quarta-feira, novembro 14, 2001

Dia 24/10/2001

Acho que eu nunca passei tanto calor em um ônibus. Eles ligaram o aquecimento dele (até porque lá fora estava bem frio) mas eu tive a sorte de ficar exatamente em um banco onde a saída do calor ficava exatamente sobre mim. Acordei várias vezes durante a noite suando, achando que era porque eu estava doente ou algo assim... Até que eu realmente acordei e vi que estava em cima da saída do aquecimento... Interessante.

Chegamos em Praga por volta de umas 11 horas. A cidade em si parecia meio suja, mas já com vários sinais de capitalismo: coca-cola, Carrefour... Tinha de tudo lá. Chegamos na estação de ônibus e já pegamos um mapa da cidade para poder descobrir onde era o albergue que a gente havia reservado. Uma velhinha nos abordou oferecendo alojamento (é comum, segundo os guias, pessoas oferecerem quartos na própria casa ou até o apartamento inteiro para turistas a fim de ganhar dinheiro) falando francês até muito bom. Mesmo a gente dizendo que já havia reservado o albergue ela continuou nos seguindo falando que teria feito mais barato e tal. Não tínhamos como mudar de lugar e falamos isso a ela, mas não teve jeito, ela foi atrás. Mas ela nos ajudou muito falando qual metrô e qual ônibus para chegar no albergue o mais rápido possível (lembrem-se que eu estava com uma mochila gigante, pesada, e meio doente ainda, com o corpo doendo). Foi com a gente até o ponto do último ônibus. Depois de descermos do ônibus, achando o albergue facilmente, fomos à recepção fazer o check-in. Mais uma transação no cartão de crédito. Aí eu acabei fazendo outra besteira. Achando que o quarto era perto, resolvi levar minha mochila na mão ao invés de leva-la nas costas, e isso me custou muito... O quarto era longe pra caramba, e ainda por cima era em outro prédio, subindo quatro andares de escadas. Recebemos uma chave para nós três e o cara ainda mostrou onde ficava os banheiros e a cozinha (onde tomaríamos café). O nosso quarto era dividido com mais duas pessoas. Só que não imaginávamos encontrar uma delas dormindo ainda àquela hora, ainda mais uma mulher. A gente fez uma bagunça que era impossível de ela continuar dormindo, mas acho que ela continuou deitada por vergonha de levantar na hora, sei lá. Resolvemos ainda colocar as mochilas dentro de um armário de metal que ficava no quarto, e que poderia ser fechado com um cadeado, mas foi uma dificuldade tremenda. Primeiro porque a mochila era muito grande e não cabia tão fácil assim no armário. Na minha foi necessário tirar as alças para poder colocá-la, e ainda assim ficou difícil... Fez barulho também para entrar porque era um armário de metal, e qualquer batidinha nele fazia um esporro. Outro problema era que alguém tinha forçado a porcaria da porta, e então nenhum cadeado conseguia ficar ali, pois as duas coisinhas estavam muito separadas e o cadeado não era tão grande assim. Com uma forcinha tudo se ajeita...

Saímos do quarto para começar a explorar logo a cidade, já que tínhamos perdido toda a manhã. Fizemos os planos lá fora e começaríamos por andar ali por perto do albergue mesmo, deixando o castelo para o outro dia. Fomos para a praça principal da cidade, com uma estátua no meio, e cheia de casinhas com arquiteturas bem diferentes. Em várias lojas de souvenir existem essas casinhas para comprar e montar a pracinha toda se quiser. Como uma reportagem que eu li sobre Praga disse, dava para ficar um dia inteiro naquela praça... Mas como não tínhamos o dia inteiro mesmo continuamos. Passamos pelo relógio mecânico que fica em um dos lados de uma torre na praça. Esse relógio, dizem a lenda, foi construído por um cara que o prefeito da cidade mandou cegar porque ele poderia fazer um tão bonito para outra cidade. Dizem também que o criador do relógio, mesmo cego, tirou uma peça do relógio e que demoraram mais de cem anos para descobrir o que estava faltando. Acreditem se quiser... A cada hora o relógio bate e as pequenas estátuas que ficam do lado do relógio se mexem... Acho que seria bem interessante, mas deixamos para ver o espetáculo na volta, já que iríamos passar pela praça de novo para passar para casa.

Fomos a uma sinagoga do circuito judeu da cidade, e descobrimos que existia um ticket conjunto para entrar em todos os museus judeus mas que só poderia ser comprado em outro. Fomos a esse, compramos e entramos. A primeira sinagoga era uma que tinha escrito os nomes de todas as famílias judaicas que tinham morrido na segunda guerra (eram paredes e mais paredes de nomes escritos, um absurdo). Para entrar na sinagoga os homens têm que usar aquele kippa (acho que é assim que escreve) como sinal de respeito. Eles fornecem uns chapeuzinhos vagabundos que não ficavam na cabeça de jeito nenhum, e toda hora eu tava catando ele no chão. Até fiquei com ele de souvenir de raiva. Algumas paredes tinham os nomes apagados. Durante a ocupação de Praga pelos soviéticos esses nomes foram sendo apagados por estes, mas eles davam a desculpa que era a erosão do tempo. Interessante... Saindo dessa sinagoga chegamos a um cemitério judaico, pequeno até, mas que tem mais de 20000 tumbas. Fica uma lápide em cima da outra, porque a partir de uma certa época eles só poderiam enterrar judeus nesse cemitério e, claro, ele ficou um pouco lotado... No espaço onde ficaria uma pessoa enterrada tinha até 8 pessoas enterradas em pé... Outras sinagogas seguiram essa primeira: uma que era chamada espanhola, que era bem bonita por dentro e tinha uma coleção de coisas dos judeus na época que eles foram removidos de Praga pelos nazistas; uma outra que tinha uma coleção de coisas falando sobre os hábitos e festas dos judeus; outra que era a Velha-Nova Sinagoga, que é a sinagoga mais velha de Praga; e uma que tinha uns tesouros dos judeus (prataria, ouro, essas coisas). Havia até excesso de informação, e no final do dia eu já estava cansado de tanto ver isso. Entre todas essas visitas a gente foi gastar um pouco de dinheiro comendo em uma pizzaria que ficava ali perto e que parecia ser muito boa. Na verdade era, mas eu não comi tanto quanto eu esperava. Pensava que as pizzas em um país do Leste seriam mais generosas...

Voltando para casa depois de tanta informação, ficamos passeando pela praça e por outros monumentos ali perto, como o teatro nacional e umas igrejas que ficavam por ali... Tinha começado (de novo) a chover, e a gente não ficou muito tempo por ali. Quando estava chegando na hora de bater o relógio fomos para a pracinha, mas ficamos enrolando tanto para tirar fotos ali que acabamos perdendo o horário e o relógio bateu... Eu só vi o final da cena.

À noite, para jantar, fomos a um restaurante indicado pelo Frommers (o guia). Era difícil pra caramba de achar a pequena ruazinha e o restaurante em si, por fora, não parecia muito promissor. Grande engano. Entramos e logo achamos uma mesa. Pegamos o cardápio em inglês e vimos que o preço da comida era ridiculamente baixo (em relação à França, claro). Resolvemos apelar e pedimos couvert, entrada, prato principal e sobremesa pra todo mundo. Ficou cerca de 30 francos no máximo para cada um... Isso em termos de França é uma maravilha. Eu ainda tava meio doente e acabei não comendo tanto assim... Meu prato principal foi metade de um frango mais um acompanhamento de batatas e arroz... Era muita comida pra mim, e fiquei até sem sobremesa. Acho que tinha comido muito pão do couvert. A mulher que nos atendeu praticamente não sabia falar inglês, mas tudo correu muito bem. Pagamos felizes e contentes.

Tínhamos combinado de ir a uma discoteca que ficava do lado da famosa ponte de Praga, a com as estátuas (ela aparece no filme Missão Impossível). Para fazer a digestão de tanta comida foi necessária uma caminhada por toda a ponte até o outro lado do rio, onde ficava uma igreja. Quando achamos que tínhamos andado demais, voltamos para a discoteca. Mas não entramos. Acho que não dormir bem depois de vários dias (acho que desde antes de Barcelona eu não dormia mais de 6 horas por noite ou não dormia em uma cama) e voltamos pra casa mesmo. Deixamos a noite de Praga para conhecer no dia seguinte mesmo. Chegando no albergue conhecemos a garota que tínhamos acordado (era uma australiana gordinha, cujo nome não lembro) e o outro elemento do quarto, um senhor já, solteiro, canadense, que todo o ano tira 2 meses para viajar e estava já no fim da viagem dele desse ano. O cara era ninja. Deitou numa posição e não se mexeu mais até acordar. Já tinha visitado mais coisa que o papa. Acho que esse vai virar meu ídolo de agora em diante...