domingo, março 31, 2002

Dia 30/03/2002

A princípio eu tinha tirado o dia para lavar roupas. Eu preciso realmente de roupas limpas para minha próxima viagem. Já estou chegando na reserva... Mas eu não tinha comprado ainda as fichas para usar a máquina... Quando eu desci para fazer isso eu vejo um carro de polícia e policiais correndo pra todo lado. Eu fiquei só observando pronto para correr pra dentro do prédio de novo. Eles começaram a discutir com um garoto que estava de bicicleta. Comecei a falar com uma mulher que estava parada na frente do prédio que abriga a secretaria depois da explosão (a antiga está toda quebrada ainda) e ela me falou que é por que tinham visto pessoas mexendo nas bicicletas e alguém chamou a polícia. Geralmente quem rouba as bicicletas são moradores do bairro do lado, que não é muito agradável... O cara que estava na bicicleta foi preso (não entendi muito bem o porquê) e jogado dentro do carro da polícia. Foi aí que eu me lembrei das fichas e a mulher me dá a ótima notícia que a máquina de dar fichas estava quebrada e só iria ser arrumada na terça-feira... Putz, eu devo sair de viagem na quinta e só na terça eu vou poder lavar roupas!! Como eu fiquei com raiva... Ainda bem que existem secadoras que já ajudam um pouco...

Eu iria sair também, mas fiquei com preguiça de andar de madrugada... Já está até mais quente, mas sempre é um saco andar quase uma hora pra voltar pra casa...

Dia 29/03/2002

Uma sexta-feira santa sem muitas coisas especiais. Eu não tinha nada para fazer organizado mesmo. Mais dois dos brasileiros viajaram e só fiquei eu e o Oto por aqui.

Mais à noite chegaram dois amigos (não meus, no caso) que vieram de Bordeaux, um espanhol e um francês. Fui praticamente convocado para ir jantar lá na casa do Oto e falar com eles, mas como eu já tinha feito coisas aqui eu só fui mais tarde... Os caras são até legais, e conhecem os brasileiros da bolsa que estão lá em Bordeaux e ficamos falando das histórias deles... Tem um que conseguiu deixar o carro sem o freio de mão puxado e quando voltou o carro tinha descido a ladeira (que ele nem sabia que existia por ser pouco íngreme), destruído a lateral de outro carro e quase atropelado uma garota... Resultado: 450 euros a menos na sua conta bancária... Pra deixar de ser desligado.

Dia 28/03/2002

Pela primeira vez a gente tentou fazer uma comida brasileira. Pelo menos foi a minha primeira vez, porque das outras vezes eu só comi (hehe). De noite juntamos eu e o Ivan no quarto dele. Logo depois chegou o Oto e o Ferrari para comer também, já que todos os outros brasileiros do Daniel Faucher viajaram esse fim de semana para Rennes. Com todos os ingredientes fizemos uma ótima feijoada e um arroz para acompanhar, com uns vinhos só pra não esquecer que estamos na França heh. Acho que vamos fazer isso mais vezes, se acharmos o feijão. Senão será com feijão vermelho mesmo.

Ainda fiquei vendo na tv com a galera um programa muito interessante. Resolveram fazer em rede nacional um teste de QI. A gente em casa pegaria uma folha de respostas, responderia e acompanharia a correção, recebendo o QI correspondente. Dava para jogar pela internet também, mas eu não lembrei dessa porcaria. Só peguei o programa pela metade. Foi legal porque eles tiveram uma idéia engraçada: colocaram vários grupos de pessoas lá no estúdio para fazer o teste também. Havia o grupo de loiras (claro!), marombeiros, padeiros, de carecas (haha, era muito engraçado ver um monte de careca junto), enfermeiras, bombeiros, estudantes, administradores e famosos. Eles queriam com isso saber se tinha alguma coisa a ver ser parte daquele grupo e o QI ser tanto... Bem, chegaram a algumas conclusões: os estudantes tiveram uma média de QI maior que a dos outros, as loiras não são as mais burras cedendo o lugar para os padeiros (???) e os marombeiros também não tiveram seus cérebros destruídos pelas bombas que tomaram. Os famosos foram um caso à parte... Como vários recusaram o convite do programa de ir ao vivo fazer o teste e mostrar o resultado em público (com um comentário sarcástico do apresentador "Não sabia que havia tantos casamentos em uma quinta-feira..."), eles resolveram não mostrar todos os resultados, mas só dizer quem tinha obtido o QI mais alto (e nem dar o resultado no caso). Tinha até a Miss France 2002, que eu queria saber se era inteligente ou não... Nada contra, mas seria engraçado saber que ela tinha ido melhor que o resto dos caras (ela é estudante de direito e tal) que devem achar que mulher bonia é burra (as loiras tavam lá pra falar o contrário...).

sábado, março 30, 2002

Dia 27/03/2002

Eu estava sem fazer nada no meu quarto hoje quando de repente me lembro que o Oto vinha pra cá à noite para tentar arrumar a próxima viagem. A princípio eu queria ir para a Grécia com todo o resto da galera, mas eu só tenho duas semanas e não queria passar as duas semanas inteiras por lá. Como não tem nada perto o suficiente para poder fazer um combo, resolvi ir para o outro lado. Vou para o sul da Espanha e Portugal e vou aproveitar alguns dias extras para visitar a Escócia. Eu sei que não resolvi o problema muito bem, podendo ter ido pra Grécia e para outro lugar, mas se eu fizesse isso eu nunca mais voltava pro sul da Espanha... Eu sou um dos últimos a ir pra lá. Bem, agora já escolhi e comecei a fazer planos. Vamos só nos dois a princípio, mas isso não é ruim porque às vezes, quando não se tem muita idéia de onde vai dormir ou quando vai para algum lugar, dois é melhor que 6... Vai que só existem duas camas livres? Como colocar uma galera inteira em um hotel cheio?

A gente não conseguiu fazer muita coisa porque começou a chegar gente... Todos os brasileiros acabaram vindo pra cá e ficamos fazendo social até de madrugada... E, como sempre, dane-se a aula de amanha cedo.

Dia 26/03/2002

Bom... Isso que dá não ir à aula. O projeto do qual eu falei antes é meio sinistro de fazer pra quem não participou das aulas passadas... A parte de pensar no que fazer é bem mais fácil do que fazer mesmo... De manhã foi só para tirar dúvidas, que eu não tinha por não ter feito quase nada na aula passada... À tarde, depois de pegar meu dinheiro da securité sociale (médicos e remédios) fui tentar fazer na prática... Não saía de jeito nenhum. Estávamos eu e um italiano tentando fazer a parte que tinha que ter sido feita há muito tempo enquanto os outros estavam já terminando... Bem, eu não me senti muito feliz, mas não podia sair no meio da aula... Fiquei lá tentando até o final heh.

Ah, finalmente algo dá certo com o governo. Recebi outra carta dizendo que eles descobriram que tinha algo errado com meus papéis e que eles me devem mais dinheiro. Ótimo. Assim não tenho que gastar meu francês.

À noite finalmente vimos Memento que estava no meu computador faz anos... Muito bom o filme. Quase minha cabeça fundiu, mas é muito bem feito heh.

Dia 25/03/2002

Depois desses dias de viagem, nada como um dia de descanso... Tinha até aulas, mas não estou muito preocupado com minhas aulas mais...

Dia 24/03/2002

Acordamos cedo para poder aproveitar o último dia de viagem para visitar pelo menos Avignon e mais algum lugar ainda não definido. Claro que todo mundo estava com sono, mas eu não podia fazer nada... Me aprontei e comi alguma coisa de café da manhã esperando os outros se aprontarem... A gente saiu no horário apesar de tanto reclamarem de sono...

Ainda bem que não comecei dirigindo, porque eu estava realmente cansado. De qualquer maneira eu não posso dormir porque quando eu não dirijo eu sou o navegador... Assim sendo, fomos até Avignon pela autoroute comigo de co-piloto. Foi até tranquilo, chegamos sem nos perder... Colocamos o carro no primeiro lugar livre e só aí fomos achar uma placa com informações turísticas. Estávamos praticamente do outro lado da cidade velha, mas como geralmente essas cidades não são tão grandes o carro ficou lá mesmo. Andamos por umas ruas estreitas (como sempre em cidades mais antigas) e fomos até a praça de l'horloge (a praça central da cidade velha) onde, pasmem, existe a prefeitura. Logo do lado fica o palácio dos papas que ficaram em Avignon. Depois de comprar uns cartões postais da cidade (e da ponte que iríamos visitar depois) e de pegar dinheiro para entrar no palácio (porque era meio caro e meu dinheiro tinha acabado), entramos.

Avignon foi a residência de alguns papas que mudaram a sede da Igreja Católica do Vaticano quando houve uma dissidência entre grupos que não concordavam sobre a sucessão do papa (isso se eu não me engano... se eu tiver errado me corrijam por favor. Foi a história que me contaram). A região já era da igreja, e a primeira parte do palácio foi construída já no começo, pelo papa Benoît XII. Logo depois, na sucessão, veio o papa Clément VI que resolve construir mais uma parte gigantesca para mostrar o poder da "fé"... Bem, o que eu posso dizer é que o negócio é grandioso. Não é um Vaticano, mas com certeza foi uma moradia muito descente... Recebemos com o preço da entrada um audioguide... Era tanta coisa que o cara falava que eu não aguentava ouvir tudo, mesmo estando muito interessado. Infelizmente tinha muita coisa e ainda tinha a ponte da cidade para visitar... Passamos por várias salas, que guardavam o tesouro (saqueado durante e depois da revolução francesa), quartos do papa e seus subordinados, jardins... Muito legal a visita.

Saindo do palácio passamos na frente da catedral (acho que foi uma das únicas igrejas na França que eu não entrei, só porque tinha uma escadaria enorme e eu estava com preguiça hehe) em direção à pont Saint Bénezet. Segundo a lenda, Deus falou com Saint Bénezet para ir até Avignon e construir essa ponte, que seria a primeira ponte sobre o Rhone, no século XII. Como eu já disse algumas vezes, o vento na região era absurdamente forte. Aliás, o nome Avignon quer dizer em alguma língua 'vento forte'... Bem, não era um trabalho fácil, principalmente pra época. Grandes partes da ponte foram feitas em madeira e não aguentavam a força das águas... Durante a história a ponte foi destruída várias vezes, principalmente quando tinha umas enchentes... Uma foi tão forte que a cidade toda ficou inundada e Napoleão III foi de barco até a cidade para confortar os desabrigados... Bem, a ponte não ficou em pé por muito tempo e hoje ela só vai até a metade... A visita guiada é até legal...

Almoçamos na cidade e pegamos o carro para ir para a Pont du Gard. Era no caminho para casa (como foi meio planejado ser mesmo) e era uma coisa que eu queria ver bastante... A Pont du Gard na verdade é um aqueduto feito pelos romanos há 2000 anos e que era considerada o maior trabalho de engenharia deles na época. Eles levavam água por 50 km de um lugar até Nimes (uma cidade que visitamos depois) e nesse lugar eles tiveram que fazer uma ponte enorme... Há pedras de até 6 toneladas por lá... Bom, estacionamos o carro (com o preço absurdo de 5 euros...) e quase todos foram. A Maira quis ficar no carro dormindo... Impressionante. Bem, eu não perderia isso por nada no mundo hehe. Os 5 euros na verdade eram um tipo de entrada, já que não tinha outro jeito de ir lá de outro jeito... Há um lugar para pegar informações, com um mapinha (não que ele fosse realmente necessário). Andamos um pouco para chegar lá. A construção é realmente impressionante... Depois de andar muito por lá, com direito a fazer umas trilhas malucas só para ver a ponte do outro lado fomos embora porque o sol já estava começando a desaparecer.

Ainda deu tempo de dar uma passada em Nimes. Essa era outra cidade da época romana que tem o anfiteatro mais bem conservado... Bom, até seria melhor não ir pra lá pelos acontecimentos que eu irei contar. Tudo começa com eu me perdendo na estrada e comecei a ir na direção de Paris. Depois, chegando em Nimes, eu estava passando por uma ruazinha estreita e um cara resolveu estacionar na minha frente. Bem, eu fui passar pelo lado dele achando q ele tinha me visto, mas ele não viu e começou a dar ré e a virar. Eu parei do lado dele e não consegui apertar a buzina, já que no Citroen que eu estava a buzina era do lado... Que raiva disso. Ele arranhou minha lateral e ainda disse que a culpa era minha... Bem, eu nem discuti muito porque eu tinha pago o seguro total do carro e não teria que pagar franquia nenhuma de qualquer maneira... Bem, fomos embora. Um pouco depois, em um sinal, eu parado levei uma porrada de leve do carro de trás porque o cara deve ter esquecido de frear... Nem parei por causa disso. Acabou por aí pelo menos. Fomos só ao anfiteatro, que é realmente muito legal, mas já estava acabando a luz para tirar fotos... Nesse anfiteatro, como em Arles também, eles agora estão fazendo touradas... Aí colocaram uma estátua de um toureiro na frente do anfiteatro. Acho que o escultor gostava do lance, porque o cara era tinha um volume gigante na calça... Horrível.

Eu tinha parado o carro em um lugar não muito certo e estava com medo de levar uma multa para estragar de vez as coisas em Nimes. Felizmente nada mais aconteceu... Foi só pegar a estrada de volta e chegar em casa são e salvo... Não consegui fazer nada quando cheguei em casa. Joguei minhas coisas pro lado e só vou arrumar depois...

quinta-feira, março 28, 2002

Dia 23/03/2002

Há um problema em dormir vários em um mesmo quarto. De manhã a gente sempre fica com medo de alguém ter percebido que a gente colocou mais pessoas do que podia e reclamar... Mas eu paguei pelo quarto diabos... o que eu fizer dentro dele, se não incomodar ninguém, não é da conta do hotel! (acho). Mas foi tranquilo. Depois de o fator Andrea atuar novamente (ela SEMPRE se atrasa pros lances e acaba atrasando todo mundo), apesar de dessa vez não ter sido culpa dela (o Pedro, que iria trazê-la de volta para o hotel, demorou para acordar e sair de casa...), a gente pegou o carro e saiu. Despedimos do Pedro porque ele iria acampar essa noite em uma montanha ali perto e não o encontraríamos mais...

Entramos no carro e começamos a ir para Marseille finalmente. Foi até tranquilo indo para o centrão da cidade. Era só seguir as placas para achar o Office de Tourisme, que é sempre a primeira parada em qualquer cidade... Achamos um estacionamento (pago) perto dali, pegamos o mapa e algumas explicações e começamos a andar. O vento continuava enchendo muito o saco. O Vieux Port (porto velho) é bem bonito, principalmente com aquele sol e com o céu azul... Não sei por que todos me falaram que não tinha nada para ver na cidade... Os planos eram de andar até umas 2 horas (acabamos chegando lá meio dia...) e ir para a igreja que dava uma visão geral da cidade lá de cima... Tinha um pequeno parque perto dali e fomos até lá...

O vento estava tão forte que chegava a me arrastar para o lado. Não tem muita graça ficar andando assim. Ainda bem que tava meio quente e o sol ajudava. Não quero nem pensar no que deve ser a cidade a 0 graus... No meio do caminho ainda tinha uns fortes que foram construídos para proteger o porto da cidade. Chegando ao parque há uma pequena área verde e um palácio. Nessa área verde tem um parquinho para crianças, com uns brinquedos legais haha. Dali ainda dava para ver o porto velho de cima e atrás do palácio tem-se uma visão da entrada do porto e da catedral (muito bonita alias). Ali ainda era onde o vento batia mais forte... Os cabelos ficaram bem legais nas fotos haha.

Voltamos e acabamos indo para o carro mesmo, ao invés de ir à igreja. Todos estavam querendo conhecer as praias de Marseille já que estávamos ali mesmo... Chegar lá era até fácil. Sempre com a sua água bem azul, o Mediterrâneo tem várias paisagens muito lindas... Paramos até uma vez no meio do caminho só para admirar o sol, a costa e o mar azul...

Colocamos o carro em uma vaga e andamos um pouco por ali para achar um lugar para a farofa (também conhecido como o almoço). O vento estava tao forte que eu perdi um papel (na verdade era um mapa de Toulouse) e não consegui mais pegá-lo. Ele começou a fugir e eu correndo atrás. A cena foi tão ridícula que um casal francês ficou só olhando e rindo. Na hora que eu iria conseguir pisar no papel um vento batia e ele ia embora. Eu o segui até que ele resolveu decolar e ficou preso no topo de uma árvore... Cenas idiotas em minhas viagens hehe. Achamos um ponto atrás de uns matos justamente para fugir do vento. Enquanto eu, a Maíra e a Camila comíamos uns pãos com salsicha, o Baiano e a Andréa foram ao mercado. Como era aniversário da Camila compraram um pequeno bolo para a gente comer como sobremesa... Muito bom o bolo! Acho que eu comi demais até... Aí foi minha vez de ir ao mercado para comprar mais comida... Quando eu voltei estava quase dormindo em pé de tanto que eu comi...

Eu tinha deixado também os telefones de albergues/hotéis da região de Marseille e de Avignon, porque ainda não sabíamos onde iríamos dormir. Acharam melhor ficar perto de Marseille para poder fazer alguma coisa de noite em uma cidade grande... Por mim tudo bem, desde que tivesse uma cama depois. Achamos um hotel que ficava ao norte da cidade, no meio do caminho que faríamos no dia seguinte, mas teria que chegar antes das 7 da noite porque não iriam segurar a reserva... Tudo bem, acho que teria tempo.

Aproveitando o tempo, começamos a ir para o sul, para uma cidade chamada Cassis. Ao sul de Marseille há na costa as chamadas calanques, que são enseadas estreitas com uns penhascos... Cenas muito bonitas eu diria. Como não teríamos muito tempo para explorar outros lugares fomos direto para Cassis seguindo sempre as placas para as Calanques. Acabamos chegando sem querer em um lugar chamado Cap Canaille, que é uma das cenas pintadas por Paul Signac que está no guia visual da Folha... Tiramos bilhões de fotos lá, dentro d'água, na pequena praia de pedras... Era um lugar que daria para ficar um bom tempo, se tivéssemos. Eu já estava começando a ficar com raiva do hotel que estava me apressando para chegar lá heh. Ficamos na praia até que o sol se escondeu atrás de um morro e estava ficando mais frio. Fomos ainda em outro lugar que tinha um despenhadeiro legal, com vários barcos, mas foi tudo que visitamos.

A volta para Marseille para poder pegar a autoestrada certa para chegar ao hotel foi um pouco mais difícil que eu imaginei. Tinham conseguido criar uns desvios em uma cidade pequena no meio do caminho e tinha um engarrafamento enorme. Depois de uma meia hora andando em um lugar que passaríamos em alguns minutos tivemos que ligar para o hotel para dizer que chegaríamos um pouco atrasado mas que era para guardar a vaga... Ainda consegui me perder pegando a autoroute errada mas graças a Deus eles pensaram em pessoas perdidas como eu e tinha uma saída para mudar de estrada... Depois de várias curvinhas (ah, como eu adoro os mapas da Michelin) consegui chegar ao ponto desejado. O hotel estava lá, mas havia um Formule 1 logo na frente. Como ele era uns 30% mais barato fomos ver se tinha vaga... Acabou que pegamos um quarto para 3 pessoas no Formule 1 mesmo e deixamos o outro pensar que não chegaríamos mesmo. O foda é colocar as 5 pessoas dentro do quarto. Fica muito barato mas quem dorme no chão acaba sofrendo um pouco... Eu peguei a cama de cima (malandro de novo! Achei até que iriam me bater por eu fazer isso mas ninguém reclamou) e a galera se virou lá... As três garotas dormiram na cama de casal e o Baiano ficou em um colchão inflável no chão mesmo...

Todo mundo quis ir para Marseille à noite para fazer alguma coisa. Fomos e achamos um lugar de 'manos' (como a gente chama os milhões de imigrantes árabes que tem por aqui...) onde eles vendiam umas pizzas baratinhas. Comemos duas pizzas gigantes e pagamos muito menos que tínhamos pagado em Aix... Claro que a pizza não foi tão boa, mas dessa vez eu fiquei satisfeito. Depois disso foi só achar a praça Jean Jaurés (um dos lugares que foi indicado por um ex-morador da cidade pra gente) e entrar em um dos vários barezinhos. Tomamos umas cervejas e ficamos por lá um pouco...

O que eu digo de Marseille: vá, que valhe a pena.

Dia 22/03/2002

Ah... Como eu dormi mal... E ainda por cima me acordaram porque eu teria que ir buscar o carro também. O carro foi alugado pela Maíra, que não dirige, mas que era a única lá na hora que tinha a carteira de estudante... Eu poderia ter alugado no lugar dela, mas ninguém me avisa desse problema. A gente sempre acaba dividindo o volante mesmo, mas dessa vez ninguém que iria dirigir seria o motorista ?oficial?. Bem... nada vai dar errado de qualquer maneira... Eu fui para buscar o carro só porque o Baiano e a Maíra não conseguiriam fazer isso sozinhos, já que são muito perdidos. Fui eu lá para olhar mapa (dirigir tão cedo e quase caindo de sono? Eu hein...). Até que não foi tão difícil chegar aqui... Eu nunca tinha vindo de carro para casa, e não sei muito bem como funcionam as ruas aqui até hoje... Ainda preciso ver o mapa, apesar de estar há mais de 6 meses aqui...

Houve, como sempre, o fator Andréa, que era outra que iria na viagem junto com nós três e a irmã do Baiano. Ela sempre atrasa, mas dessa vez foi porque estava fazendo fisioterapia (ela se quebrou toda no esqui). Até foi bom, porque eu dei uma cochilada depois de arrumar minhas coisas...

Logo eu tive que começar a dirigir. Não que eu reclamei muito, já que a primeira parte da viagem sempre é fácil: entrar na autoroute e manter uma média boa de velocidade. A pista é praticamente reta, com curvas muito abertas, o que me deixa ir em uma média de 130 (a velocidade permitida). Claro que existem os caras que passam a 200, e eu nunca vi um só guarda prestando atenção nisso... Há poucos acidentes nessas estradas (mas quando eles acontecem acabam sendo graves, como o que houve na semana passada lá na Bélgica...). Assim fomos indo até Arles, que seria a primeira parada... Foi até rápido, mas caro... Pagamos uns 20 euros só para ir até ali... Mas é dividido por 5, e vir pelas estradas nacionais é um saco. Da última vez levamos quase 7 horas para andar o que eu andei em 4...

Fazia um sol maravilhoso em Arles. O único problema é a ventania. Nessa região venta muito. E quando eu digo que venta muito, venta muito MESMO. Na estrada o vento fica puxando o carro para o lado e as árvores estão quase todas tortas para um só lado... Em Arles isso fazia com que o tempo ficasse um pouco mais frio, mas estava tranquilo. No centro da cidade havia tantas construções com ruas estreitas entre elas que tirava um pouco o efeito do vento. Depois de estacionar o carro e obter o mapa da cidade, começamos a andar... Chegando na praça onde fica a prefeitura descobrimos o que seria o nosso problema por ali: italianos. Havia grupos e mais grupos de italianos visitando a cidade. Quem conhece a raça sabe que eles não são nem um pouco silenciosos. Passamos pela catedral (na qual não entramos ainda porque um grupo de adolescentes italianos estava entrando e teríamos que esperar) e viramos para andar em direção ao anfiteatro. Passamos pelo teatro romano e chegamos ao pequeno coliseu... Quem assistiu ao filme Ronin pôde ver um pouco as imagens da cidade... A construção é bem bonita, mas não dá para comparar com o coliseu de Roma haha. Ainda por cima tinha que ficar aguentando os adolescentes italianos enchendo o saco.

No meio do caminho da volta (já que eu só tinha pagado o estacionamento por 1 hora e meia hehe) eu vi a diferença entre italianos e japoneses. Enquanto os adolescentes italianos ficavam pulando, gritando, chutando bolas que nem macacos, os japoneses andavam em fila indiana (porque a rua era estreita e eles não queriam atrapalhar os carros), com as câmeras na mão e em silêncio....

Aproveitei os últimos momentos que eu tinha na cidade para andar um pouco pela cidade, ir até a beira do rio Rhone... Lá o vento estava insuportável, só dando pra tirar uma foto e sair de lá porque estava começando a ficar frio... Passamos pela igreja e entramos de novo, mas nada de especial, a não ser que ela é bem antiga.

A cidade de Arles é conhecida também por ter sido uma das moradias de Van Gogh. Ele pintou várias paisagens da cidade, ficou hospitalizado lá quando esteve doente (até tem um museu dele nesse lugar). Fomos então procurar a ponte que foi ?personagem? de um de seus quadros, que fica um pouco fora da cidade. Depois de errar algumas ruas (é... eu lendo mapas também não estava funcionando muito) a gente chegou lá... Nada de mais, a não ser que tinha a ponte e na frente havia uma reprodução da pintura para mostrar o quadro de Van Gogh... Foi só tirar uma foto e seguir viagem.

Os planos eram de encontrar o Pedro, um português que era da nossa faculdade aqui em Toulouse mas que se mudou para Marseille para fazer estágio. Na verdade depois descobri que ele mora no meio do caminho de Aix-en-Provence e Marseille, e que iríamos ter que encontrá-lo em Aix. Tudo bem... Continuamos a viagem até lá, chegando um pouco mais cedo que o horário combinado. Tive que estacionar o carro em um lugar meio proibido só para não pagar estacionamento e ficamos esperando até 7 horas... O cara chegou e seguimos ele até um hotel que se chama Première Classe. No quarto dele não caberia mais de duas pessoas, e ao invés de usarmos um albergue fomos atrás desses hotéis. Eu já tinha ido a um desses na época da viagem para Nice e região e fica realmente barato... Pegamos um quarto para 3, sendo que dois teriam que dormir lá na casa do Pedro... Sem problema.

Depois de uma ida ao mercado para comprar algumas coisas para a farofa do dia seguinte voltamos para Aix para comer alguma coisa. Fomos a uma pequena pizzaria que fica na rua e que me vendeu a pizza mais gostosa que eu já comi aqui na França. Não que isso fosse difícil de atingir, mas... foi bom. Comi até pouco porque ninguem mais quis dividir pizzas comigo.. (acho que vou engordar tremendamente... estou comendo muito! E ainda fui o único aqui de Toulouse que conseguiu emagrecer desde que chegou aqui na França...). O Pedro ainda convidou a gente para sair e beber alguma coisa, não voltando muito tarde para o hotel... Só a Andréa aceitou o convite, porque eu estava morto e o resto quis voltar para o hotel também... Acabou que tivemos que dormir os quatro em um quarto para três. Eu malandramente peguei a cama que fica em cima e deixei os outros escolherem quem iria dormir no chão. Eu tinha a desculpa que eu tinha dirigido o dia inteiro e estaria dirigindo de novo no dia seguinte, enquanto que as duas mulheres que ficaram lá poderiam ficar lá atrás descansando o dia inteiro... Bem, eu não fiquei muito tempo acordado para ver no que ia dar mesmo...

quinta-feira, março 21, 2002

Dia 21/03/2002

Hoje usei mais o dia para programar a viagem. Estamos saindo amanha para visitar Marseille, Avignon e outras cidades lá da região no sul da França... Fiquei o dia em casa sem fazer muitas coisas...

Aqui em Toulouse está tendo um encontro de cinema da América Latina, e estão passando vários filmes brasileiros também... Em particular uns do Zé do Caixão. Os ingressos são de graça para nós estudantes do Crous, mas graças à imcompetência de um colega que iria passar lá para pegar os ingressos tivemos que pagar... De qualquer maneira o filme foi legal. Fomos ver um que se chamava Domésticas... Eles retrataram muito bem a vida de várias domésticas, com os problemas que todos conhecemos... O filme era legendado em inglês e tinha as legendas em francês embaixo também... Não sei por que mas ao invés de prestar atenção nelas falando eu ficava lendo as legendas... Talvez porque eles usavam um vocabulário meio de São Paulo, mas mesmo assim, É PORTUGUÊS SEU BURRO! Bom, eu ri muito, até de coisas que não tinham muito sentido para os estrangeiros... É um bom filme e eu indico para quem tiver a oportunidade de ver no Brasil...

Bom, vou arrumar minhas coisas e dormir porque provavelmente sou eu quem vai dirigir quase todo o tempo... É uma merda ser um dos únicos motoristas...

quarta-feira, março 20, 2002

Dia 20/03/2002

Aulas inúteis (que eu nem fui...)...

Recebi uma carta ontem dizendo que eu tinha 200 e poucos euros a receber de ajuda pra pagar o aluguel do meu apartamento. Tudo bem, é dinheiro. Mas deveria ser mais de 400, beirando os 500, durante todos os meses que eu estou aqui... Erraram de novo uma coisa minha. Já estou começando a ficar puto com essas coisas. Não é possível que o governo tenha algo contra mim. Tudo dá errado nessas merdas de burocracia. Vou ter que ir lá para reclamar de novo. Aproveito e pego o reembolso das consultas médicas que eu fiz... Pelo menos o sistema de saúde funciona legal por aqui...

Estamos pensando em viajar no fim de semana (que começa normalmente na sexta para os bolsistas... às vezes quinta e algumas até na quarta, quando a gente não considera que 9 dias sejam iguais a um fim de semana só e não dois com uma semana inteira no meio...). Eu estava pensando em Marseille e arredores, porque não fui lá ainda... Acho que vou alugar o carro amanhã...

terça-feira, março 19, 2002

Dia 19/03/2002

Cosnsegui finalmente vencer a preguiça. Depois de ficar acordado até mais de 5 horas e acordar às 10 da manhã eu consegui me levantar, tomar um banho e sair de casa. Acho que o que ajudou mesmo foi o fato de não ter nada pra fazer de comida além de macarrão com molho bolonhesa e arroz. Isso me deprime. Tive que ir almoçar fora, não teve jeito.

Almocei lá na faculdade mesmo apesar de ter pensado em comer umas batatas fritas no Arsenal (minha antiga residência universitária que tem também um restaurante universitário). Pelo menos assim eu conversei com o Joachim (o alemão) e lembrei que eu estava na França (falar francês de vez em quando é bom). Fazia uns 5 dias que eu nem falava “bonjour” direito... Vou chegar no Brasil sem falar porcaria nenhuma.

Eu tinha aula o dia inteiro mas eu não aguentei acordar às 7 para estar às 8 na faculdade... Só rolou ir à tarde mesmo. Logo aula com quem... com o coordenador do curso lá. O cara já deu um monte de aulas e é a primeira vez que eu assisto à aula dele (aliás... tem crase nesse “assistir a”? eu realmente não lembro...). O mais legal é que ele já começou a aula falando que certas pessoas estavam reclamando que não tinham sido avisadas que há notas nos trabalhos dirigidos (aulas que eu também falto) e nos trabalhos práticos (que, surpresa, também nunca fui)... E que as pessoas que estavam reclamando de não terem ido à aula de hoje às 8 da manhã (meu caso) não saberem que tinha um trabalho pra fazer (ahhhhhh!). O professor simplesmente falou “Não importa, a presença é obrigatória”. Calou todo mundo, claro. Eu já fiquei um pouco preocupado por estar meio por fora de tudo... Agora com trabalho tava pior ainda...

A aula se passou tranqüila, falando até de coisas interessantes (arquitetura de computadores). Depois dessa aula ainda fiquei lendo um livro sobre isso na biblioteca (peguei o livro do Tanembaum pra quem conhece) e ainda tinha a aula para fazer o ‘trabalho’ depois. Eu deveria entregar o que eu já tinha pensado de uma modelização de uma memória (o quê????). Nem entendi o que o cara queria, quanto mais soube fazer... Fiquei vendo notas dos outros e acabei no final descobrindo... Ainda posso confiar um pouco no meu cérebro (apesar de não muito). Entreguei uma porcaria qualquer mas vou ter que recuperar depois... Acho que vou levar a sério essas últimas 2 ou 3 semanas...

Na saída já me ligam falando que o cinema tava mais barato (eu já sabia mas estava com preguiça de ir...) e me convidando pra ir. Já que eu estava do lado acabei indo, depois de jantar alguma coisa (comendo todas as batatas fritas que eu não comi no almoço... quase morri). Vimos La Famille Tennenbaum (The Royal Tenenbaums) em versão original... O filme é bem legal, mas tinha um cara que conseguiu sentar exatamente do meu lado que estragou o filme. Além do cara feder (sim, alguns franceses fedem, e muito, por não tomarem banho ou não lavaram a roupa) ainda por cima o cara ria em uns momentos muito inoportunos. Tinha hora que não era para achar graça e o cara ria. Mas não era algo discreto. Era algo pra todo mundo ouvir, como se ele estivesse forçando. Acho que estava mesmo. A mulher da frente sofria porque ele ficava pulando na cadeira e dando joelhada nas costas dela... O filme teria sido muito melhor sem esse panaca. De qualquer maneira eu gostei.

segunda-feira, março 18, 2002

Coloquei esse negocio de comentário também... É um jeito de ler alguma opinião... Espero que alguém ainda esteja lendo isso para poder comentar alguma coisa haha.

Dia 18/03/2002

Eu deveria ter marcado médico de novo hoje... Infelizmente não rolou tempo para isso, já que quando eu acabei de fazer tudo durante o dia a galera pára de trabalhar. Todo mundo quer chegar em casa cedo, impressionante... Amanhã sem falta...

Outra coisa... Essa mania de dar tudo errado com coisa do governo deve acontecer em todo lugar do mundo mesmo. Chegou uma carta na semana passada dizendo para eu levar uma atestação de não sei sobre a minha bolsa. O problema é que eu nem entendi que porcaria era essa. Fui ao CROUS pegar essa porcaria e levar à CAF, que é quem cuida da ajuda do governo para a moradia. Pegar papéis, levar de um lado pra outro só para corrigir detalhes dessa porcaria cansa muito. Perco horas andando para lá e para cá, quando todo mundo que eu conheço não precisava ter feito isso...

domingo, março 17, 2002

Mais uma foto... Eu em Ax-les-Thermes esquiando...

ah, aqui esta o relógio que eu comprei na Suíça:

Dia 17/03/2002

Tou aproveitando o domingo para arrumar minhas coisas... Finalmente consegui alcançar o calendário... Só estou esperando a próxima viagem agora para poder ficar atrasado de novo...

Dia 16/03/2002

Foi praticamente um dia meio nulo em Barcelona. Acordei meio tarde, peguei minhas coisas, deixei lá embaixo guardado e saí com todo mundo para andar um pouco pela cidade. Comemos como café da manhã/almoço/jantar uma super hiper promoção do Burger King, acho que a primeira promoção que ganhou de mim. Não havia jeito de comer aquilo tudo...

Com a barriga lotada, fomos andando até o museu Picasso, uma das únicas coisas que eu realmente queria ver ainda lá. Depois de se perder um pouco nas ruas tortuosas do centro velho, chegamos lá. O museu é bem interessante, apesar de pequeno. Ele mostra todas as fases do pintor, desde que ele começou a estudar arte até a fase final, passando pela fase azul, a fase rosa e o cubismo... O ponto alto é o quadro “As Meninas” dele, que ele fez baseado no quadro do mesmo nome de Velásquez. É muito legal comparar os estilos. O quadro que é praticamente uma pintura de Velásquez e as formas malucas de Picasso... Há também numerosos quadros de ele testando outras formas para as personagens do quadro...

Depois de sair do museu resolvemos ir até a beira do mar para aproveitar o sol... Mas eu não tinha muito tempo para ficar andando, já que tinha um trem para pegar para voltar para casa. Eu não quis ficar mais um dia em Barcelona porque preferia ficar em casa no domingo... Tinha até um show do Manu Chao de graça lá na praça de Espanha, mas eu não estava a fim de ficar mais um dia lá... Não tinha mais muita coisa a fazer. Fiquei só mais um tempo no albergue de bobeira matando tempo e tomando sorvete...

Finalmente chegou a hora de ir pra estação... Foram várias horas de espera, trem até a fronteira, troca de novo... O último trem parecia ser uma colônia de férias, com tanta criança... Mas a viagem foi tranquila mesmo com um monte de criança pulando de lá pra cá. Tive que chegar em Toulouse e esperar o ônibus noturno chegar e ir pra casa sozinho... Normal, mas tava meio frio.

Como chegar em casa é bom... hehe. Aliás, hoje completam 8 meses que eu estou aqui... O tempo tá passando mais rápido que eu imaginava...

Dia 15/03/2002
Acordei um pouco mais tarde que o normal em uma cidade que não a minha. Afinal, eu não tinha dormido muito. Na verdade eu acordei porque uma garota resolveu entrar no nosso quarto às 9 e meia para guardar suas coisas no armário. Tudo bem, eu também não poderia ficar dormindo até muito tarde porque entram para limpar alguma hora da manhã. Os dois que não conheciam a cidade se arrumaram e saíram enquanto o Fabiano e eu não sabíamos o que fazer. Acabou que a gente saiu com duas australianas que estavam no nosso quarto e que estavam perdidas sem saber o que fazer.

Andamos pelo bairro gótico (de novo) que era ali perto, fomos andando até o Passeig de Gracia, onde fica a Pedrera, uma das casas que o Gaudí projetou. Entrei de novo no museu (até porque é baratinho), e depois nos despedimos das duas garotas. Eu estava morrendo de cansaço e ainda tinha um show inteiro para aguentar...

Muito interessante foi participar de uma manifestação na rua, porque tinha um monte de policiais lutando com o vento, apagando fogo que uma galera tinha colocado em uns lixos, e correndo dando porrada em um pessoal que ficava gritando com eles. Foi até divertido ver todo mundo correndo pra lá e para cá... Mas nada muito perigoso... Cheguei no albergue são e salvo pelo menos.

Fiquei umas duas horas lá morgando na cama enquanto esperava todo mundo voltar. Fomos então comer algo para aguentar até de noite e pegamos o metrô até a praça de Espanha. De lá tive que andar até o Palau San Jordi, o ginásio onde aconteceram as competições durante as olimpíadas de 92. O lugar ali é bem bonito, com todas as outras construções para a mesma olimpíada. A fila já estava grande e não parava de aumentar...

Os portões abriram às 7 em ponto, como estava no ingresso. Como eu gosto de primeiro mundo... Achava que ia ser uma bagunça na Espanha, mas todo mundo estava na fila, sem furar, sem nenhuma confusão... Assim dá é muito bom de ir a um show... O lugar é muito limpo, com infra instrutura interna muito boa, cheia dos banheiros, lugar pra comprar comida e bebida... Tudo era patrocinado pela Telefonica, com todo mundo recebendo aqueles lances que brilham no escuro com propaganda da empresa. Todo mundo com aquilo na cabeça ou no pescoço dava um efeito muito legal no escuro.

O primeiro show foi de uma banda local chamada Lombardi. Eles só tocaram umas 4 ou 5 músicas, em espanhol, mas até que eu gostei. Depois tivemos um intervalo bem pequeno e começou Weezer. Depois de tanto ouvir falar da banda através de uns amigos, dizendo que era muito boa, uma das melhores da atualidade, e depois de ter ouvido um pouco em casa até que foi um bom show. Várias das músicas eu reconheci e era legal ficar do lado de fãs (pelo jeito deve ter um fã clube grande em Barcelona) enquanto eles começavam a pular a cada nota que o baixista tocava ou a cada palavra do vocalista heh.

Depois de um outro pequeno intervalo começou a tocar uma banda chamava Dover. Eu não a conhecia antes de saber que eu iria ver o show deles e nem sabia que eles falavam espanhol. Afinal, todas as músicas que eu peguei deles era cantada em inglês. A vocalista e a guitarrista eram mulheres, o que era um pouco ‘diferente’. Comecei a ver o show lá de trás, da arquibancada, porque eu tinha ido comprar um refrigerante, mas depois fui lutando para conseguir chegar mais na frente. A guitarrista parecia nervosa com algo, porque ela não parava de maltratar a guitarra... Mas muito legal o show. Acho até que deve ser muito famoso na Espanha porque todo mundo, quase sem exceções, sabia cantar as músicas...

Durante e depois do show do Dover nós três (eu, o Oto e o Fabiano... o Coruja não quis ir ao show) lutamos para chegar o mais na frente possível. Foi um empurra-empurra generalizado de sempre, mas não tem outro jeito de ficar lá. Estava um pouco quente demais, com todo mundo suado, sem muito espaço para respirar. Normal. O problema é eles demorarem anos para arrumar o palco e finalmente começar o show. Não sei o que eles ficam fazendo no backstage... Depois de ficar estressado com todo mundo me empurrando para tentar chegar mais perto, e de umas garotas que praticamente se jogavam em cima de mim para que eu ficasse puto e deixasse elas passarem, o show começa.

Eles não seguiram o setlist do show lá em Oslo, mas foi bem legal. Começaram com a música com o mesmo nome do cd novo, Wake up and Smell the Coffee. Muito legal... Aí entraram no setlist de novo, com Zombie e Analyse... Fizeram uma boa seleção das músicas... Todas as famosas e mais algumas do cd novo que são muito boas... Durante o show sempre dá para ir chegando mais para a frente e acabei bem pertinho. Fiquei muito rouco cantando Free to Decide e Salvation uma depois da outra. Depois de umas idas e vindas para o ‘bis’ combinado, o show terminou com Linger, uma outra música do cd novo e Dreams... Muito bom...

Ainda bem que o metrô estava funcionando ainda, porque senão seria um saco para voltar pro albergue. Comemos alguma coisa antes de voltar pro quarto, acordando todo mundo de novo.

Dia 14/03/2002

A porcaria do trem que iríamos pegar iria sair às 7 da manhã. Acordei às 5 com medo de sair muito tarde, perder os primeiros ônibus e chegar atrasado... Perder trem é uma das experiências mais broxantes do mundo. Principalmente quando o próximo iria me levar até Barcelona com um atraso de 7 horas... Ao invés de chegar meio-dia eu chegaria às 7 da noite, sem lugar para dormir. Bem... não era uma opção muito interessante. O problema é que eu e o Oto estávamos prontos no horário combinado, 6 da manhã. O Coruja não estava. O cara conseguiu acordar no momento que a gente bateu na porta dele. Ou seja, o cara dormiu todo o tempo que eu perdi acordando, arrumando as coisas... Impressionante. Ainda tive que ficar esperando a figura se arrumar... Saímos um pouco tarde na minha opinião, mas pegamos o ônibus tranquilamente e conseguimos chegar a tempo... O Fabiano, quarto elemento da turma que estava indo viajar, já estava lá esperando...

A viagem foi bem tranquila, sem maiores histórias. Fui dessa vez por Narbonne, uma cidade no Mediterrâneo e assim a viagem foi mais rápida. Aliás, quando o trem passou da França para a Espanha tivemos que esperar uma meia hora para que ele ‘trocasse de padrão’. Sei lá o que tem de diferente entre os trilhos espanhóis e franceses, mas pelo jeito era algo grave heh.

Já é a terceira vez que eu chego na cidade e parece que eu a conheço melhor que qualquer outra cidade (salvo acho Toulouse e Paris...). Descemos em outra estação (tirando onda que sabíamos onde estávamos) e fomos andando até as Ramblas, a rua principal da cidade (e onde ficam a maioria dos albergues). No meio do caminho fomos parados por policiais que queriam saber o que estávamos levando nas mochilas. Bom, eu não tinha nada perigoso. O cara pegou o passaporte de todo mundo e fez uma cena... Um outro guarda viu que a gente estava um pouco alterados e foi falar que era normal, porque estava acontecendo um encontro de dirigentes da União Européia e tinham que manter a ordem e tal... Eu perguntei se eles estavam parando todo mundo, e ele meio sem graça falou que estavam parando quem parecia perigoso... É... tenho a maior cara de muçulmano que está levando uma bomba. Tenho até a barba e o turbante para mostrar.

Comemos alguma coisa depois dessa, e fomos andando para procurar albergue. A primeira opção era um baratinho chamado New York que o Fabiano conhecia, mas que teve a maior dificuldade para encontrar. Esse estava lotado. Achamos umas pensões que eram um pouco mais caras, mas que ficaram como opções caso os albergues estivessem cheios. Acabou que fomos para o mesmo albergue onde passamos o ano novo, com aquele medo de sermos reconhecidos. Principalmente eu, que tinha brigado com a vietnamita lá na recepção. Quando chegamos lá, quem estava no balcão? A própria! Ainda bem que ela não lembrou de mim. Mas lembrou do Fabiano muito bem... Isso que dois minutos atrás eu tinha falado que ele não seria lembrado de jeito nenhum... Mas não foi nada ruim. Ela achou lugares pra gente e já estávamos com teto. Agora restava ficar passeando um pouco.

Como eu já conhecia tudo tanto fazia onde eles queriam ir... Eu ainda não tinha ido ao estágio do Barcelona, e gostei da idéia... Fomos lá, não entramos no museu mas só ficamos dando volta por ali. A loja de bugigangas do Barça é enorme... Eles vendem de tudo... Tem até um banco imobiliário com os jogadores do clube no lugar dos terrenos... É até legal mas eu já estava cansado de andar... Aliás, tem a porcaria da foto do Rivaldo por tudo lá...

Na volta eu fiquei andando com o Oto e o Coruja pelo bairro gótico, que era ali perto... Já tinha andado um monte por ali, mas eu estava meio com dor na consciência de ir até ali e ficar dormindo no albergue (mesmo morrendo de sono). De qualquer maneira tudo ali é bonito... Depois de andar que nem um condenado fomos para o albergue descansar para poder sair...

O banheiro do quarto depois dos quatro tomarem banho ficou uma piscina. Não sei quem foi o engenheiro espertão que fez aquilo, mas não há um ralo para a água ir embora... Ficou uma beleza de entrar e sair do banheiro... Ainda bem que tinha um banheiro no corredor também... Os outros habitantes do quarto não vão ficar tão felizes...

Fomos tomar umas cervejas em um bar ali perto, o Ovelha Negra. O ambiente é super legal... Acho até que já falei dele aqui porque eu fui lá na última vez... Tivemos que ficar em pé porque estava cheio pra caramba... Descobri depois que o bar está listado na maioria dos guias e só tinha gente falando outras línguas lá... Depois fomos ao Maremagnum, um shopping que tem várias pequenas boites... O legal é que chegamos um pouco tarde e como já não tinha mais tanta gente não precisava mais pagar... Ficamos até que ninguém aguentava mais ficar de pé e fomos lá acordar todo mundo do quarto... As camas de metal são um saco, fazendo um barulho infernal quando alguém se mexe. Acho que os dois outros componentes misteriosos do quarto devem ter acordado, mas eu nem vi se mexerem.

Dia 13/03/2002

Várias vezes na minha vida eu pensei que não tinha ido preparado para uma prova. Estava errado. DESSA VEZ eu não estava preparado para uma prova. Cheguei bem cedo lá (depois de praticamente madrugar para não perder o ônibus) e comecei a conversar com algumas pessoas. Todas elas tinham lido um monte de coisas e estavam falando sobre assuntos que eu nunca tinha ouvido falar... Tive um mau pressentimento...

A prova foi uma destruição só. 5 perguntas. 0 respostas. Não aumentei muito o número de respostas não. A primeira eu ainda consegui enrolar, mas as outras... Eu consigo enrolar algumas coisas, mas não tenho o poder de criar respostas do vazio, sem nenhuma base... Sei que algumas pessoas o têm, mas eu preciso de algo para trabalhar. Escrevi uma página e saí da prova, já que não tinha muita opção... Depois disso só fui ao mercado comprar comida e fui para casa esquecer esse episódio triste da minha vida. A única boa notícia é que algumas notas saíram e nas provas passadas eu fui bem... Não quero nem ver essa nota de agora...

Arrumei minhas coisas de noite para ir para Barcelona, além de fazer uma faxina na casa. Depois desse tempo estudando eu tinha deixado tudo uma bagunça, e não poderia viajar deixando louça suja e a casa com roupas para todo lado... Depois da arrumação tudo voltou ao normal...

Dia 12/03/2002

Fiquei em casa estudando até que a Maira pediu o livro. Não tinha jeito, eu não tinha conseguido um livro igual, e eu não tinha outras notas de aula para seguir enquanto não estava com o livro. Tudo que eu tinha era uma xerox com os tópicos para estudar... De que adiantam tópicos se eu não tenho noção do que se passa na aula e de que diabos o professor está falando? Fiquei assim o dia inteiro...

Enquanto isso fizemos os preparativos para a viagem para Barcelona. O Oto já comprou as passagens e eu fiquei pegando endereços e telefones de albergues. De qualquer maneira eu não achei nenhum lugar para dormir, e vai acabar que a gente vai chegar em Barcelona e procurar um albergue direto... A gente chega no começo da tarde e tem tempo de sobra para isso...

Dia 11/03/2002

É... Começam as obrigações. Eu tenho uma prova na quarta feira sobre uma matéria que eu nunca tive, e nem sei sobre o que se trata direito. Para se ter uma idéia, houve umas 8 a 10 aulas de sistemas de comunicação e eu só fui a uma. Tudo começou com a viagem para a Alemanha, quando eu matei as duas primeiras, e continuou com o negócio de não sair de casa para ir à faculdade. Acabou que eu fiquei totalmente perdido e entrei em um ciclo do tipo “já que eu não sei o que passa, para que eu vou ver a próxima aula?”. Assim... Peguei um livro com a Maira, que não estava estudando no momento e comecei a ler. O problema é que só tínhamos um livro. Então eu lia, devolvia quando ela ia estudar, e pegava quando ela não ia mais. Fiquei com ele de madrugada e fiquei estudando até umas 2 da manhã, quando não aguentava mais ficar lendo um livro técnico em francês... O pessoal até chegou de madrugada de um bar e me ligou dizendo pra eu dormir e sair da internet... Nem acreditaram que eu realmente estava estudando...

Dia 10/03/2002

Fomos à tarde ao cinema ver outro filme francês, chamado 8 Femmes. Esse tinha a Catherine Deneuve e outras atrizes ‘famosas’ francesas. O filme é praticamente uma peça de teatro filmada em uma casa, mas a história é bem legal. Só não gostei das músicas que eles teimavam em cantar do nada, com todo mundo dançando que nem uns panacas, mas aí que eu lembrei que era um filme francês hehe.

Comemos uns sanduíches na rua mesmo (a preguiça de fazer algo em casa foi maior dessa vez) e voltamos de ônibus. Sentamos lá no fundo e ficamos falando em português entre a gente, e como sempre falamos alto o bastante para todo o ônibus ouvir. Um cara começou a olhar pra gente... Eu sempre fico com raiva de pessoas olhando, e dessa vez eu soltei um “pára de olhar, fdp”. O problema é que ele já respondeu “eu só tava olhando porque eu sou brasileiro e estava percebendo que vocês estavam falando português...”. HAHAHA eu fiquei um pouco sem graça. A gente ficou conversando com o cara, tentando mascarar um pouco o meu vacilo, mas acho que não dava hahahaha. Quase não consegui dormir pensando na merda que eu fiz hahahaha

Dia 09/03/2002

Os fins de semana em casa sempre começam tarde graças à minha janela que tapa quase toda a luz de fora... Eu praticamente não sei se o sol já subiu ou não. Quando eu resolvo acordar (depois de várias vezes virando na cama) eu olho no relógio e tomo um susto vendo que já é de tarde...

O Ferrari fez uns crepes na casa dele e eu fui lá roubar um pouco de comida. Pra completar a noite (já que ninguém queria sair), levei meu notebook lá para a gente ver um filme... Vimos aquele Zoolander, que eu achei muito engraçado mas que não foi um filme unânime... Ele é meio bobo, mas é um tipo de comédia que eu gosto hehe.

Dia 08/03/2002

Só tinha uma aula hoje, e não iria sair meio doente ainda só para isso... Acabei ficando em casa tomando meus remédios e comendo bem... Pelo menos nada piorou.

Dia 07/03/2002

Depois de uma noite horrível na qual eu não dormi quase nada por causa de febre, eu melhorei bem de manhã... Liguei o quanto antes para um médico qualquer nas páginas amarelas (até porque eu não sei de outro jeito para escolher um médico aqui) e consegui marcar para o mesmo dia.

O médico pelo jeito fazia de tudo. Era generalista, homeopata e ginecologista... Eu não entendo esse negócio de especialidades aqui na França. É uma putaria generalizada, todos fazem um pouco de tudo para poder ganhar mais dinheiro no final das contas. Vai ver que é por isso que as listas nas páginas amarelas são tão grandes... Não é que há muitos médicos, mas há médicos que têm umas 5 especialidades diferentes, além de saber fritar ovos e fazer cafezinho. Esse que eu fui tinha uma fila enorme na minha frente. Acabei sendo atendido depois de uma hora de atraso... Foi uma consulta ultra-rápida (eu até preferia que demorasse uma hora depois do que eu esperei), na qual eu só falei o que eu sentia com meu vocabulário limitado (isso que eu praticamente estudei para o ‘teste’ antes de sair de casa). De qualquer maneira o cara me receitou uns antibióticos dizendo que não tinha nada a ver com caxumba e que era uma infecção. Bem, vamos tentar... Comprei os remédios e fui para casa, já que não estava muito a fim de fazer outra coisa e não queria ficar andando muito no frio.

De noite meus pais ligam para saber notícias da doença. Acho que não deveria ter avisado que estava mal, porque eles acabam ficando preocupados e não podendo fazer muita coisa lá do Brasil mesmo... Falei tudo que o médico disse e acho que ficaram mais tranquilos... Ainda me dão a notícia que meu segundo hamster, o Fluffy, morreu... O outro já tinha morrido há um tempo... Eles acabaram não aguentando eu voltar pra casa... Afinal, eles já estavam bem velhinhos pra raça deles...

Dia 06/03/2002

Nossa... Acho que foi o dia que eu me senti mais doente durante todo o ano. Eu estava com dores no corpo todo, dor de cabeça infernal, febre... Nem comer eu conseguia direito. Ainda estava com a parte de trás da orelha inchada... Marquei um médico, mas só seria na semana que vem... Tomei um chá Vick daqueles (O chá milagroso) que melhorou em 300% minha situação... Mesmo assim foi um dia inútil, porque eu não conseguia sair de casa nem pensar em fazer alguma outra coisa... Minha mãe já me ligou dizendo que poderia ser caxumba e que eu deveria ir ao médico o quanto antes... Vamos ver se eu consigo marcar um pro mesmo dia amanhã...

Dia 05/03/2002

Eu tinha que aparecer na faculdade algum dia, mesmo todo quebrado do ski. Eu até tinha ensaiado o que eu ia fazer. Como não tinha o horário da semana em papel, eu me baseei em um horário que eu tinha pegado no começo do ano. Mataria a primeira aula, que era um trabalho prático sobre o qual eu não sabia nada (e não iria perder muita coisa), pegaria a segunda, almoçava e ficava até de tarde...

Só que eles conseguiram mudar TODAS as aulas de lugar. A aula que eu queria pegar foi às 8 e eu cheguei às 10 e meia. Já estava muito atrasado pra segunda aula (graças ao trânsito maravilhoso de Toulouse) e a última aula à tarde só seria às 4... Acabei só indo lá para dar um oi (com direito a vários ‘você ainda estuda aqui?’) e comprar comida no mercado... Depois dizem que eu não estou com vontade de ir à faculdade...

quarta-feira, março 13, 2002

Dia 04/03/2002

Claro que não esperava estar muito inteiro depois de um dia daqueles. Foi muito mais cansativo que da outra vez, por exemplo. Eu subi e desci várias vezes. Mas não sabia que ia ser tão ruim... Não conseguia nem andar direito. Além de vários dos meus músculos estarem doendo pra burro, meu joelho que eu torci estava doendo muito... Eu nem conseguia dobrá-lo... Acabei ficando em casa deitado, levantando só para fazer comida....

Dia 03/03/2002

Depois de váaarias vezes ensaiando a minha ida ao ski de novo, finalmente tomei coragem. Ainda mais porque quase todo mundo estava indo. Dez pessoas, sendo que a grande maioria debutante... Seria muito engraçado. Eu não posso dizer que no primeiro dia que eu fui eu aprendi muita coisa. Eu aprendi a cair bastante, isso com certeza. Mas a virar, parar, essas coisas... Praticamente nada.

Pegamos o trem cedinho para chegar cedo à estação para aproveitar. Quase que não conseguimos, porque a porcaria do ônibus não aparecia. Tivemos uma sorte de ele chegar no último minuto... Tivemos até que comprar os bilhetes correndo... Com direito a alguns nem comprarem. Acabaram viajando de graça porque o controlador não passou. Mas eu sempre acho arriscado e pago as minhas coisas...

A estação dessa vez era Aix-les-Thermes, nos Pirineus também. Pelo que parecia era muito boa, melhor que Peyragudes. Mas eu não tenho tanta experiência assim e não poderia falar muita coisa. Foi uma enrolação para pegar o material, todo mundo ficar pronto e comprarmos finalmente os forfaits. As filas estavam enormes e a gente ia toda hora para dar mais dinheiro para o Coruja que estava na fila. Tanto que todo mundo atrás começou a reclamar falando pra gente entrar na fila. Como ‘eu não entendo francês’ nessas horas, a gente conseguiu furar a fila mesmo hehe.

Finalmente com tudo comprado e todo mundo pronto, ficamos em uma pista para criancinhas de 2 anos de idade aprenderem a esquiar. A porcaria deve ter um meio grau de inclinação. E mesmo assim eu caí. Foi tão ridículo que até fiquei com vergonha e já estava pensando em desistir de esquiar... Mas como eu não sou de desistir das minhas coisas, ergui a cabeça e tentei subir de novo. Tentei, porque pra subir tem que ficar segurando em uma corda e para chegar nela tem que subir um montinho de neve... Ainda não sou mestre de andar com aqueles pedaços de madeira no pé... Caí no meio da criançada, derrubei todo mundo... Foi uma bagunça. A vergonha começou a ir embora quando eu vi que os outros brasileiros também estavam caindo bem... Afinal, quase todo mundo estava começando.

Depois de umas descidas naquela pista ridícula, todo mundo ficou de saco cheio. Precisávamos de uma verdadeira pista. Mas uma fácil. Havia várias verdes em um lugar mais longe. Para isso pegamos a cabine e andamos uns bons 20 minutos voando por cima das pistas... Aliás, cenas magníficas... Desde quando chegamos até esse momento eu estava era olhando a paisagem, e não esquiando...

De qualquer forma, chegamos lá em cima e começamos a descer uma verde para chegar até as pistas fáceis... Ah... isso sim que era descer. Estava começando a ficar feliz. Desci sem cair até o começo de uma das pistas. Só não consegui subir um montinho, e por isso tive que tirar os esquis... Mas era muito bom saber que eu iria aprender algum dia, e que o trauma da outra vez iria sair da minha cabeça. Ficamos em uma pista minúscula, verda, cujo teleférico é um negócio que coloca no meio das pernas e que puxa a gente até em cima. Nesse eu não caí nem uma vez, apesar de todo mundo falar que era difícil. Fiquei nessa pista até que eu me senti seguro o suficiente para testar outra.

Fui então para um teleférico mais embaixo, que era para a mesma pista mas para um ponto um pouco mais em cima. Claro que eu não consegui chegar no teleférico de primeira e tive que tirar os esquis, porque senão eu desceria para um lugar bizarro. Ainda não estou com controle total né... Até o fim do dia, quem sabe.

Dessa vez o teleférico me derrubou e eu descobri o porquê de todo mundo ficar falando que eu cairia. O negócio dá um puxão muito forte e tenho que ter um equilíbrio bom pra não cair... A segunda vez que eu fui pegar a coisa, depois de uma queda ridícula, a mulher me falou que se eu caísse de novo ela ia me dar uma pancada na cabeça. Com esse estímulo eu consegui subir direitinho... A descida foi muito boa... Nem estava caindo mais. Fiquei mais um tempo nessa pista (enquanto via a Maira coitada tentando descer a outra mas caindo sempre...) e fui tentar uma azul que estava do lado. Claro que nessa eu caí bem... Caí até pra subir, na hora que eu desci do negócio... Foi ridículo. A descida era bem mais rápida e me lembrou do meu primeiro dia. Quase que fui para uma pista vermelha... Essa azul tinha uns montinhos para pular, mas acho que estava cedo pra isso...

Depois de muitas descidas nessas pistas todas eu parei pra comer algo... Caro, mas necessário... O problema é que essa parada me deixou um pouco frio. Fui descer de novo e já estava meio sem prática de novo. Teve uma hora por exemplo que eu consegui cair no meio da subida, tive que tirar os esquis para poder sair do meio do caminho, e não conseguia colocá-los de volta... Lá fui eu de novo descendo a pé...

A queda mais legal do dia ainda estava por vir... Eu subi para a pista azul mas acabei caindo em uma pista vermelha. Até achei que estava indo bem, mas uma hora estava indo muito rápido, cruzei os esquis e caí. Mas caí bonito. Rolei duas vezes, com os esquis (que não saíram), e fiquei lá estatelado, com uma perna pra cada lado e não conseguindo desvirar por causa dos esquis. Fiquei um tempo descansando do tombo. Minha cara e minha cabeça estavam cheios de neve, mas não fiquei muito preocupado com isso. Estava mais preocupado com o meu joelho... Achei até o Adler no meio do caminho e falei para ele esperar porque eu tinha caído feio. Desisti de andar em pistas azuis... Até o fim do dia seriam só verdes, principalmente porque eu estava morto de cansado, com tudo doendo...

Desci mais uma verde e fiquei esperando o Adler e o Corregio, os últimos que eu achei lá em cima, para descer até onde pegaríamos o ônibus. Toda a viagem que fizemos subindo na cabine teríamos que fazer na volta descendo uma pista. Graças a Deus havia uma gigantesca pista verde que fazia esse caminho. Só que essa pista não acaba. Não caí nenhuma vez, foi bem tranquilo, mas o meu joelho, minhas costas e meus pés estavam me matando. Tive que parar várias vezes para descasar... Mas só essa descida valeu o dia. Fiquei quase meia hora descendo... A sensação de ficar deslizando até lá embaixo, no meio das árvores (paisagens animais), é maravilhosa...

Mas a melhor sensação é a de chegar lá embaixo e tirar a porcaria da bota de esqui. Eu não aguentava mais ficar com aquela coisa pesada machucando meus pés. Quando eu tirei e coloquei o meu tênis foi quase um prazer orgasmático... O dia de ski tinha acabado e só tinha que pegar o ônibus e o trem de volta.

Ainda tive a sorte de perder o dinheiro que coloquei em uma máquina de coca porque eu apertei o número de um dos slots q já estava vazio. Ao invés da máquina ser inteligente o suficiente para saber que não tinha nada, não... Roubou meu dinheiro, desgraçada. Eu cheguei em Toulouse, me despedi do pessoal de Rennes que estava indo direto para casa e fui para a minha... Dormi que nem uma pedra...

Dia 02/03/2002

Hoje o CROUS resolveu pagar uma excursão para a gente para alguns lugares da região. Eu já tinha perdido o desconto enorme para uns três dias de ski que eles tinham dado (mas era na época que eu estava na Alemanha) e não poderia perder essa mamata.

Tive que acordar um pouco cedo para pegar o ônibus... Sempre essa ladainha. Chego cedo e pessoas chegam tarde e fazem a gente esperar. Acho que vou um dia deixar de ser responsável, porque não vale a pena... Sempre dão um jeitinho de todo mundo chegar e tal... Ainda tivemos que ir lá pro outro ponto de encontro, onde tinha ainda mais brasileiros e dois amigos de Rennes que iam tentar passear de graça também. Acabaram conseguindo. O que eu estava falando do jeitinho mesmo?

Nós sempre fazemos uma bolha, só com brasileiros. Não teve como não fazer isso de novo. Era muito brasileiro junto. Juntou mais de 10 só falamos português mesmo. Mas tinha pessoas de vários outros lugares. Uma garota era da Moldávia, outras duas eram da Polônia, um cara do Uzbequistão (nem sabia que existia isso direito)... Claro, sempre tem os marroquinos e africanos, muito gente boa. Há também os italianos, alemães tradicionais... Acho que não tinha nenhum francês mesmo, além dos organizadores.

Fomos primeiro visitar a divisão de águas em Narouze. Não sei se muita gente conhece, mas existe um canal que liga o Mediterrâneo e o Atlântico, que foi construído no século 17... Era um sonho antigo, mas que só pôde finalmente ser realizado nessa época. De qualquer forma, esse canal vai do Mediterrâneo até Toulouse, onde ele se liga ao rio Garonne, que vai até Bordeaux, na costa. O canal se chama Canal du Midi. Mas havia um problema que foi contornado exatamente nesse lugar: há uma elevação entre o atlântico e o mediterrâneo. Portanto, era necessário achar um lugar de onde sairia a água para alimentar as duas partes do canal. Foi nesse lugar que o engenheiro Pierre-Paul Riquet conseguiu achar um rio de onde saía água suficiente para isso. Há varias eclusas no canal (91) e sobe-se e desce-se toda hora... A obra de engenharia é uma maravilha pra época. O cara conseguiu morrer antes de ver a obra ser completada, mesmo ele tendo investido quase toda sua fortuna pessoal... Há até uma estátua dele em Toulouse (a minha faculdade fica exatamente na rua Riquet hehe). O lugar também é muito bonito, com várias árvores...

Depois fomos à Cité de Carcassone, a cidade medieval que eu já tinha ido em setembro. Mas... era de graça, e quem sou eu pra dizer não para isso. Na verdade a gente não teve tanto tempo para visitar, e por isso a maioria só viu o lado de fora e as ruazinhas, não entrando no castelo de verdade. Se eu não tivesse ido para lá ainda iria ficar decepcionado. A cidade é sempre legal, ainda mais com um monte de amigos.

A melhor parte ainda estava por vir: o almoço. Fomos comer o cassoulet, o prato típico da região. Ele é disputado por Toulouse e pela parte perto de Carcassone, mas são um pouco diferentes na preparação. O da minha cidade é feito com salsichas de porco, enquanto o outro usa carne de pato. A gente teve que comer esse último principalmente por causa dos amigos muçulmanos que não podem comer carne de porco. Ele é acompanhado por um feijão branco com um molho maravilhoso. O feijão é cozido por várias horas, até ele praticamente derreter na boca, e é servido em um pote de barro, chamado cassoule (daí o nome). Nossa... Acho que nunca comi tão bem aqui na França... comi tantos pratos que as pessoas começaram a me zoar falando que eu era um animal... Mas eu estava com fome mesmo e a comida estava muuuuito boa. As mulheres do Crous até ficaram felizess por eu ter gostado tanto haha.

Depois de Carcassone fomos a uma cave em uma cidade ao sul dali, Limoux, onde eles produzem um vinho branco, até meio adocicado. É uma cooperativa de vários de produtores. Tivemos todo o passeio explicando como é feito, como é envelhecido, quanto tempo demora em tonéis, essas coisas... É sempre bem interessante. Mas claro que o final do passeio, na lojinha, é a melhor parte para os produtores. Eles oferecem vinho para a degustação, e é esperado da gente comprar alguma coisa. O vinho era muito bom. Acabei comprando duas garrafas, sendo que uma delas é de um vinho bem doce porque não ficou muito tempo envelhecendo e o açúcar não tinha virado álcool totalmente. É o que eles chamaram de ‘velho processo’... Gastei um dinheiro mas valia a pena...

Aliás, ficaram me zoando tanto de eu estar gastando dinheiro... Principalmente porque eu comprei um tapete pro meu quarto. Mas ele combinou legal com o quarto e agora ele ficou com cara de lar! E eu estou limpando ele direitinho ta? Não está (ainda) aquela coisa cheia de poeira...

Voltamos pra casa porque o dia de amanhã promete ser cansativo...

Dia 01/03/2002

Os outros dias foram praticamente nulos... Resolvi nem escrever sobre eles. Sempre achei que não precisaria fazer isso, que poderia escrever todo dia... Mas realmente, não fiz NADA! ZERO! Eu só como e durmo. Isso deve ser alguma doença.

Só saí hoje de casa porque a situação da comida estava ficando desesperadora. Tive que ir ao mercado pra comprar alguma coisa. Quase quebrei minha coluna porque eu fui ao mercado com fome. Nunca vá ao mercado com fome. Só te faz comprar o dobro do que você realmente precisa. Eu na verdade estava precisando de tudo mesmo, até porque agora eu consigo estocar as coisas... Mas acho que estou comendo demais também. Daqui a pouco eu começo a engordar de novo.

Dia 24/02/2002

Internet é muito bom.. Me dá a possibilidade de ficar vendo filmes em casa. Eu sei que isso me afasta um pouco dos meus colegas aqui, mas eles quase nunca aceitam os meus convites para assistir filmes aqui em casa. Sempre sou eu que tenho que levar o notebook pra algum lugar, e aí até todo mundo escolher o filme já passou uma hora...

Dia 23/02/2002

Pelo menos para ver filmes eu saio de casa sem problemas. Eu não recuso um convite para o cinema de jeito nenhum. Nem para ver filmes ruins mesmo. Fui finalmente ver o novo filme do Asterix que saiu aqui. Na versão original, claro.

O filme é bem legal. Sem a Laetitia Casta, que ajudou muito no primeiro, mas muito mais engraçado. Acho que é porque agora eu finalmente entendo as piadas. Eles usam muitas coisas do cotidiano da vida francesa, coisas que eu não saberia se eu vivesse no Brasil. Tipo, não conheceria a carte bancaire deles, o sistema de celular... Esses nomes são coisas que eu só fiquei sabendo aqui mesmo. Claro que teve milhões de piadas que eu não entendi por causa do francês, mas acho que já tou me virando bem.

Aliás, tem uma luta muito engraçada no meio do filme, zoando os filmes de luta normais... Acho que metade dos filmes de comédia fazem paródia disso, mas acho que nunca vai ser demais...

A volta pra casa é que é um saco. Eu adoraria ainda estar morando perto do centro... Ficar pegando ônibus pra parar longe de casa e ainda ter que andar uns bons minutos no meio da noite não é muito agradável...

Dia 22/02/2002

Nada como um fim de semana em casa. Acho que não fiquei muitos deles aqui mesmo. De qualquer maneira, eu tinha muita coisa pra fazer. Escrever isso aqui por exemplo. Acham que eu não preciso meditar muito tempo para escrever essas linhas? E não há um melhor jeito de meditar que acordar tarde, dormir de novo... Acordar de novo... Dormir...

Preguiça...

Dia 21/02/2002

Hoje fui conhecer um cinema meio fora da cidade. Fui junto com um grupo de carro para um chamado ‘complexo de entretenimento’ meio fora... É como se fosse um shopping mesmo. Tem um cinema gigante, um monte de restaurantes, um boliche...

Vi o filme “Un Homme d’Exception”... “A Beautiful Mind” em inglês, se não me engano. O cara tá sendo indicado pro oscar, e acho que com razão. Gostei muito da atuação dele. Aliás, do filme todo.

A gente é tão anti-social que os brasileiros foram ver esse filme enquanto a francesa que foi com a gente (a motorista) foi ver outro... O que eu podia fazer? Eu ja tinha visto o filme mesmo...

Dia 20/02/2002

O mais legal de se ficar em casa é poder arrumar todas essas fotos. Eu não acredito que eu tirei tanta foto. Não sei como alguém pode aguentar ver tudo isso. Acho que mesmo eu não aguentaria. Eu não tiro a razão dos meus pais de não terem visto ainda tudo... Cada viagem agora tá dando umas 200 fotos... Ninguém aguenta ver tanta coisa mesmo. Eu ainda nessa última atualização vou colocar as fotos do reveillo, dessa última viagem que eu tive, do ski... Putz, acho que é muito.

Quando eu tiver paciência acho que vou escolher algumas e simplesmente colocar só essas...

Dia 19/02/2002

Hehe, mais um dia sem fazer nada.

Acho que vou começar a programar viagens. Eu tou com um pouco de dinheiro sobrando e não tou com a mínima vontade de estudar. Afinal, quando eu vou pra aula eu acabo não aprendendo nada de interessante mesmo.

terça-feira, março 12, 2002

Dia 18/02/2002

Nada a declarar... Foi praticamente um dia nulo em casa sem fazer porra nenhuma. Eu acordo tarde, faço o almoço, durmo, acordo na hora do jantar, faço o jantar, limpo tudo e fico vendo televisão ou escutando música.

Há algo melhor que isso?

Dia 17/02/2002

Acordei tarde pra caramba, só para ligar a televisão e perceber que hoje é o fim da moeda que foi a oficial da França durante um bom tempo, o franco. A partir de amanhã teremos que usar somente o euro. Não que eu ainda tivesse algum franco pra gastar (eu tenho alguns, mas acho que vou guardá-los), mas para os franceses parecia que era uma coisa muito importante. Falaram disso bastante na tv. Mas não sei qual o problema, já que podemos trocar em qualquer banco as moedas e notas antigas até dia 30 de junho, e no Banque de France até 2005 para as moedas e 2010 para as notas... Acho que ninguém precisa correr.

Fui finalmente ver um filme em versão original, com boa parte dos brasileiros e a espanhola que tava por aí ainda. Vimos Ocean’s Eleven no ABC, um cinema que só tem filmes em versão original. Como só existem 4 salas lá, na maioria das vezes tenho que me contentar com versões dubladas mesmo. Acho que o filme não teria tanta graça se ele tivesse sido dublado.. Adorei a trama do filme e posso dizer que eu não percebi como eles tinham feito as coisas... Acho que tou ficando burro com a idade.

Dia 16/02/2002

Resolveram fazer finalmente uma festinha no quarto de alguém para comemorar nossa volta para casa. Foi no quarto da Andrea, com todos os brasileiros, e com direito a vários estrangeiros que moram no Daniel Faucher, mais uma amiga espanhola que estudou com a gente em La Rochelle, a Amaia. Comprei um monte de coisas no mercado aqui perto... Vários vinhos, sangrias, queijos e outros lances para a festa...

Depois de chamarem a atenção duas vezes resolvemos fazer menos barulho porque dizem que a gente pode ser expulso daqui. Não iria facilitar e ser expulso logo depois de ter voltado pra casa... Mas ninguém consegue fazer silêncio... Ficamos até umas 3 da manhã e cada um foi pro seu quarto...

É, mais um mês passou, e finalmente estou morando no lugar onde eu deveria estar desde o começo. O problema é que daqui a pouco as aulas acabam, o estágio começa, e pode ser que eu tenha que me mudar de novo... Espero que isso não aconteça e eu encontre alguma coisa bem legal aqui mesmo. Tou começando a gostar da minha casa de novo...

Dia 15/02/2002

Eu estava demorando muito para fazer isso, e tirei o dia para pedir a ajuda do governo para a moradia. Claro que isso não precisava do dia inteiro para fazer, mas eu não tinha a mínima vontade de sair... A tarde por exemplo eu fiquei praticamente deitado o dia inteiro. Acho que vou acabar me acostumando com isso.

Uma amiga espanhola lá de La Rochelle iria chegar hoje à noite, mas eu não queria andar de madrugada até a estação para buscá-la... Preferi ficar em casa mesmo. Dia seguinte eu encontraria ela de qualquer maneira.

Dia 14/02/2002

Fui para o centro tirar xerox dos meus documentos para pedir a ajuda do governo. Além disso, a única coisa útil que eu fiz foi limpar definitivamente a casa e terminar de arrumar as coisas... Ainda tive que trocar as instalações da antena aqui, e tive que comprar as peças lá no centro... Se eu esperar o pessoal do Daniel Faucher fazer alguma coisa eu acabo sem tv...

Dia 13/02/2002

O dia foi totalmente inútil. Fiquei em casa o dia inteiro vendo filmes, tv, ouvindo música e estudando um pouco... Acho que isso de ter tudo em casa vai me estragar...

Dia 12/02/2002

Eu tinha aulas o dia inteiro mas só fui na última... Não tinha a mínima vontade de ir a aulas porque eu estava realmente perdido. Como era feriado no Brasil a galera fica na internet quase sempre, e eu fiquei falando com todo mundo... Principalmente com a Vanessa :)

Dia 11/02/2002

Fui à France Telecom para pedir a reabertura da linha e fiquei algum tempo no telefone lá tentando religar minha conta na internet também. Fui também às aulas, finalmente (eu já tinha matado uma semana, e era necessário assistir algumas de vez em quando). Eu fiquei completamente perdido na faculdade, com pessoas me perguntando onde eu tinha estado...

Ah... como é bom também comprar coisas para colocar dentro de uma geladeira... Comida boa... Tava precisando disso realmente.

A internet estava finalmente funcionando. Aproveitei para conversar com todo mundo e ficar de madrugada de bobeira... E, mais uma vez, consegui fazer um jantar decente...

Dia 10/02/2002

Chegada em Toulouse às 5 e meia da manhã, sendo que boa parte da noite eu estava acordado. Havia um bebê que chorava o tempo todo, umas garotas que não paravam de falar, e uns malucos que ficavam andando pelo trem... Acho que vou ter que repensar essas noites em trem na próxima vez...

Cheguei finalmente no meu quarto no Arsenal, mas só tinha nós 3 lá no momento, e o Coruja que não tinha feito a mudança ainda... Acabamos dando muita sorte porque uma amiga francesa da galera que tem um carro tinha prometido ajudar o Coruja justamente naquele domingo, e a gente aproveitou para utilizar os serviços dela. Ela chamou até uma amiga com outro carro para poder melhorar um pouco. Era muita coisa pra levar... Eu mesmo tive que fazer 3 viagens com as minhas coisas, sem contar a minha viagem de bicicleta. Ainda por cima eu tinha que conseguir levar tudo para o meu quarto no 4o andar... Essa é uma das piores coisas... As garotas foram uns anjos em ajudando a gente a fazer isso. Os outros que se mudaram foram de ônibus (como eu já tinha feito antes), e é um saco... Bom, agora eu espero não ter que me mudar durante um bom tempo.

Tive que comer na casa dos outros porque eu já tinha uma cozinha mas eu não tinha comida.

Ah... É muito bom estar finalmente em casa. Tive que começar a limpar as minhas coisas... Minha geladeira estava toda mofada, havia poeira até não poder mais, e as minhas coisas tinham que ser guardadas dentro dos armários também... Foi um dia bem cansativo, se for ver que eu não tinha dormido direito no trem e tinha feito a mudança toda...

Dia 09/02/2002

Acordamos cedo para aproveitar o café e pegar o trem. Eu não tinha falado ainda do café da manhã maravilhoso desse albergue. Aliás, é um outro lugar bom para tomar café de graça, já que eles não checam quem está hospedado ou não, tendo apenas que saber onde é a sala e conseguir pegar alguém entrando pela porta (já que você não terá um cartão). Era totalmente à vontade... Eles só falavam para pegar o que fosse comer, para não sobrar nada depois. Chá, café e suco era à vontade... Muito bom. A gente sempre aproveitou para comer bastante no café para não precisar almoçar tao cedo.

Fomos pegar o trem. Mais uma viagem com um trem cheio... Demos sorte de encontrar lugares sem reserva e ficamos sentados durante a viagem inteira. Havia alguns que ficaram uma boa parte da viagem de pé... Claro que tinha uns companheiros de viagem muito chatos, como muma senhora que comeu um sanduíche fedido logo no começo da viagem do nosso lado... Trocamos de trem só perto da França, e fomos até Strasbourg, onde eu tinha minhas passagens esperando por mim. De Strasbourg fomos a Lyon, e de lá pegamos o trem da noite para chegar de manhãzinha em Toulouse, finalmente...

Dia 08/02/2002

Já o segundo dia em Amsterdam eu não tinha a mínima idéia do que eu poderia fazer. Amsterdam é conhecida por ter uma política mais liberal em relação à maconha, e por ter uma noite legal. Coom eu não sou muito chegado em maconha e era de dia, acho que tava difícil de achar alguma coisa para fazer. Fomos andando até o Rijksmuseum, um museu perto do albergue que é bonito por fora mas não entramos. Andamos até o centro, já que não tínhamos visitado ainda. Aproveitei para ir à estação para comprar a passagem de volta pra casa. Eu já tinha comprado a passagem dentro da França pela internet, e só faltava a passagem para ir até a Alemanha, onde poderíamos usar nosso passe.

Fizemos um bom tour pela cidade, indo até o museu da Anne Frank. Foi em uma casa em Amsterdam que ela ficou escondida um tempo e escreveu seu famoso diário. A fila para entrar era enorme, e nem que quiséssemos a gente conseguiria entrar... Trocamos então por um passeio de barco pelos canais de Amsterdam. Tomando uma cerveja holandesa, andamos de barquinho, e foi um passeio bem legal apesar de ser pequeno...

Voltamos para o albergue para descansar de novo e poder sair de novo à noite. Dessa vez achamos um bar menos cheio, e bem mais social. Tomamos umas cervejas e ficamos lá conversando...

Tivemos de novo que aguentar a porcaria do japonês que não parava de roncar... Um amigo da polonesa tinha chegado, um inglês com cara de maluco, e que também não conseguia dormir... Ele até perguntou como a gente fazia pra dormir com aquele barulho... Impressionante.

Dia 07/02/2002

Mais uma vez acordei cedo pra pegar um trem. Acho que já estou ficando cansado disso. Aliás, já estava de saco cheio de viajar, querendo voltar pra casa. Além disso, eu tinha lido na lista do pessoal de Toulouse que já tinha gente voltando para casa...

Cheguei em Amsterdam umas 11 da manhã. Até descobrir como pegar metrô e onde era o albergue eu demorei um tempo. Acabei chegando lá perto de meio-dia. Encontrei os outros dois lá e descobri que de qualquer maneira a gente teria que esperar até duas da tarde para poder entrar no quarto. Fui então comer alguma coisa ali perto.

O quarto até que não era ruim. Encontramos uma garota polonesa que estava no mesmo quarto que a gente e um japonês. Perguntamos para ela o que era legal fazer na cidade e ela também não sabia. Assim, fomos ao lugar que mais queríamos ir, o museu Van Gogh.

Segundo o que me falaram, o museu Van Gogh de Amsterdam é o que possui uma das maiores coleções do pintor. Há exposições de várias épocas do pintor. Ele morou a maior parte da sua vida na França... Assim, várias das pinturas são de cenas francesas, algumas das quais eu já vi (tipo Paris em Montmartre por exemplo). Havia uma exposição que abriria no domingo dia 9 sobre as pinturas que ele e Gauguin fizeram juntos, e então algumas das mais famosas não estavam à mostra. Há os girassóis por exemplo, cujo quadro mais famoso não estava ali, mas havia outros... Eu não sabia que eles tinham feito uma quantidade tão grande de girassóis... Ainda tinha quadros de amigos de Van Gogh, entre outros.

Saímos do museu e voltamos para o albergue, para tomar um banho e descansar, já que uma das partes legais de Amsterdam é sair à noite. Depois de um cochilo saímos de novo para comer no Burger King (muuuito bom) e saímos direto de lá para fazer algo.

Uma das coisas que a galera queria ver era o Red Light District. Como a gente não sabia chegar lá seguimos um grupo que estava indo lá (e que estava gritando isso, daí o porquê de sabermos onde eles iam). Depois de muito andar, chegamos finalmente. Realmente é uma coisa engraçada, de ter mulheres semi-nuas sendo expostas como se fossem mercadorias. Tá certo que é como são classificadas, mas é meio estranho. Depois da primeira impressão, que é achar interessante, eu comecei a me sentir mal de ver as garotas se vendendo daquele jeito. Mas é realmente um jeito diferente de prostituição... Há também os lugares para se ver vídeos, stripteases, coisas do gênero.

Não ficamos lá muito tempo, e fomos para um bar tomar umas cervejas. Depois de muito demorar para decidir (e de ser barrado em alguns lugares por não estar com a roupa necessária), entramos em um bar pequeno, muito legal, cheio pra caramba... O único problema era todo mundo falando holandês e a gente não entendendo nada. Depois de umas cervejas a gente voltou para o albergue.

Acho que eu não tenho sorte com companheiros de quarto. A garota polonesa eu praticamente não vi entrar (ela chegou depois da gente). Quem não me deixou dormir direito foi a porra do japonês, que não parava de roncar. Esse conseguia ser pior que os indianos que me encheram em Florença... O cara não parava de roncar e era realmente alto. Eu e o Baiano não conseguíamos dormir e ficávamos fazendo barulho pra ver se o cara se tocava. A cada barulho ele parava, mas uns 10 segundos depois começava de novo... Que saco...

Dia 06/02/2002

Eu não estava mais tao a fim de ficar em Bruxelas, e por isso fui pegar um trem para Brugges na estação. Já tinha visto os horários pela internet e cheguei um pouco atrasado lá. De qualquer maneira há um trem a cada meia hora para qualquer lugar da Bélgica. A passagem era um pouco cara, mas eu não podia fazer muita coisa além de pagar se eu realmente queria ir lá visitar.

A cidadezinha é maravilhosa. É típo uma Veneza, mas com casas típicas da região... Ainda por cima estava fazendo sol... As fotos falam por si só. Segui os passeios que estavam no pequeno guia que comprei no escritório de informações turísticas. Eu estava sozinho, então era fácil de andar, voltar, fazer o que quiser... Foi um dia bem tranquilo.

Voltei para Bruxelas mais uma vez para dormir, e aproveitei para comprar a passagem de trem para Amsterdam, onde eu encontraria o Baiano e a Maíra de novo.

Dia 05/02/2002

Acabei acordando meio tarde, e quando saí do quarto o Russs já tinha saído pro trabalho e a Belly estava já no computador... Eu comi uns pães que ainda tinha na minha mochila e fui para a cidade (com os pontos importantes marcados no mapa). Eu não queria ficar enchendo muito os dois pra que ficassem me mostrando a cidade e até preferi ir sozinho porque eu sei que essas coisas de turista são chatas pra quem mora há anos no mesmo lugar... Além do mais, Bruxelas não parecia ser uma cidade difícil de se andar.

Na hora de pegar o ônibus, mais uma surpresa. O bilhete pra 5 viagens que eu tinha comprado não funcionava para os ônibus quando eu pegava o ônibus primeiro, só quando eu pegava o metrô e depois o ônibus. Problemas de serem duas companhias diferentes... Tive que pagar o ônibus para ir pro centro.

Cheguei na praça central novamente, e comecei a fazer o caminho que a Belly me indicou. Passei por algumas ruas ali perto, pela catedral de Bruxelas e finalmente cheguei até o Palácio de Justiça. Uma construção enorme, uma das maiores da Europa... Voltei para almoçar (no Quick, um fast food belga), e entrei no museu de belas artes da Bélgica. Ele é dividido em duas partes: a clássica e a moderna. Eu estava mais interessado na parte moderna, e por isso comecei com a parte clássica antes. Depois de algumas horas vendo quadros (acho que não estava mais tão interessado em arte assim...) fui para a parte moderna. Foi quando eu tive uma surpresa muito desagradável... O que eu mais queria ver, que era a parte mais moderna, com Magritte, Dali etc. estava fechada para reforma. Só visitei os andares superiores... Ainda por cima a luz acaba durante a minha visita. Acho que não era meu dia...

Fui visitar também o Manekin Pis, um bonequinho que parece o símbolo do Botafogo. Vários japoneses tirando foto... Foi até difícil eu encontrar um espaço para tirar a minha haha.

Cheguei na casa da Belly e do Russs um pouco mais tarde. Era aniversário do Russs, e eles tavam recebendo dois amigos. Muito engraçados os dois. Ficamos lá conversando, comendo e bebendo até tarde...

quarta-feira, março 06, 2002

Dia 04/02/2002

Cheguei em Bruxelas e fiquei meio perdido porque não sabia o que faria primeiro. Claro que ligar para a Belly (que mora lá) seria uma opção fácil, mas eu não tinha conseguido falar com ela antes e não sabia se eu poderia ficar na casa dela ou se eu precisaria pegar um albergue. De qualquer maneira eu tinha mandado mensagens e esperava que ela tivesse visto. Ela já estava esperando por mim na estação. A gente foi beber uma cerveja (eu não poderia ter saído da Bélgica sem tomar uma pelo menos!) e conversar um pouco. Ela disse que não teria problema ficar lá na casa dela e do Russs (o namorado dela), mesmo eu insistindo que eu não me importaria se ela falasse que não poderia hehe.

Pegamos um metrô e um ônibus para ir para a casa dela, que fica um pouco longe do centro. Foi no ônibus que eu vi uma das primeiras demonstrações de violência na Europa. Em um sinal fechado uns caras quebraram o vidro da porta do ônibus com chutes... Tivemos que trocar de ônibus porque o motorista, coitado, não parava de tremer e tinha que esperar a polícia. Enquanto isso eu cheguei na casa da Belly. Conheci o gato dela, o Choco, e a casa dela, que é cheia de quadros que ela pintou... Muito legal... Gostei do lugar :).

Infelizmente a luz já estava acabando, mas mesmo assim ela me levou para conhecer o palácio real (sim! a Bélgica tem um rei e eu não sabia!) que era relativamente perto. Passamos no mercado pra comprar umas coisas e eu jantei lá com eles. Finalmente conheci também o Russs. Eu nunca cheguei a falar muito com ele mas é muito gente boa... Ficamos lá conversando e vendo tv até que eu não agüentava mais de sono (3 noites em um trem não dá não...) e fui lá dormir. Eles arranjaram um quartinho pra mim (que é o estúdio da Belly e onde eles colocaram a tv também)... Hospitalidade nota 10.

Dia 03/02/2002

Voltamos para a Alemanha, indo para Dresden direto. Ficamos esperando um bom tempo na estação porque o amigo do Baiano que mora lá não estava lá ainda para nos pegar, mas isso foi arrumado logo. Chegamos na casa dele, deixamos as coisas e depois de conversar um pouco pegamos o ônibus para ir para o centro.

Dresden parecia a principio ser uma cidade bem bonitinha. Tinha uma praça central (como sempre) que tinha sobrevivido à guerra, com um monumento no meio e vários prédios importantes em volta, como a catedral, a ópera e o Zwinger. Este último é o que abriga o museu de arte, um museu de armaduras e um jardim muito legal (mesmo no inverno). Entramos no museu para ver a obra do Rafael, a Madonna, com os anjinhos muito famosos. Apesar de eu não saber onde isso estava eu sempre quis vê-los. Na minha ignorância artística eu sempre achei que era só eles em uma pintura, mas na verdade eles são um detalhe de uma pintura grande. Ou seja, eles são uma porcariazinha no canto de um quadro. Mas valeu a pena. O que eu fico puto é ter um museu daquele tamanho só em alemão. Eu não entendi nada, claro.

Depois andamos um pouco pela cidade, conhecendo os prédios, a igreja que estava sendo reformada (que aliás não é bem a palavra... reconstruída seria melhor porque a igreja foi toda destruída e só ficaram entulhos)... Aí finalmente encontramos os brasileiros que moram lá para nos levar a um lugar onde vendem kebabs. Não que isso seja anormal, mas disseram que aquele era um dos melhores que existem. Cheguei lá, ganhei um chá verde (muito bom), e pedi o maior sanduíche. Eles tinham avisado que era muito grande, mas eu não tinha noção do que muito grande significava. Aquilo dava uns dois pratos de tão grande. Eu quase morri comendo... Ainda bem que estava com fome. O kebab que eu tinha comido em Berlim era muito bom mas esse era o melhor que eu já tinha comido na Europa. Aliás, quem não sabe o que é kebab deveria conhecer...

O resto do dia foi só ficar passeando mais um pouco, ir ao mercado comprar uma comida e fazer o jantar. Depois de muito discutirmos a gente decidiu que eu iria para a Bélgica, já que o Baiano e a Maíra resolveram ir para Salzburg (que eu já tinha visitado), e a gente se encontraria em Amsterdam no albergue. Vimos os horários de trem bonitinho e reservamos o albergue (que já estava cheio...). Assim, depois de comer, fui para a estação (sem ter conseguido reservar a passagem...) e passei a terceira noite seguida dormindo dentro de um trem.

Dia 02/02/2002

Estava eu no meio da Cracóvia. Nossa, é muito longe. Tá certo que existem lugares mais longes de casa que esse, e aonde provavelmente eu vou ainda... Mas é o mais longe que eu fui até agora... Um lugar perdido no meio da Polônia (!!!).

Na verdade chegamos um pouco cedo demais. Tudo estava meio fechado e fomos esperar em um lugar mais quente enquanto eu ia pegar mais informações. Havia dois problemas principais: onde deixar as coisas e como ir para o campo de concentração. Tínhamos ido ali praticamente só para visitar Auschwitz, já que a cidade não tinha muitos atrativos aparentes... Para deixar as coisas tinha um problema, a falta de moedas... E para comprar a passagem de ônibus para ir até o museu era fácil, era só tirar o dinheiro no caixa eletrônico... Foi o que fizemos. Depois de comprar a passagem de ônibus eu consegui algumas moedas a mais (uma delas foi engolida pela máquina de coca que eu achava que dava troco...) e depois de muito trabalho finalmente conseguimos moedas suficientes para os armários. Fomos então para a estação de ônibus fazer uma farofa.

O ônibus até que não era ruim, mas demorou quase uma hora e meia para ir até o museu... Achava que era mais rápido... Ainda tinha uns outros turistas dentro do ônibus que estavam tão perdidos quanto a gente e não sabiam quando saltar... Depois de chegarmos foi só pagar a visita guiada (que com certeza valeria a pena) e esperar o horário de entrada....

Começou com um vídeo feito com várias cenas da época, com fotos e tudo, mostrando os horrores do campo... Tanto que na porta tinha um aviso falando que o filme não era recomendado para menores de 14 anos... Tinha cenas chocantes lá... Algumas das cenas foram as capturadas pelo exército vermelho quando ele finalmente conseguiu liberar a área dos nazistas... As pessoas que ‘sobraram’ lá estavam em uma situação horrível...

A visita guiada começou pelo portão de entrada de Auschwitz I (que era onde ficava o museu...). No portão estava escrito “O trabalho traz liberdade”... Muito profundo isso. A mulher ia explicando a história do campo, falando que aqueles barracões já eram do exército polonês e foram adaptados para a utilização deles. Fomos entrando em alguns deles que faziam parte do museu, com exposições variadas. Logo no primeiro eles mostraram como funcionavam as câmaras de gás e os crematórios... Havia até uma urna com cinzas recolhidas nos crematórios e que estava ali como homenagem. Todo o museu estava povoado com fotos do lugar na época...

O próximo barracão tinha coisas mais horríveis ainda. Cabelos de mulher, por exemplo, eles acharam toneladas... Os alemães usavam para fazer tecidos com o cabelo humano... Tinha sapatos, malas, objetos pessoais... Os judeus (e ciganos e outras nacionalidades também) realmente pensavam que estavam sendo realocados e não levados para a morte... Houve também uma seção mostrando como eles faziam a escolha entre os que podiam trabalhar e os que eram mortos logo na chegada (mulheres e crianças eram geralmente mortos no mesmo dia que chegavam...). Era absurdo por exemplo ver malas de crianças que não tinham nem 1 ano de idade...

Outro barracão era dedicado aos ‘trabalhadores’ do campo. A vida deles era horrível. Acho que se o cara fosse escolher acho que ele escolheria morrer de uma vez... A qualidade de vida de um trabalhador era tão ruim que era raro alguém viver mais de 6 meses... a média de vida era em torno de 3 meses. Havia desenhos mostrando que os caras acordavam de manhã, iam ao banheiro (eles tinham permissão de ir ao banheiro duas vezes por dia só, quando conseguiam), comiam muito pouco... A comida deles então era um absurdo. O café da manhã era um chá meio bizarro, o almoço era quase sempre uma sopa... Ainda tinha o problema de que em uma sopa sempre fica a água em cima, a parte que alimenta mesmo fica mais embaixo e não tinha comida suficiente pra todo mundo, o que fazia com que o pessoal do meio da fila se dava bem... Imagina a quantidade de briga que não tinha para ficar no meio da fila. Ainda por cima os guardas não deveriam ser muito gentis com os prisioneiros... Para piorar a visita ainda tinha várias fotos dos prisioneiros, com o tempo de vida deles no campo. No começo eles registravam todos os trabalhadores, com número, foto... Depois começou a ficar muito caro e eles simplesmente tatuavam o cara e pronto... Muitas fotos estavam na parede...

Tinha ainda uma outra parte que falava sobre os experimentos em cima de prisioneiros, principalmente crianças. Eles ficavam tentando descobrir novos métodos de esterilizar pessoas, para arranjar meios mais fáceis de acabar com a raça impura... Preferiam gêmeos... Lá tinha algumas fotos de crianças maltratadas (muitas delas liberadas pelos russos mas morreram logo depois devido aos maus tratos...). É impressionante...

O último barracão é também o mais sinistro. Conhecido como bloco 11, o bloco de execução, era utilizado para matar prisioneiros de guerra e para punições aos ‘trabalhadores’ que faziam alguma coisa de errado. Por exemplo, quando um prisioneiro tentava fugir ele e outros do seu grupo eram punidos em algumas das celas desse barracão. Era a chamada responsabilidade coletiva. As celas então eram bizarras. Havia uma que tinha janelas tão pequenas que apenas uma pessoa conseguiria respirar lá dentro (chamada obviamente de cela para asfixiar)... Outra deixava os prisioneiros em pé durante toda noite, durante um mínimo de 10 noites, tendo que trabalhar no dia seguinte ainda... Acho que não era uma vida fácil. O subsolo do bloco 11 ainda foi o lugar onde fizeram os primeiros testes com o gás para utilizar nas câmaras, usando como cobaias prisioneiros de guerra russos que demoraram 2 dias para morrer...

Fomos então finalmente conhecer as câmaras de gás e crematórios desse campo. Eles são os únicos que não foram destruídos pelos alemães quando os russos estavam chegando para liberar a área porque era utilizado como abrigo. O clima lá dentro é muito pesado, claro. Várias flores e velas estão lá como homenagem aos mortos lá. Eles matavam na câmara quase sempre as mulheres, crianças e idosos...O que acontecia é que as pessoas que não eram ‘apropriadas pro trabalho’ eram levadas direto para uma câmara onde era dito que iriam tomar um banho, já que todo mundo tinha viajado muito... Na entrada davam até pedaços de sabão para alguns para ficar mais verossímil... Aí, quando todos estavam dentro, desligavam a luz e jogavam o gás por buracos no teto. Logo depois que não ouviam mais barulho, eles ventilavam a câmara, abriam, e começavam a colocar os corpos nos crematórios. Eles tinham uma capacidade muito maior de matar as pessoas que de queimar seus restos...

Bom, a visita guiada naquele campo tinha acabado, e a gente teria que pegar um táxi ou uma carona até o outro, Birkanau, o maior de todos, para continuar. Não conseguimos carona e por isso tivemos que pagar o táxi... Chegando lá o motorista malandrão já marcou com a gente de nos buscar na volta.

Esse segundo campo era um absurdo. Uma verdadeira fábrica de matar pessoas. Havia até uma linha de trem que servia justamente para transportar todo mundo para dentro e diminuir o trabalho. Fomos primeiro aos barracões que foram mantidos (ou recuperados, não entendi muito bem). Alguns eram banheiros, enormes, com vários buracos (sem nenhum tipo de privacidade), sendo que os próprios trabalhadores deveriam limpa-los depois. Apesar de existirem três barracões desses, eles não eram suficientees para todas as pessoas. Ou seja, pessoas iam trabalhar sem poder ir ao banheiro. Os barracões eram galpões de cavalos reformados para colocar os prisioneiros, e tinham umas camas bizarras, que não tinham colchões... A mulher contou outras histórias horríveis sobre as condições de vida deles...

Seguimos pela rua que levava às câmaras de gás. No meio do caminho era onde o trem parava e eram separados os dois grupos de prisioneiros. Os que seriam mortos continuavam pela estrada até as câmaras que ficavam no fim da estrada e o outro grupo ia para os barracões onde eles seriam registrados. As fotos da época são quase todas desse campo, mostrando o processo de seleção. As câmaras de gás (2 grandes e duas pequenas) nesse campo foram destruídas pelos alemães para esconder as provas. No meio das duas há um monumento escrito em várias línguas (das nacionalidades que foram mortas ali, e inglês) aos mortos em Auschwitz... Acho que é o monumento que é mostrado no final da Lista de Schindler.

Foi o fim da visita. Eu também não agüentava mais fazer nada. Fomos só para a entrada onde a gente podia subir para ter uma perspectiva de cima do campo... Eram muitos barracões, muitos mesmo. A maioria foi queimada pelos alemães (já que eles eram de madeira). Encontramos o táxi do nosso amigão e ele nos levou junto com dois australianos a um ponto de ônibus. Voltamos então à estação, compramos umas coisas para comer e pegamos nossas coisas. Foi só em um pequeno passeio que eu vi que a gente não tinha conhecido a cidade e tinha algumas coisas bonitas por lá... Mas não daria tempo mesmo e já estava escuro...

Pegamos o trem, paramos no meio da noite em uma cidade chamada Legnica (o que eu estava mesmo fazendo mesmo no meio da Polônia?) onde esperamos para pegar o outro trem... O segundo foi mais interessante, com os caras pegando os passaportes (e eu quase apanhando porque eu estava dormindo e confundi as autoridades polonesas e alemãs e não querendo dar meu passaporte de novo), mas foi tudo tranqüilo (sem dormir muito, claro).