeira era com um professor dando exemplos e perguntando aos alunos como fazer para resolvê-los. Eu sabia todas as respostas, mas em português. Imaginem eu, um brasileiro, dando todas as soluções, em francês... Estava muito engraçado, porque nem eu entendia o que eu falava direito.

Voltei para casa meio sem nada para fazer, e estou aqui agora, vendo TV (a minha única companheira, que eu trouxe no braço, em uma hora de caminhada, lá de casa até aqui). Se eu conseguir mudar de quarto, nem ela eu vou ter depois... Vamos ver o que vai vir pela frente.

Dia 25/09/2001

Os outros dois bolsistas que estavam na Oktoberfest voltaram. Foi muito engraçado ouvir eles contando que não sabiam de nada, e que foram entrando na residência como se tudo estivesse bem. Quando chegaram lá dentro só que descobriram que estava tudo destruído... A gente riu muito, já que chorar não adianta nada.

Eles contaram que a festa está muito animada, e que tem muuuita gente. Provavelmente os outros devem ir para lá também. Acho que vou segui-los, porque não estou com a mínima vontade de ficar aqui. As aulas continuam normalmente (tanto que eu até já me inscrevi hoje, e estou já com a minha carteira de estudante), mas só na nossa faculdade. A outra, de química, onde estavam 3 de nós, foi completamente destruída. As aulas deles não têm ainda dia marcado para recomeçar... Eu até preferia estar nesse esquema, que pelo menos não me deixava com a consciência pesada de faltar muitas aulas... Eu realmente não estou com vontade de ficar ‘aprendendo’ Sistemas Operacionais, que só me ‘ensina’ coisas que eu já sei... Até fiquei em uma aula, mas não achei muito interessante...

Voltando para casa, descobri que algumas das pessoas já tinham conseguido um quartinho (daqueles pequenos, sem nada dentro), mas que pelo menos dão um pouco de privacidade... vou tentar ir amanhã dar uma olhada para ver se eu consigo um para mim também... Os outros que estavam na Alemanha chegaram também, e a gente ficou até tarde conversando sobre a viagem. Tem dois ainda que querem voltar, de tão boa que estava a festa.

Dia 24/09/2001

Não tivemos nenhuma notícia boa da nossa residência. A gente foi à tarde ao CROUS para perguntar, e a mulher só falou que a estrutura da resistência pelo menos não foi muito abalada, e a gente voltará eventualmente para nossa casinha. O problema é que eles não têm previsão de quando vão começar a trabalhar, muito mos quando eles iriam terminar algum dos prédios... São 8 prédios, com mais de 1000 pessoas desabrigadas só na nossa residência... Ainda tem os vários outros lugares que foram atingidos, entre eles outras residências universitárias... Por enquanto a gente havia decidido ficar no INSA mesmo com o pessoal, mas não sei quanto tempo isso vai durar, e não estava querendo ficar muito tempo na casa dos outros...

Dia 23/09/2001

Pela primeira vez, eu fiquei meio sem vontade de escrever. Não tenho muito onde ficar sozinho para pensar... Vou deixar hoje meio sem informação. Foi um domingo sem nada para fazer... O máximo que eu fiz foi ir lá em casa e trazer de volta mais algumas coisas.

Dia 22/09/2001

Acordei a hora que não tive mais sono mesmo. Não havia nada para fazer de qualquer maneira. Eu acordei praticamente para comprar comida no Carrefour... É meio estranho ficar pensando que a sua casa não está mais pronta para você... Imagino as pessoas que moram 20 anos em uma mesma casa e ela é destruída por alguma coisa... Eu só tinha ficado 20 dias lá, e já sinto falta... (hehe).

Toda a cidade, infelizmente, estava ainda meio parada por causa da explosão. Até comprei um jornal da cidade falando da tragédia, com várias fotos do local (ficou uma cratera no lugar), e das pessoas machucadas... Foram mais de 20 mortos e mais de 600 feridos... Mas, obviamente, para uma cidade na França, eles tinham que parar os ônibus que iam para o Carrefour. A gente teve que ficar passeando no centro mesmo. Encontramos um casal de brasileiros que estava na faculdade de química na hora, e o homem estava todo cortado... O carro deles foi todo destruído, e a casa deles praticamente também... Bem, pelo menos está todo mundo com saúde. Eles nos falaram de um restaurante no qual a gente pode comer até morrer (estava precisando mais ou menos disso). A gente foi lá e comeu batata frita até dizer chega, com frango assado e outras coisas bizarras. Fazia tempo que eu não comia tanto... A única coisa que eu fiz no centro foi comprar uma canequinha de metal (pra que? Nem eu sei). Bom, na volta a gente passou em um supermercado no qual tudo é mais barato, mas nada é de marca. Realmente é mais barato, mas eu fico meio receoso da qualidade dos alimentos... Mesmo assim eu comprei só macarrão e molho mesmo... E vários chocolates baratos porque, afinal, eu mereço.

A noite aqui foi meio sem nada para fazer... Ficamos conversando, e só. Ninguém dos sem-teto estava com muita vontade de sair mesmo... :)

Dia 21/09/2001

O dia que a casa caiu...

8:30 - Bom, começou até bem o dia. Eu acordei bem cedo para ir à faculdade, porque hoje era o dia de fazer a inscrição, e finalmente ser um aluno oficial do N7, com carteirinha e conta na internet. Chegando lá, é claro que eu esqueci meus atestados de bolsa, e não poderia fazer a bendita inscrição. Peguei a carteirinha de ônibus infinita que o Ferrari tinha comprado só para ir para casa, pegar o papel e voltar (o que dá mais ou menos uma hora).

9:35 – Peguei o ônibus para ir para casa....

9:55 – Já tinha pegado os papéis, e estava já voltando para o centro, dentro do ônibus...

10:15 – Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Eu estava exatamente no momento em que o ônibus parou, para eu descer do ônibus. A porta se abriu, e nesse exato momento o ar ficou mais pesado, como se tivesse feito um vácuo absurdo (meus ouvidos sentiram muito bem isso), tudo tremeu e de repente veio um estrondo enorme, como se uma bomba tivesse estourado a poucos metros de mim. Todos na rua pararam. O trânsito parou. Várias janelas das lojas quebraram. Foi um caos, todos procurando onde tinha sido, pessoas gritando, chorando, achando que tinha sido mais um atentado, ligando pros bombeiros... Eu, achando que era um fenômeno localizado, comecei a correr para a faculdade para ver se eu ainda pegava a inscrição, e contava para todos o que tinha acontecido. Liguei para o Ivan. Ele me disse que estavam evacuando tudo. (Porque evacuar? A bomba tinha sido lá no centro!). Quando eu estou indo para lá, vejo todo mundo na rua, tudo estava sendo evacuado mesmo... Bizarro perceber algo do estilo... Cheguei lá, e todos achavam que a bomba tinha sido ali do lado também. Quando falei que eu tinha escutado lá do centro, começaram a pensar que a bomba tinha sido no metrô ou algo assim. Todos foram mandados para casa... No momento em que a gente estava indo mesmo para casa, que fica mais ao sul, um dos franceses amigo nosso veio correndo para nos parar e falar que tinha explodido uma indústria química no sul, e que tinha uma nuvem tóxica andando por lá, e que não deveríamos voltar logo para casa... Fomos então para a casa de um outro cara que era ali perto, para ver tv e ver se obteríamos mais informações. Ele estava dormindo... Impressionante como alguém conseguiria dormir em um momento desses, com tudo tremendo. Realmente, na tv vimos que tinha sido uma explosão ao sul, em uma fábrica mesmo. Vimos também um programa (que eu tinha visto ontem há noite) que mostra um monte de mulher fazendo audição para ver se são as próximas ‘Popstar’. Foi engraçado ver os comentários dos franceses para essas mulheres...

Bom, saindo de lá a gente resolveu aceitar o convite do francês que tinha ido nos chamar e ir para a casa dele, que fica perto da prefeitura daqui. No caminho a gente comeu uns sanduíches, porque não iríamos tão cedo para casa. Foi meio estranho, porque parecia uma guerra. Todo mundo andando para casa desesperado, muitos com lencinhos ou máscaras no nariz para se proteger da nuvem tóxica... Eu estava meio despreocupado porque eu não estava vendo nada, nem sentindo nada... Quando chegamos lá é que vimos na tv o quão horrível estava a situação. A explosão foi ouvida/sentida em um raio de 80 quilômetros... Por isso que toda a cidade achava que a explosão tinha sido do lado... Ficamos lá tentando ligar para casa, sem sucesso. Os pais do Ivan já tinham ouvido na tv lá no Brasil, e já tinham ligado para perguntar se estava tudo bem... De repente, ligam os brasileiros que estavam na residência na hora, falando que tudo lá estava destruído. Óbvio que eu não acreditei a princípio (assim como eu não tinha acreditado naquele atentado terrorista no World Trade Center também). Mas, depois de ele me jurar que era verdade, eu resolvi acreditar... Mesmo assim, fomos para lá para ver o saldo da tragédia. No caminho, a gente viu a quantidade de janelas quebradas e paredes destruídas só com a força da explosão... É impressionante a destruição que causou uma explosão apenas... Imagino no meio de um bombardeio...

Chegando lá, vimos que todo mundo estava na rua, porque tinham interditado o prédio. Exatamente na hora que chegamos eles liberaram para que entrássemos e pegássemos as coisas pessoais, e que não deveríamos ficar lá. Eles iriam reservar uns ginásios para que pudéssemos dormir e tal, mas preferi ligar para o pessoal do INSA, que não sofreu tanto com a explosão... Chegando no prédio é que vimos o tanto que a explosão foi forte. Janelas quebradas era o mínimo. Alguns pedaços do teto tinham caído, algumas janelas, ao invés de quebrar, foram arrancadas da parede, e as mesinhas da cozinha de muita gente tinham sido arrancadas. No meu quarto quase nada aconteceu, na verdade. As minhas duas janelas foram abertas na marra (ou seja, não fecham mais), e um dos vidros quebrou mas não estilhaçou. Eu poderia muito bem ficar por lá... Peguei tudo de valor e fiz uma mochila para passar uns dias fora, e saí. Liguei antes para casa, para que eles não ficassem preocupados (na verdade nem estavam sabendo do acontecido). Falando com o chefão do CROUS, que estava lá auxiliando o pessoal, descobri que talvez demore muito mais que eu pensava para voltarmos para casa... Eles iam fazer uma perícia na estrutura dos prédios para ver se tinha ficado comprometido, e se ficou, provavelmente vamos ter que nos mudar... Isso logo depois de 20 dias de arrumação do lugar... Vamos ver no que vai dar...

Todos os brasileiros que estavam lá partiram para a jornada de 1 hora de caminhada com um monte de coisas nas costas, para chegar onde estou agora... Em Rangueil, mais longe ainda do centro, mas longe o suficiente pelo menos para que não tivesse quebrado nada. Só depois que eu vi a fábrica, e soube onde era, que eu vi o quão grave tinha sido. A indústria ficava a algumas centenas de metros da gente... A força da explosão destruiu várias coisas na faculdade de química, que ficava do lado da nossa residência... Várias pessoas saíram machucadas...

Ficamos 3 em cada quarto aqui, porque 3 dos brasileiros estão viajando e não deixaram a chave, mas há um outro brasileiro, em um esquema diferente, que também está aqui. Fizemos um acampamento que ainda não sabemos quanto tempo vai durar, porque vai ser difícil ficar se mudando com tudo para outro lugar depois... Vou esperar e ver o que acontece... De qualquer maneira, estou sem casa no momento.

Dia 20/09/2001

Eu até fui à tournée de bars, mas não teve nada de mais. A gente apenas foi visitar alguns dos bares que estavam na lista, mas nenhum deles estava muito cheio de estudantes, exceto o último. Eu estava com mais dois brasileiros só e mais um alemão. Encontrei um monte de gente da informática do N7 em um dos bares, e eles disseram que o fim da noite era no tal de Bodega Bodega (que nome horrível). Realmente, lá estava bem legal, porque era um esquema mais boate. Eu fiquei praticamente só olhando as coisas bizarras que aconteciam. O estilo das pessoas e como eles se comportam durante a noite aqui é muito diferente do Brasil... Por exemplo, teve um casal que estava praticamente fazendo sexo explícito na boate. De repente, a mulher se separou do cara e começou a dançar de uma maneira um tanto ‘aberta’ com outros caras (incluindo um dos meus amigos). Depois, ela voltou para o ‘corno’, e o cara estava com cara de bravo e saiu correndo, com ela atrás. Eu achava que isso seria o final da história, mas não. Eles voltaram depois, da mesma maneira... Não entendi o porquê ainda não... O legal daqui também é que 15 para duas da manhã eles desligam o som, ligam a luz, e agradecem a nossa presença. Isso geralmente quer dizer que eles estão nos mandando para casa...

Eu hoje fiquei dormindo até 11 e meia, sendo que eu tinha um encontro na Prefecture para tirar finalmente minha carte de séjour ao meio-dia. Ou seja, eu estaria atrasado de qualquer maneira. Me arrumei correndo, fui correndo para lá, e quando cheguei lá aconteceu exatamente o que os outros caras tinham falado... Eu peguei uma senha e esperei. Dei até uma saída para tirar xerox de alguns documentos dos quais eu não tinha e voltei, mas mesmo assim a fila não estava parada. O que me deixava mais com raiva era que o pessoal que tiraria pela segunda vez a carte estava entrando na frente de quem tiraria pela primeira vez. Havia mais pessoas atendendo o primeiro caso que o segundo (que era o meu!). Fiquei exatamente 3 horas e meia esperando, e aí finalmente consegui. Eu tinha combinado de ir lá no Carrefour com o pessoal, e antes disso fui até o banco pegar meu cartão de crédito. Claro que tinha que ter algo errado. Eu peguei o cartão, depositei 1000 francos, e só aí o babaquinha do caixa foi me falar que como ele não tinha achado meu comprovante de residência, meu cartão de banco só vai estar liberado na segunda feira... Bom, é a vida.

Fui até uma loja onde se vendem várias coisas usadas, para procurar ou minha bicicleta, ou minha televisão. As bicicletas estavam meio caras (e como eles roubam muito bicicletas aqui...) e eu escolhi uma televisão de 14 polegadas. Tive que fazer uma coisa meio ridícula: andar com a televisão na mão até o ponto de ônibus, pegar dois ônibus lá para casa, e depois levar a tv até lá em casa... É estranho, mas teve que ser feito. Chego lá, e mais uma surpresa. O cabo da tv não prendia na tomada da antena externa direito... Desmontei tudo para ver se conseguia arrumar, mas não consegui. Eu obviamente fui lá reclamar, e um cara subiu, dizendo que eu não poderia desmontar aquilo, que era proibido (como eu ia saber?). Ele marcou lá no livrinho que eles iriam arrumar algum dia, entrando no meu quarto sem eu estar lá. Bom, vou esperar para ver...

Os programas de tv na França são meio bizarros... Eu vi, claro, as séries americanas e um filme lá, todos dublados, e os programas da tv francesa mesmo eu só vi noticiário e um lá que eles falam ‘On a tout essayé’ (nós tentamos tudo). Eles ficam lá só fazendo piadinhas com a cara dos outros (não entendi metade), mas é até interessante...

Dia 19/09/2001

Hoje tirei a manhã para dormir, depois de ter caído na cama só 3 e meia da manhã... Eu só fui acordado 10 e meia pelo maldito cara da Bouygues Telecom, que sempre me liga em horários impróprios, dizendo que agora vão realmente resolver meu problema (ele já me ligou umas 4 vezes, e todas as vezes eu tentei e não consegui fazer funcionar). O legal é acordar, e ouvir logo um cara falando francês contigo. Imaginem quantas frases completas eu consegui criar: nenhuma. Eu só falei bonjour, merci, c’est bien e au revoir... Não tinha mais o que falar. Acordei de vez depois disso, e ainda vi o modem ADSL funcionando... só que minha conta está presa até o dia 26 (como o cara da France Telecom me falou ao telefone quando eu gastei metade dos meus 30 minutos de assistência técnica gratuita... Eles aqui gostam de deixar esperando no telefone porque eles ganham por minuto).

A aula foi só um trabalho dirigido (o meu primeiro) sobre sistemas operacionais, que eu já tinha feito bastante no Brasil. Eu sabia tudo que o cara falava, só que eu não sabia expressar em francês... Já tou vendo que as provas aqui vão ser um terror... Vou ter que levar dicionário e livro de conjugação de verbos para a prova.

Hoje à noite temos La tournée de bars, na qual eles dão uma lista de bares que dão descontos para estudantes do INP, e a gente passeia pela cidade bebendo em cada um deles.... Vou ver se eu vou ainda, estou meio com preguiça (mas já com o carimbo na mão dizendo que eu sou de lá...). É muito difícil chegar em sua casa aconchegante e querer sair de novo, andando 40 minutos até o centro, e tendo que andar de volta quando quiser voltar...

Dia 18/09/2001

Fui à primeira aula bem cedo, mas não valeu a pena... Eu não entendo nada de Otimização, e acho que vou largar esse curso. O segundo do dia foi facílimo, porque eu já tive essa matéria no Brasil... Acabei que fui para a faculdade meio sem razão. Almocei por lá de novo, depois de ter dado uma passeada na cidade, e tive a aula da tarde com o mesmo professor, que também é o nosso responsável aqui na escola. Por isso, quando eu fui falar que eu não tava querendo muito fazer o curso, ele foi logo falando que não precisava fazer só porque ele é o ‘senhor Brasil’ na escola. Fiquei tãaaao feliz de ouvir isso!

À noite tivemos uma pequena reunião no quarto da Andréia (imaginem 10 pessoas em um quarto de 17 metros quadrados, sendo que um terço disso é cozinha e banheiro) para saber quem ia viajar ou não para a Alemanha (eu acho que dessa vez eu não vou...) e para ver quem ia sair hoje. Viajar está meio fora do orçamento, porque são mais de 1000 francos para ficar 2 dias lá e voltar, principalmente para quem não está querendo matar aulas logo no começo. Eu acabei saindo com o pessoal todo (ainda veio um cara do INSA para perguntar quem ia viajar) porque a festa era aqui do lado. Como sempre, um monte de bêbado, e as mesmas músicas. Conheci dois caras que fazem informática lá junto comigo (um deles até que fez o sinalzinho para quem não era da escola poder entrar na festa), e vi que a gente não está tão mal... Tem um deles que está morando por duas semanas dentro de uma Kombi, porque o apartamento dele só vai ficar livre no começo de outubro... E tinha gente reclamando do apartamento...

Outra coisa: pastis é muito ruim com água...

Dia 17/09/2001

Segunda feira... sempre é um dia meio chato, por definição. Voltando à rotina de aulas (que por enquanto não posso chamar muito de rotina), acordei bem cedo para pegar a primeira aula às 8. Como eu ainda não comprei uma bicicleta, é necessário sair umas 7 e meia aqui de casa no máximo para pegar o ônibus. O único problema é a porcaria do frio de manhã... Estamos ainda no verão, quase no outono, mas já está um frio dos diabos de manhã... Já até sai fumaça da boca quando se respira de manhã... E eu geralmente sou maluco o suficiente para esquecer a blusa. Dessa vez eu fui mais esperto e levei a blusa. Mesmo assim, já estou quase congelando. Eu passo pelo rio agora reclamando por ele aumentar minha sensação de frio (antes eu achava uma coisa boa vê-lo todo dia da minha janela de manhã...). Chego no ônibus e tenho que pagar 8 francos para andar nele (mais de 2 reais!!). Bem, depois eu faço a carteirinha para pagar menos... de qualquer forma, eu acho que vou andar mais de bicicleta, a não ser que fique muito frio mesmo, que aí não há como andar de bicicleta...

Uma palavra sobre a universidade na França, pelo menos sobre a minha: IGUAL ao Brasil. Cheguei na aula, esperando uma das matérias que eu tinha escolhido fazer, e tinha uma outra, de equações diferenciais parciais, que eu já tinha fugido... Eles aqui, segundo os outros alunos, mudam toda hora as aulas, e é importante ficar procurando no departamento se mudaram ou não. Com essa ótima notícia, eu descobri que eu não precisava ter passado frio, e na verdade nem precisava muito ter ido à faculdade... E isso quase nunca me acontece no Brasil... Desse jeito não dá. Outra coisa que eu não sei se eu já falei, mas tenho que falar de novo porque eu fiquei realmente impressionado: os franceses falam MUITO durante a aula. Não é do mesmo jeito que os brasileiros, que ao menos tentam ser discretos falando, tentando falar baixo... Não, os franceses simplesmente viram para trás e começam a conversar, no volume normal de conversa... ou até mais alto... Não têm nenhum respeito pelo professor, que por sua vez continua a dar sua aula, praticamente sem se dar conta que estão conversando... Como tem 80 alunos na sala (a maioria das vezes menos... eles também matam muita aula), realmente não há como se importar muito. Acabei não ficando na aula porque eu não agüentava ouvir um professor falando em francês de um assunto que eu não queria saber, e ainda por cima não conseguir ouvir o professor...

Tiramos a tarde para ir ao CROUS marcar o dia de tirar a carte de séjour (que é o nosso visto permanente), e depois aproveitamos para ir fazer a maldita carte clé, que é para pagar menos pelo ônibus. Depois fomos ao Carrefour tentar comprar mais coisas para casa, mas para mim não foi muito interessante. Só comprei outra panela e uma tampa para a minha frigideira, e algumas besteiras como um abridor de vinho ninja... Tivemos que voltar para casa à pé, porque a só pegamos o último ônibus, e ficamos com medo de tentar pegar o segundo ônibus e não conseguir, tendo que voltar à pé de um lugar mais longe. Deixei de comprar o meu forninho elétrico (a Maíra acabou comprando) porque fiquei com dúvida de onde colocar e se eu realmente iria precisar...

Dia 16/09/2001

Mais um mês se passou... Hoje tirei o dia para ficar de bobeira em casa, sem fazer nada a não ser coisas burocráticas. Arrumei meu quarto, li livros, lavei algumas roupas, fiz o almoço e o jantar... Fiquei praticamente só ouvindo música, lendo coisas... Entrei uma ou duas vezes na internet para mandar emails e ver se alguém tinha respondido os meus, e foi só.