Dia 28/10/2001
Hmmm... talvez acampar nessa época do ano não tenha sido uma das melhores idéias do mundo. Mesmo pagando menos eu não consegui dormir muito não. Eu estava com uma meia de lã e com um moleton, e mesmo assim eu fiquei com muito frio. Acordei uma certa hora da noite (com o Ivan se mexendo e com uns bêbados de algum outro trailer gritando) e não consegui mais dormir porque estava muito frio... Meu pé estava congelando. Quando tocou o despertador eu já estava há muito acordado, e saí rapidinho pra ver se eu colocava uma roupa mais quente... Dentro do carro estava muito melhor. A barraca ficou molhada só com a transpiração da gente... E estava realmente frio de manhã... Tomamos café (se é que umas duas fatias de pão são consideradas café da manhã...) e saímos do camping para ir ao castelo de Salzburg.
O castelo de Salzburg é uma pequena aldeia fortificada (como Carcassone, mas menor) e fica no alto de um morro que tem na cidade. Claro que a gente chega lá e o teleférico ainda estava fechado... Para ganhar tempo a gente resolve subir tudo a pé (como tinha muitos que faziam), mas foi mortal... Chegando lá em cima na porta (ainda fechada porque estava cedo) eu já estava morto. Testei a porta e ela abriu, mas levei uma lavada da mulher em alemão e depois em inglês dizendo que ainda não era hora (faltava tipo uns 5 minutos para abrir...). Esperei os malditos 5 minutos e compramos o ingresso, com direito a entrar no castelo e ver os cômodos. Só que a parte interior ainda não estava aberta, e então aproveitamos para visitar a parte exterior de uma vez. Para chegar ao pátio do castelo, mais subida... Acho que antigamente todo mundo era magro e com as pernas sinistras, porque nunca vi ser tão difícil de chegar em algum lugar... Não havia nada de mais na parte exterior... Fui a um museu que tinha lá dentro sobre a história de Salzburg e do castelo em si, mostrando vários aspectos da vida do castelo e da vida na cidade em si quando o castelo era habitado pelos bispos que mandavam na região. Tinha as armas da época, instrumentos de tortura, roupas... Muito interessante. Tinha até um quadro fazendo um paralelo entre a história do mundo, da Áustria e do castelo... Depois disso entramos nos cômodos do castelo, onde recebemos um audioguide individual, onde em cada sala digita-se um código e ouve-se a explicação. Impressionantemente, eu achava mais fácil de entender as explicações em francês do que em inglês com sotaque britânico... Tou começando a ficar com medo de perder o inglês de vez. Todas as explicações eram bem detalhadas (ou seja, enormes), e a visita toda durou cerca de 45 minutos. A primeira sala era uma que contava a história do castelo, com várias maquetes de como ele era em cada época, e com pinturas dos bispos que ficaram ali... Depois houve outras salas normais de castelo (como a sala de tortura, que nunca foi usada para tortura, mas só como prisão uma certa época), quartos... Esse tipo de coisa. Em uma certa parte subimos em uma torre, e lá de cima o guia explicava várias coisas de Salzburg e de seus monumentos, já que dava para ver muita coisa. Um dos lados do castelo é uma região bucólica, cheia de gramados gigantescos... Foi ali que foram gravadas várias cenas do A noviça rebelde. Muito interessante. Há até passeios, para quem pagar é claro, pelos lugares das gravações. Mas não estava muito interessado nisso não. Acabamos a visita e fomos correndo para o carro, pois estávamos um pouco atrasados...
A próxima coisa que estava nos planos seria visitar uma caverna de gelo, que é a maior caverna desse tipo no mundo. São 42 quilômetros de túneis, tudo cheio do mais puro gelo. A neve do inverno derrete na primavera, desce pelo solo para a caverna e congela. Esse gelo fica o ano todo lá... É impressionante. Mas antes disso a gente tem que chegar lá. A estrada era tranqüila, até que tivemos que começar a subir. Era uma boa idéia ir com o carro até o estacionamento mais em cima possível, já que a caverna era lá no topo, e ninguém estava a fim de andar que nem um condenado. Não teve jeito. Já estávamos tão alto que tínhamos passado um morro do lado que tinha outro castelo, e depois do estacionamento ainda tínhamos que subir mais ainda... Foi uma boa caminhada, na qual eu quase morri sufocado porque fazer exercício em um frio daqueles não é para qualquer um, ainda mais para o sedentário aqui. Chegando no lugar onde pegaríamos o teleférico, descobrimos que era um pouco mais caro do que imaginávamos (cerca de 100 francos), mas já que tínhamos ido ali... Só que foi mais de meia hora de espera pelo teleférico (ficamos na frente da fila... malandros... enquanto isso o resto do pessoal que já estava lá, mas que ficou tomando sua cervejinha, ficou para trás). Só uns 30 puderam subir, porque acho que é limitado o número de pessoas por grupo... Depois de chegar na estação lá em cima, mais uma surpresa: mais uma caminhada gigante, com subida, para chegar na boca da caverna. Essas viagens ainda vão me matar. Ainda bem que eu já estava melhor... Subimos rápido achando que isso iria fazer alguma diferença, mas tivemos que esperar por todo mundo... Outra grande surpresa é que eles não falavam inglês, só alemão. Recebi um papel em inglês com o que o cara falaria em alemão, e fomos com isso mesmo durante o passeio. Dentro da caverna é uma temperatura constante: 0 graus. Eu, dentro da geladeira, até que não senti tão frio... Também, eu estava com duas calças, blusa de lã, casaco, luva, toca... Estava bem preparado. Não havia iluminação dentro da caverna. Apenas umas lanternas a querosene que tinham nos emprestado e uma iluminação de magnésio que o guia levava. Logo na entrada a minha apagou, porque o vento chegava a uns 100 km/h (segundo o guia). O legal é que essas lanternas a querosene são preparadas para uma acender a outra: basta dar um encontrão entre as duas... Eles devem ter pensado nessas horas. São 700 degraus para subir (um pouco mais até), e depois temos que descer tudo de novo... O passeio é muito legal, com várias esculturas feitas pelo gelo quando ele desce (na verdade é a água que desce, mas dá pra entender) e vai formando... Tinha um elefante (que agora está sem a tromba) e várias estalactites/estalagmites. Há até um túmulo lá dentro de um cara que explorou muito a caverna, e que, quando morreu na guerra, teve suas cinzas guardadas em um túmulo na maior câmara da caverna... As construções de gelo eram impressionantes... Descemos tudo de novo (nossa, quanta caminhada...) e corremos para o carro para tentar pegar a estrada...
A estrada da qual falo se chama Glossglockner (na verdade esses dois s são um beta, mas eu me recuso a escrever beta no meu texto). É uma estrada que sobe pra caramba e passa pelo meio das montanhas mais altas da Áustria. Entenda-se por isso que as vistas são animais, com várias montanhas com gelo eterno ao fundo... Entenda-se também que é tudo bem frio, mas isso não quer dizer muita coisa, já que estávamos passando frio em todo lugar mesmo. Só que teve um problema. Chegamos na estrada em um momento onde a luz estava indo embora, e não adiantaria muita coisa passar por ela... Depois de uma boa discussão porque a estrada estava no programa para ser hoje e não amanhã, e que teríamos que escolher a estrada ou Insbruck, ou mesmo tentar as duas coisas e arriscar perder o ônibus para Budapeste, decidimos acampar ali por perto e pegar a estrada de manhã bem cedo... Insbruck tinha sido cortado do programa, já que seria muito corrido tentar fazer as duas coisas... Sempre se pode voltar depois para visitar uma cidade, mas para passar por essa estrada é necessário um carro (claro).
Depois de procurar por campings abertos (sempre tem os fechados fora de temporada) encontramos o melhor albergue de todos os tempos, a meu ver. Lá no camping tinha tudo. O banheiro parecia de hotel 5 estrelas (com direito a secador de cabelo no banheiro e tudo), sem contar as coisas tipo sala de ginástica, sauna, massagem, laguinho particular, mercado, casa de câmbio, quadras de esporte, piscina... tinha de tudo lá, só que a gente não poderia usufruir muito porque teríamos que sair o mais cedo possível e àquela hora da noite (6 da tarde...) já estava tudo fechado. Até a recepção. Mas uma mulher muito simpática do restaurante nos acolheu, pegou nossas carteiras de estudante para garantir que pagaríamos, e nos deu um pequeno mapa do camping dizendo para ficarmos do lado do banheiro novo. Era esse banheiro que era muito bom... Só que acampar é sempre a mesma coisa: frio. Montamos a barraca, tomamos um bom banho, e saímos de novo para tentar comer alguma coisa na cidade. Fomos ao McDonalds mesmo, em outra cidade, porque é uma coisa fácil, não muito cara (se bem que na Áustria os preços são bem parecidos com os da França) e sempre com o gosto que conhecemos... Pedi uma promoção mesmo, com ketchup (pago...). Não é propriamente uma refeição, mas melhor que nada. Depois disso, só o tempo de chegar na barraca e cair no sono.
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