Dia 19/10/2001
Bom, como eu já havia dito ontem, eu teria uma viagem para Barcelona nesse dia, saindo daqui umas 10 da manhã e chegando lá perto de umas 5 da tarde... Por isso eu não conseguiria mesmo assistir a nenhuma aula, e nem pensei no caso. Acordei umas 2 horas antes para arrumar minhas coisas (utilizei pela primeira vez a mochila de 70 litros que eu comprei. Só que não a enchi toda, e coloquei minha pequena mochila dentro dela. Parecia que ela tinha uma filha...). Saí de casa e fui diretamente para a gare pegar o trem.
A viagem para Barcelona por esse caminho dura entre 6 e 7 horas. Não que seja longe, mas é que existe uma pequena barreira entre a França e a Espanha: os Pirineus. Assim, o trem que eu peguei ia bem devagar, passando por várias cidadezinhas minúsculas no meio das montanhas. Como a viagem foi durante o dia, foi uma vista muito bonita, mas às vezes dava raiva porque eu queria chegar logo e não queria ficar vendo montanhas... Troquei de trem na última cidade da França antes da fronteira (acho que é La Tour de Carol, se não me engano), pegando um trem espanhol dessa vez (bem diferente ficar vendo todos os avisos em espanhol ao invés de francês dentro do trem). Os bancos já eram diferentes mas ainda dava para dormir um bocado. Dentro do trem havia uns grupos de espanhóis já que, como alguns devem saber, não calam a boca nenhum momento praticamente. Dormi de novo no trem, e me acordaram em algum momento da viagem: era o controlador espanhol, que só falou uma palavra ‘Lá!’. Era para eu trocar de trem novamente, e agora eu iria pegar um trem regional para chegar em Barcelona. Parecia mais um metrô, dada a quantidade de pessoas que entrava e saía a cada estação... Eu com minha mochila gigante já estava meio estranho no meio do pessoal, que parecia que estava voltando para casa ou algo do estilo (já era umas 3 ou 4 horas da tarde).Obviamente a grande maioria deles era espanhol... (e eu sempre com o meu ódio com essa língua feia).
Segundo o Sérgio tinha falado, eles estavam hospedados perto da praça da Catalunha, e eu deveria ir até lá para encontra-los no hotel e fazer meu check-in. Como eu não sabia quando eu tinha realmente chegado ou não em Barcelona (o trem parava em todas as estações no caminho) eu já estava meio apreensivo. Em um momento eu vi escrito no nome da estação ‘Catalunha’ e resolvi saltar. Quase que eu achei que fiz besteira, porque um dos caras que estava no trem também e que tinha saído de Toulouse não saltou nessa estação... Eu resolvi sair assim mesmo (o trem já tinha ido e eu não sabia se viria algum outro trem parecido indo pro mesmo lugar) e tentei sair da estação também. Só que havia um problema. Para sair da estação de metrô em Barcelona (sim, eu estava num metrô mesmo no final das contas) eu teria que colocar meu ticket na catraca da saída também. Só que eu não tinha ticket, ora bolas! Eu fiquei lá meio perdido até que eu pensei: ah, vou sair atrás de alguém mesmo, e vamos ver no que dá. A catraca era uma portinha que abria, deixava uma pessoa passar, e fechava. Tinha tipo um sensor para ver isso. Então era praticamente impossível eu sair atrás de alguém. Mas algo bem interessante aconteceu. Do nada um velhinho e uma velhinha, não relacionados entre ele, foram colocar o bilhete em duas catracas adjacentes para sair. O velhinho, sem querer, colocou na catraca errada, abrindo a da esquerda. A velhinha, que pelo jeito também estava perdida, seguiu o velhinho, colocando por sua vez na outra catraca, e saindo pela do velhinho. Eu, que malandramente vi o negócio, saí pela que a velhinha tinha aberto, e acabei deixando o senhor lá perdido sem saber o que fazer. Ele pelo menos tinha o ticket para colocar de novo e sair... Eu não. Fiquei rodando um pouco pela estação porque ela era gigante, sem saber muito bem para onde ir. Normalmente na França e na Alemanha existem uns mapas da cidade no metrô mostrando por onde passam as linhas... Em Barcelona eu não estava achando. Então eu fui a uma banca para ver se havia um mapa, e descobri que havia mas custava 200 pesetas. Um problema. Eu não tinha pesetas. Então saí para ver o que tinha na praça... Lá fora, em um ponto de ônibus, descobri um pequeno mapa mostrando a praça e as ruas em volta, e descobri que tinha acertado a parada. Fui andando para a rua do hotel, e no meio do caminho havia um quiosque de informação para turistas. Lá eu tirei dinheiro, e acabei pegando um mapa da cidade também (depois eu comprei aquele mapa porque acabei querendo um mais detalhado... e era barato também). O problema é nunca saber quanto dinheiro é necessário... Tirei 4000 achando que seria muito, mas depois descobri que se eu realmente necessitasse desse dinheiro para viver lá eu teria que ter feito mais algumas retiradas...
Cheguei finalmente na rua do hotel. Era uma rua cheia de lojas chiques e que só passavam pedestres. A rua estava muito cheia àquela hora (acho que de turistas também), e até ouvi alguém falar português quando eu passei... Cheguei finalmente ao hotel e vi que era um 3 estrelas... Já fiquei com medo do preço. Quando entrei, com minha roupa e meu mochilão o cara da recepção já olhou meio torto. Cheguei para ele e perguntei, em inglês mesmo, se havia uma reserva no meu nome. A primeira coisa que ele me falou é “o quarto custa 20000 pesetas mais taxas”. Eu falei que ok, que o preço parecia bem legal, mas eu queria saber era se havia a porcaria da reserva ou não. Acho que ele achou ainda que eu estava errado, porque aquele hotel não seria pra mim, que eu deveria estar indo para o albergue e estava enganado de lugar... Aí ele finalmente achou o nome do Sérgio (que eu estava falando meia hora que ele estava lá e que era ele que tinha feito a reserva) e achou meu nome na lista de reservas... Ele rapidamente pegou meu passaporte e meu cartão de crédito para tirar cópias (provavelmente para eu não fugir depois de ficar no hotel dele...). Eu fui para o meu quarto (com um cara carregando minha mochila, que chique!) e lá eu vi que ele era pelo menos umas 2 vezes, quase 3 vezes, maior que meu quarto no Chapou. Um banheiro enorme, uma cama praticamente de casal de tão grande, tv... Tava bem tranqüilo lá para mim. Aproveitei para tomar um banho e colocar uma roupa porque depois de 7 horas de viagem ninguém está muito bem arrumado. Depois de um tempo lá resolvi descer para descobrir qual era o quarto do Sérgio e da mulher dele, e quando eu estava tentando perguntar isso (e o pessoal da recepção não me dizia), o próprio liga para a recepção para perguntar por mim. Eu espero eles descerem e saí com o Sérgio para colocar o papo em dia e para colocar algumas coisas no correio... Na volta para o hotel a gente foi comer alguma coisa em um restaurante onde o Picasso ficava sempre (era um amigo de Picasso que havia aberto o restaurante) chamado Os Quatro Gatos... Comemos uns pães nos quais eles passam tomate (fica vermelhinho e molhado, muito gostoso) com algumas coisas em cima, como queijo, atum, salmão, essas coisas... Foi bom porque eu não havia almoçado (só a farofa habitual do viajante capes) e estava com um pouco de fome.
Voltei para o hotel para colocar um casaco e sair de novo com eles, porque eles tinham comprado ingressos para um show dentro do Palácio da Música Catalã. Era um lugar que eles não conseguiam entrar durante o dia sem uma visita guiada, e resolveram pagar por um show que eles não sabiam quem seria só para poder visitá-lo... O lugar era muito legal, todo cheio de detalhes (acho que consegui tirar uma foto um pouco borrada de lá porque estava meio escuro)... O show em si foi uma surpresa muito engraçada. Era tipo um Roberto Carlos catalão (sendo que nenhum de nós nunca tinha ouvido falar de tal figura). Havia gerações se encontrando vendo o show... Garotas e vovós... E todos sabendo cantar as músicas do cara... Foi até interessante. Fiquei surpreso de ter gostado tanto. Pena que eu não entendia nada do que o cara falava nem cantava. Mas isso não estragou de jeito nenhum a noite. Depois do show (que demorou mais de 2 horas, porque era a volta do cara depois de vários anos longe dos palcos... até nisso a gente deu azar), a gente saiu para jantar. Infelizmente não havia muitos lugares abertos àquela hora, e ficamos andando pela cidade para tentar achar algum restaurante do guia de Barcelona que estava com a mulher do Sérgio (que se chama Lucia, aliás). Vários deles estavam fechados também, e encontramos, depois de muito andar, um lugar que vendia uns ‘tapas’ gigantes. Comemos bastante até. Depois fomos passear por um lugar no antigo porto da cidade que só tinha discotecas. Lá, segundo falaram, a noite só acaba de manhã. Como o Sérgio e sua mulher não ficaram muito tempo lá, eu voltei para o hotel com eles a pé e resolvi dormir também... Afinal, eram quase 3 horas da manhã, e não tinha muito mais o que fazer. Além disso as 7 horas de viagem de trem já me haviam matado o suficiente.
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