Dia 26/12/2001
Os cafés da manhã dos albergues da Itália não são realmente muito bons... Nesse pelo menos eu podia pegar dois pães!! Já era uma evolução enorme, se os pães não fossem duros... Mas deixa para lá. A visita ainda estava no começo. Fomos para o ponto de ônibus (esse albergue fica no meio do mato, porque também tem uma parte dele que é um camping) junto com vários outros turistas que estavam com a gente, e descemos perto do Duomo, que é a igreja principal da cidade. Mas não começamos a visita por ali. Fomos até o palácio Pitti, onde não entramos, apesar de haver um museu de arte lá. Mas como iríamos em outros dois museus no mesmo dia, deixamos para lá. Na saída desse palácio encontramos um brasileiro que tínhamos encontrado em Roma, e ele começou a andar com a gente também. Passamos pela ponte Vecchio, uma ponte que tem joalherias muito bonitinha, e chegamos na galeria Uffizi. Entramos na fila e pagamos a entrada inteira (como sempre, nenhum desconto para estudantes... somente para a galera da Comunidade Européia). A galeria é um grande corredor em U com salas laterais. O corredor abriga um monte de esculturas greco-romanas enquanto que as salas abrigam as pinturas. A grande maioria delas é com temas católicos, sendo que os quadros Madonna col Banbino são os mais numerosos... A gente até cansa de ver a cena da Virgem com o Menino. Mas os dois mais legais foram a Anunciação do Leonardo da Vinci (que estava praticamente encoberto por um grupo de japoneses o tempo todo...) e a Vênus de Boticceli. Acho que este quadro todo mundo já deve ter visto, pelo menos uma parte dele, mesmo sem saber que era ele. Eu mesmo, quando olhei pro quadro fiquei surpreso de conhecer a pintura, mas não sabia que ele estaria ali... Acho até mais divertido não ler guias de vez em quando, porque aí a surpresa é maior... Quase despercebida estava a exposição mais interessante do museu. Havia no andar de baixo uma exposição sobre perspectiva, e as técnicas utilizadas pelos pintores para representar melhor os objetos distantes, fazendo ilusões de ótica para que um quadro plano mostrasse coisas em 3D. Eram várias salas, e eu não conseguiria explicar todas elas sem ter algum papel me auxiliando. Mas a sala que mais me impressionou foi a que mostrava os experimentos do Leonardo da Vinci nesse campo. Como dizem, ele era inventor, físico, matemático, médico, biólogo, advogado etc, e no tempo de folga pintou a Mona Lisa. Esse cara era muito ninja. Na sala dele tinha umas pinturas que ficavam perfeitas em um cilindro espelhado, que na verdade refletia a pintura que estava planificada embaixo desse cilindro. Aí a gente ficou meio interessado em como eles tinham conseguido fazer isso. E nessa sala estava o instrumento que o cara inventou para desenhar em um cilindro, enquanto o aparelho ia planificando esse desenho em uma folha embaixo... É impressionante. Tinha outros objetos muito doidos por lá, como uns compassos malucos que desenhavam órbitas de planetas (quando achavam que a terra ainda era o centro do sistema solar), e vários outros estudos de outros malucos como o Leonardo sobre o olho humano e como fazer para enganá-lo. É, eu acho, o que mais valeu a pena no museu, pelo menos para mim...
Saímos da Uffizi e passamos pela Piazza della Signoria, onde fica o Palazzo Vecchio. Logo na frente há uma cópia do David de Michelangelo. Há também uma fonte muito bonita do lado, mas que eu não sei mais o nome... Tirei uma foto na frente do David porque eu sabia que dentro do museu eles não deixariam tirar foto do original... O brasileiro que estava com a gente foi tirar fotos minha mas ele conseguia cortar tudo que eu queria pegar... Demorou até eu ter uma foto que eu gostei... Ainda bem que eu tenho uma máquina digital porque senão eu teria várias fotos sem o David, que era o mais importante da foto! Finalmente, depois dessa passagem, fomos para o que eu acho é um dos pontos mais bonitos de Florença: Il Duomo. A igreja só tem esse nome mesmo... Mas é uma igreja renascentista muito bonita, mesmo com o tempo ruim que estava fazendo. Toda branca, não como todas as igrejas góticas francesas que a gente visita toda hora... Ela estava fechada de manhã, e então resolvemos mudar nossos planos para entrar nela só depois. Todo o resto da praça era pago... Passamos por uma igreja que no guia era importante (mas não vi nada diferente nela...). Então fomos comer alguma coisa perto da estação... Depois do almoço fomos a uma outra igreja que fica logo na frente, mas também teria que pagar para entrar... O capitalismo tomou conta das igrejas na Itália, porque quase todas as igrejas cobravam um preço não muito barato só para entrar e ver as coisas... Como murrinhas que somos, resolvemos não pagar nada e só entrar no museu. Finalmente passamos pelo Duomo e entramos na igreja, depois de esperar bastante na fila de japoneses... Lá dentro não era tão bonito quanto eu achava... O exterior vale muito mais a pena. Para ver como tudo era tão capitalista, uma parte no subsolo, que devia ser onde tinha tumbas (mas tinha uma grade na frente) servia como loja de souvenirs... Impressionante.
Depois de sair do Duomo, fomos andando para a Academia de Belas Artes, onde estaria o David de Michelangelo original. O preço era bem salgado pelo que eles ofereciam dentro do museu, mas é uma daquelas coisas que você tem que fazer quando viaja... Afinal de contas, dinheiro é o que não falta. Entrei, mas não fui direto para o mais esperado, porque senão estragaria todo o museu... Até fiquei surpreso com o que eu encontrei. Havia uma exposição sobre os instrumentos musicais da época dos Médicis (a família mais importante da época da Renascença), assim como pinturas que mostravam os músicos contratados pela família... Tinha também uns computadores que mostravam os instrumentos, qual a história deles, e como era o som... Tinha alguns que não eram muito conhecidos, e ajudou bastante pra saber que porcaria era um tubo gigante com uma corda presa nele... Ainda tinha também como funcionavam os pianos, com as técnicas utilizadas para realmente fazer o som (piano forte, essas porcarias que eu nunca soube diferenciar).
Depois tinha várias outras esculturas, e finalmente no final, em uma sala especial, estava lá o David. Realmente, ele é impressionante, como tinham me falado. A quantidade dos detalhes é absurda. Até as veias da mão e do braço estão lá, perfeitas. Parece que o cara com três metros de altura vai começar a andar... Infelizmente ninguém estava tirando foto (principalmente porque era proibido), e isso não me deixou à vontade para tirar com a minha... De qualquer maneira, já é o bastante de ficar alguns minutos só observando... Realmente vale a pena pagar o que for para ver isso... O resto do museu ainda tinha várias pinturas com temas católicos, e como sempre, várias Madonna col bambino... Assim não dá. O que valeu foram algumas pinturas pré-renascença que mostram Jesus e os apóstolos como eles realmente deviam ser: morenos, como todo mundo daquela região do mundo. Só depois da Renascença que todo mundo começou a pintá-los loiros e com olhos azuis, eu acho... Encontramos no final o brasileiro perdido, que tinha ido comprar passagem pra ele pra Veneza (como a gente também iria, mas ele iria de madrugada). O cara estava em uma viagem de uma semana apenas com uma mochila do tamanho da minha de comida! Segundo ele, ele estava só com a calça que ele estava usando, três cuecas extras e umas duas camisetas a mais. O resto ele usava todo dia. O cara andava o dia inteiro com a sua bagagem. Claro. Com isso tudo, eu também andaria. Eu devia estar com dez vezes mais coisas dentro do meu mochilão, sendo que eu iria ficar uns 20 dias fora... Eu não consigo fazer esse esquema sujão...
Logo depois de sairmos da Academia fomos para a estação arrumar os detalhes da viagem de amanhã. No caso, iríamos para Veneza, chegaríamos o mais cedo possível lá, deixaríamos as malas na estação, visitaríamos o que desse da cidade com luz, e depois pegaríamos um trem para Vicenza, onde eu tinha reservado um albergue pra nós quatro. Assim, teríamos que pegar o trem o mais cedo possível. Só que não tinha muitas opções em horário interessante, ao menos não pagando suplemento. Com o passe de trem a gente tem direito de andar de graça somente nos trens regionais e inter-regionais. Os trens mais rápidos necessitam de um suplemento, que nem sempre é barato... O Adler aí achou um que saía às 6 e 40 de uma outra estação, que a gente não sabia onde ficava... E a próxima chance seria só as 9 horas da manhã, o que já era meio tarde levando em conta que a viagem demora em torno de 3 horas... Assim, ficamos com essas opções na mão e fomos para o albergue para saber se poderíamos sair tão cedo assim... Segundo o cara da recepção estaria tranqüilo. Fizemos o check-out já, pegamos nossas carteiras de albergue, e fomos tentar dormir. Só que obviamente não iríamos dormir até que os desgraçados dos indianos chegassem. Eles conseguiram entrar no quarto uma da manhã, conversando, ligando a luz, um esporro. Até que foram dormir já era muito tarde. E claro, começa a serra a funcionar novamente. Mas não era só uma! Eram três dos cinco roncando! Eu fiquei tão puto que eu levantei e quase fui jogar água em todos eles pra se tocarem... Os próprios amigos não cuidavam! Se fosse um amigo meu eu iria acordar o cara e pedir pra se virar, sei la! Iria dar um jeito. Mas não, eles tinham que ficar fazendo barulho. Tinha um que parecia que ia morrer sufocado... Dormi do jeito que deu...