quarta-feira, novembro 14, 2001


Dia 30/10/2001

O dia começou cedo, para que pudéssemos aproveitar bem Budapeste. Acordamos no hotel Fortuna (era esse o nome do albergue, que na verdade era um hotel 3 estrelas barato...) e pegamos o metrô. Dessa vez a gente pagou. Encontramos durante o café duas brasileiras que moravam na Alemanha e que tinham ido passar alguns dias em Budapeste. Como tínhamos um programa todo corrido, e elas iriam ficar mais tempo por lá, decidimos não falar com elas no metrô (eu as vi, mas acho que elas não nos viram...). Fomos direto para o centro, de onde poderíamos atravessar a ponte e chegar onde seria o começo da subida do castelo de Buda. Não pegamos o metrô para o outro lado porque não conseguíamos entender como funcionava aquele ticket (se era só para um trem, podia trocar ou não... Era meio complicado. Eu só fui entender mais tarde, quando finalmente encontrei um quadro com explicações em inglês... húngaro não dá de jeito nenhum).

A cidade de Budapeste é na verdade a junção de três cidades, que foram crescendo em volta do rio Danúbio, e acabaram se encontrando. O nome (e a capital mesmo) é bem novo em relação aos mais de mil anos de história da Hungria. Chegamos aonde deveríamos pegar o elevadorzinho para chegar lá em cima, e para a nossa sorte ele estava sendo arrumado. Tive que subir tudo de novo a pé. Acho que isso está virando uma constante nessa viagem. Chegando lá em cima, depois de alguns minutos tirando foto da paisagem e da cidade vista de cima (que não estava tão bonita assim devido ao tempo meio nublado) entramos no museu que existe lá, com uma boa parte das obras de arte húngaras, chamado de Galeria Nacional. O museu não tinha muito auxílio de guias ou de visita guiada, e ainda por cima várias coisas só estavam escritas em húngaro. Mesmo assim há a coleção de restos de colunas e coisas do estilo de antigas construções do castelo de Buda, sem contar nos bilhões de quadros de artistas do país de várias épocas diferentes. Eu não sei porque, mas eu estava com as pernas um pouco cansadas, e não agüentava mais ver tanta coisa a partir de um certo momento... Acho que tinham bilhões de coisas para ver, e como eu não entendo nada (ignorante sem cultura) fiquei rodando por lá meio sem saber o que fazer. Acabei fazendo mesmo uma visita rápida, dando uns 2 segundos por quadro às vezes...

Depois de ver bilhões de coisas a gente saiu e foi andando em direção à Igreja de São Matias. Lá existem umas construções do lado que dão uma visão muito boa da cidade (que continuava envolta por uma névoa) chamada bastião. Foi chamada de Bastião dos Pescadores porque era uma associação de pescadores que ficou responsável por defender essa parte da muralha (e era até por isso que tinha uma boa vista da cidade... vejam só... nada é feito de graça). Do lado dela é que era a Igreja São Matias. Ele foi um grande rei da Hungria, e casou ali duas vezes. Acho que foi por isso que deram esse nome para a igreja. Do lado existia o hotel Hilton, que é apenas uma construção nova que utilizou algumas ruínas que existiam por ali na sua arquitetura...

Depois disso tudo, óbvio que eu estava com fome. Olhamos no guia do Frommers (depois de procurar pelos lados por algum restaurante) e vimos que havia um ali do nosso lado muito barato. Só que a gente não encontrava. Lendo bem no guia, deu para perceber que tínhamos que subir em uma escada escondida para poder chegar ao restaurante. Este era muito interessante: era tipo um bandejão, em que ninguém nos serve. Só que eu precisava saber quanto custava. Depois de tentar falar com alguém e ninguém saber inglês, a gente meio que perguntou com gestos qual era a comida. Uma mulher falou algo parecido com goulash, e foi a hora que meus olhos abriram, já que eu conhecia o prato. Era o mesmo que tinham comido em Praga, só que o goulash é um prato típico da Hungria. Na verdade são uns pedaços de carne com molho acompanhados por um tipo de macarrão diferente, mas não é muito distante do que eu já havia comido no Brasil não... O prato foi muito bem feito, com quilos e quilos de comida. Eu realmente estava precisando. Peguei até uma sobremesa, não muito preocupado com o preço... Mas a surpresa foi boa. O almoço foi bem barato e comi bastante. Até entraram mais turistas, que provavelmente também leram no guia sobre esse restaurante, mas acho que eles não gostaram muito da comida e deixaram coisas no prato... O legal é que, quando não se sabe inglês, descobri que a melhor comunicação é tentando fazer gestos e sorrindo. Todo mundo te entende e ainda fica feliz de tentar te ajudar. A mulher que eu fui pedir água foi bem assim: eu cheguei sorrindo pedindo água apontando para a garrafa, e ela foi toda feliz lá buscar... Eu até falei obrigado em português mesmo porque ninguém ia entender de qualquer maneira o que eu tava falando, mesmo em inglês... Como eu já tinha lido em algum lugar, quanto menos o pessoal do restaurante falar inglês, mais barato é a comida... Ali a comida deveria ser de graça...

Saindo do restaurante, saímos andando para chegar ao outro lado da ponte, passando por umas praças antigas que ficavam ali por perto. Tinha começado a gostar da cidade já... Passamos por uma parte mais moderna, e até passamos por uma casa de banho (tradicional de lá também), mas era o dia das mulheres, e a gente só poderia entrar no dia seguinte. Pelo menos deu para dar uma olhada nos preços e talvez a gente poderia voltar quando passasse por Budapeste de novo... Decidimos andar um pouco mais e dar uma passada no Parlamento, que é uma das construções mais vistas lá do castelo de Buda. Infelizmente chegamos lá um pouco tarde e não teria mais visitas ao interior do Parlamento, onde fica a velha coroa dos reis da Hungria (é a coroa mais antiga da Europa). Ficamos só na frente tirando fotos, porque nem chegar perto poderíamos devido a uma corrente que isolava todo o prédio...

Estávamos com um pouco de pressa porque ainda tínhamos que ir pegar o carro alugado na locadora (que não sabíamos que hora fechava, e nem se iam reclamar por termos deixado para pegar o carro à tarde e tínhamos reservado para a manhã) e ainda passar no albergue para pegar nossas coisas que tinham sido abandonadas enquanto passeávamos pela cidade. Mesmo assim ainda fomos andando até a Ópera Nacional para ver se haveria algum concerto em alguma das noites que estaríamos em Budapeste. Foi uma andada boa, no frio, e quase que desisti de ir lá de tanto que demoramos chegar... Os ingressos para o espetáculo da noite já estavam esgotados, mas ainda havia para o dia 2 de novembro, a outra noite que estaríamos em Budapeste. Ainda por cima era o Requiem de Verdi, justamente por causa do feriado de Todos os Santos (aliás, caía exatamente no dia de finados que a gente comemora no Brasil). Ficamos até animados com a possibilidade de assist-lo, e fomos perguntar para a mulher se ainda tinha ingressos. Tinha. Só que eram do segundo tipo mais caro, ou então um ingresso furreca que ficava atrás de tudo, lá em cima. Dúvida... Eu estava decidido que deveríamos comprar o mais caro mesmo, e dane-se. Seria para fechar a viagem com chave de ouro. Duvida... Ah, compramos logo (no meu cartão, claro) e escolhemos os melhores dos que a gente tinha... Ficamos na décima fileira. Acho que não ficamos tão mal tendo pago quase 180 francos... É até barato se for comparar com o preço normal de um concerto desses...

Nessa hora foi uma correria. A gente foi pegar o metrô e foi pensando em qual estação parar, para saber qual a altura da locadora. O número da locadora era 62. A rua era gigantesca, e até passava perto do nosso albergue. Tanto que de manhã tínhamos visto os números ali perto, e estavam entre 101 e 95 (ou algo parecido). Então, obviamente, tivemos a idéia: passaremos umas duas estações e vemos se o número 62 está por lá. Claro que não estava. Os números estavam crescendo na direção contrária ao que tínhamos visto. Depois de alguns minutos de indecisão porque não estávamos entendendo nada, o Daniel decidiu ir para o albergue pegar nossas coisas e eu e o Ivan ficamos responsáveis de pegar o carro. Bom. Voltamos para o metrô (ilegalmente) e fomos parando de estação em estação para saber onde diabos estava o número 62. O legal da Hungria, que também era o mesmo na Áustria, é que o número não é por metragem que nem no ocidente. Eles colocam um número em um prédio gigantesco, ou mesmo em um conjunto de prédios, e a coisa não anda. Por isso, a gente andava uma estação de metrô, que era coisa pra caramba, e só tinha passado 20 números... Quando descemos do lado do albergue, eu me toquei o que tínhamos errado: de manhã tínhamos visto os números ímpares, e os pares andam de maneira diferente (bem diferente aliás). Passamos o albergue e fomos andando mais um pouco. Teríamos que pegar mais uma estação de metrô. Droga. Tava frio. E eu estava com o nariz escorrendo. Diabos. Já estava começando a ficar puto com a cidade. Acabei ficando puto no momento que eu saí na outra estação de metrô e a gente só tinha andado 10 números. Como diabos foi feita essa numeração. Decidi sair andando assim mesmo... Até que enfim, depois de muito andar, chegamos ao 62. Europcar... ahhh, finalmente. Demos os papéis que seriam necessários, e ele ainda pediu a carteira de motorista e o passaporte do Ivan, que era quem tinha pagado o carro com seu cartão. Tudo estava certo, até o cara olhar a carteira de motorista e pedir a carteira internacional. Não temos, claro. Ele disse que a carteira brasileira não era válida na Hungria, e que poderíamos ter problemas com os guardas húngaros, que iriam nos multar se passássemos por algum controle. Bom... o Daniel não estava por ali, e não sabíamos o que fazer. Eu não iria tomar uma decisão que poderia me custar muito caro sem a aprovação de todos os 3... Resolvemos voltar para casa com uma mão na frente e outra atrás mesmo, dormir bem, e pensar no caso. Além de tudo isso a gente foi andando reclamando da vida e passou o metrô... Acabou andando até o albergue mesmo... Foi até ridícula essa parte...

Chegando no albergue tava lá o Daniel esperando pela gente uma boa hora... Ele viu que a gente tinha chegado, e a gente deu a boa notícia a ele. Claro que ele falou que era para ter pegado o carro mesmo assim e saído... Mas não dava mais tempo na hora, e acabamos tendo que ficar no hotel mais um dia... Foi isso que destruiu um pouco nosso orçamento para a Hungria, mas nem tanto assim... Pelo menos dormimos bem mais uma noite... E ainda poderíamos tomar um bom café da manhã...