terça-feira, junho 11, 2002

Dia 14/04/2002

Para variar, acordamos cedo para pegar um ônibus para Glasgow às 8 da manhã. O plano inicial era, claro, de pegar o ônibus noturno de Liverpool para Glasgow mas infelizmente não havia mais lugares. Era menos 13 libras gastas, mas bem, não foi tão ruim ter dormido uma noite em uma cama. Chegamos na estação sem problemas e entramos no ônibus. Eu estava com medo de o motorista pedir para mostrar algum documento provando que eu era o "Fábio ..." porque eu tinha comprado a passagem pela internet usando a carteira de descontos dele... Ainda bem que estava em um país sério onde todos fazem a coisa certa e o cara acredita em mim. A viagem foi tranquila apesar de demorar muito...

Chegamos em Glasgow no meio da tarde. Fomos comer alguma coisa porque ninguém é de ferro e resolvemos ir até o albergue deixar as coisas antes de mais nada. Pegamos o mapa e atravessamos a cidade... O albergue ficava no alto de um pequeno morro e foi mais uma subida com tudo nas costas... Resolvemos então visitar aquela parte da cidade porque já estava meio tarde... Fomos ao jardim botânico, que nada mais era que alguns jardins e passamos pela universidade de Glasgow. É uma das mais antigas da Europa, com uns 800 anos de história. Os prédios são cheios de detalhes (iguais aos do Brasil hein!)... Passamos também pela Art Gallery e por um parque que fica na frente do albergue. Aliás, a janela do quarto onde ficamos tem uma vista muito boa da cidade. Infelizmente nessa época do ano o dia ainda acaba cedo e já estava ficando escuro. Voltamos para o albergue para descansar um pouco depois de ter andado como umas mulas durante o dia inteiro e nos preparamos pra sair.

O cara do albergue nos deu umas dicas de onde comer barato e algum pub onde poderíamos tomar umas cervejas. Não achamos os lugares para comer, mas tinha uma barraquinha de sanduíches perto dali que era muito boa e barata (para padrões da Grã-Bretanha obviamente). Comi uns sandubas e dali partimos para um pub ali perto. Ficamos batendo papo e sendo defumados (argh, detesto cigarros) até a hora de fechar do pub. Bebi umas Guiness (nem é tão boa, mas é tradicional hehe) e um lance que o cara misturou cidra com suco de algo, que a bebida ficou vermelha (pedi isso só porque eu vi uma garota bebendo e fiquei curioso.. como é ruim...).

segunda-feira, junho 10, 2002

Dia 13/04/2002

A viagem para Madrid não foi ruim... Foi pior que isso... Dormir em trem nunca é uma coisa agradável, a não ser que seja deitado... Como não tinha espaço, fazer o que... Chegamos em Madrid, colocamos as coisas na consigne de novo e fomos para o parque ali perto, o Parque del Bon Retiro, do lado da estação de trem praticamente. Nínguem estava interessado em ver museu: eu porque eu já tinha visto praticamente tudo e o Oto porque estava com preguiça. Ficamos passeando no parque (que programa de índio) até dar mais ou menos a hora do almoço, comemos alguma coisa e fomos pegar nossas mochilas para ir para o aeroporto.

Viajar de avião é sempre aquela dor de cabeça de ter que ir até o aeroporto, fazer check in... O aeroporto quase sempre é longe, mas em Madrid é até tranquilo porque ele é ligado à cidade pelo Metrô. Menos um problema. O aeroporto é enorme e tivemos que andar muito até chegar no terminal da Easyjet. Depois de muito esperar e até comer algo (só para acabar com o pão e o queijo) fizemos o check-in, liguei pra casa só para dar notícias e entramos no avião. Atrás de mim sentaram umas garotas que adoravam ficar brincando com porcaria da mesinha e quase virei pra trás para dar umas pancadas. Aproveitei a falta de vista (tinha muita nuvem) e dormi bem...

Chegamos em Liverpool e estava meio frio até... Detesto esse continente... É frio até em abril... Na saída a mulher perguntou o que eu iria fazer ali e descobri que meu inglês travou de novo. Precisei de um minuto mais ou menos para destravar a língua e explicar que eu não queria ficar para sempre na Inglaterra e sim que queria visitar apenas durante uma semana... Sem problemas. Pegamos as mochilas e tínhamos que pegar um ônibus até o centro. Um cara bêbado ficou enchendo o saco de umas mulheres perto da gente e, como eu estava rindo, foi lá perguntar onde eu ia ficar. Eu acabei mostrando o endereço de um hostel que eu tinha pegado na internet e ele falou: ‘é... vocês vão andar muito...’. Eu não sabia se acreditava muito no bêbado mas fiquei um pouco preocupado.

Chegando na estação central de trem peguei o pequeno mapa de Liverpool que eu tinha imprimido em Toulouse e fomos em direção ao albergue. Claro que não andamos muito. Acho que já é o costume de andar. Essas mochilas enormes também são feitas para isso... Quando eu estou com minha mochila pequena com metade do peso que estava dentro do meu mochilão eu sinto muito mais o peso... Bem, felizmente conseguimos encontrar o hostel (não haveria problemas, mas umas três pessoas viram que estávamos com um mapa na mão e se prontificaram para ajudar) e conseguimos umas camas. O hostel era muito social, com chá, café e um refrigerante bizarro de graça e torradas com geléia e manteiga também... Além disso tinha duas francesas que não conseguiram comer uma pizza inteira e ofereceram uns pedaços... Eu estava realmente com fome. Mandei a educação às favas e comi o resto da pizza. Como não tínhamos libras ainda fomos tirar dinheiro. Mais uma facada na minha conta bancária... 150 libras para passar essa semana na Grã-Bretanha. Espero que dê...

Tomei um banho e fui procurar uma galera pra conversar já que já estava muito escuro para ficar passeando pela cidade. Encontrei uma espanhola, um argentino e um australiano que estavam tocando violão em uma das salas comuns e ficamos cantando e batendo papo até dar sono... Dormi até bem... O problema é que era um daqueles quartos comuns de vários beliches e no meio da noite chegou uma galera que tinha ido beber em algum lugar e acordou todo mundo... Faz parte...

Dia 12/04/2002

Último dia em Portugal. Na verdade eu já tinha visto tudo em Lisboa e não tinha muita idéia do que fazer. O Pedro é que nos deu uma idéia muito boa: visitar o palácio nacional de Queluz. Eu não tinha colocado no programa porque eu não tinha a mínima idéia de como chegar lá... Há até trem mas, bom, não é sempre fácil ficar andando com mochilas. O bom é que fomos de carro rapidinho, sem problemas.

O palácio foi construído com base no palácio de Versailles. Claro, em uma escala muito menor. Ele é bem bonito, mas meio descuidado infelizmente, se for comparar com palácios em outros países. A parte interna é bem cara de palácio mesmo, cheio de móveis, retratos dos nossos colonizadores (tem sempre um dom João VI ou outros nas paredes) e o nosso ouro... Os jardins devem ser muito bonitos no verão, mas agora estavam todos mal cuidados, precisando de um jardineiro para aparar as cercas vivas, limpar as fontes etc. Realmente eles devem estar limpando para o verão, já que nessa época não tem muita gente que vai a Portugal... Acabada a visita o Pedro nos deixou na estação de trem perto do palácio e nos despedimos pois ele tinha que cuidar um pouco da vida dele e não poderíamos ficar atrapalhando para sempre.

Dessa estação fomos para a estação de onde sairíamos, e foi até bom porque ela fica exatamente do lado de um grande shopping e da Expo, que foi em Portugal há não muito tempo (acho que em 98...). Comemos algo no shopping, ficamos passeando um pouco pela expo, com várias construções modernas (nada de mais...). Deve ser legal para quem mora na cidade como área de lazer, pois há cinemas, boliche, restaurantes... Matamos o resto do tempo jogando em um fliperama e comprando algo para comer na viagem para Madrid.

Dia 11/04/2002

Eu não sei quem teve a idéia idiota de fazer esse trecho à noite... Além de dormir pouco ainda não trouxe roupa suficiente pra aguentar o frio. Qualquer lugar às 5 da manhã é frio... A sala de espera era fria, a cidade estava congelando... O único lugar que tinha um aquecedor era onde vendiam as passagens e não dava para ficar em pé ali o tempo todo. Nem a banca de revistas tinha aberto ainda.

Resolvemos enfrentar o frio. Estava realmente ruim só com uma blusa fina, mas no final tudo dá certo... O problema é que a gente não tinha mapa da cidade e então tive que memorizar mais ou menos por onde tínhamos que passar. No meio do caminho é claro que nos perdemos, mas tem sempre um ponto de ônibus com algo parecido com um mapa. Além disso não se pode esquecer que eles falam PORTUGUÊS! Haha, é muito bom poder pedir informação na própria língua. Acho que é por isso que tem tanto argentino e uruguaio na Espanha.

Mesmo pedindo informação sempre é bom encontrar o Office de Tourisme (escritório de informações turísticas é muito estranho... geralmente a gente fala o nome em francês mesmo...). Ele só abriria às 9 e por isso ficamos enrolando ali perto. Pegamos então o mapa e fomos procurar algo pra comer. Outra coisa maravilhosa em Portugal é poder comer bem e pagar pouco. Comemos uns 'joelhos' (aquele salgado que tem queijo e presunto no meio de uma massa... tem gente que chama de enroladinho aqui) por 70 centavos cada um, e era enorme... Depois disso foi só seguir as indicações no mapa para subir uma rua até encontrar uma igreja, a dos Clérigos (nada de mais), descer de novo para ver a praça na frente da prefeitura por onde tínhamos passado, ir até o palácio da bolsa (bonitinho, mas nada demais a não ser que entre e faça a visita... Eu não fiz por preguiça mesmo heh), visitar a Sé Catedral (que ainda tinha que pagar para entrar... Detesto para para entrar em uma igreja) e finalmente ir até a estação que fica no meio da cidade para ver como daria para voltar para Lisboa chegando umas 8 horas da noite. Havia duas opções. Ou pegava um trem bem cedo sem pagar nada ou ficava mais tempo em Porto e pagava 12 euros de reserva (!!). Claro que depois de ter pago tantos suplementos na Espanha escolhemos a primeira opção. Isso nos dava pouco tempo para ir visitar uma cave de vinho do porto, um dos motivos mais fortes pelos quais estávamos ali.

Era necessário correr. Subimos o máximo que podíamos na cidade para passar pela ponte construída por Eiffel chegando na pequena cidade de Vila Nova de Gaia, que é a cidade do outro lado do rio. Achava que as caves ficavam em cima da cidade, mas para chegar lá a pé tivemos que descer tudo de novo e subir por outra rua... Minutos preciosos foram perdidos. Energia também, porque não é mole não... Cheguei ofegante na cave da Taylors, que pelo guia era uma das que ficavam abertas na hora do almoço (ainda tinha esse problema). Entramos e pedimos uma degustação e uma visita guiada (que era tudo de graça). A mulher foi super gentil, dizendo que teríamos que esperar um pouco e ver um vídeo enquanto degustávamos um vinho do porto branco e um tinto. O branco segundo ela pode servir de aperitivo enquanto o vinho do porto normal geralmente é um digestivo... Muito bons... O vídeo também foi interessante, apesar de ser em inglês (se bem que se fosse português eu provavelmente entenderia menos com o sotaque...). A mulher finalmente voltou e nos guiou pelo processo de fabricação do porto. Só era eu e o Oto no 'grupo', então fizemos milhões de perguntas... Bem interessante, recomendaria a visita... Comprei uma garrafa de vinho do porto 10 anos (desculpe papai, essa era para você mas acho que não vai voltar pro Brasil não...) e fomos embora para a estação. Só deu tempo de dar uma passada no McDonalds para pegar uma promoção e entrar no trem, comer na outra estação esperando o trem para Lisboa e chegar à noite...

Combinamos de esperar o Pedro na estação de trem (apesar de ser meio complicado de encontrar alguém lá) e ele nos levou para casa. Não poderia sair de Portugal sem comer o famoso bacalhau... A mãe dele fez um maravilhoso... Acho que eu nunca comi um tão bom (agora peço desculpas a mamãe hehe, mas infelizmente eles colocam alguma coisa diferente ou eu realmente estava com fome). Depois da refeição, claro, um vinho do porto. Ninguém estava com vontade de sair para fazer alguma coisa. Então ficamos os três lá vendo tv e conversando...

Dia 10/04/2002

Acordamos, tomando um café na casa do Pedro, e ele se prontificou, junto com sua namorada que tinha ficado com o carro, para nos levar a Sintra. Esperamos ela chegar e viajamos durante uma hora. Não sei nem como sairíamos dali de carro de qualquer maneira. Eu sei que tinha trem para lá, mas teríamos que voltar para Lisboa...

Bom, Sintra é uma cidade mais perto do oceano que era a chamada "cidade de veraneio" da realeza de Portugal. Há alguns palácios construídos por lá, principalmente os três que iríamos visitar. Chegando ao centro da cidade já existe um Palácio Nacional. O Pedro e a namorada não iriam visitar todos os castelos, então eles falaram que esperariam do lado de fora de todos eles enquanto a gente entrava. Logo esse estava fechado, pois era uma quarta-feira (?). Disseram que a decoração era bem legal, com uma sala chamada sala dos cisnes porque havia no teto imagens de cisnes representando as serviçais do castelo que o rei tinha... bem... acho que dá para entender.

Resolvemos então comer uns doces da região, muito bons... Um é uma queijadinha, e o outro eu não lembro o nome, acho que era travesseiro ou algo assim. Um melhor que o outro...

Subindo um morro para chegar nos outros dois castelos (também não sei como se faz isso sem carro... Provavelmente existe um ônibus que sobe lá, porque a pé é praticamente impossível... Paramos primeiro no Castelo dos Mouros, uma fortaleza que como o nome diz foi construído durante a dominação muçulmana de Portugal e segundo o que falava nas plaquinhas nunca chegou a ser atacado. Depois de subir e descer escadas para chegar nas torres do castelo a gente desceu de novo e subiu de carro mais um pouco até o Parque da Pena, o parque que fica em volta do Palácio da Pena. Pra variar ele fica no topo do morro e realmente é alto... Se depois alguém falar que eu não estou fazendo exercício eu vou dar pancadas. O palácio da Pena é bem bonito, todo colorido, realmente diferente do que eu já tinha visto. Eu diria brega, mas na época deviam tirar a maior onda dizendo que tinham um palácio amarelo, roxo e rosa...

Como tudo até agora que eu visitei, o palácio não tinha muita coisa para ver além da parte exterior... Resolvemos então dar um passeio no parque seguindo umas setas. A primeira tentativa foi frustrada e a gente acabou lá na entrada de novo. Eu tinha pagado para vistiar o parque e era isso que eu iria fazer... Subimos tudo de novo e achamos a trilha. Tinha até um cara que já tínhamos visto sozinho no castelo dos mouros que estava fazendo a mesma trilha. Havia uns pontos marcados no mapa como interessantes como a estátua de um gigante (que eu tenteni ver mais de perto mas só consegui me perder no meio do mato), um lugar mais alto para ter a vista do palácio da pena (mais escadas) e um riacho que termina em um lago muito bonito... No meio do caminho, quando passamos perto de um grupo de crianças (que estavam participando de alguma espécie de 'caça ao tesouro'), eles ficaram apontando "ih! É brasileiro!", como se fosse uma coisa muito bizarra... Parece que eles pensam que eu não estava entendendo o que eles falavam, e quando falei que "é, sou mesmo" eles ficaram sem graça... eita...

Quando finalmente chegamos à outra entrada do parque eu perguntei para o guarda se era longe onde tínhamos deixado o carro. Ele ficou se perguntando o que diabos a gente estava fazendo ali tão longe. Foi quase um quilômetro de subida até chegar onde o Pedro estava. Entramos no carro e ele, como tinha que resolver alguns assuntos ali perto, deixou a gente na estação de trem para irmos para Lisboa. Tínhamos ainda que visitar o bairro alto e o que desse a mais... Antes eu tinha que comer algo (não sem antes se perder no meio das ruas bizarras de Lisboa). O sol estava muito quente e, depois de comer, eu simplesmente fiquei com vontade de ficar dormindo...

Como o nome diz, o bairro alto é "alto", o que significa mais morros. Também é o bairro onde ficam os bares para a galera ir à noite e há também alguns shows de 'fado', a tradicional música portuguesa. Achamos mais um lugar com vista para a cidade, mas nada demais. Descemos e começamos a ir em uma avenida bonita sentido praça Marquês de Pombal. No caminho bebi mais uma vez o guaraná (dessa vez um guaraná chamado Brasil... gosto de guaraná Brahma) e finalmente chegamos à praça. Há uma grande estátua do marquês, com o que ele fez por Portugal escrito embaixo... Em volta da praça duas figurinhas conhecidas: o Banco do Brasil e a Varig... Atravessamos a praça por baixo e resolvemos ficar enrolando em um parque. Sentei em um banco e fiquei lá até a hora combinada. Descobri que os casais portugueses não têm tanta vergonha assim e rolava algumas coisas que devem ser proibidas para menores...

Fomos então jantar no restaurante universitário junto com o Pedro e uns amigos dele e dali fomos direto para o bairro alto tomar uns copos como eles dizem. Entramos em um bar e me sugeriram um "pontapé na cona", que parece ser cerveja preta com algo doce, mas não sei exatamente o que é. Quem sabe português de portugal deve saber o que quer dizer "cona". Bem, vou parar de falar isso. Não é uma maravilha não. Ficamos lá de novo conversando (achamos até um português que fez o programa Erasmus de intercâmbio e que morou em Toulouse) sobre tudo... Descobri que os portugueses (pelo menos todos os que eu conheci do grupo são os europeus que mais viajaram. Todo europeu que eu pergunto o que conhece me fala que conhece uns 2 ou 3 países... Às vezes existem umas exceções e o cara visitou 4 ou 5... Mas esses amigos do Pedro já foram para lugares bizarros... Muito legal isso. Talvez tenha algo a ver também com eles participarem de um grupo de estudantes estrangeiros (foi mal Pedrão, mas nunca entendi direito o que vocês fazem) e conhecerem gente de toda a Europa...

Tínhamos pegado o horário de um trem bizarro que ia para Porto de noite saindo meia-noite e pouco com chegada prevista às 5 e pouquinho... Viagem bizarra. Nos levaram para a estação e entramos no trem. Eu não consegui dormir quase nada, primeiro por causa do pouco tempo dentro do trem e depois porque toda hora vinha um português pedir a passagem... Detesto controladores.

domingo, junho 09, 2002

Dia 09/04/2002

A chegada em Lisboa foi tranquila, no horário esperado. Cedo, eu digo. Por isso era hora de ligar avisando que tínhamos chegado para o Pedro, o português. Eu dei a idéia de encontrarmos com ele outra hora porque senão ele teria que sair de casa e ir nos buscar, o que iria ser perda de tempo tanto para ele quanto para a gente. Deixamos as coisas na consigne (as empresas de consigne do mundo devem me agradecer...quanto dinheiro eu já gastei nisso...) e deixamos para encontrá-lo só à tarde no centro da cidade. O mais legal foi poder falar português sem problemas (a princípio). Pedimos informações turísticas na estação (primeira vez que eu vejo alguma mulher com mau humor nesse trabalho) e resolvi seguir um dos mapas que a garota me deu dando idéias para passeios a pé em Lisboa. Um deles terminava perto da estação Santa Apolônia, que era onde chegamos. Resolvi seguí-lo ao contrário, já que não faria diferença e já mataria uns pontos turísticos da cidade no primeiro dia.

A nossa visita começava já lá em cima, na Igreja Santo Estêvão. Depois de subir tudo o mapa mandava descer. Uma das coisas que eu não gostei nem um pouco de Lisboa foi ter que ficar subindo e descendo escadas e ruas íngremes. Disseram-me que a cidade é chamada de "a cidade das sete colinas", mas eu acho que ela tem muito mais... Era uma sucessão de subidas e descidas, e igrejas antigas... Algumas praças bonitas no caminho e a igreja mais legal do passeio é a Catedral da Sé, onde tinha um grupo de jovens italianos barulhentos (como sempre). Outra coisa é a falta de otimização do passeio a pé. Não que eu tenha algo contra portugueses, mas quando inventaram que "isso é coisa de português" tinham onde basear o comentário. Seria muito mais fácil ir subindo aos poucos e não ficar subindo e descendo ao tempo todo. Será que não sabem que isso cansa? Coitado dos velhinhos que querem fazer os passeios...

Há também alguns pontos no alto da cidade que oferecem uma vista maravilhosa, como o "largo das portas do sol". Depois de tudo descemos de novo e subimos para o castelo de São Jorge, que é uma construção medieval que fica no topo de Lisboa. Acho até que o mapa sugeria pegar um ônibus ou um táxi para subir, mas preferimos ir andando mesmo, depois de ter repousado bastante no trem. Lá em cima também se tem uma vista muito boa da cidade, do rio Tejo e de monumentos do outro lado, como o Cristo Rei. O castelo em si é até interessante, mas falta um guia ou mesmo de coisas escritas explicando o que era cada parte, ou auxílios audio-visuais. Tinha até um pequeno museu mas ele estava fechado não sei por quê. Depois de mais uma descida fomos para o final do passeio (que na verdade era o começo) que era no Largo do Martim Muniz. Pode-se ver que Portugal também é cheio de imigrantes árabes como na França nessa praça... As ruelas e escadas no caminho são muito características: pequenas, meio sujas e com roupas penduradas nas janelas...

Como ainda tínhamos tempo e ainda não era hora do almoço (apesar de estar morrendo de fome), fomos para o segundo passeio, que era Belém. Passamos por algumas praças e por ruas comerciais em Lisboa (com toda hora algum cara querendo me vender óculos escuros e na minha negativa ele oferecia haxixe. Será que eu tenho tanta cara disso?) e fomos andando (isso mesmo, andando, e era longe) até a estação de trem regional. No momento que chegamos lá eu já estava caindo de fome. Não tinha nada para comer na região, mas iríamos comer em Belém mesmo. Fiquei feliz porque o Interrail funcionava como passe livre nos trens regionais também e subi no trem sem ter gastado os euros que o Oto gastou por ter deixado o passe dele dentro da mochila na estação...

Belém sim vale a pena visitar. Além de ter algumas praças bonitas e o Palácio Nacional de Belém, tem ainda um dos doces mais gostosos que eu já comi: os pastéis de Belém. É um pastel de nata muuuuuuito bom, ainda mais com a fome que eu estava. Comi logo três, acompanhado por guaraná antartica... Matei a saudade pelo menos, pois fazia um bom tempo que eu não tinha tomado o néctar dos deuses.

Saindo dos pastéis de Belém há o Mosteiro dos Jerônimos. Eu deveria ter lido melhor os guias de Lisboa, pois eu nem lembrava daquilo. Uma construção impressionante, tanto por fora quanto por dentro. Os arcos internos são inacreditáveis... Ainda por cima estão enterrados lá os nossos amigos Camões e Américo Vespúcio (e quase que eu não via isso...). Do lado do mosteiro há também um museu de história natural se não me engano, mas nem quis entrar... Andando um pouco mais há o Padrão dos Descobrimentos, representando o que o próprio nome diz... Há até um mapa-mundi no chão e aproveitei para dar uma passadinha no Brasil. Passando um cais ainda havia a Torre de Belém, que daria para entrar mas eu nem sabia o que teria dentro e resolvi não gastar dinheiro com isso não...

Ainda tínhamos que voltar para a Santa Apolônia pegar nossas coisas, sem contar que eu não sabia como chegar na praça combinada. A gente se predeu um pouco tentando pegar os trens para chegar mais perto e acabou tendo que pegar um ônibus... Depois de pegar as coisas teve que pegar outro ônibus que passou reto ao invés de entrar na rua esperada (maldito guarda que deu informação meio errada) e depois de aguentar um ônibus lotado ainda tive que andar com as mochilas nas costas. Chegamos meio atrasados mas encontramos o Pedro. A gente comeu algo e foi para a faculdade dele, que era ali perto, beber alguma coisa e encontrar com alguns amigos dele. Ficamos um bom tempo lá, em um bar que é da galera e ficamos conversando com os portugueses. Aliás, a língua que eles falam lá é bem diferente da nossa... Eles nos entendem muito bem, mas para eu entendê-los é um sacrifício. São muitas palavras diferentes e eles falam muito rápido... Mas até que dá certo.

A namorada do Pedro acabou dirigindo pois ele não estava tão bem e fomos para a casa dele onde passaríamos a noite. Já na chegada havia uma briga no prédio, com polícia e tudo, porque um cara tinha batido em uma garota de outro apartamento e não sei mais o que... Como estavam falando português eu não entendi nada. Se fosse grego talvez eu entendesse...A mãe e a vó dele tinham deixado um jantar preparado pra gente, e estava muito bom... Finalmente comemos bem na viagem. Foi só conversar um pouco depois e dormir...

sábado, junho 08, 2002

Dia 08/04/2002

Tinha que pegar o trem cedo e lá fui eu de novo acordando de madrugada, pegando o "kit café da manhã" que eu tinha pedido para o cara preparar e indo para a estação... Comi os biscoitos e os sucos que eles me deram lá na estação e pegamos o trem. A viagem foi também praticamente toda para dormir e ler livros... É muito inútil viajar durante o dia... Parece que só se perde tempo.

Ao chegar em Madrid, a mesma ladainha de sempre: deixar as coisas na estação e aproveitar um pouco o tempo livre para visitar alguma coisa. Eu já tinha ido a todos os museus e nem me importava muito com o que fazer... Ainda por cima não tinha como guardar as coisas naquela estação e tivemos que ir para a outra de metrô... Por esta estar perto de um museu, o Reina Sofia, fomos nesse mesmo. Pelo menos os museus de Madrid são muito baratos e dá pra entrar outra vez... O ponto máximo desse museu é sempre a Guernica de Picasso, e lá fui eu de novo. Eu acabei passeando pelo museu todo, até pelas partes que eu não tinha visto da outra vez por estar muito cansado. Havia também umas exposições temporárias que valiam a pena, com várias pinturas do Andy Warhol e amigos (muito doidas por sinal)...

Depois de mais um excesso de cultura, lá fomos nós andando para procurar um mercado... Começava a chover a gente entrava em algum lugar para se proteger... Acabou que para achar um El Corte Ingles tive que ir da estação até a Puerta del Sol, que é mais de meia hora de caminhada fácil. Sem problemas, compramos a farofa da noite e do café da manhã no dia seguinte e ainda uns iogurtes para tomar na hora devido à fome... Enrolamos na praça durante um tempinho e começamos a ir para a estação de novo. O trem para Portugal saía às 10 da noite e ainda tínhamos tempo... Fomos pegar nossas coisas na estação e ficar esperando na sala de espera (nada mais lógico). Enquanto isso o Oto foi falar com nosso amigo português a hora de nossa chegada (posso dizer que um horário tipo 7 e meia não foi muito bem recebido por ele...).

O trem era uma porcaria. Não valia nem 10% do preço que a gente pagou só pela reserva, quanto mais pela passagem inteira paga pelos outros... Bancos horríveis, duros, que não inclinavam... Ninguém conseguia dormir, ainda mais com uns portugueses jogando carta até altas horas... Tava tão ruim que o Oto resolveu ir para a primeira classe e eu acabei ficando com dois bancos. Só aí eu consegui dormir melhor.

Dia 07/04/2002

O problema de ter saído ontem à noite foi o horário do trem para Granada: 7 da manhã. Só havia outro trem para Granada à tarde, e se perdêssemos esse seria o fim da visita à cidade. Por isso dormimos cerca de uma hora e meia e fomos andando até a estação, ainda de noite. Chegamos no trem, que era um trem regional só com dois vagões e sentamos. Quase que eu morro do coração porque não achava meu passaporte mas depois de jogar as roupas todas para cima eu consegui descobri-lo em um canto. Dormi rapidamente mas fui acordado pelo controlador dizendo que eu deveria ter pago o suplemento para o trem de 3 euros. Eu fiquei puto porque o passe não vale em lugar nenhum da Espanha, mesmo para um trem vagabundo daqueles... Paguei porque não tinha outro jeito e voltei a dormir...

Em Granada deixamos as coisas em uma consigne para depois resgatá-las na hora de ir ao albergue e começamos a andar pois não havia tempo a perder. Como eu já tinha levado o mapa fizemos um caminho passando pelos pontos principais no centro da cidade e deixando a atração principal, a Alhambra, para cerca de meio-dia. Depois de passar pela catedral (e quase bater em uma mulher que queria vender flor e não parava de encher) fomos tentar achar o tourist office da cidade que ficava no caminho. Infelizmente a gente demorou muito e fez muitas voltas até descobrir que era em um pátio que parecia que ia ter um show... Muito escondido por sinal. Ao entrar e pedir um mapa (porque eu geralmente guardo depois da viagem e queria devolver o emprestado) a mulher perguntou se já tínhamos comprado ingresso para a Alhambra. Falei que não e a mulher sugeriu sair correndo para ir comprar porque corríamos perigo de não acharmos ingresso para o dia. Segundo depois me disseram os ingressos são limitados e tem dias na alta temporada que precisa-se reservar com dias de antecedência... bem, tivemos que pegar um ônibus (nossa idéia era até de ir andando, mas só dentro do ônibus é que tivemos idéia da besteira que iríamos fazer) e chegar lá em cima para entrar em uma fila enorme... Sem brincadeira, foi mais de uma hora e meia em uma fila... Ainda por cima não parava de chegar gente e na hora que estávamos lá na frente a fila já estava o dobro do tamanho de quando tínhamos chegado. Até que correr para chegar lá não foi uma coisa tão ruim. A invasão de franceses continuava, já que só a França tinha parado essas duas semanas e todo mundo parte de férias.

A gente foi almoçar em um restaurante ali perto logo depois de ter conseguido comprar o ingresso. Achei que um prato por 6 euros estava com um preço bem interessante e eu precisava de uma comida depois de uns dois dias comendo besteiras... Só que no final, com bebida, ficou por 8 euros e o prato nem começou a preencher meu estômago...

O ingresso tem hora marcada para entrar (ele só funcionava a partir das duas horas) e também tinha um intervalo de 30 minutos nos quais a gente poderia entrar nos pátios mais interessantes do palácio. Eles limitam o número de pessoas pelo que eu vi porque senão o palácio ficaria repleto de gente e nem se poderia andar... Mesmo com essa limitação ele é considerado o ponto turístico mais visitado na Espanha. É uma área grande, com três palácios/castelos diferentes. A Alcazaba, que é o castelo mais antigo, com torres quadradas e tudo, o Generalife, que é um palácio muito bonito que fica mais em cima e pra chegar lá precisa de uma caminhada bem interessante, e os Palacios Nazaríes, que é onde ficam os lugares mais bonitos, como o Pátio dos Leões... Os detalhes das paredes e dos tetos são impressionantes... Na grande área que separam os três palácios há vários jardins, lagos, árvores... É bem interessante para passar o dia. O ingresso dá direito a sair e entrar do complexo a hora que quiser...

Depois da Alhambra a cidade praticamente acabou. Fomos até a estação para pegar as coisas mas antes tinha que pegar uma reserva para o trem do dia seguinte para Madrid. Como o trem da tarde já estava lotado e também não daria tempo para fazer a conexão para Lisboa eu pedi uma reserva para o trem da manhã. O vagabundo me fala que era 12 euros. Eu fico puto e pergunto o porquê, já que o trem mais rápido deles a reserva era de 9 euros sempre... Ele me diz que é um novo Talgo (o nome do modelo do trem), "muy guapo"... Porcaria... Eu lá tou interessado se o trem é muy guapo ou pouco guapo... Eu só queria pagar menos e ir para Madrid... Não tinha muita opção... Pegamos as coisas e fomos andando para o albergue, que era relativamente perto, apesar da chuva que molhou minha mochila inteira.

O albergue era bem social, com um quarto para três pessoas que só ficou eu e o Oto. Até encontramos um casal de brasileiros com quem conversamos um pouco (brasileiro é muito fácil de reconhecer... sempre falando um portunhol que só a gente entende) e um grupo de franceses que estava em uma excursão, mas nem deu vontade de sair do quarto. Eu ainda consegui tomar um banho, mas o Oto nem isso... Foi só deitar e apagar.

Dia 06/04/2002

A gente não acordou muito cedo para visitar as porcarias que faltavam porque também ninguém é de ferro... Mas ficar dormindo até tarde também não é do meu feitio, ainda mais durante viagem. Era muito bom estar em uma pensão particular porque em albergue geralmente te expulsam às 10 da manhã, e ali eu pude ficar dormindo até essa hora sem medo de alguem me tirar da cama. Só senti falta do café da manhã. Mas pra isso que servem os mercados da cidade... Compramos ontem uns pães e queijos e tudo acabou bem.

O dia estava horrível, chovendo até bastante... Mas não era hora de ficar reclamando do tempo e sim de se molhar. A sabedoria popular diz que não somos feitos de açúcar mesmo... Tínhamos reservado o dia para visitar os Reales Alcázares, que é um palácio construído na época do domínio muçulmano na Espanha. É a maior atração de Sevilla e mesmo com chuva ela é bem bonita. Disseram para fazer isso mesmo, e ver o palácio de Sevilla antes de ver a Alhambra em Granada porque é bem mais bonito. De qualquer maneira, a riqueza de detalhes é impressionante e os jardins são muito bem cuidados. Após uma volta pelo palácio a gente saiu e visitou a catedral que fica logo em frente, com sua torre da Giralda (outro monumento famoso). A igreja não tinha nada de mais...

O passo seguinte era ir até a Plaza de España de Sevilla. O prédio é muito bonito... É praticamente um prédio que forma um semi-círculo em torno de uma praça e ao longo do prédio há desenhos em azulejos de cada uma das regiões da Espanha... Muito mais tarde eu descobri que ele serviu de local para filmagens do Star Wars - Episódio 2, mais precisamente como um cenário de Naboo. Nesse lugar tinha umas excursões de crianças (francesas) que davam nos nervos, principalmente quando eles resolvem ficar olhando pra gente tentando descobrir qual é a língua que a gente está falando. Às vezes é interessante ficar perto deles só pra ouvir que porcarias eles estão falando (sobre a gente de vez em quando). Mas na maioria das vezes eu chego a ficar feliz quando encontro franceses, quase como se fossem brasileiros... Havia também um cara que ficou enchendo o saco só porque eu perguntei quanto custava as castanholas que ele estava vendendo, mas eu só queria saber o preço... O cara não entendia que eu não queria comprar, só queria ter uma idéia... Ainda por cima me forçou a colocar as castanholas pra ver que elas eram de "boa qualidade", de madeira etc. Saí correndo pra não falar alguma merda...

Estava chovendo um pouco demais e já estava de saco cheio de me molhar. Fomos almoçar (achamos um pequeno restaurante perto do Alcázar muito bom) e ficamos enrolando até a hora da tourada, que era às 6 da tarde. Eu tinha andado tanto no dia anterior que eu não queria mais visitar nada na cidade... Aproveitamos até o tempo de sobra para ligar para um amigo em Portugal e avisá-lo do dia que chegaríamos em Lisboa. Ainda por cima o sol apareceu.

Entramos na arena e fomos levados aos nossos lugares. Como eram os ingressos mais baratos ficamos mais em cima, mas a visão era muito boa. O lugar tem muito menos espaço que um estádio de futebol para sentar e é extremamente desconfortável. Acho que é para obrigar as pessoas a alugar uma almofada. Os assíduos do lugar pelo que eu vi tinham suas próprias almofadas trazidas de casa. Até que encheu bastante rapidamente, mas ninguém ficou atrás de mim dando joelhadas nas minhas costas pelo menos. A tourada pelo programa teria 3 toureiros que iriam enfrentar 6 touros. O sistema era um pouco complicado, mas era mais ou menos assim:

Primeiro entrava o touro e uns três palhaços (não os com a cara pintada e o nariz vermelho) com capas ficavam enchendo o touro até ele ficar bem puto. Depois de um tempo tocava uma corneta e assim entrava um cara portando uma lança em cima de um cavalo com uma proteção contra o touro e com uns negócios no pé para fazer barulho. O seu objetivo era enfiar a lança duas vezes no touro para deixá-lo mais emputecido. Claro que o touro não gostava nem um pouco e tentava meter os chifres no cavalo (ainda bem que ele estava protejido). Tinha horas que ele chegava a levantar o cavalo de tanta força. Tocava a corneta de novo e o cavaleiro saía, junto com uns babacas que entravam junto só pra deixar a festa mais bonita (ou mais ridícula, dependendo do ponto de vista).

Finalizada essa parte, vinha a parte mais engraçada (pra mim, não pro touro). Dois caras tinham que enfiar uns espetos coloridos no touro. Pelo que eu vi eram sempre seis espetos. Cada um dos caras tinha uma chance, com dois espetos, para tentar espetar os dois ao mesmo tempo nas costas do touro. Para isso obviamente você tem que ficar muito perto de um animal que deve ter umas 5 vezes o seu peso e com chifres bem grandinhos... O legal era quando o cara errava, porque ele tinha que sair correndo desesperado enquanto outros com capas tentavam chamar a atenção para longe dele. O grupo era grande, e quando achavam que o touro iria ganhar entrava mais gente na arena para ajudar... Desse jeito nem davam chance pro coitado... Quando o cara conseguia colocar os dois espetos a galera ia à loucura... Quando ele errava eu que ia, porque eu caía na gargalhada e o resto do pessoal ficava me olhando com cara de assustado... Parecia ser uma coisa muito séria mesmo por ali. Ainda por cima os caras para chamar o touro ficavam fazendo umas cenas ridículas, tipo imitar uma galinha ou ficar gritando pro touro que só aumentava a minha propensão ao riso...

Finalmente, depois de terem colocado os espetos e o coitado do touro já estar todo puto, sangrando e um pouco cansado, entra o toureiro todo viado, com sua calça colada, aquele chapéu ridículo (não era só ele que usava aquilo, mas não deixa de ser ridículo só porque todo mundo tinha aquilo na cabeça) e a capa. O seu papel era fazer o que todo mundo conhece como tourada: ficar enganando o coitado do touro e sair da frente dele quando vinha o momento... Eu não entendia muito bem porque as pessoas não gritavam "olé" toda hora que ele conseguia sair da frente do touro e sim quando ele dava umas viradinhas... Também falavam que ele estava fazendo tudo errado quando pra mim o cara era bom... Por isso eu comecei a prestar atenção em um velhinho que estava no meu lado e um cara que estava atrás de mim (anotando até o que os caras tavam fazendo) e só aplaudia ou gritava quando eles o faziam... Tudo corre bem até que o toureiro resolve tirar a sua espada e tentar enfiar a espada na nuca do touro. Eu não sabia que era tão cruel assim. A maioria das vezes o cara errava a espadada e tinha que tentar de novo, até com uma nova espada em algumas vezes. Segundo me disseram ele tem que acertar muito bem para que a espada atravesse a coluna do bicho e ele caia quase que instantaneamente... Eu fico imaginando como é que eles treinam... Deve ter muito churrasco na Espanha mesmo... De qualquer maneira eles acertavam no final. Todas as vezes o bichinho não caía logo, mas depois de um tempinho... Teve um até que não caía de jeito nenhum sozinho e aí ficaram os palhaços em volta dele deixando ele tonto até que ele caiu e deram umas facadas na cabeça dele (a parte mais cruel... deixou-me realmente impressionado). E, finalmente, entra uma carroça ao som de cornetas como se tudo tivesse se passado muito bem e aquilo fosse muito normal e reboca o touro para fora da arena. Finalmente entram uns caras que vão com umas pás para revirar a areia e cobrir o sangue do touro...

Posso dizer que não foi uma das melhores experiências que eu tive, mas que foi interessante para ver a cultura... Acho que eu era uma das únicas pessoas que torcia pelo touro... Na saída a gente jantou e ligou para o pessoal que tínhamos encontrado no dia anterior para que nos levassem a algum bar interessante da cidade. Ficamos conversando em francês com a única garota que foi até umas 3 da manhã... A garota, coitada, ficou tão feliz de poder falar francês com a gente dizendo que fazia uns 2 meses que não mantinha conversa na língua materna. Eu entendo muito bem isso, principalmente porque depois de uma noite falando outra língua eu fico desesperado para descansar um pouco o cérebro e falar português... Talvez seja necessário se acostumar, mas...

Dia 05/04/2002

Chegando em Madrid fui direto comprar o suplemento do trem rápido para Sevilla (ugh! 9 euros), mais os complementos e reservas entre Madrid e Lisboa, que iríamos fazer no meio da viagem (antes que o trem enchesse, sei lá). Mais uma facada, 23 euros ida mais 6 euros volta (esquema lixão de trocar 3 da manhã de trem e esperar até 5 para pegar o próximo). Ainda tivemos que trocar de estação para pegar o AVE para Sevilla... O metrô de Madrid é tão lerdo que demorou quase uma hora pra ir de um lado para o outro.

O trem é realmente legal, e depois de quase duas horas estávamos em Sevilla. Eu ainda não tinha conseguido reservar o albergue (eram somente duas pontas soltas, ali e Liverpool) mas isso foi resolvido fácil na própria estação. Havia um pequeno quiosque que reservava pequenas pensões e foi ali que conseguimos um quarto duplo em uma pensão ali perto. Fomos até lá, largamos as coisas e começamos a andar pela cidade.

As atrações principais de Sevilla ficariam para o dia seguinte. Eu havia emprestado um mapa de lá e por isso já sabia mais ou menos por onde andar. No momento eu estava mais interessado em comer que fazer turismo. Demos uma parada na Plaza de Toros porque tinha muita gente na frente e eu queria saber o que era. Eles estavam vendendo ingressos para touradas dos próximos dias e, como não poderia deixar de ser, eu e o Oto compramos ingressos para a tourada de amanhã. Faz parte da cultura e eu nunca tinha visto uma tourada inteira na tv mesmo... Depois de achar algo para comer fomos seguindo o mapa andando por todos os lugares mais longe possível do Alcázar (o palácio da cidade que visitaríamos no dia seguinte). Com um mapa do ônibus turístico (acredite, ele era melhor que o mapa que eu tinha para mostrar atrações) fomos andando até uma muralha chamada Macarena. No caminho passamos pelo parlamento da região e pela igreja Macarena também. Sinceramente era um lugar bem inútil pra ir. Depois ainda fomos para o lugar onde aconteceu uma das famosas Expos (a mesma da série da de 1889 quando construíram a torre Eiffel). Ao passar pelas pontes (as pontes de Sevilla são muito interessantes para engenheiros civis... Pra mim elas são apenas estranhas) chegamos ao lugar que estava dominado por jovens. Aliás, essa é uma prática comum na Espanha hoje em dia, beber na rua. As bebidas são muito caras dentro de bares ou de boites e assim eles combinam de comprar bebidas no mercado e ir para uma praça encontrar todo mundo e beber. Ainda por cima bebem umas coisas bizarras, tipo vinho misturado com refrigerante.

A Expo em si não tinha nada de mais, principalmente porque não tinha nada aberto. A única coisa legal foi um Ariane (o foguete lançador de satélites europeu) em tamanho natural. Depois de dar uma olhada fomos andando para casa pois ainda tinha que descansar para sair à noite. No caminho de volta ainda encontramos várias pessoas com sacos de mercado com bebida indo para aquela praça...

Achei finalmente o escritório de informações turísticas (depois de ter visitado quase toda a cidade), mas foi interessante porque eles têm informações sobre shows de flamenco na cidade, tanto pagos (aqueles com roupas típicas, feitos especialmente para turistas) quanto grátis (que são geralmente voltados para a população local mesmo). Escolhemos ir a um de graça já que os ingressos da tourada foram um pouco caros e era muito mais perto da pensão onde estávamos. Jantamos e fomos tomar um banho para sair.

Eu não lembro o nome do bar, mas eu lembro exatamente onde ele fica, cerca de 5 minutos a pé (até menos) da pensão. Era apenas uma porta, que a gente só achou porque perguntamos a um morador que estava saindo de casa. O bar era muito legal, meio vazio no começo mas como tudo na Espanha começa bem tarde, ele começou a encher por volta das 11 e meia... Os show socomeçaram, primeiro só com música e depois com uma dançarina de flamenco. Se as pessoas parassem de fazer barulho e eu pudesse ouvir seria muito melhor, claro, mas o show foi bem interessante. Ainda por cima conhecemos duas francesas e uma alemã, que começaram a falar com a gente, e depois um grupo alemão que estava do nosso lado começou a falar também... Foi bem social... O velhinho que abriu a porta para gente ficou meio puto de acordar (como sempre né...) mas foi bem tranquilo. O turismo nos espera na manhã seguinte.

sexta-feira, junho 07, 2002

Algumas explicações sobre o que aconteceu até agora...

Eu comecei a escrever aqui mais por ser muito mais fácil de escrever em um blog o que estava acontecendo comigo aqui do que ficar enviando emails todos os dias para as pessoas que eu conheço. Assim eu não importunava ninguém e quando quisessem sempre estaria alguma coisa nova escrita aqui. Claro que isso não funcionou muito bem, principalmente durante os meus dias de viagem, nos quais eu ficava uns 15 dias fora e depois eu precisava correr atrás do prejuízo para fazer tudo. Por isso que quase nunca os posts correspondem ao dia do post... Mas isso eu nunca achei que seria um problema, a não ser quando reclamaram que eu só escrevia sobre coisas que tinham acontecido há um mês atrás e que eu deveria escrever sobre o dia.

Juntando isso com outros fatores tipo: achar outras coisas para fazer por aqui, viajar mais do que ficar em casa e não ter mais tempo para escrever, ou simplesmente preguiça no último mês me levaram a não querer escrever mais... Ainda por cima tinha fotos de viagens de 2 meses atrás que eu não tinha nem colocado nome e nem publicado na internet...

Felizmente eu acho que depois de pensar um pouco melhor eu vi que eu não tinha por que parar agora...

Por isso, a partir de amanhã eu devo continuar a escrever... Eu mantenho um arquivo local sobre o que eu fiz mais ou menos, sem entrar em muitos detalhes... Associando isso com as fotos que eu tiro (e eu tiro bastante a meu ver) e com o que eu lembro dá para recuperar até os dias atuais... Talvez meus últimos dias aqui sejam prejudicados pelas últimas viagens e talvez também pela falta de internet inerente (eu vou ter que sair de casa no meio de julho praticamente), mas quando chegar ao Brasil eu terei quase um mês para contar quase...

Eh... agosto está chegando, assim como eu também... Espero que alguém vá me buscar no aeroporto :D