terça-feira, janeiro 15, 2002

Dia 30/12/2001

Chegamos a Port Bou, já na Espanha, 6 e pouco da manhã. Claro que eu não tinha dormido nada ainda (hehe, pra que serve dormir?). Teria que esperar um tempo para pegar o próximo trem para Barcelona. A estação nunca esteve tão cheia. Tinha gente pra todo lado. Eu fui direto para o trem (que já estava lá), sentei na cadeira que eu tinha reservado (muito melhor dessa vez), e fiquei lá até chegar em Barcelona... Só nessas passagens que eu paguei e reservei (porque não eram válidas para o passe) já gastei uma grana. Mas fico feliz de ter reservado e de não ter viajado a noite toda de pé pelo menos... Chegamos em Barcelona no horário certo (até que enfim!), peguei pesetas e fui de metrô para o albergue... Albergue Ideal. Guardem bem esse nome. E nunca, NUNCA fiquem lá. Vou contando aos poucos o que aconteceu de qualquer maneira para mostrar o porquê da minha indignação. Logo na chegada eu não pude fazer o check-in porque ele só poderia ser feito à tarde. Eu só pude pagar (malandros eles hein!). De qualquer forma, a loirinha da recepção foi tão simpática que eu nem reclamei, já que isso é meio normal com hostels... Paguei pelo quarto mais caro do que tinham me falado, mas é a vida... Até reclamei, mas ela disse que tinham mudado há um tempo o preço da noite... Deixei minhas coisas trancadas lá e fui andar um pouco para esperar a galera do meu quarto que iria chegar só à tarde... Andei pelas Ramblas durante um tempo, e quando estava indo lá para o porto encontrei o Fabiano e o Leandro (os dois daqui de Toulouse) que estavam indo para o Aquário de Barcelona. Acabei indo com eles, já que não estava fazendo muita coisa. Foi até legal (segundo dizem é o maior da Europa) mas era meio parecido com o de La Rochelle. Mas valeu a pena. Depois voltamos para as Ramblas e fomos almoçar alguma coisa. Comi um pratão de comida (apesar de caro) e bebemos uma sangria muito boa... E voltei para o hostel para colocar minhas coisas no meu quarto. Todo mundo já tinha chegado, mas já tinham saído de novo. Peguei minha roupa de cama (pela qual eu tinha pago) mas não me deu a chave do locker... Como eu estava com todas as minhas coisas importantes na minha mochila, eu deixei para pegar a chave depois. Saí de novo para visitar Barcelona...

Fomos à um arco do triunfo e ficamos andando por algumas partes de Barcelona que eu não conhecia. Passamos por um parque onde estava tendo uma batucada (devia ter algum brasileiro lá, mas como tava escuro e tinha umas pessoas meio estranhas por lá eu não quis ficar para descobrir), e tinha uns monumentos bonitos por lá... Era hora de voltar para o hotel, tomar um banho (ahh, como eu tava precisando) e sair pra comer alguma coisa... À noite, obviamente, todo mundo queria sair. Saímos com um grupo grande de brasileiros (tinha mais de 50 lá nesse hostel onde a gente tava). Fomos seguindo um deles que mora na cidade já há dois meses e ele nos levou para um lugar perto do porto olímpico. Tinha um monte de bares que a entrada era de graça, onde tinha música e tudo e havia também dois lugares pagos. Ficamos um pouco nos de graça esperando (eu até achei legal ficar por ali mesmo...) enquanto o resto do grupo ficava bebendo ali fora pra entrar nos pagos... Mas tava tudo vazio neles, e acabou que todo mundo se separou. Só fiquei eu, Leandro e Fabiano, junto com uns outros brasileiros que a gente não conhecia (e um venezuelano perdido) até umas 4 da manhã nesses bares de graça. Ficamos lá dançando, nada de mais mesmo... A bebida era cara demais (uma coca era mais de 4 euros!)... Depois que eu vi que é normal isso na Espanha... Voltamos andando para o albergue... Uma boa andada, que até não foi tão ruim por estarmos com um pessoal desconhecido e que dava pra ficar conversando até lá. Quando chego no meu andar, eu fui ao banheiro comum (apesar de ter um no nosso quarto, mas eu não queria acordar ninguém acendendo a luz), mas ele estava todo vomitado... Que cena linda antes de ir dormir. Acabei tendo que acender a luz mesmo...

Dia 29/12/2001

Acordei bem cedo pra pegar o café assim que ele saísse. Já tinha arrumado minhas coisas, e até fiquei um pouco com medo de deixar as coisas no quarto enquanto fui tomar café, mas nada aconteceu. Esse café até foi bom, em comparação com os outros, porque a gente podia pegar as coisas à vontade (na verdade não, mas como não tinha ninguém tomando conta...). Comi até bem, e saí do albergue. Gastei todo meu dinheiro pagando o quarto, já que o cara da manhã me diz que eu não poderia pagar com cartão. Fiquei completamente sem dinheiro na Itália, sem ter muita vontade de pegar mais 50 mil liras (o mínimo...) pra não gastar e ficar com esse dinheiro na mão... Com o euro eu não sei como eu poderia trocar esse dinheiro depois. Assim, não quis entrar em lugar nenhum, e nem pude comprar cartões postais. Mas a visita foi bem legal de qualquer maneira. O sol nasceu quando eu estava saindo do albergue... Passei por uma ponte antiga e dali tinha uma vista muito bonita de igrejas à beira do rio com sol... Depois fui ao Duomo da cidade (pelo jeito toda cidade da Itália tem o seu Duomo), passando por umas praças (com direito à Piazza Nogara, que era um estacionamento... tirei até uma foto da plaquinha), até chegar na Arena novamente. Com sol ela ficou bem legal também. Depois fui para o tal do Castelvecchio, um castelinho que existe na cidade, onde fui abordado por testemunhas de Jeová (até aqui!!) que me deram uns papéis... Eu não entendia nada de italiano, mas tive o azar de o cara ter hospedado um brasileiro de Goiânia durante um tempo. E tempo era o que eu não tinha de sobra, senão eu perderia meu trem...

Fiquei ali um pouco e fui atrás dos monumentos em homenagem a Romeu e Julieta, que eram por ali. A casa de Romeu não estava marcada no mapa e eu não encontrei. A casa de Julieta era um pouco mais longe, mas meio na direção da estação. Fui até lá, mas acabei não entrando. Primeiro porque estava fechada devido ao horário e depois porque não tinha dinheiro. Além do mais, era meio chato entrar em algum lugar com aquela mochila enorme. Tirei uma foto pelo menos da estátua da Julieta que estava ali na frente. Depois fui em direção à tumba da Julieta. Também não entrei mas o lugar era até bonitinho. Tinha até uma árvore dos desejos na frente (não sei o que tinha a ver com a história) onde as pessoas penduravam papéis com seus desejos escritos. Mais uma foto, e c’est parti! O trem me esperava.

O dia foi um pouco chato por causa dessa parte. Não havia muito o que fazer no trem além de ler, fazer farofa (ainda bem que eu tinha pães, queijo...) e dormir. Dessa vez os trens da Itália se superaram e não atrasaram nenhuma vez, pelo menos não o bastante para eu perder conexões. Eu já até tinha feito planos B e C caso isso aconteceu, mas felizmente não precisei deles. Cheguei 7 e meia da noite em Ventimiglia (ainda bem que eu não cheguei 8 da manhã, porque realmente a cidade era um ovo...), e tive que ficar esperando duas horas pelo trem que me tiraria da Itália. Finalmente a hora chegou (eu com uma dor de cabeça dos diabos) e eu fui para o trem. Até fui um pouco cedo e o trem estava ainda vazio. Eu fui para o lugar que eu reservei, mas era uma porcaria. Ele ficava exatamente do lado da porta que dava para o outro vagão. Assim, eu sentei na poltrona do lado e fiquei esperando. Foi chegando gente. E mais gente. E finalmente mais gente ainda. Acho que eu nunca vi tanta gente num trem. Muita gente de pé, todos os lugares ocupados... Impressionante. Ainda por cima o vagão ficou com a luz acesa o tempo todo. Um dado momento entrou uma garota que tinha reservado a poltrona que eu tava... Foi foda, eu tive que ficar na que eu reservei e não foi muito agradável. Toda hora passava alguém para ir ao banheiro, ou para tentar achar lugar em outros vagões porque o nosso já estava lotado até demais. Umas americanas em uns bancos mais à frente não pararam de conversar alto a noite toda, pessoas quando passavam batiam com as malas em mim... Ainda tinha uns italianos lá na frente que tomaram garrafas de tequila e estavam muito bêbados e ainda por cima ficaram gritando ‘Tequila!!’ o tempo todo... Um deles até vomitou no espaço entre os dois vagões (ou seja, logo atrás de mim...). Dois italianos ainda ficaram nos bancos dos lados e ficaram ocupando quatro, dizendo pra todo mundo que queria sentar que eles estavam reservados... Quase que apanharam uma hora. Querem ser tão malandros quanto os brasileiros, dá nisso! Ainda por cima não tinha espaço suficiente pra minha perna, porque os bancos eram dois a dois, e eu ficava de frente pra uma outra pessoa. No caso era uma japonesa que estava dormindo e que, coitada, levou uns dois socos dos italianos que caíam de bêbados quando passavam por ela... Tava tão ruim a situação que era engraçada demais. Acho que ninguém entendeu porque eu ria o tempo todo.

Dia 28/12/2001

Hoje foi só chato porque temos que fazer o check-out antes das 10 da manhã, que é a hora do fechamento do albergue. Depois, ele só abre às 3 e meia da tarde. De qualquer forma, deu pra dormir um pouco mais. Larguei minhas malas lá no albergue porque eu só precisaria delas mais tarde, quando eu iria pra outro lugar ou ficaria em Vicenza mesmo. Ainda não tinha decidido o que eu ia fazer no dia seguinte. Enquanto isso o Adler e a namorada iriam deixar as coisas na estação porque o trem deles saía mais cedo e não daria pra pegar as coisas ali...

Fui pegar informações turísticas da cidade, mas não tinha muita coisa pra fazer por ali. Tinha um teatro romano (que eu não estava querendo ver na hora), e vários parques, igrejas... o de sempre. Mas a cidade, com gelo no chão e um sol muito bom estava muito aconchegante. Tanto que eu fui andando com todo mundo até a estação... Não tinha nada pra fazer mesmo. É muito bom ficar um tempo sem ficar correndo atrás de coisas pra ver... Chegando na estação descobriram que pra deixar as coisas lá eles teriam que revistar tudo. Eu não entendi o porquê, já que em todas as outras cidades grandes que deixamos (Napoli e Veneza) eles nem olharam pras nossas bolsas... E o cara queria ver até dentro de sacos plásticos o que tinha... Todo mundo ficou puto com o cara e o Adler e a namorada resolveram ficar andando com todas as coisas o dia inteiro. Na verdade não iríamos fazer muita coisa mesmo... Então paramos no parque logo na frente da estação que estava cheio de gelo e todo mundo ficou andando em cima do gelo e tentando fazer bolas de neve (mas não dava hehe), jogando uns nos outros. Depois de andar um pouco o Adler foi ver no sapato dele, e parecia que ele tinha pisado em alguma merda escondida no meio do gelo. Aí quando fomos ver todos tínhamos essa ‘merda’ no sapato. Depois de gastar um tempão tirando isso com papel higiênico e guardanapos que a gente tinha guardado, descobri que isso era a terra do lugar mesmo, que tinha uma coloração estranha. O mais engraçado foi o Oto, que não tinha sujado o pé de terra e na hora que ele foi tirar foto dos outros três nessa cena ridícula ele pisou numa merda de verdade...

Depois almoçamos alguma coisa e ficamos andando lá pelo centro um pouco. Há uma igreja central que é muito bonita, mas que fica no segundo andar... No primeiro há várias lojas na ruma. Uma delas até tinha o nome de Nogara... Deve ser algum parente... Finalmente cansamos de ficar andando e ficamos em um parque no norte da cidade, que também estava cheio de gelo, mas que tinha uns bancos. Acho que mais pessoas tiveram essa mesma idéia, porque tinha bastante gente lá... De novo ficamos lá relaxando... Que vida difícil... Vicenza só acabou para mim quando eu fui pegar minhas coisas, e peguei o endereço do albergue de Verona. Tinha decidido ir sozinho visitar a cidade, já que eu tinha um dia a mais e iria me separar de todo mundo mesmo. O único problema é que eu teria que estar em Ventimiglia, fronteira da Itália com a França, às 9 da noite do dia seguinte. Ou seja, pra qualquer lugar que eu fosse eu não teria muito tempo pra ficar lá. Tinha até pensado em ir para Milão, chegando lá bem de manhãzinha, mas eu preferi ficar ali por perto mesmo. Milão sempre dá pra voltar porque é uma cidade grande... Cheguei na estação com todo mundo, me despedi deles e peguei o primeiro trem para lá.

Já em Verona eu tive problemas por estar sozinho. Acho que viajar sozinho é muito chato. Eu não sabia o que eu fazia primeiro. Decidi me preocupar com quando eu iria sair dali para começar minha viagem pra Espanha. Isso era o mais importante, já que a passagem de lá eu já tinha comprado e reservado lugar e não poderia perder o trem. Mas não haviam muitos horários para chegar lá. A máquina automática de passagens que tanto nos ajudou dando os horários não funcionava. Quase que eu voltei para Vicenza que eu já conhecia para ver isso (com passe de trem é de graça mesmo...). No final acabei pedindo informação mesmo. É um saco pedir informação na Itália porque ninguém sabe falar inglês nem outra língua. Com gestos tudo dá certo de qualquer maneira. Havia um trem que saía nessa mesma noite chegando em Ventimiglia às 8 da manhã (uma porcaria! Ficaria em uma cidade minúscula durante 12 horas!). Outros horários eram saída no dia seguinte 8 da manhã (impossível! Ia pagar para dormir e pegar o trem gastando o dia inteiro!) e saída quase meio-dia. Escolhi essa última opção apesar de ser a mais arriscada (depois de tantos atrasos, trocar duas vezes de trem poderia me deixar em maus lençóis...). De qualquer jeito eu tinha que ir para o albergue. Eu resolvi ir andando de novo com todas as minhas coisas (até que eu fui fortalecendo meus músculos e não era tão ruim isso depois de um tempo...). Só que o albergue em Verona era muito mais longe da estação que Vicenza. Mas deu para ver o que tinha a cidade durante a noite para poder visitar no dia seguinte. O pior foi não ter um mapa. Tinha um pregado na estação, o qual eu tive que memorizar mais ou menos para poder chegar lá. Minha memória pelo que eu vi até que tá indo bem. Fiz de tudo para passar pela Arena central, passando por umas praças, até chegar do outro lado do rio. A arena é muito legal, tipo um coliseu pequeno, todo iluminado, onde eles tinham colocado uma estrela (provavelmente para representar a estrela em cima do presépio). O problema foi quando eu atravessei o rio... Eu comecei a andar meio sem rumo pois só sabia mais ou menos onde era. Acabei me perdendo, obviamente. Até que eu dei graças aos céus por eles terem colocado um mapa em um ponto turístico por onde eu passei (já estava indo pra bem longe do albergue). Eu nunca acharia as ruazinhas que eu tinha que pegar... Eram uns becos muito nada a ver... Subi até não poder mais e cheguei finalmente no albergue.

Esse eu posso dizer que foi o pior que eu fiquei até hoje. Além de ele ser meio sujão pela aparência e a roupa de cama que me derem não parecer muito bem cuidada, ainda tive uma surpresa quando cheguei no quarto. Era um daqueles quartos enormes, onde ficavam umas 30 pessoas... Ainda por cima minha cama ficava exatamente na frente da porta de entrada. Eu dei até uma volta e tinha umas camas em lugares melhores, com tipo ‘quartinhos’ (mas abertos de qualquer maneira...). Bom, eu não podia reclamar já que era o mais barato dos albergues. Eu não tinha muito dinheiro devido a uma compra no mercado em Vicenza que eles não aceitaram que eu pagasse com cartão de crédito, e assim eu só tinha 24 mil liras e 50, enquanto o albergue custava 24 mil... Como o cara na recepção disse que eu poderia pagar com cartão, eu não estava muito preocupado. Fiquei na cama do lado de um cara velhinho que parece que morava ali de tão à vontade que o cara se sentia na sua cama. Com sua roupa de cama amarela com bichinhos tava lindo... Tava até comendo umas frutas e me ofereceu. Acabei comendo uma maçã dele... A tangerina eu deixei dentro do armário e esqueci de pegar depois. Arrumei minhas coisas e fui tomar um banho. O banheiro era bem legal também. Os wc eram no andar de baixo, com sensores de movimento que você tem que ficar dando tchau pra ele pra que a luz não se apague a cada 10 segundos. E o chuveiro foi o melhor. Ele era comum mesmo. Tipo, não tinha divisão nenhuma. Eram dois postes com saídas de água pra vários lados, e todo mundo tomaria banho junto. Eu dei sorte porque não tinha ninguém lá e tomei banho sozinho mesmo. A água a princípio era gelada (e achei que não tinha água quente), mas como eu fui cabeça dura acabei vendo que ela esquentava. Era a última coisa que eu queria, tomar banho vendo um monte de homem pelado e com água gelada. No final tudo saiu bem. Fui para minha cama e como estava sozinho eu fiquei lá comendo alguma coisa e lendo... Não tinha muita vontade de sair dali mesmo, já que eu teria que acordar cedo. O tiozão do lado já estava dormindo (até tinha pedido pra eu apagar a luz quando eu fosse dormir). Mas eu não dormi tão cedo mesmo, ainda mais que toda hora alguém entrava ou saía, ou chegava no albergue e ia arrumar a cama do lado... Não foi uma das melhores experiências de qualquer maneira...

segunda-feira, janeiro 14, 2002

Dia 27/12/2001

Finalmente minha vingança. A gente acordou às 5 da manhã para poder sair umas 5 e meia e tentar pegar o primeiro ônibus (que não sabíamos ao certo quando passava...). Aí acendemos a luz, começamos a arrumar malas... Deve ter enchido o saco dos caras um pouco também, espero. 5 e meia já estávamos andando pelo meio do mato (digo da bruxa de blair) até o ponto de ônibus. Resolvemos não esperar ônibus com medo de que ele passaria tarde demais e começamos a andar. Aliás, essa outra estação que teríamos que pegar era mais perto do albergue que a outra... Até nos acharmos no mapa que eu tinha ficamos andando um pouco perdidos... É até engraçado pensar que eu estava em Florença, com uma mochila de 70 litros nas costas e outra de 20 na frente andando antes das 6 da manhã, no escuro, procurando uma estação de trem. Ainda bem que não estava muito frio. Depois de passar por vários lugares bizarros finalmente chegamos na estação. O trem estava atrasado. E, ainda por cima, não poderíamos pegar esse trem porque ele teríamos que pagar um complemento por ele ter camas... Aí tínhamos que esperar outro trem, que já estava atrasado uma hora, para ir até Bolonha e de lá pegar outro pra Veneza. Ou seja, foram uma hora e quarenta minutos de espera na estação... E quando ficamos parado, o frio bate. Mas tudo foi bem no final. Aliás, nem tudo. Quase que perdemos o trem porque eu estava sem vontade de ficar olhando pra ver se o trem chegava ou não e os outros nunca olham mesmo... Quando fomos ver ele já estava parado por lá. Foi todo mundo correndo pra pegá-lo, com direito a Oto correndo por cima dos trilhos (proibido!) enquanto nós passávamos pelo túnel. Mas tudo deu certo sem, claro, conseguirmos lugar pra todo mundo na mesma cabine. Mas isso não tinha problema.

Eu não consegui dormir no trem com medo de perder a estação... Aí, quando estávamos quase chegando eu, no meio de umas das minhas piscadas, olho pra fora e vejo um monte de árvores todas cobertas pela neve... Ali em Bolonha tinha nevado, e estava tudo meio branquinho. A namorada do Adler até ficou empolgada e ficou tentando pegar neve pra jogar em todo mundo, mas eu fui direto pra sala de espera pra saber que trem eu tinha que pegar... Ficamos mais um tempão lá sentados, e finalmente conseguimos entrar no trem com destino certo. Esse realmente não atrasou! Milagre! Chegamos em Veneza, e mais uma surpresa: Sol! Realmente os deuses estavam ajudando dessa vez. Deixamos as malas na estação mesmo e partimos. Eu, logo que saio da estação já dou de cara com uma pontezinha por cima do canal. Já é uma cena muito bonita, ainda mais com sol. Acho que foi mais por causa disso que eu gostei da cidade. Ela não estava muito cheia, como ela deve ficar durante o verão com o monte de turistas que vai para lá, e com o sol tudo fica mais bonito... Andamos por onde podíamos, com uma só destinação, a praça São Marco. Mas na verdade não fomos direto para lá. Além de parar no McDonalds para comer algo (é, não fugimos nunca disso, apesar de reclamarmos... É o mais barato e rápido...) e encontrar o brasileiro perdido novamente (que praga!), visitamos algumas igrejas, nos perdemos nas ruas tortuosas (segundo dizem, você não visitou Veneza direito se você não se perdeu nas porcarias das ruas que não levam a lugar nenhum). Eu estava totalmente perdido, porque o mapa que a mulher das informações turísticas deu era impreciso pra caramba. Assim, para achar o caminho várias vezes tivemos que perguntar para alguma pessoa, ou mesmo ficar andando sem rumo até achar alguma coisa importante o suficiente para estar no mapa marcado. Tentei por exemplo achar um castelinho, que abriga um museu de arte, mas que dizem que o exterior é bem bonito. Realmente, ele é bonito. Mas demorei pra achar o negócio. E, mesmo assim, não consegui bater foto porque não tem como se afastar do prédio pra tirar uma foto sem pegar um barco, já que ele está de frente pro canal...

Continuamos andando, passando por várias pontes, praças, igrejas... Nada realmente importante, mas tudo muito bonitinho, bem cara de Veneza que a gente vê em filmes. Tinha até as malditas gôndolas, que quando fomos perguntar o preço descobrimos que era 100 euros para meia hora de passeio... Um absurdo! Só na lua de mel e olhe lá hein! Fomos andando perdidos até que começaram a aparecer plaquinhas para a praça principal. Fomos andando em direção, sempre tomando o tempo para parar e ver algum souvenir... Mas não tinha muita coisa para se interessar não... O mais legal são as máscaras de carnaval, mas fiquei com medo de comprar e quebrar durante a viagem. Afinal, estava longe de terminar ainda... Quando menos esperava chegamos em uma igreja enorme, e aí que fomos ver que era a praça tão esperada. Realmente, ela é muito bonita, ainda mais com um solzinho. Acho também que tem a maior população de pombos por metro quadrado do mundo. Você pode andar chutando pombos por toda a praça. Menos por uma parte que estava cheia de gelo (onde eu quase caí). Ficamos lá tirando fotos, rindo dos pombos atacando as pessoas e do Oto tentando chutar um mas não conseguindo. Ele detesta pombos (não sei por que). Depois andamos para o palácio ducal e para o bordo do canal, de onde podemos ver as igrejas do outro lado do canal (muito bonitas aliás), e a ponte dos suspiros (aquela que ligava o tribunal à prisão e o cara via o mar pela última vez... poético...). Pra tirar foto nessa porcaria você praticamente tem que parar as pessoas, mandar elas saírem da frente e só aí conseguir... Como tínhamos resolvido não entrar em nenhum museu ficamos ali curtindo até escurecer. Aí começamos a voltar pela estação, passando por mais uma igreja (que tinha um presépio bem bonito, com as figuras se mexendo), e se perdendo mais um monte de vezes. Aliás, que desgraça pra achar essa porcaria. Só consegui eu acho por causa de duas pessoas que estavam com malas andando pra algum lugar que deveria ser a estação e a gente foi atrás. Pegamos então nossas coisas e entramos no primeiro trem para Vicenza.

A chegada foi bem tranqüila... Como não sabíamos pegar ônibus e também estava com preguiça de descobrir, fomos andando mesmo para o albergue. Pelo mapa não parecia ser tão longe. Realmente não era, e assim também deu para dar uma olhada na cidade, já de noite. Talvez no dia seguinte ficaríamos por ali... Não tínhamos decidido nossa vida a partir daí ainda. Eu e o Oto tínhamos comprado um pão (alias, enorme) lá em Veneza, e já tinha comido nosso x-salame... Muito bom por sinal. Finalmente estava começando a usar o queijo que eu tinha trazido de Toulouse! Chegamos no albergue, esperamos uma família alemã fazer check-in (e que demora!) e pegamos nosso quarto. Finalmente, um quarto só com pessoas conhecidas... Tomei um banho e fui ligar finalmente pra Vanessa, porque depois de várias tentativas frustadas eu ainda queria dar um feliz natal pra ela... Quando voltei todo mundo já estava apagado em suas respectivas camas... Mas eu sabia que eu poderia dormir um pouco mais já que não iríamos sair tão cedo de novo...



Dia 26/12/2001

Os cafés da manhã dos albergues da Itália não são realmente muito bons... Nesse pelo menos eu podia pegar dois pães!! Já era uma evolução enorme, se os pães não fossem duros... Mas deixa para lá. A visita ainda estava no começo. Fomos para o ponto de ônibus (esse albergue fica no meio do mato, porque também tem uma parte dele que é um camping) junto com vários outros turistas que estavam com a gente, e descemos perto do Duomo, que é a igreja principal da cidade. Mas não começamos a visita por ali. Fomos até o palácio Pitti, onde não entramos, apesar de haver um museu de arte lá. Mas como iríamos em outros dois museus no mesmo dia, deixamos para lá. Na saída desse palácio encontramos um brasileiro que tínhamos encontrado em Roma, e ele começou a andar com a gente também. Passamos pela ponte Vecchio, uma ponte que tem joalherias muito bonitinha, e chegamos na galeria Uffizi. Entramos na fila e pagamos a entrada inteira (como sempre, nenhum desconto para estudantes... somente para a galera da Comunidade Européia). A galeria é um grande corredor em U com salas laterais. O corredor abriga um monte de esculturas greco-romanas enquanto que as salas abrigam as pinturas. A grande maioria delas é com temas católicos, sendo que os quadros Madonna col Banbino são os mais numerosos... A gente até cansa de ver a cena da Virgem com o Menino. Mas os dois mais legais foram a Anunciação do Leonardo da Vinci (que estava praticamente encoberto por um grupo de japoneses o tempo todo...) e a Vênus de Boticceli. Acho que este quadro todo mundo já deve ter visto, pelo menos uma parte dele, mesmo sem saber que era ele. Eu mesmo, quando olhei pro quadro fiquei surpreso de conhecer a pintura, mas não sabia que ele estaria ali... Acho até mais divertido não ler guias de vez em quando, porque aí a surpresa é maior... Quase despercebida estava a exposição mais interessante do museu. Havia no andar de baixo uma exposição sobre perspectiva, e as técnicas utilizadas pelos pintores para representar melhor os objetos distantes, fazendo ilusões de ótica para que um quadro plano mostrasse coisas em 3D. Eram várias salas, e eu não conseguiria explicar todas elas sem ter algum papel me auxiliando. Mas a sala que mais me impressionou foi a que mostrava os experimentos do Leonardo da Vinci nesse campo. Como dizem, ele era inventor, físico, matemático, médico, biólogo, advogado etc, e no tempo de folga pintou a Mona Lisa. Esse cara era muito ninja. Na sala dele tinha umas pinturas que ficavam perfeitas em um cilindro espelhado, que na verdade refletia a pintura que estava planificada embaixo desse cilindro. Aí a gente ficou meio interessado em como eles tinham conseguido fazer isso. E nessa sala estava o instrumento que o cara inventou para desenhar em um cilindro, enquanto o aparelho ia planificando esse desenho em uma folha embaixo... É impressionante. Tinha outros objetos muito doidos por lá, como uns compassos malucos que desenhavam órbitas de planetas (quando achavam que a terra ainda era o centro do sistema solar), e vários outros estudos de outros malucos como o Leonardo sobre o olho humano e como fazer para enganá-lo. É, eu acho, o que mais valeu a pena no museu, pelo menos para mim...

Saímos da Uffizi e passamos pela Piazza della Signoria, onde fica o Palazzo Vecchio. Logo na frente há uma cópia do David de Michelangelo. Há também uma fonte muito bonita do lado, mas que eu não sei mais o nome... Tirei uma foto na frente do David porque eu sabia que dentro do museu eles não deixariam tirar foto do original... O brasileiro que estava com a gente foi tirar fotos minha mas ele conseguia cortar tudo que eu queria pegar... Demorou até eu ter uma foto que eu gostei... Ainda bem que eu tenho uma máquina digital porque senão eu teria várias fotos sem o David, que era o mais importante da foto! Finalmente, depois dessa passagem, fomos para o que eu acho é um dos pontos mais bonitos de Florença: Il Duomo. A igreja só tem esse nome mesmo... Mas é uma igreja renascentista muito bonita, mesmo com o tempo ruim que estava fazendo. Toda branca, não como todas as igrejas góticas francesas que a gente visita toda hora... Ela estava fechada de manhã, e então resolvemos mudar nossos planos para entrar nela só depois. Todo o resto da praça era pago... Passamos por uma igreja que no guia era importante (mas não vi nada diferente nela...). Então fomos comer alguma coisa perto da estação... Depois do almoço fomos a uma outra igreja que fica logo na frente, mas também teria que pagar para entrar... O capitalismo tomou conta das igrejas na Itália, porque quase todas as igrejas cobravam um preço não muito barato só para entrar e ver as coisas... Como murrinhas que somos, resolvemos não pagar nada e só entrar no museu. Finalmente passamos pelo Duomo e entramos na igreja, depois de esperar bastante na fila de japoneses... Lá dentro não era tão bonito quanto eu achava... O exterior vale muito mais a pena. Para ver como tudo era tão capitalista, uma parte no subsolo, que devia ser onde tinha tumbas (mas tinha uma grade na frente) servia como loja de souvenirs... Impressionante.

Depois de sair do Duomo, fomos andando para a Academia de Belas Artes, onde estaria o David de Michelangelo original. O preço era bem salgado pelo que eles ofereciam dentro do museu, mas é uma daquelas coisas que você tem que fazer quando viaja... Afinal de contas, dinheiro é o que não falta. Entrei, mas não fui direto para o mais esperado, porque senão estragaria todo o museu... Até fiquei surpreso com o que eu encontrei. Havia uma exposição sobre os instrumentos musicais da época dos Médicis (a família mais importante da época da Renascença), assim como pinturas que mostravam os músicos contratados pela família... Tinha também uns computadores que mostravam os instrumentos, qual a história deles, e como era o som... Tinha alguns que não eram muito conhecidos, e ajudou bastante pra saber que porcaria era um tubo gigante com uma corda presa nele... Ainda tinha também como funcionavam os pianos, com as técnicas utilizadas para realmente fazer o som (piano forte, essas porcarias que eu nunca soube diferenciar).

Depois tinha várias outras esculturas, e finalmente no final, em uma sala especial, estava lá o David. Realmente, ele é impressionante, como tinham me falado. A quantidade dos detalhes é absurda. Até as veias da mão e do braço estão lá, perfeitas. Parece que o cara com três metros de altura vai começar a andar... Infelizmente ninguém estava tirando foto (principalmente porque era proibido), e isso não me deixou à vontade para tirar com a minha... De qualquer maneira, já é o bastante de ficar alguns minutos só observando... Realmente vale a pena pagar o que for para ver isso... O resto do museu ainda tinha várias pinturas com temas católicos, e como sempre, várias Madonna col bambino... Assim não dá. O que valeu foram algumas pinturas pré-renascença que mostram Jesus e os apóstolos como eles realmente deviam ser: morenos, como todo mundo daquela região do mundo. Só depois da Renascença que todo mundo começou a pintá-los loiros e com olhos azuis, eu acho... Encontramos no final o brasileiro perdido, que tinha ido comprar passagem pra ele pra Veneza (como a gente também iria, mas ele iria de madrugada). O cara estava em uma viagem de uma semana apenas com uma mochila do tamanho da minha de comida! Segundo ele, ele estava só com a calça que ele estava usando, três cuecas extras e umas duas camisetas a mais. O resto ele usava todo dia. O cara andava o dia inteiro com a sua bagagem. Claro. Com isso tudo, eu também andaria. Eu devia estar com dez vezes mais coisas dentro do meu mochilão, sendo que eu iria ficar uns 20 dias fora... Eu não consigo fazer esse esquema sujão...

Logo depois de sairmos da Academia fomos para a estação arrumar os detalhes da viagem de amanhã. No caso, iríamos para Veneza, chegaríamos o mais cedo possível lá, deixaríamos as malas na estação, visitaríamos o que desse da cidade com luz, e depois pegaríamos um trem para Vicenza, onde eu tinha reservado um albergue pra nós quatro. Assim, teríamos que pegar o trem o mais cedo possível. Só que não tinha muitas opções em horário interessante, ao menos não pagando suplemento. Com o passe de trem a gente tem direito de andar de graça somente nos trens regionais e inter-regionais. Os trens mais rápidos necessitam de um suplemento, que nem sempre é barato... O Adler aí achou um que saía às 6 e 40 de uma outra estação, que a gente não sabia onde ficava... E a próxima chance seria só as 9 horas da manhã, o que já era meio tarde levando em conta que a viagem demora em torno de 3 horas... Assim, ficamos com essas opções na mão e fomos para o albergue para saber se poderíamos sair tão cedo assim... Segundo o cara da recepção estaria tranqüilo. Fizemos o check-out já, pegamos nossas carteiras de albergue, e fomos tentar dormir. Só que obviamente não iríamos dormir até que os desgraçados dos indianos chegassem. Eles conseguiram entrar no quarto uma da manhã, conversando, ligando a luz, um esporro. Até que foram dormir já era muito tarde. E claro, começa a serra a funcionar novamente. Mas não era só uma! Eram três dos cinco roncando! Eu fiquei tão puto que eu levantei e quase fui jogar água em todos eles pra se tocarem... Os próprios amigos não cuidavam! Se fosse um amigo meu eu iria acordar o cara e pedir pra se virar, sei la! Iria dar um jeito. Mas não, eles tinham que ficar fazendo barulho. Tinha um que parecia que ia morrer sufocado... Dormi do jeito que deu...


Dia 25/12/2001

Eu sei que é natal, e que todo mundo para quem eu falei que iria viajar para Florença reclamou dizendo que era natal e que eu iria viajar, mas é um dia como qualquer outro! De qualquer maneira, a gente resolveu ir primeiro para Pisa com toda a bagagem, visitar o que dava da cidade (que na verdade, dizem, é só a torre), e só depois ir para Florença. Assim teríamos o dia seguinte inteiro para ver Florença... Pegamos um trem direto saindo de Roma (encontramos o Adler lá do lado do trem...) e fomos para lá.

A viagem, para variar, demorou mais do que o normal. Assim não dá para planejar a porcaria da viagem. Mas eu já estava menos estressado, porque não tinha muito o que fazer... Era deixar rolar e aproveitar o que desse. Chegamos em Pisa e depois de tentar achar alguma coisa para comer na estação começamos a andar em direção à torre... No meio do caminho achamos uma pizzaria que parecia ser barata. Sentamos, comi uma pizza inteira (que estava com um preço menor até que uma promoção no McDonalds), bebi uma coca... Estava até meio preocupado que o sol ia se pôr e eu não tinha ainda tirado foto da torre com sol... Então a gente meio que se apressou. Quando veio a conta, aquela surpresa... Muito mais caro do que a gente esperava, obviamente. Depois que eu fui ver que uma coca era 2 euros e meio e só para sentar era quase 1 euro e meio... Impressionante mas eu tinha que pagar de qualquer maneira. Mas foi uma pizza muito boa pelo menos... Fomos meio que correndo até a praça e a pegamos com uma luz meio fraca mas ainda dava para tirar fotos... Tiramos as fotos tradicionais da torre torta (mas ela é muuuito torta!! Mais do que eu pensava!!), e das igrejas em volta. Eu achava que era só a torre, mas a praça em volta da torre é muito bonita também... Há duas igrejas ali, com um castelinho do lado... Uma das igrejas tinha até do lado de dentro um presépio onde no fundo tinha a torre de Pisa iluminada... Muito bonitinho. Demos uma volta por ali, e quando já estava meio escuro começamos a voltar para a estação para pegar o trem em direção a Florença...

Chegamos em Florença com tudo bem escuro. Fomos tentar pegar um mapa da cidade, mas pelo jeito tudo no dia 25 estava fechado... Havia um velho muito chato na frente oferecendo lugar para dormir. Quando eu disse que eu queria ir para o nosso albergue, que eu já tinha reservado, ele ficou puto e começou a reclamar, gritar, dizendo que não tinha ônibus, que íamos andar muito a pé, e que tínhamos que ficar no lugar que ele estava nos oferecendo... Deixei ele para lá e liguei para o albergue. Realmente, não havia ônibus aquele dia (que merda de lugar onde não existe transporte público durante um dia inteiro!), e que teríamos ou que andar muito ou ir de táxi... Claro que o táxi ganhou... Deixamos uma grana só aí, mas foi realmente necessário, quando fomos percebendo a distância que o carro andou... De qualquer forma, eram quatro para dividir o táxi... Chegamos finalmente em Vila-Camerata, onde ficava o albergue, e fizemos o check-in. Dessa vez ficamos os três homens em um quarto para oito, enquanto a namorada do Adler teve que ficar nos quartos das mulheres... Deixei as coisas lá e fui tentar procurar o Ferrari que também estaria ali no albergue naquele dia. Encontrei, obviamente, mais um monte de brasileiros, e fiquei conversando com eles até que conseguimos perguntar para um cara na recepção onde estava a família do Ferrari. Fomos até lá e acordamos a galera toda. Mas pelo menos ficamos conversando com ele e trocando idéias sobre o que poderíamos ver na cidade no dia seguinte (já que ele tinha ficado lá já 3 dias eu acho).

A última coisa da noite foi que, em torno de meia-noite, chegaram nossos companheiros de quarto. Mais 5 indianos programadores que trabalham em Londres. Outra raça que deve estar em todo lugar... Ganhando libras e gastando pela Europa... Só que esses eram muito chatos. Chegaram todos muito tarde, saíram para comer, e só quando voltaram, mais tarde ainda, acenderam a luz de novo, foram arrumar as camas (por que não arrumaram quando a gente ainda estava acordado?), e ainda por cima começaram a roncar... Impressionante! Parecia uma serra... Comecei a ter raiva dessa raça...


Dia 24/12/2001

Mais uma vez acordamos cedo para pegar o café. Tínhamos combinado chegar oito horas da manhã lá no Vaticano para ter tempo de visitar tudo e ainda entrar no museu... Assim, pegamos o café que não tinha nada de melhor em relação ao de Nápoles (apesar de terem dito que teria mais coisas): um pão, geléia, manteiga... Pelo menos tinha suco dessa vez que pelo menos é melhor que eu ficar tomando café sem gostar muito... Pegamos o ônibus até o Vaticano (descobrindo que o ticket diário que tínhamos comprado não valia 24 horas e sim até meia-noite do dia que tínhamos comprado...) e chegamos lá bem antes do horário... Estava chovendo, o que não deixava muito bonita a paisagem... Mesmo assim o Vaticano é um absurdo de imponência... Mas eu não havia visto nada...

Devido às preparações para o Natal nessa noite, eles haviam fechado as entradas para a Basílica de São Pedro e tinha guardas com detectores de metal para que pudéssemos entrar. Depois de passar por essa barreira, subimos as escadas e ficamos esperando lá em cima, abrigados da chuva. Dei até uma olhadinha na Basílica, mas só realmente visitamos-la depois que o Adler chegou com a namorada. Na frente da igreja já havia também cadeiras para a missa do galo, para quem iria assistir de fora... Entramos finalmente na Basílica, e aí sim dava para ver toda a imponência da Igreja Católica... É realmente gigante, toda cheia de detalhes, ouro, estátuas... Logo na entrada à direita está a Pietá... Também estavam preparando a igreja para a missa de noite, e então alguns lugares eles estavam fechando para limpar... A visita assim ficou um pouco mais chatinha, mas foi bem interessante. Encontramos uns brasileiros que estavam trabalhando lá, e que estudam teologia em Roma. Entramos no subsolo da igreja e vimos algumas tumbas de papas, incluindo a de São Pedro... Depois de sair dali fomos subir na cúpula da igreja. Realmente, depois de muito trabalho (mesmo com elevador e tudo), subindo por escadas meio curvas, chegamos lá em cima. A visão é realmente impressionante... Mesmo com a chuva (que pode ser vista na minha cara molhada em uma das fotos que eu tirei lá em cima) e o frio, valeu muito a pena... Encontramos mais um brasileiro que trabalhava ali, e ficamos conversando (e se molhando) um tempo com ele... Depois descemos finalmente e fomos ao museu. Pelo menos tínhamos chegado em um bom horário na Basílica de São Pedro porque na hora que saímos estava absurda a fila... Aliás, tentamos pegar ingressos para a missa de noite mas já estava tudo lotado... Mas segundo disseram daria para ver a missa nos telões ali na praça mesmo...

Pegamos uma pequena fila para entrar no museu que nos atrasou mais de meia hora, mas que pelo jeito era necessária. Finalmente achamos um lugar que dava descontos para estudantes... Entramos e fomos andando em direção à Capela Sistina, que era a coisa que eu mais queria ver no museu inteiro (e acho que todo mundo também, porque há plaquinhas em todos os lugares apontando para onde tínhamos que andar...). Mas o resto do museu é maravilhoso também. Há muitos quadros e muitas esculturas expostas, e afrescos de vários outros artistas. Há algumas salas pintadas por Rafael que são impressionantes... Mas depois de muito andar cheguei (sozinho, só depois achei o pessoal) na Capela Sistina. É realmente tudo que disseram e mais um pouco. É quase emocionante... Fiquei mais de meia hora só olhando para o teto, com as várias cenas pintadas por Michelangelo, e ainda tinha na frente a famosa cena do Juízo Final... Muito legal... Eu não podia tirar fotos e então fiquei só admirando... Não há muito jeito de descrever... É como a personagem do Robin Williams no Gênio Indomável falou: não é suficiente ver aquilo em fotos ou em livros... É necessário ir lá e admirar todo o esplendor da sala (nossa, fiquei poético). Depois da Capela Sistina ainda tinha várias coisas sobre o Egito e sobre esculturas greco-romanas que visitamos também.

Finalmente saímos do museu e fomos comer alguma coisa. Comemos finalmente umas pizzas na Itália! Muito boas por sinal... Ainda tínhamos muito tempo e resolvemos ir ao Coliseu entrar finalmente. Fomos até lá de metrô e chegando lá paramos para ver umas camisetas. Depois fomos para a fila para comprar o ingresso e entrar. Foi aí que tivemos uma surpresa. Na verdade a namorada do Adler teve. Abriram a bolsa dela e roubaram a carteira, com um monte de documentos e dinheiro... Tava demorando para a Itália realmente fazer jus à sua fama... Eles foram ligar para a mãe dela para cancelar os cartões e combinamos de nos encontrar depois para ver o que faríamos no Natal... De qualquer forma eu já tinha comprado o ingresso e resolvi entrar com o Oto. Lá dentro é muito legal também... Deve ser mais divertido com um guia explicando as coisas, mas só com o pequeno museu que tem lá em cima e com algumas indicações em plaquinhas (as coisas na Itália realmente não são muito explicativas e apesar de pagarmos caro não tem nenhum folheto acompanhando...) a visita se pagou... Ainda tinha no museu algumas cenas de filmes antigos retratando lutas entre gladiadores (ridículas!! Haha), e vários objetos de gladiadores, encontrados principalmente em Pompéia.

Deixamos o Coliseu um pouco tarde já, e fomos para o albergue do Adler para combinar alguma coisa com eles... Não os encontramos, e resolvemos mesmo ir para o nosso albergue, tomar um banho, e ver o que íamos fazer no Natal. Havia vários outros brasileiros por lá (que praga!), e eles iriam para a missa do Galo. Eu ainda estava contando com a possibilidade de passar o natal na casa do primo do Baiano, que mora em Roma. O Baiano estava também em Roma com o irmão dele e já tinha nos convidado. Gastei uma grana ligando para o celular do primo dele, mas a casa dele era um pouco longe... De qualquer forma o Oto preferia passar mais perto do albergue para que pudéssemos voltar e sair cedo no dia seguinte... Assim decidimos ir para a missa do Galo também, porque era a única alternativa de sair do albergue e voltar com ele aberto (ele ficaria aberto essa noite só por causa da missa...). Ceiamos lá no restaurante do albergue mesmo (foi até boa a refeição se formos comparar com o resto das refeições que estávamos fazendo até agora...), com direito até a um copo de cidra pra cada um distribuído pela tia do restaurante (que já estava até um pouco alegre...). Encontramos com o Sandro e sua namorada que também não sabiam muito bem o que iriam fazer no Natal... Quando falamos que o albergue ficaria aberto até depois da missa eles se empolgaram e resolveram ir com a gente...

Chegamos lá na missa umas 10 e pouco, e ficamos lá na praça até a meia-noite a princípio. No começo ficamos perto do presépio em tamanho natural que estava no meio da praça (sem Jesus na manjedoura ainda!!) e depois sentamos nas cadeiras que estavam ali na praça na frente dos telões... Ficamos conversando um tempão até que a missa finalmente começou. A missa é um pouco chata, mas foi legal para ver as cenas internas, com a igreja toda iluminada... Mas estava muito frio lá fora, e as pessoas que estavam sentadas começaram a debandar... A gente agüentou até quando não dava mais, e resolvemos ir embora... Só aí que eu vi que todas as partes do meu corpo estavam congeladas e foi uma dificuldade para começar a andar... Só quando eu estava chegando no albergue que o meu corpo estava dando sinais de vida novamente... Foi um bom Natal, apesar de estar um pouco longe da família... Consegui falar com todo mundo lá em casa só quando eu voltei da missa.


Dia 23/12/2001

Claro que não poderia dar tudo certo. Acordei super-cedo para pegar o café o mais cedo possível e não perder o trem. O Adler, com sua lerdeza extrema, demorou muito mais. Mas de qualquer forma o metrô (que é mais um trem interno que um metrô propriamente) demorou e todo mundo pegou-no junto... Chegamos bem a tempo de subir no trem e ir para Roma...

A viagem normalmente demoraria 2 horas e meia, mas demorou muito mais... O trem parou de novo no meio da viagem, e ficou uma hora lá... A gente já chegaria tarde para começar a visitar Roma... Mas como não poderíamos fazer muita coisa ficamos esperando. Aproveitei pra continuar lendo meus livros... Demorou tanto que algumas pessoas começaram a sair do trem e ficar lá fora fumando um cigarro... Até que fecham as portas do trem do nada e algumas pessoas ficam para fora. Todo mundo grita pra que as portas fossem abertas de novo para que essas pessoas pudessem entrar mas os controladores não ouviram (ou ouviram ou estavam pouco ligando) e o trem começou a andar... Ainda bem que eu só dei uma olhada lá fora e não fiquei por lá...

Finalmente chegamos em Roma. Como sempre, não daria tempo de ir direto ao nosso albergue. Pegamos o mapa da cidade e descobrimos que o albergue onde o Adler e a namorada dele iriam ficar ficava muito perto da estação. Decidimos deixar nossas coisas lá no albergue deles até que ficasse escuro... Assim perderíamos menos tempo. Mesmo assim, demoramos para fazer o check-in deles (é, eles são meio enrolados...)... Pegamos então o metrô e fomos para o Coliseu, segundo o trajeto que tínhamos pensado...

Acho que construíram a estação de metrô do Coliseu para isso mesmo: assim que saímos de lá demos de cara com o Coliseu. E ele consegue ser maior do que eu pensava... É muito grande mesmo... Do lado há um pequeno arco do triunfo, e ficamos rodeando as duas coisas e tirando fotos... Como a fila para entrar no Coliseu estava meio grande e queríamos visitar o máximo de coisas possíveis, começamos a andar. Logo do lado do Coliseu estava o Fórum Romano. As ruínas até pareciam interessantes mas eu não queria entrar, assim como o Oto. Afinal, quase todos os monumentos onde entramos não davam muitas informações... Mas a namorada do Adler queria entrar e ele iria junto... Assim, nos separamos para podermos todos ficar felizes. Continuamos, passando pelo Fórum Imperial (de qualquer forma descobri depois que o fórum estava fechado de qualquer maneira...) e chegamos finalmente a um monumento, muito bonito, ao Vitor Emanuel II. É um prédio que eu nunca tinha visto em nenhuma foto, e era impressionante... Tiramos várias fotos, subimos nele (dava para ver algo de Roma de cima...) e depois continuamos. Era impressionante a quantidade de brasileiros que encontramos nesse pequeno caminho. Mas a visita ainda continuava. Depois disso fomos até o Pantheon, onde estão os túmulos do Rafael (um dos tartarugas-ninja) e do Vitor Emanuel I. O prédio é muito bonito, construído em 27 a.C., e que ficou inteiro até agora porque a Igreja preservou. Depois fomos andando até a Piazza Navona, onde estava tendo uma feira (o que estraga muito da praça), mas há umas fontes muito interessantes lá. Só depois de andar um pouco que eu me dei conta de ver uma bandeira do Brasil muito grande por lá: é exatamente nessa praça que fica a embaixada... E parece que o prédio é até importante, porque tinha uns cartazes na frente mostrando a restauração do prédio, e coisas do estilo... O legal também da praça é que tem uns bebedouros públicos onde a gente pode reabastecer as garrafinhas de água...

Passamos por um prédio do governo e chegamos finalmente na Fontana di Trevi... Há uma escultura muito bonita lá e a fonte recebe muitas moedas (muitas mesmo) já que dizem que quem joga uma moeda lá voltará certamente a Roma... Claro que aproveitamos e jogamos. Eu joguei uma moeda de 5 centavos de franco (ou seja, nada), já que não me disseram que eu precisava jogar uma moeda com valor de verdade... Também tomei um sorvete verdadeiramente italiano (muito bom!!!) enquanto fiquei sentado ali do lado da fonte... Que vida ruim... Depois fomos terminar nossa visita de hoje na Piazza di Espagna, onde ficamos observando o movimento (aliás, muito grande acho que por causa de compras de natal), e porque teríamos que ficar esperando até 6 e pouco devido ao horário que tínhamos combinado para se encontrar no albergue dos outros dois... Eu e o Oto ficamos conversando por lá... Depois foi uma viagem de metrô e ficamos sentados mais 40 minutos esperando lá no albergue. Como sempre, eles estavam atrasados. Mas não foi tão ruim. Pegamos nossas coisas e fomos procurar o albergue.

O escocês no outro albergue tinha nos dado algumas instruções de como chegar no albergue. Fomos até a estação mostrada por ele e dali pegamos o ônibus como o site do albergue tinha dito... Descemos em um ponto onde tinha uma praça como o Brian tinha dito, mas não conseguimos achar muita coisa por ali... Ficamos meio perdidos um pouco pois tínhamos sido os únicos a descer naquele ponto e achei que poderíamos perguntar para alguém. Entrei em um barzinho e o cara que não entendia inglês nenhum me falou para ir reto andando durante um tempo que eu iria chegar. Começamos a seguir esse caminho, e quando eu vi encontramos um casal que estava com um mochilão (de uma marca que só se vende aqui na França, igual à minha aliás). Eu falei para seguirmos os franceses e realmente eles chegaram no albergue. Uma família, que também estava no ônibus já tinha chegado (malditos!!) e fomos fazer o check-in. Na hora que o francês tira o passaporte era logo o verdão... Mais um brasileiro para a conta... Fomos para o quarto só para tomar um banho e arrumar as coisas. Só havia um cara no quarto no momento, que era um indiano. Conversando com ele descobri que ele era um programador e que mora em Londres... Depois de tomar um banho chega um australiano no quarto que me fala que não poderíamos sair do albergue porque depois da meia-noite ele fecha as portas... De qualquer forma eu fui até a entrada onde tinha uma galera. Fiquei conversando com aquele casal de brasileiros e achei muito engraçada a coincidência. Esse cara, que se chama Sandro, está morando em La Rochelle, estudando francês na mesma faculdade que estudamos durante o verão e está morando na mesma residência que a gente morou... É muita coincidência para ser verdade... Eu ainda descobri que a gente fez história na residência, porque o grupo de 20 brasileiros que ficou lá no verão ainda era lembrado... Não sei se isso é bom ou ruim... Ainda tinha um outro brasileiro lá que não gostou que eu falei mal da Itália, dizendo que ela era bagunçada... Mas que é verdade é... De qualquer forma eu comecei a gostar da Itália só em Roma mesmo...


Dia 22/12/2001

O Oto tinha levado um despertador daqueles de ponteiro que fazem um esporro quando tocam. Foi o que aconteceu bem cedinho. Afinal, tínhamos que aproveitar o dia para visitar Pompéia. Fomos tomar o café da manhã, que já tinham dito que não era grande coisa. Realmente, era uma porcaria. Era um pão, uma geléia, uma manteiga e um copo de chocolate com leite (ou um café ruim) por pessoa. Se quisesse mais teria que pagar 400 liras por um pão. Era impressionante. Eu não paguei a mais porque eu não estava com fome mesmo... De qualquer forma eu tinha comida ainda na minha mochila. Saímos o mais rápido possível para a estação, para pegar o trem.

A principio os planos eram de visitar o Vesúvio de manhã (subindo até onde pudéssemos com um ônibus e indo com um guia até lá em cima). Chegamos em Herculano, de onde sairia o ônibus. Mas como chegamos um pouco tarde lá, ficamos com medo de não dar tempo de visitar Pompéia direito. Havia também uns malandros com uma van por lá que queriam nos levar junto com uns japoneses (que sempre caem nessas furadas) até o topo do Vesúvio, mas estava muito mais caro que o ônibus... Claro que os caras sempre têm uma história para convencer, dizendo que o ônibus não subia até o topo por causa da neve e que teríamos que andar muito para ir até o topo... Mas eu não quis aceitar. Herculano também foi enterrada pelo Vesúvio, e tem também a cidade para visitar, mas disseram que Pompéia é bem mais interessante... Fomos então para Pompéia.

Acho que na Itália eu não iria conseguir nenhum desconto para estudante. Eles só tinham descontos para pessoas entre 18 e 25 anos da Comunidade Européia e de uma lista de países que tinham contrato com eles... O Brasil até estava no contrato, mas até agora não entendi porque somente os estados do Paraná e de Santa Catarina estavam listados... O pessoal de outros estados não ganhava desconto. Eu não tinha como provar que era de lá (eu até tenho a minha carteira de identidade que eu sempre levava comigo e que tinha sido feita no Paraná, mas como todo mundo ficava dizendo que eu era maluco e que poderia perdê-la eu a deixei em casa... que merda). Pagamos um pouco caro, eu posso dizer, para entrar lá, mas acho que valeu a pena. Muitas das coisas estão bem conservadas, apesar de várias outras estarem sendo reconstruídas... Achamos finalmente algumas pessoas que tinham morrido por causa da cinza, mas elas estavam dentro de caixas de vidro, talvez para não sofrerem tanto a ação da natureza. Os artefatos encontrados em Pompéia, entretanto, não estavam lá, mas sim no museu arqueológico de Nápoles (aquele que a gente não conseguiu visitar...). Mas a visita é bem interessante. Tem até um pequeno coliseu por lá... Há casas inteiras que eles reconstruíram para mostrar como era mais ou menos a vida normal dos romanos na época... Ficamos cerca de 5 horas por lá... Na volta passamos de novo pelo Vesúvio, e até tirei uma foto para registrar... Realmente dá medo de ficar por lá. Não sei até agora como o pessoal de Nápoles consegue viver tão perto de um vulcão ativo...

Voltamos à estação e praticamente não fizemos nada além de comer e de ver horários para Roma amanhã...

Dia 21/12/2001

Chegamos em Roma um pouco atrasados (cerca de uma hora). Isso não era muito grave, já que tinha trens para Nápoles toda hora... Pegamos o próximo (meia hora depois), já aproveitando para pegar uma graninha em liras... Mas esse foi o pior trem. A princípio a viagem estava indo muito bem, até o momento que o trem simplesmente parou (de novo) em uma estação no meio do nada. A gente fica sem ter o que fazer porque ninguém fala nada, e todo mundo fica calmo. Isso durante um tempo. Depois de uma meia hora várias pessoas começam a ficar putas, a falar em italiano (que eu não entendia nada) e algumas até saiam do trem. Depois de uma hora e meia, do nada, todo mundo pegou suas coisas e saiu. Foi todo mundo para outro trilho e ficou esperando outro trem. Eu imaginei que todo mundo iria pegar o próximo para Nápoles... Fui atrás, obviamente. Mas dessa vez a gente pegou um trem um pouco mais cheio. Fiquei sem querer em um vagão de fumantes, em pé durante um bom tempo. Não havia lugar para a minha mochila, e então ela teve que ficar no meio do corredor... Isso não era muito interessante, principalmente que todo mundo que passava ficava chutando... Mas não tinha jeito não... A única hora que eu achei que as coisas iam melhorar elas só pioraram. Os bancos eram dispostos em grupos de quatro cadeiras, dois na frente dos outros dois. Imaginem que eu consegui sentar exatamente em um grupo onde os outros três caras fumavam. Fui praticamente defumado dentro daquele vagão. Os caras não se contentavam com um cigarro só... Fumavam um atrás do outro. E eu quase morrendo. Fiquei lendo meu livro, mas era meio difícil de se concentrar quando não se consegue respirar...

Finalmente chegamos em Nápoles. Com apenas algumas horas de atraso. A gente foi direto às informações turísticas para pegar um mapa da cidade para descobrir onde ficava o albergue, e tivemos uma boa surpresa: o museu arqueológico que queríamos visitar fechava às duas da tarde. Adivinhem que hora chegamos? Duas da tarde. Isso é muita coincidência pra ser verdade. De qualquer forma faltava (segundo o guia) muita coisa para ver na cidade, e então resolvemos deixar as coisas na estação e já começar o turismo, para só depois chegar no albergue (já que tudo escurece por aqui perto de 5 da tarde...). Uns hambúrgueres no McDonalds foram nosso almoço... E comendo fomos correndo para o metrô.

Depois de alguns minutos perdidos lá no centro (com direito a perguntar para uns italianos onde era a tal da praça Dante que estávamos procurando e escutar algumas respostas em italiano, já que eles não sabem falar outra língua) achamos o caminho no mapa. Começamos pela parte central da cidade, onde havia várias igrejas (que estavam com estrelinha no Frommers). Só que eu não vi nada de mais na cidade. Tudo começa pela própria piazza Dante. Eu quis atravessar a rua, e assim apertei o botão pedindo para que o sinal ficasse vermelho. Ele ficou. Mas nenhum italiano pareceu perceber isso. O trânsito simplesmente não parou. Nem mesmo diminuiu a velocidade. Descobri então que o sul da Itália era uma bagunça mesmo. Tive que atravessar a rua no meio dos carros (pelo menos eles freiam em cima da gente e não nos atropelam...), e quase fui atropelado umas 6 vezes nesse dia. Isso sem contar as lambretas que povoam a cidade toda, e que passam a toda velocidade por todo beco possível, seja no sentido da rua ou não...

As igrejas que vimos no centro da cidade não tinham nada demais... Todas eram meio comuns, e a maioria delas parecia meio destruída, sem muitos cuidados. A própria Santa Chiara, que estava com estrela no guia, não era grande coisa... Já tinha visto igrejas muito mais imponentes e interessantes. Além disso, as pequenas vielas do centro eram muito sujas, como se a cidade não mudou depois da guerra. As ruelas pequenas, com roupas penduradas nas janelas... E desertas. Não me senti muito bem andando por esses lugares não. Depois de fazer o circuito artístico (não sei de onde tiraram essa idéia, mas o prefeito colocou umas placas dizendo que Nápoles é uma cidade onde a arte está a céu aberto...), começamos a andar para outros lados, para ver os palácios. Lá sim a cidade parecia um pouco mais bonita. Passamos por uma galeria Umberto I (que pareceu um dos lugares mais bonitos de Nápoles para mim), e por um lugar onde tinha várias torneiras de água, potáveis segundo a placa. Eu até joguei o resto da minha garrafa de água fora para poder enchê-la novamente. Dois velhinhos enchiam várias garrafas de dois litros. Só que eu não experimentei da água antes de eu colocá-la na garrafa... Ela tinha um cheiro de ovo podre, e um gosto horrível. Na hora que eu comecei a jogar a água toda fora os dois velhinhos olharam para mim com uma cara de reprovação, como se dissessem ele não sabe como essa água é boa.... Só depois de destruir minha garrafa com essa água nojenta (nunca mais pude utilizá-la para colocar água) que eu fui ler uma placa dizendo que a água era vulcânica, cheia de sais minerais, entre eles o enxofre... E aí que eu fui me tocar que a gente está do lado do Vesúvio, e que ali deveria ter muito disso... Mas eu prefiro ficar doente a ficar tomando essas águas boas para a saúde...

Logo depois de atravessarmos uma rua (e quase morrer porque não parava de passar carros e ninguém parava nos sinais) chegamos ao Castel Nuovo. O castelo era bem bonitinho... Enquanto tirávamos fotos na frente um cara em uma moto pára do nosso lado e pergunta se a gente falava inglês. Eu disse que sim. Ele começa a querer vernder uma filmadora digital, com tudo dentro de uma bolsa (manuais, outras fitas, carregador, tudo mesmo), e tudo por 300 dólares. Eu disse que não tinha esse dinheiro (sendo que essa câmera é mais de 1500 dólares normalmente...). O cara, não se dando por satisfeito, foi baixando o preço até chegar a 50 dólares. Como estava óbvio que era roubado, e que o cara queria se livrar do negócio o mais rápido possível eu não aceitei... Seria muito fácil tirar uma nota de 100 mil liras que estava na minha carteira e pegar a câmera... Mas eu fiquei com medo de dar alguma merda... Depois do castelo fomos andando até o Castel dellOvo (isso, do Ovo mesmo), que era um castelo bem legal também, e que tinha uma vista para o Vesúvio muito legal... No caminho, andando pela calçada, um italiano em uma moto ficou nos xingando porque estávamos parados na calçada e ele queria passar com a sua moto (!!!). Não entendi. Ficamos parados um tempo lá na frente desse castelo (depois eu descobri que podíamos entrar até 9 horas da noite de graça, mas na hora eu achei que estava fechado devido à hora...). Logo depois, já meio escuro, era hora de voltar para a estação, pegar as coisas, e ir para o albergue. Aproveitamos o tempo também para comer algo antes de partir. O albergue não era difícil de achar. O único problema era a subida até lá, porque a casa era no alto de um pequeno morro, e tínhamos que fazer essa parte a pé... Nada de difícil na verdade... Chegamos lá, fizemos o check-in e fomos para o quarto. Já estavam lá um cara muito engraçado, o Brian, que era escocês, e um coreano que eu não lembro o nome... Esse Brian tinha o sotaque exato do William Wallace no filme Braveheart. Eu não conseguia entender nem metade do que o cara disse. Ficamos conversando um tempinho, mas como estava cedo eu resolvi com o Oto descer para tentar ver televisão, e ficar esperando o Adler com a namorada que não tinham chegado ainda. Encontramos no mesmo albergue uma brasileira que estava viajando sozinha (já mais velha), e uma família inteira. Ficamos conversando com eles sobre as viagens pela Europa até uma meia-noite. Foi mais ou menos a hora que o Adler conseguiu chegar. Acho que todos tivemos problemas com os trens... Subimos para o quarto na hora que apagaram todas as luzes (tudo fechava à meia-noite e meia), e tive que pular na cama sem fazer nenhum barulho porque obviamente estava todo mundo dormindo...

quarta-feira, janeiro 09, 2002


Dia 20/12/2001

Mais uma viagem começa... Acordei mais ou menos umas 10 horas. Eu achava que conseguiria tempo para arrumar todas as minhas coisas e ainda por cima almoçar pela última vez esse ano no restaurante universitário... Mas eu não tive muito tempo não. Eu fiquei um bom tempo escolhendo o que eu precisaria durante essas duas semanas e meia, e quando fui ver eu tive que ir direto pra gare mesmo. Cheguei tranqüilamente lá (sem almoço, mas eu tinha tomado um café da manhã bem reforçado, no caso). E já começou bem a viagem. Meu companheiro dessa vez, o Oto, já estava lá com sua promoção do McDonalds. Quando cheguei, já vi o mais legal: o trem estava com uma hora de atraso. Eu tinha uma hora e pouco em Nice para trocar de trem para ir para Ventimiglia, e esse atraso poderia pôr tudo a perder... Esperamos o trem no frio (não sei por que até agora, mas ficamos), quase congelamos, e o trem ainda demorou mais 20 minutos... De qualquer forma nós entramos no trem, sem problemas, e começamos a viagem. Fiquei só um pouco sem entender por que o Kadão e o Cadu, que iriam pegar o mesmo trem, não estavam por lá...

A viagem em si sempre é um saco. Fiquei conversando com o Oto para melhorar um pouco, e comecei a ler de novo Lord of The Rings (mais por causa do filme que eu não tinha visto ainda e que eu queria ver quando chegasse de viagem). Mas sempre ficou na cabeça o pensamento de que a gente perderia o trem que iríamos pegar. E isso desencadearia um monte de problemas... Eram cinco trens até Nápoles, a primeira cidade do nosso programa. Se um deles já começava atrasado, tinha tudo pra dar errado...

Depois de várias horas de viagem, chegamos em Nice. Aconteceu uma das coisas mais chatas que existem. Saímos do trem correndo e chegamos no trem exatamente quando ele estava começando a andar... Isso é impressionantemente chato. Não tínhamos o que fazer. Acho que é uma das experiências mais broxantes existentes. Vários estavam no mesmo barco. Começamos a perguntar uns pros outros e pro controlador do outro trem, mas os caras só falavam italiano. Finalmente consegui achar um cara (meio com cara de japonês) que sabia um pouco de inglês e que também tinha perdido o trem. Subimos em um trem que iria para Veneza e que passaria por Ventimiglia. Talvez, por o trem ser um pouco mais rápido, chegaríamos a tempo de pegar o trem de Ventimiglia em diante...

Fiquei na cabine desse italiano (um tal de Giovanni, que estuda em Pisa) e que ainda tinha uma francesa (tal de Marie, que estava indo para Roma encontrar o namorado italiano). O Oto se juntou a nós quando ele deixou de ser anti-social. Fomos conversando sobre um monte de bobagens (principalmente futebol e a língua italiana). Era tanta merda que quase perdemos a parada em Ventimiglia... Eu e o Oto, totalmente anti-sociais, continuamos no nosso programa e deixamos os dois (que iriam para Roma também) para lá. Pegamos um trem que ia para Genova, e aí pegaríamos um que ia para Roma. Pela primeira vez usamos o InterRail, colocando os dados do trem. Quando a controladora passou foi até engraçado. Ela olhou nosso passe e, não entendendo nada, foi falar com o superior dela. Já comecei a ficar com medo de que nem todo mundo conhecia o passe. Mas não era isso. A gente estava na primeira classe, e teríamos que ir para a segunda. Eu nem tinha me tocado disso... E ainda por cima ela nos disse que o trem seguinte, de Genova para Roma, era um trem que precisava pagar um suplemento... Como a gente não tinha lira, ela acabou dizendo pra gente subir no trem e conversar com o controlador... É o jeitinho brasileiro que de brasileiro só tem o nome.

Esse trem foi bem tranqüilo até o final. Pegamos o próximo e entramos em uma cabine que tinha um cara que estava meio acordado/meio dormindo. Pegamos dois outros lugares, e abrimos os bancos para dormir. Era tipo uma cabine de 6 cadeiras, em que cada duas dava para fazer uma pequena cama. Não era muito confortável, mas era melhor que uma cadeira não-reclinável. De qualquer maneira eu não dormi muito bem. Toda hora tinha algum italiano falando alto (malditos italianos!) e as paradas não eram muito silenciosas. A um dado momento da madrugada o trem parou de vez e ficou um bom tempo parado... Era mais um atraso para contabilizar na viagem... Mas como eu estava meio dormindo eu nem fiquei muito preocupado. Ainda bem que não passou nenhum controlador e assim não tivemos que pagar nada, e nem discutir se a gente poderia deixar de pagar...

Dia 19/12/2001

Deixei os arquivos do trabalho lá. Essa parte está pronta... Só volto a falar disso quando eu voltar de viagem.

Aproveitei o dia hoje para os últimos preparativos. Na verdade eu só fui cortar o cabelo (que quase não consegui porque a velha retardada dona do lugar ficou reclamando porque eu não tinha marcado um horário antes... não tinha ninguém pra cortar o cabelo, mas tinha que marcar horários...). Usei também o tempo que eu tinha pra ficar pegando horários de trem da Itália (porque a gente vai usar o passe por lá) e algumas outras informações de viagem...

De noite fiquei colocando várias dessas informações no Palm para não ter problema durante a viagem... De qualquer forma estava tudo mais ou menos certo (menos o hotel em Veneza, mas estava longe ainda), e eu poderia viajar sem problema... Acabei ficando jogando de novo com o Coruja, já que nós dois íamos viajar amanhã e não tínhamos mais nada a fazer... Além disso, a gente tinha tentado ir ao Senhor dos Anéis que tinha acabado de estrear, mas eu tinha esquecido do fato. Obviamente não conseguimos ingresso na hora (uma hora antes, no caso), e assim gastamos esse tempo jogando...

Dia 18/12/2001

Ontem à noite fiquei praticamente querendo fazer o trabalho, mas não fiz nada. O Coruja veio aqui e a gente ficou jogando uns jogos muito velhos (e legais!!) aqui no meu notebook. O mais legal era um tal de Super Pang, que é muito antigo, mas divertido pra caralho. De qualquer forma aproveitei só o começo da madrugada pra fazer algo de útil...

Hoje de manhã eu já fiz muito mais coisa, e finalmente acabei o trabalho (ahhhhhh!) antes do almoço. Foi um dos momentos mais felizes aqui haha. Fui à tarde mostrar o programa (pronto, porra!!!) para o marroquino, e ele ainda ficou reclamando que não era muito bem do jeito que ele queria... Eu fiz de um jeito mais simples possível só para não me dar muito trabalho (eu não tinha muito tempo, oras). Mas ficou legal. Tinha todas as funcionalidades necessárias, e até um dos meus professores viu e disse que ficou muito bom. Foi o que eu precisei ouvir pra dar por praticamente terminado o negócio. Ainda assim eu tinha que mudar uma pequena coisa (que estava dando merda no programa) e colocar o nome do marroquino em todos os arquivos (que, não sei por que, estava só com o meu...). Fora isso...


Dia 17/12/2001

Acho que foi uma das primeiras segundas-feiras depois de muito tempo na qual eu acordei cedo... Realmente eu estava precisando desse tempo pra ir continuando a porcaria do trabalho. Eu fico com raiva dele porque ele já está todo na minha cabeça, mas eu simplesmente não tou com vontade de colocá-lo no computador... Mas vou ter que fazê-lo de qualquer maneira... Eu acabei com a parte texto (o programa tinha uma parte texto e uma parte gráfica), que é praticamente 80% do trabalho. Fui tomar banho e quando volto vejo que finalmente chega o negócio da Palm. Eu há mais de um mês pedi no site francês da Palm um adaptador serial-USB e estava a cada semana recebendo um email deles dizendo que não tinham o produto em estoque... Eu fiquei com preguiça de cancelar o pedido já que eu precisava do adaptador de qualquer maneira, e ele finalmente apareceu. De qualquer maneira foi bom, mas eu acabei pagando caro por um simples adaptador.... Mas não fiquei muito triste. Agora posso finalmente trocar os livros que estão dentro do Palm para viajar...

Eu fui à faculdade para já enviar ao professor a primeira versão do programa (senão pode acontecer algum problema depois e eu não conseguiria mandar nem um arquivo para ele) e até iria tentar mostrar o programa pronto para o parceiro... Mas o cara nem estava interessado... Ele teria uma prova amanhã, e não estava muito interessado no trabalho (que era pra sexta...). De qualquer forma eu tentei colocar o programa mas não consegui. Isso porque as porcarias das estações Sun que a gente usa pra trabalhar lá estragaram meu disquete. Ele, depois de não funcionar nessas máquinas, parou de funcionar em todos os outros computadores também... Não consigo nem formatar o negócio... O legal é que era o meu único disquete...


Dia 16/12/2001

É, acho que estou ficando repetitivo. Fiquei alguns minutos de manhã terminando alguns detalhes de algumas classes, e aí recebi a ligação do Tarik dizendo que a gente deveria se encontrar para juntar o que tínhamos feito. Tive que ir pra casa dele e mostrei o que eu já tinha feito (quase tudo). Ele tinha começado a fazer umas classes que eu simplesmente peguei e mudei tudo. Ao menos ele fez um trabalho de peão que era só de copiar e colar as coisas... Mesmo assim ele não estava fazendo com muita atenção e assim tive que fazer praticamente de novo... Voltei para casa depois desse tempo perdido (é uma merda ficar explicando coisas pra um cara que simplesmente não entende...) e ainda por cima tinha o problema de comida... Pra variar, passei no McDonalds pra comer alguma coisa.. É a comida mais rápida de qualquer maneira.

Dia 15/12/2001

A galera quis ir primeiramente para Carcassone (onde eu já tinha ido) esta tarde. Acho que depois pensaram melhor e resolveram ir para a cite de lespace, que fica aqui em Toulouse. É tipo um parque com várias coisas sobre o programa espacial europeu, nos mesmos moldes da NASA lá na Flórida... Eu deixei de ir porque eu precisava da tarde para fazer o trabalho. Além disso eu tinha marcado um encontro com o cara de manhã lá na faculdade, mas preferi ficar dormindo também, sem nem avisar... Achei melhor fazer e depois mostrar as coisas já feitas. À tarde eu só fui à faculdade para finalmente pegar os arquivos necessários e voltei para casa. Fiz uma boa parte de trabalho...

À noite recebo uma ligação do Ivan um tanto estranha. Ele estava vindo da Espanha e iria pegar um trem logo depois para a Itália. Só que não daria tempo de ele e a namorada voltarem para casa e pegar o resto das malas... Assim, eu tive que pegar a chave extra dele (o que não é fácil, por motivos óbvios de segurança) e ainda por cima ir até a estação perto da meia noite com as malas... (isso que estava frio pra caramba...). Mas deu tudo certo no final, já que o Coruja me ajudou... Quase morri congelado por lá, já que a gente foi e voltou andando....

Dia 14/12/2001

Entreguei de manhã o rapport inicial. Assim sendo a gente poderia começar a parte de programação. Continuei naquele problema: ou eu explico o que tem que ser feito pro cara e demora mais, ou eu faço eu mesmo e depois dou o trabalho pra ele aprender. Eu preferi a segunda opção, principalmente porque eu vi que seria muito mais difícil a primeira... O cara parece totalmente perdido... Eu quis pegar umas classes que estavam lá na faculdade mas não encontrei nenhum computador com drive de disquete que eu poderia usar. A única sala que eu acharia isso estava sendo usada para uma aula... O mais engraçado é que eu fiquei tão puto com esse episódio que eu vim para casa, deixando o Tarik desesperado (já que ele não sabia nem o que fazer para começar) e matei uma aula sem querer...

Dia 13/12/2001

Fiquei fazendo o resto do trabalho todo sozinho. Eu preferi dessa maneira até. Uma pessoa para quem eu tenho que explicar o que eu estou pensando, sendo que o cara não ajuda a pensar, simplesmente só atrapalha. Terminei o trabalho (os diagramas que eu deveria entregar amanhã) durante a madrugada... fazer o quê...

Dia 12/12/2001

Tivemos uma aula prática hoje só sobre o trabalho. O marroquino nem acordou para ir e eu fiquei as duas horas sozinho fazendo a especificação do trabalho (que é o que eu tenho que entregar na sexta). O cara só chegou depois, quando eu já tinha pensado em várias partes do trabalho. Como ele tinha aula depois (e eu não), acabei só explicando o que eu tinha feito, e depois fui embora pra casa...


Dia 11/12/2001

Finalmente eu tive alguma notícia da ajuda do governo que eu tinha sido o único a não receber. Eles tinham segurado o meu dossier porque eu havia pedido outra ajuda também. Só que eu não tinha recebido nada. Aí expliquei o problema e eles disseram que o processo continuaria até eu receber os 3000 francos... Espero que sim mesmo.
Eu voltei para casa porque não havia aula mesmo. Hoje à noite tivemos uma surpresa. Eles passaram Central do Brasil em um canal por aqui (que não pega na minha casa mas na tv dos outros pega sem antena...) e a gente viu. Veio até um argelino amigo nosso para ver também. Foi muito engraçado ver a Fernanda Montenegro e o garotinho falando francês... Francês falando sertão é muito interessante: sertá-ô.

Dia 10/12/2001

Comecei o trabalho... Na verdade o trabalho é em dupla, e estou fazendo com um marroquino que estuda com a gente por lá chamado Tarik. O cara é uma figura. Até agora eu não sei como ele consegue fazer informática por aqui. Ele simplesmente não entende nada de computadores. Ao menos deveria entender um pouco mais para estar nesse nível onde está... A gente se encontrou lá na faculdade e depois da aula fomos para a casa dele (não sei porque lá aliás), e tentamos fazer alguma coisa. Na verdade não fizemos nada, mais porque eu não tinha pensado muito no trabalho do que por outro motivo. O cara teve todo o tempo da minha viagem para pensar um pouco no problema e, apesar de dizer qeu tinha, ele não tinha pensado em nada... Acho que vai ser um pouco complicado esse problema... Comi um ovo cozido com sal (!!!) e uns bolos que ele tinha lá (o sol tinha acabado de se pôr, e como estamos no ramadã ele estava um pouco desesperado para comer...). Dei a desculpa de que eu tinha que jantar em casa e fui embora... Não queria ficar perdendo muito tempo por lá...


Dia 09/12/2001

Hoje a manhã e a tarde foram tomadas pela viagem de volta. Depois de uma viagem de avião sem problemas (ainda bem), chegamos em Carcassone em um domingo. Mas não sabia que uma cidade poderia ficar sem ônibus em um domingo. Lá podia. Tivemos que pagar um táxi para ir até a estação de trem. O avião, por incrível que pareça, chegou mais de meia hora adiantado, e conseguimos até pegar um trem 3 horas antes do que iríamos pegar... Nada mal.

Cheguei em casa e o dia foi praticamente tomado para arrumar minhas coisas e começar a pensar no grande trabalho que eu tenho que fazer em duas semanas.

Dia 08/12/2001

Acordamos cedo tentando não acordar o pessoal, mas acho que é difícil se arrumar sem fazer barulho... Acho que eles não tomaram o café não. Mesmo depois do café ainda estavam dormindo... Mas fazer o que, eles que estavam perdendo a cidade. E o sol que estava fazendo novamente. Acho que demos uma sorte imensa de pegar Londres com sol todos os dias... Dessa vez fomos passear nos museus de história natural e ciência. Como era sábado podíamos sair mais cedo e pegar o metrô porque o passe não tinha a limitação de funcionar só depois das 9 e meia... Assim, chegamos muito cedo aos museus (que só abriam às 10 horas). Foi por isso que fomos de novo visitar a parte central da cidade... Eu ainda não tinha ido à Westminster Abbey (que fica do lado do Parlamento) e aproveitei essa hora para tirar umas fotos... Depois voltamos e já pegamos todos os museus lotados. Afinal, era sábado. Vários pais com suas crianças vendo a exposição de dinossauros (não sei o que faz as crianças gostarem tanto disso...). Foi meio difícil andar por lá, mas a exposição é muito bem documentada, cheia de coisas para crianças ficarem mexendo e aprendendo sobre os bichos... Muito legal. Depois passamos para a parte do corpo humano (que é uma verdadeira aula de biologia), e finalmente fomos à seção dos mamíferos... Havia um monte de bicho empalhado, e alguns modelos de tamanho natural (a baleia era impressionante). Uma parte que eu achei muito interessante foi a parte dos insetos, cheia de coisas para se mexer a aprender coisas interativamente... Muito legal. Eu queria ter aprendido biologia com um museu desses, é muito mais divertido. Havia uma parte de ecologia com várias coisas sobre como os ecossistemas se comunicam e com várias mensagens sobre a destruição da natureza e o que devemos fazer para impedi-la... E finalmente fomos para a parte da Terra. Ou seja, a hidrosfera e a litosfera. Uma exposição muito legal era sobre vulcões e terremotos, com direito a vídeos de erupções e uma maquete de tamanho natural mostrando uma pequena lojinha que tremia como se estivéssemos num terremoto (e a tv que mostrava a câmera de segurança da loja mostrava na verdade imagens de uma loja parecida durante o terremoto de Kobe no Japão). Era muito divertido...

Depois de um almoço rápido voltamos para outro museu, que era o Museu de Ciência. Eu não esperava muita coisa dele por causa do que me falaram (que era para criança, ou algo assim), mas acabou sendo muito legal. Eles têm na coleção várias coisas da história da ciência, assim como partes falando sobre metais, ou sobre agricultura... Daria para passar um bom dia lá dentro. Além disso tinha uma exposição patrocinada pela Alpha Romeo com vários carros da história, com motores e artigos relacionados, sem contar com projetos dos primeiros carros da companhia... Muito interessante também, principalmente porque o Daniel é um engenheiro de produção, e tendo estudado mecânica ele poderia explicar algumas coisas para a gente.

Praticamente foi uma das últimas coisas que fizemos em Londres. Encontramos o Ivo pela última vez e ele nos levou a uma feira. Era outra das coisas que eu não esperava nada, mas não era uma feira normal. Só tinha figura por lá. Tinha várias lojas vendendo coisas para clubbers, fazendo tatuagens, e coisas do estilo, e várias roupas estranhíssimas que só serviam para ir a raves mesmo... Mas foi bem interessante ver cada maluco que existe em Londres. Depois só fomos para o nosso albergue, e comemos em uma pizzaria rodízio que havia ali por perto.



Dia 07/12/2001

Hoje de manhã foi o dia da visita ao British Museum. Logo na frente havia um vagão do Orient-Express, que é o cenário do livro da Agatha Christie (não sei se alguém já leu...). Entramos e fomos direto para as exposições do Egito, Roma e Grécia... É impressionante a quantidade de coisas que roubaram de lá para colocar no museu. Só faltava ter uma pirâmide inteira ali dentro, porque o resto eu acho que estava... Na parte da Grécia, ainda por cima, acho que tem mais coisas que na própria Grécia... Havia bilhões de esculturas, vasos etc... No centro do museu há uma biblioteca gigante (onde qualquer um pode fazer suas pesquisas). Aliás, a construção em si do museu é muito imponente. É um prédio gigante, que agora no centro construíram um domo de vidro que cobre toda a parte central, inclusive a biblioteca... Depois fomos ao segundo andar onde ficam as exposições de cada parte da história. A exposição da Europa na idade média e nos séculos seguintes não tinha muita coisa de interessante dados os vários museus dessas coisas que eu já vi... O resto era legal, sobre egípcios, romanos, com seus utensílios, vasos etc. Tinha uma sala só com relógios que eu queria ver, mas que estava fechada... Depois de quase explodir meu cérebro com tanta informação, saímos do museu para comer alguma coisa e seguir a visita.

Para comer passamos na estação de trem onde chegamos para também ver os horários de trem para o dia de partida... Pegamos de novo o metrô e fomos para a Tower of London. O prédio no sol estava muito bonito. Logo na saída da estação havia uma das partes remanescentes da antiga muralha que protegia Londres há algumas centenas de anos, e que foi destruída por algum incêndio (alias, vai ter incêndio que destrói a cidade toda assim lá longe!). Depois de algumas fotos na parte externa, com direito a dar uma volta na construção e tirar fotos da Tower Bridge (o sol realmente estava muito bom!!), entramos no monumento para pegar a última visita guiada do dia. Quem falava na visita era um dos guardas da rainha, um cara com um bigodão gigantesco, usando aquela roupa ridícula... Mas o cara era muito engraçado. Apesar de o inglês dele ser muito difícil de entender, o cara só falava merda. Ficava zoando todo mundo, principalmente umas crianças que teimavam em ficar na frente... Contou várias histórias dali, incluindo as execuções de várias pessoas que aconteceram ali, do desaparecimento das duas crianças que tinham direito ao trono, das jóias da rainha... Foi muito legal, valeu a pena o preço pago... Logo depois da visita guiada a gente estava livre para visitar todo o resto, e eu fui direto para ver as jóias... É impressionante mesmo... É muito dinheiro em um lugar só. E uma parte daquela riqueza é nossa... Há umas cinco ou seis coroas cheias de diamantes, sem contar o resto (anéis, cetros etc). Havia uma bacia de ouro lá que devia pesar uma tonelada... Por isso que tinha uma porta com uns 20 cm de espessura em cada uma das entradas para a sala das jóias... Tudo se explica... Entrei também na torre central, onde tinha uma exposição sobre a vida na torre durante esses 900 anos que ela foi centro da monarquia inglesa, e foi só...

Depois disso fomos filar novamente um jantar no albergue do Ivo e fomos a um verdadeiro pub inglês para experimentar... Só que a cerveja não era muito barata, e assim não ficamos muito tempo lá, de qualquer maneira... Ao voltarmos para casa encontramos dois australianos (na verdade era um casal) que tinham finalmente chegado e iam ficar no nosso quarto. Eles estavam na cama já (era cedo!!), mas como eles já tinham visitado Londres e teriam muito mais tempo que a gente para passear, acho que eles tavam muito tranqüilos... Conversamos um pouco, contando as histórias de viagem e tudo isso... Foi bem legal. Depois eu desci para ir à cozinha ver o que estava acontecendo e encontrei uns franceses que estavam por lá. Os outros dois brasileiros me acompanharam, e ficamos todos treinando um pouco... Um deles queria abrir uma boulangerie no Brasil, mas eu fiquei falando que talvez não desse certo, porque o pão na França era vendido muito mais caro... Aí ele ficou dando exemplo do Olivier Anquier que está ganhando dinheiro... Bem, eu não conseguiria explicar que a globo é que ajudou... De qualquer forma, depois disso foi um problema para falar inglês com o australiano de novo...

Dia 06/12/2001

Como em todas as viagens, pegamos o café do albergue e saímos o mais cedo possível. De qualquer forma não poderíamos andar muito cedo no metrô porque o ticket diário só começava a funcionar às 9 e meia (depois do rush). Assim, aproveitamos a primeira parte do dia para passear no Hyde Park, que ficava do lado do nosso albergue. Londres fica muito bonita com sol, e a única coisa que estraga é que estamos quase no inverno e todas as árvores estão praticamente peladas. Há vários bichos que ficam andando pelo parque, que tem um laguinho no meio... Logo na frente desse lago há um pequeno palácio... Dentro desse palácio há também uma quantidade enorme de esquilos, que parecem ter sido treinados para pedir comida aos turistas. Ele só vinha achando que você iria dar alguma coisa, e como demorava para aparecer algo ele simplesmente ia embora, tentando achar outro turista que desse comida para ele... Interessante. Deu a hora de pegar o metrô e fomos até o Big Ben de novo, mas dessa vez com sol para se tirar algumas fotos. Depois, para não perder muito tempo, fomos à National Gallery, que comporta váaaarios quadros de pessoas famosas, como o Leonardo, Michelangelo, Caravaggio, Monet...e vários outros. A visita é até interessante, mas não tenho muito o que falar sobre eles. Só que nesse museu havia várias excursões tanto de crianças de um colégio como de adultos, e de vez em quando era meio difícil de ver alguma coisa que estava rodeada de pessoas com o guia na frente falando. É até legal ficar ouvindo um cara explicando um quadro para várias crianças... Elas têm uma imaginação e tanto...

Tínhamos combinado de qualquer maneira com o Ivo de encontra-lo ali na frente da National Gallery. Já que estávamos ali resolvemos comer alguma coisa e depois passear por algum lugar grátis (depois de 6 meses morando em Londres ele já havia visitado praticamente tudo...). Compramos ingressos para o musical do Rei Leão (em pé mesmo... coisas de pessoas pobres hehe) hoje mesmo, e depois fomos andando para um dos lugares famosos, o Buckingham Palace. No caminho deu para passar em um prédio onde fica a guarda montada da rainha, e por um parque que fica do lado, muito bonito também... Havia um pelicano que eu tirei uma foto que estava andando por lá enquanto uma horda de turistas vinha atrás justamente para tirar a foto... Como eu estava de frente, foi mais fácil. Finalmente, depois do parque, havia o palácio. Acho que estava havendo algo de importante por lá porque várias pessoas estavam saindo e os turistas não estavam podendo entrar... Havia os tradicionais guardas também, com a roupa de inverno, parados por lá... Depois andamos até o bairro onde ficam os grandes bancos e prédios modernos de Londres (nada de mais...) e finalmente atravessamos uma das pontes do rio Tamisa para ir até o Globe Theater de Shakespeare... infelizmente não havia espetáculos nessa época do ano, e a gente chegou um pouco tarde para fazer qualquer tipo de visita (não sei porque tudo lá fechava mais cedo que nos outros lugares...). Então fomos a um lugar do lado, que se chama Tate Modern. É um museu de arte moderna que foi construído faz pouco tempo, e que abriga umas exposições permanentes de arte moderna muito doidas... Logo na entrada há uma escultura que são vários buracos no chão (sendo que uns são pintados dando a impressão, e outros são buracos de verdade) e dois elevadores que ficam subindo e descendo... Não entendi muito não. Entrando em outra sala havia uma prateleira com um copo com água até a metade. E só. Alguém pode me explicar a profundidade dessa escultura? Outra era um projetor de slides projetando uma imagem de um interruptor na parede. Outra era um quadro todo azul. Um piano pendurado no teto. Uns quadrados coloridos... Tinha de tudo por lá. De pessoas famosas a pessoas que eu nunca tinha ouvido falar (quase todos)... Mas foi legal, era uma viagem só... Além de tudo, a torre do Tate Modern dava uma visão muito bonita da cidade à noite (isso que era 5 da tarde... estava noite já)...

Para matar o tempo o Ivo nos levou para conhecer a Harrods. A decoração é animal! E tem bilhões de coisas para comprar, praticamente tudo de marca (senão tudo...). É impressionante a quantidade de pessoas que vão lá e não compram nada, só para ver a loja... Até a parte de comida é impressionante... A gente só andou por lá porque comprar mesmo era meio difícil... Até vi um relógio de 10000 dólares que eu gostei mas eu deixei para a próxima vez. O único lugar que eu poderia bater foto é em um memorial que o dono da loja fez para o filho dele e para a princesa Diana. Lá tem um copo ainda com marca de batons da última noite dela, bem como um anel que o cara tinha dado à Diana... Eu nem tirei foto disso porque eu acho meio depressivo...

Nos despedimos do Ivo e fomos para o teatro onde seria a apresentação do Rei Leão. Até que os lugares em pé não eram tão ruins assim, com uma visão muito boa do palco... Só estava meio longe, obviamente, e ficar em pé durante todo o espetáculo nem sempre é muito agradável... Por isso que, quando apagou a luz, todo mundo que estava em pé sentou em uns lugares que estavam vagos. O problema é que todo mundo teve que sair porque esses lugares vagos eram de pessoas que chegaram atrasadas... Por exemplo, eu estava em uma fileira que tinha oito lugares livres... Quando eu iria imaginar que eram exatamente oito pessoas de um mesmo grupo que tinham chegado meia hora atrasados? Eu acabei vendo uma parte sentado... Aí veio o cara perguntando onde estava minha entrada e eu nem respondi, eu só levantei e fui pro meu lugar lá atrás... Não custava nada tentar. De qualquer maneira, mesmo lá atrás, o show foi magnífico. A adaptação do desenho para um musical está muito bem feita... Adorei e tal, principalmente porque eu gosto dos desenhos da Disney...

Saímos do teatro e fomos comer alguma coisa porque ninguém é de ferro. Apesar de eu ter comido um sanduíche correndo antes do espetáculo começar, eu ainda estava com fome. Comemos uns pedaços de pizza, andamos um pouco pela Leicester Square (onde tinha vários músicos cantando na rua...) e depois fomos para o nosso albergue... Ainda não tinha ninguém no nosso quarto. Isso era muito bom porque nos deixava livre para fazer o barulho que quiséssemos quando a gente acordava.


Dia 05/12/2001

Acordei até meio cedo dado que eu só precisaria sair de casa perto de umas 10 e tanto de casa... O trem só sairia de qualquer maneira umas 20 para o meio-dia. Mas eu por preguiça tinha deixado para arrumar a mala no mesmo dia, e como eu checo varias vezes para ver se eu não esqueço nada eu acabo demorando horas para fazer alguma coisa de útil. Demorei só meia hora para arrumar a mochila. Afinal, eram só quatro dias lá. Eu me preocupei mais com as roupas de frio do que com qualquer coisa, já que eu fiquei com um pouco de medo porque dizem que lá faz um frio dos diabos nessa época do ano, sem contar com a tradicional chuva que está presente quase todos os dias... Na verdade, a chuva estava presente era em Toulouse. Eu me molhei todo até chegar na gare. No caminho eu comprei meu café da manhã e almoço (uma baguete quentinha recém saída do forno... Eu não tinha quase nada em casa para comer... Que pobreza!!) e cheguei na gare muito antes de sair. Encontrei o Fabiano e o Daniel (os companheiros dessa viagem), entramos no trem e fomos até lá. Conseguimos rapidamente encontrar uma maneira de ir até o aeroporto de ônibus, e até encontramos uma francesa que estaria dentro do avião também indo pra Londres... Afinal, ir de avião era muito mais barato e rápido do que ir de trem. O avião em si não tinha nada de mais (ou de menos, como muitos poderiam pensar) apesar de o preço ser mais baixo do que o normal... Só demoramos para decolar graças às precauções de segurança da polícia da França que fez questão de revistar cada coisinha de cada pessoa que estava entrando no avião... E depois dizem que os americanos é que são paranóicos. A viagem foi bem tranqüila, e chegamos sãos e salvos no aeroporto. Como ele ficava um pouco longe da cidade (45 minutos de trem) tive que morrer em 150 francos só de passagem ida e volta para ele... Chegando na estação central tivemos que ligar para um amigo do Daniel que mora por lá para saber o que faríamos. Depois de duas tentativas frustradas e várias perguntas aos policiais e a outras pessoas para saber se o telefone que o Ivo (o tal amigo) tinha dado estava certo (as duas primeiras tentativas caíram em uma caixa postal de uma tal de Carol!), a gente conseguiu falar com ele. Ele foi nos buscar lá na estação e nos levou para uma pequena rua onde havia vários albergues. No dele não daria para ficar nem uma pessoa pois seu companheiro de quarto (um italiano) encrencou... Ainda bem que ele nos ajudou, porque os albergues ditos oficiais eram o dobro do preço. Lá eu paguei 100 francos por noite (graças ao gerente...). Na verdade o preço era maior, mas como havia vários na mesma rua a gente já estava saindo do albergue quando o gerente perguntou o porquê dessa saída se havia lugares. O Ivo falou que no outro seria mais barato e o gerente acabou dizendo que ele faria o mesmo preço. Ficamos em um quarto de 6 pessoas que só estava a gente, ao menos nesse dia... Logo depois fomos ao albergue onde mora o Ivo (ele paga um pouco caro, mas tem café da manhã e jantar incluído). Pegamos o guia de Londres que ele tinha e ainda por cima conseguimos filar uma comida de graça... Até que não seria muito em qualquer outro lugar do mundo, mas ali em Londres qualquer refeição que a gente conseguisse não pagar seria uma economia enorme...

O resto da noite foi dedicado a um grande passeio pela cidade... Passamos pelo Parlamento e Big Ben, pela Westminster, pela torre de Londres e pela Tower bridge... pela Piccadilly Circus... Por tudo que poderíamos ir ali no centrão mesmo, já que não poderíamos fazer outra coisa... Até na torre de Londres invadimos (a porta estava aberta) um cais que fica ali para chegar mais perto do rio Tamisa e tirar uma foto da Tower bridge ali de baixo. Depois pegamos o ônibus de dois andares e ficamos no andar de cima para ver a cidade. É muito estranho andar nesse trânsito maluco ao contrário... Parece que o cara vai bater a cada minuto...


Dia 04/12/2001

Ah... acordar cedo é uma dificuldade, principalmente quando se sabe que a cama está tão mais quentinha que lá fora... Mas era necessário fazer alguma coisa, pelo menos uma das vezes, para conseguir chegar às 8 da manhã... Fiz uma forca e cheguei, mesmo atrasado. O trabalho prático de hoje era praticamente nulo, fazer uma interface gráfica em Java, mas era interessante porque o projeto (que é prra daqui duas semanas) vai ser feito assim... Eu recebi o enunciado do problema ontem e hoje já tinha gente fazendo o projeto enquanto eu nem queria pensar sobre ele... Já no fim da semana que vem eu e meu companheiro de grupo temos que entregar um primeiro texto explicando as escolhas de implementação do projeto... Mas acabei me dando mal porque um marroquino está fazendo trabalho comigo e ele é meio fraquinho nessas coisas.. Provavelmente eu vou ter qeu fazer o trabalho todo sozinho... Um outro problema que se junta a esse é o fato de que eu vou viajar amanhã e só volto no domingo... Ou seja, menos 5 dias para fazer o trabalho. Se for pensar, eu vou ter que ficar as outras duas semanas fazendo isso, arrumando coisas para a viagem de fim de ano, estudando para outras matérias que eu vou ter prova e tentando arrumar alguma outra viagem para depois de voltar dessa outra viagem... É impressionante o trabalho que se tem organizando viagem, vendo hotéis, trens, itinerários em cada cidade, detalhes que ninguém se preocupa quando se está em uma excursão mas que eu tenho que tomar conta... Espero que alguém me ajude pelo menos em alguma parte dele... De qualquer forma foram só duas horas... Depois fiquei algumas horas de bobeira até as aulas da tarde, que me tomaram a tarde toda... Encontrei só depois o pessoal.

Uma coisa interessante aconteceu hoje. Interessante para mim, bem entendido, até engraçado se não fosse trágico. O Coruja teve sua bicicleta roubada no domingo. Bem, até aí já é um azar considerável mas que não tem nada demais. Várias pessoas têm suas coisas roubadas todos os dias. Mas hoje de manhã ele viu a bicicleta dele (que é característica, não poderia ser outra) mas pintada de preto, com um cara qualquer. Ele saiu correndo atrás do cara gritando para parar mas nada de o cara parar... Como ele não conseguiu pegar o indivíduo ele chega na faculdade possesso de raiva e querendo bater em todas as paredes. Bem, não acaba por aí. À tarde ele estava andando de novo pela rua quando ele consegue ver de novo o mesmo indivíduo com a bicicleta... De novo ele não consegue pegar mas consegue, sim, perder o celular... Depois dessa ele está sendo considerado como o bolsista da Capes mais azarado do universo... Acho que foi por causa dele que aconteceu a explosão aqui em Toulouse, de tanto azar que esse cara tem...

Ah, e ainda mais coisas nos esperavam. Estamos em uma residência universitária que tem três prédios, sendo que dois deles são só para mulheres (o B e o C), e o meu prédio é só para homens (o A, no caso). Os três que tinham conseguido o quarto aqui anteriormente estavam no prédio C porque não havia outros quartos... Mas há uma semana eles receberam um papel dizendo que como havia quartos vagos no prédio A eles deveriam se mudar para cá... Só que eles não queriam. Eu não tiro a razão deles, porque um prédio só com homens consegue ser uma porcaria... Pessoal joga papel no chão, varre toda a sujeira no corredor, joga lixo no corredor, cospe no chão da escada, deixa o banheiro sujo... É horrível. Mas eles receberam o papel de qualquer maneira. Deixaram para lá, achando que ninguém mais iria encher o saco por um bom tempo. Acho que ontem ou antes de ontem eles receberam novos papéis, com urgente escrito neles, dizendo que se eles não fossem mudar de quarto eles seriam trancados para fora... Obviamente que ninguém levou a sério. Quando eles chegam hoje, o que acontece? Acho que não precisa-se pensar muito para perceber o que aconteceu... Eles conseguiram trocar as fechaduras das portas e pregaram um papel na porta de cada um dizendo que como ignoraram as ordens de mudança eles tinham mudado a fechadura e que teriam que mudar à força. Eu até fui com eles reclamar mas o cara da recepção foi muito grosso (como quase todos os franceses) e disse que teriam que mudar hoje à noite. Isso não é possível... Tem coisa ali pra um mês de mudança... De qualquer maneira tudo ficou bem para essa noite, mas eles terão que se mudar amanhã senão vão ser trancados para fora de novo... Agora quase todos se mudaram o mesmo tanto de vezes que eu me mudei hehe. Pelo menos vamos ficar mais perto uns dos outros. Um deles já tem uma tv de 20 polegadas que eu posso ligar o notebook pra ver filmes... Sessão de cinema todo dia...

Amanhã cedo estou indo para Carcassone para pegar o avião com destino a Londres... Espero que dê tudo certo por lá porque até agora eu não sei onde eu vou ficar nem quanto eu vou pagar por todos esses dias... Nem arrumei minhas coisas ainda... Acho até que eu vou deixar para amanhã de manhã... Não sei se é uma boa idéia, mas vou ver...