terça-feira, agosto 14, 2001

Dia 14/08/2001 – 05:41 PM

Hoje foi um dia muito legal... Finalmente resolveram misturar a nossa turma com uma outra turma de estrangeiros, que estão praticamente no mesmo nível que o nosso. Não sei ainda porque, os brasileiros que foram os que trabalharam nessa aula... Tivemos que fazer uma apresentação sobre alguma coisa, e todos nós escolhemos falar do Brasil (de alguma parte do Brasil obviamente). Obviamente a maioria de nós não tinha preparado nada, e fizemos meio na hora... O que ajudou bastante foi uns papéis que recebemos da embaixada brasileira na França que explica muito do Brasil, em francês... Assim foi bem tranqüilo de criar uns textos e falar na hora... O meu tema foi obviamente sobre o Rio de Janeiro, que é o que eu mais sabia falar na hora. Na verdade, no final, ficou mais uma explicação de quais são os problemas do Rio, e o porquê deles... pelo menos ajudei a mostrar para alguns estrangeiros que os problemas não são tão graves.

Após o almoço houve uma conferência com um professor de História sobre a cidade de La Rochelle, o porquê de aqui ser um porto importante, e sobre a importância da cidade durante a colonização da América, bem como outros assuntos parecidos. Foi muito legal porque o cara era empolgado, e porque havia bastante suporte visual às explicações. Assim, foi a primeira que eu não tive muito sono, e não precisei lutar contra... Ele ainda ficou zoando os brasileiros, principalmente porque estávamos quase todos lá, e porque a gente (a gente não, os índios, eu não sou índio) fazia parte dos medos do pessoal de antigamente de vir à América... Segundo os antigos, nós todos éramos canibais... Bem, nem tanto assim né... Quase que alguém falou “e aí, quando é que os vocês vão devolver ao Brasil o ouro que vocês roubaram?”, mas acho que devem ter pensado melhor e ficado quietos...

A conferência foi seguida por uma visita à Torre da Lanterna, que foi utilizada uma época como prisão dos piratas ingleses, franceses e holandeses (ou obviamente qualquer nacionalidade, desde que fosse pirata). É muito interessante ver uma construção daquelas, que data de 1700 e cacetada, estar em tão bom estado, e com todas as inscrições mais interessantes dos prisioneiros ainda lá... Claro que havia vidros na frente das inscrições mais sinistras, mas havia algumas que estavam prontas para serem destruídas por algum babaca que queira fazer isto... Ainda bem que não foi o caso lá heh. De qualquer forma, é muito interessante de ver uma coisa escrita na parede que foi feita há 200 anos por alguém que estava ali, preso... Ver quais eram os pensamentos da pessoa, porque tinha ficado ali vários dias... O que eu achei mais legal é que eles nem tinham ficado muito tempo na prisão, mas mesmo assim tiveram bastante tempo de fazer inscrições bem elaboradas até, ao contrário do que eu pensava. Havia por exemplo uma inscrição lá que mostrava uma poesia que um inglês havia feito, dizendo que iria se vingar da França quando saísse de lá... Muito doido... Há muitos que mostram desenhos (algum bastante interessantes), e tinha um que eu fiquei rindo, que era mais ou menos assim: ‘nome, que ficou aqui por 15 dias por ter mandado o meu superior fechar a porta’... Eu acho que naquela época eles eram um pouco mais rigorosos com sua disciplina militar... Fomos subindo a torre, e como é pequeno lá em cima para todos os estudantes subirem ao mesmo tempo, ficamos esperando o primeiro grupo subir e descer... Quando subimos finalmente, fomos à uma sala que seria a razão pela qual aquele prédio imenso tinha sido construído. Aquela era uma torre de observação, porque tinha a sala com várias janelas e que poderia servir para ver qualquer parte da cidade praticamente (bem alta), e também servia para que pudesse ser feito um fogo lá em cima, e assim servir de farol (talvez seja por isso que se chama Torre da Lanterna, não eh??). Muito já foi mudado desde que o prédio tinha virado prisão para piratas, e o chão dessa sala foi arrumado depois de 1900, quando aquilo já não era mais prisão, e assim no chão um artista (que não me lembro o nome) desenhou numerosas algemas abertas... Aliás, isso foi um momento de iluminação para mim, porque o cara (o mesmo professor da conferência) perguntou: “Essa chão foi feito como um símbolo de liberdade. Alguém saberia porque?”. Eu, além de ter entendido a pergunta, eu lembrei (sem querer!) da palavra “algema” em francês (chaîne) e ainda por cima descobri que aquilo eram algemas abertas... Foi tão sem querer que todo mundo ficou surpreso, inclusive eu... Foi com certeza um momento que não se repete muitas vezes...

Lá em cima mesmo há uma vista impressionante da cidade. Eu, como sempre, ESQUECI a porcaria da minha máquina! Eu resolvi não voltar para casa na hora do almoço, comendo só uma baguete com queijo e presunto para não perder muito tempo, e acabei esquecendo que a gente iria fazer essa visita... Assim, acabei ficando sem tirar fotos, mas com certeza vou pagar a entrada eu mesmo da próxima vez (16 francos) só para ir lá em cima de novo... Há varias coisas que eu queria tirar fotos... O legal é ver algumas pessoas com medo de altura ficar bem longe do murinho que protege a gente de cair lá de cima... heh

Amanha temos mais uma excursão. Iremos de barquinho à ilha de Aix, passando pelo Fort Boyard... Vou ter que ir lá comprar uns pães com queijo e presunto para poder fazer meus lanchinhos para amanhã... Achei hoje dentro de um saco plástico que eu uso para guardar comida nas excursões um sanduíche de queijo e mortadela que eu havia feito no sábado, e que estava fora da geladeira... Pensei bem, e acabei nem abrindo o saco plástico, jogando no lixo direto para não correr risco de encontrar algum monstro que deve ter nascido lá...