Dia 02/11/2001
Dormir bem... Fazia tempo que eu não sabia o que era isso. Mas finalmente passamos uma noite tranqüila, com várias horas de sono, sem passar frio... A única coisa que não muda é acordar cedo, porque nesse inverno horrível temos que aproveitar todas as horas em que o sol está lá fora. Tomamos um café bem bonzinho, tirando que ele não era ilimitado igual Budapeste. Eu pedi um suco (na verdade dois copos) de laranja, e fomos pagar o hotel. Acabou que o suco era pago e ninguém tinha me avisado. Da próxima vez eu pergunto antes de pedir algo assim...
Fomos até o mosteiro, e dessa vez o monge estava por lá. O Daniel falou com ele no telefone, e esperamos alguns minutos na porta até ele chegar. Ele já é bem velhinho, e não estava conseguindo falar muito francês direito... Na verdade, nem o inglês ele estava conseguindo falar também, apesar de um pouco melhor. Ele ficou interessado na nossa história, e começou a nos levar para um passeio guiado pelo mosteiro. Não poderia ser uma visita guiada melhor. Ele começou mostrando onde ficavam as crianças durante o período escolar (estávamos em um período de férias, e ninguém estava lá). Depois onde ficava o resto, e quando chegamos a uma das portas principais, por onde entraríamos, chegou um carro com um monge muito mais novo, que falava inglês muito bem (e não falava muito francês). O monge mais velho pediu ao mais novo para que ele nos guiasse, já que ele teria mais tempo... Infelizmente eu esqueci o nome do nosso amigo monge. O mais velho, enquanto esperávamos pelo garoto descarregar umas coisas que ele tinha trazido de carro, nos contou sobre a história do mosteiro. Com 1000 anos, ele foi construído pelos monges beneditinos logo quando a Hungria foi criada, convidados pelo primeiro rei da Hungria, para que o país pudesse ser protegido também... A partir de um certo momento na história (não me perguntem datas e nomes porque eu realmente não decorei tudo isso...), um rei da Hungria mandou os beneditinos cuidarem da educação. Seria um ?chega de só rezar. Quero ver trabalho?, mas não era bem assim... Acho que alguém que acredita no negócio vai acabar me batendo se ouvir eu falar isso. De qualquer maneira, desde essa época eles cuidam do ensino de várias crianças, em regime de internato. No caso, esse nosso amigo monge novo (que vou chamar de João só para ficar mais fácil, e depois eu vejo se lembro do nome dele) estudou ali, e acabou virando monge por causa disso também... Ele não chegou ainda a fazer seus votos finais, mas está indo para lá. O velho monge nos convidou várias vezes para almoçar, oferecendo até para antecipar o almoço pra gente só para que comêssemos ali, mas resolvemos não aceitar, já que teríamos que estar em Budapeste bem cedo para devolver o carro, ver o resto da cidade, e ainda ir para o concerto à noite.
O João nos levou para conhecer a grande igreja. Mais uma vez, o papo sobre a arquitetura misturada, já que o mosteiro foi parcialmente destruído muitas vezes e, segundo ele, o mosteiro nunca teve dinheiro suficiente para derrubar tudo e reconstruir tudo do zero. Mas assim ela ficou também cheia de detalhes diferentes. Ele nos contou sobre várias coisas sobre a ordem, e sobre seu dia a dia. Como ele não é ainda monge já com os votos finais, ele pode ainda desistir sem problemas graves. Foi aí que eu comecei a sacar o malandrão. Ele tem a maior cara de ser o monge mais engraçadinho do mosteiro. Outra coisa que ele foi explicar foi uma capela, que mostrava em um vitral algumas imagens da vida de São Benedito. Uma das imagens mostra que São Benedito, para se livrar das tentações que estavam atormentando ele, se joga no meio de espinhos. O João falou então que a vida de São Benedito era sempre muito bem tranqüila e que a coisa mais radical que ele tinha feito era isso. Então, por isso, ele achava que esse episódio de se jogar nos espinhos era em sentido figurado... Sei... Ele tava é querendo tirar o dele da reta, isso sim. Depois a gente foi visitar a parte central do mosteiro. Eram várias portas, que davam para a igreja, para o refeitório, para várias coisas. Mais um simbolismo. Como era um círculo (mais para um quadrado) fechado, simboliza que o monge deve viver sempre aquelas mesmas coisas. Rezar, comer, obedecer o monge mais importante (que tem os quartos que dão também para esse ?circulo?) e dormir. Nas paredes há também imagens do sofrimento de Cristo, lembrando aos monges que é para eles sofrerem durante a vida (boa essa né?). E por último, a parte central, que é um jardim muito bonitinho, mas que não fica aberto. Apenas janelas que deixam a imagem meio turva deixam a gente olhar para lá. Isso significa que ali é o paraíso, e que só podemos olhar para lá dessa maneira, antes de morrermos... É até interessante isso. Eu não tirei mais fotos porque segundo as placas da entrada era proibido tirar fotos lá dentro... Depois visitamos o refeitório, onde há várias pinturas nas paredes (que sempre mostravam cenas de refeições relacionadas a histórias bíblicas), e depois saímos para uma sacada ali do lado onde fica uma bela visão da cidade... Depois fomos para a biblioteca. É uma biblioteca imensa, cheia de livros. Só que ali só havia 10% de todos os livros que eles possuíam. É a maior biblioteca dos beneditinos no mundo, e a maior biblioteca particular da Hungria. Segundo ele, ?O Nome da Rosa? foi inspirado naquela biblioteca. Também tem altos simbolismos. Tudo dentro da biblioteca (esculturas, pinturas) era baseado na mitologia grega, o que não combina muito com igreja, mas combina com sabedoria, segundo os antigos... Eles fizeram isso justamente para contrastar as duas coisas: há tudo isso de mitologia, e na porta apenas uma pequena cruz, mostrando que já que você tem fé, você pode ter sabedoria também... Interessante... Finalmente visitamos o local de trabalho do nosso amigo, que é professor de alemão e outras coisas ali também. Ele cuida de 60 garotos (é tipo o tio deles, fazendo chá e coisas assim para eles) antes e depois das aulas. Segundo ele não deixam ele ter muito tempo para se dedicar à meditação que ele deveria fazer, e mesmo de algumas orações ele não consegue participar... É vida dura, segundo ele...
Nos despedimos, e fomos correndo para Budapeste. Deixamos as malas no hotel (mais uma noite lá!) e fomos devolver o carro logo, porque seria meio difícil ficar andando com ele pela cidade... maior trabalho de conseguir estacionar o carro, e não valeria a pena porque teríamos que pagar o estacionamento de qualquer jeito... Fomos passeando pela cidade, e até fomos andando até uma sinagoga muito importante: é a segunda maior sinagoga do mundo, só atrás de uma em Jerusalém. Isso é até estranho hoje em dia, porque não há tantos judeus assim em Budapeste... Infelizmente, porque era dia 2, o museu lá dentro estava fechado, e só pudemos olhar por fora mesmo... Na parte de trás da sinagoga há uma árvore de metal, onde cada folha representa um judeu morto (acho que da região) durante a segunda guerra... Cada folha tem um nome escrito. Eu não pude ver os nomes escritos porque tinha uma grade na frente... Antes de comer passamos na frente do museu nacional da Hungria. Fizemos um pequeno lanche no Burger King, e entramos no museu. Lá está a história da Hungria, desde que ela foi formada, passando pelo domínio dos turcos, depois pelo domínio pelos austríacos (os Hapsburgos de Viena) e acabando pela influência comunista depois da segunda guerra... Muito bom o museu, com algumas coisas só em húngaro, mas deu para aprender bastante história... Descobrimos ao menos que a Hungria sempre foi um saco de pancadas, e que sempre entrou em guerra para perder, a não ser quando os turcos foram expulsos. No resto, mesmo quando não tinha nada a ver com a história, eles entravam e perdiam. Nota-se, por exemplo, na primeira guerra. Eles só entraram porque a Áustria quis entrar, e como as coroas estavam unidas... No final a Áustria até ganhou território, enquanto ao Hungria perdeu dois terços do seu... Interessante isso também... Havia um manto que data dos primeiros reis da Hungria por lá, que voltou depois da segunda guerra (estava com os americanos, vejam só). Depois do banho de cultura fomos até o mercado da cidade, onde tínhamos passado na manhã que saímos de Budapeste... Nada de mais, só um mercado com várias comidas diferentes e coisas para turistas... Saímos correndo para irmos visitar a praça dos heróis e um parque que tinha um castelo (que foi construído durante uma feira, e acabou ficando... como a torre Eiffel). Chegamos lá já de noite. Nesses lugares eu tirei fotos, mas ficou tudo borrado infelizmente. Mas as cenas são legais. Fomos até o parque, mas não dava para tirar foto do castelo de longe porque na frente tinha um rinque de patinação enorme, com milhares de pessoas lá patinando... Tivemos que ir andando até lá. Tiramos algumas fotos do castelo... O Ivan abusou, tirando várias fotos com o tripé dele à noite, e a gente quase se atrasou para o concerto...
Voltamos correndo no metrô, sem pagar mesmo. Tivemos sorte. Chegamos ao hotel só com tempo de trocar de roupa e já voltar para o metrô mais bonitinhos, porque daquele jeito a gente não ia nem entrar na Ópera Nacional. Dessa vez usamos os tickets de metrô direitinho, e fomos controlados. Pelo menos não precisamos ouvir um cara reclamando em húngaro que tínhamos que pagar as coisas... Chegamos à Ópera, tivemos que desembolsar mais alguns florins para guardar o casaco (isso é meio chato... devia estar incluído no preço do ingresso, que era 100 vezes mais caro) e fomos para nossos lugares. Realmente, era muito perto... O concerto foi maravilhoso. O Requiem de Verdi. Em um dia de finados. Muito legal. Um coral com mais de 100 pessoas, mais os tenores e as sopranos... Espetacular. Depois da saída demos uma andada pela Ópera porque é muito bonito lá por dentro... E aí foi hora de passear pelas ruas de Budapeste procurando algum lugar para jantar. Apesar de estarmos com um pouco de dinheiro, ele não seria suficiente para pagar o hotel, e teríamos que tirar mais dinheiro no banco... Mais taxas. Então acabamos indo no McDonalds mesmo, e comendo uns hambúrgueres... Depois ficamos andando na rua para pedestres, e a cada 2 segundos vinha um cara querendo levar a gente para algum lugar com striptease ou algo do estilo... É uma decadência... Depois de falar o 10o ?não, não quero?, tive que levar um ?you are not a sex machine????. Só rindo mesmo... Depois de cansar de tanto levar dessas, acabamos indo para o hotel mesmo, onde arrumamos as coisas... Tivemos até um certo desentendimento com a nossa amiga da recepção, porque pedimos o nosso café para mais cedo (um kit café para cada um) e ela disse que ninguém tinha avisado antes... Mas tínhamos... Bem, ela não poderia fazer nada mesmo. O certo era dormir.