Dia 02/01/2002
Acordei bem cedo de novo e fui junto com o Leandro para a estação. Ele já tinha a passagem comprada para uma cidadezinha onde ele ia esquiar. Havia já um trem logo às 8 e meia e, como é o normal do Interrail, eu subi no trem, achei um lugar e sentei. Claro que na hora que passa o controlador tinha que dar uma merda. Tava demorando pra acontecer alguma merda na Espanha. O controlador primeiro me pergunta se eu tinha pago o suplemento. Eu obviamente não tinha, mas sempre dou aquela de ‘eu não sabia’. Aliás, eu não sabia. Achava que eram só os trens mais rápidos que precisavam de suplemento. Além disso ele perguntou se eu tinha a reserva, porque o trem estava lotado. Aí sim eu fiquei preocupado, porque eu não queria viajar 7 horas em pé. Não houve esse problema, porque o controlador disse que eu teria que sair do trem na próxima estação e esperar o próximo trem (2 horas e meia depois...). Eu fiz isso, mas o cara ainda me quebrou o galho e me deixou ir até Zaragoza, onde entraria o resto dos passageiros e o trem ficaria realmente lotado...
A espera sempre é uma merda. Mas não tinha acabado a epopéia não. Fui pagar a porcaria do suplemento e fazer a reserva, mas quando chego lá havia uma plaquinha dizendo que todos os trens para Madrid estavam lotados. Que ótimo. O primeiro trem que teria lugar seria um que sairia às 7 da noite, chegando em Madrid 10 e meia... Ou seja, um pouco tarde para chegar em uma cidade que eu não conhecia e ainda ter que ir pro albergue... Resolvi então tentar entrar no trem e ver no que dava. Fiquei esperando na plataforma e quando o trem chegou fiz o esquema: deixei minha mochila em algum lugar e fui para o banheiro. Situação ridícula aliás. Queria pelo menos esperar uma meia hora pra que o controlador passasse e eu pudesse sair e procurar algum lugar. Qualquer coisa eu podia ficar trocando de banheiro durante umas horas. Mas 3 horas não daria... Fiquei me preocupando com isso durante o tempo todo. O foda foi que toda hora alguém tentava abrir a porta do banheiro... Eu não tinha como ficar ali muito tempo. A hora que eu saí eu realmente não vi mais o controlador. Fiquei feliz no momento. Resolvi então procurar algum lugar para ficar... E finalmente chego no vagão onde tinha o barzinho. Ah, era ali mesmo que eu iria ficar. No meio de um monte de gente comendo e bebendo talvez eu conseguisse me misturar... Fui tentar pegar uma coca mas tava meio disputado o negócio. O controlador passou uma vez, e eu fiquei feliz porque não aconteceu nada... Mas acho que esses caras têm um poder sobre-humano: eles conhecem a cara de todos os passageiros, ou algo do estilo. Por que eu digo isso? Porque do nada ele toca nas minhas costas e pede minha passagem. Eu pensei: fudeu, vou ter que trocar de trem de novo e chegar em Madrid 7 horas da noite... Mas dessa vez ele deixou eu pagar o suplemento no trem e ficar em pé ali no vagão restaurante... Tudo bem, pensei, eu quero chegar logo mesmo... Foi caro o suplemento. Pra aumentar o problema eu não tinha dinheiro suficiente nem em euro nem em pesetas. Ele pegou meu passe e ficou com ele até Madrid, onde eu pagaria... Fiquei lá de pé comendo um biscoito e tomando finalmente a coca que eu fui pedir... Mais um problema foi que ali era uma zona onde todo mundo fumava, e uma hora foram fritar bifes na cozinha... Eu fiquei totalmente defumado... Havia uma outra mulher no vagão que também tinha entrado sem o suplemento pelo que eu vi... Deixa pra lá. De qualquer forma chegamos em Madrid, paguei a porcaria (depois de tirar 100 euros no caixa eletrônico... 2 notas de 50 pratas, o cara quase quis me matar porque ele não tinha troco... teve que dar troco em peseta e euro junto). Era hora de pegar um mapa da cidade (fácil) e chegar no albergue (mais ou menos).
Chegar no metrô e ir até a estação perto do albergue era tranqüilo. O problema foi quando eu saí da porcaria da estação e não sabia onde eu estava no mapa direito. Não existia uma plaquinha dizendo qual rua era qual... Aí é foda. Fiquei rodando que nem uma barata tonta até finalmente encontrar a porcaria da rua... Cheguei no albergue e logo encontrei o Baiano e o irmão dele, que eu iria encontrar lá mesmo. E logo me deram a boa notícia. Não tinha mais lugar no albergue e a reserva que eu tinha feito não servia para nada porque tínhamos chegado depois das 5 da tarde (o baiano chegou logo depois das 5...). O que me deixa puto é que se o cara não tivesse me expulsado do primeiro trem eu chegaria a tempo... De qualquer forma não tinha lugar e depois de reclamar um monte com o cara vi que não tinha mais jeito. Era hora de começar a procurar um novo lugar pra dormir. Não era fácil porque todos os lugares para os quais eu ligava estavam cheios... Finalmente achamos um albergue que tinha lugar, chamado Casa de Campo. Pegamos então as coisas e fomos para lá. O lugar é realmente no campo. Descemos na estação de metrô indicada e começamos a andar. Era um parque muito do bizarro, sem nada a vista, praticamente sem luz. Ainda por cima estava chovendo e a calçada era um lamaçal. Mais um ponto para a bota que eu comprei. Ah, outro detalhe importante. Aquela era a rua da prostituição (e a gente não sabia). Até pedi informação para uma delas porque eu já estava achando que estava perdido... Afinal, era o fim do mundo.
Felizmente nenhuma das prostitutas nos atacou e pude chegar são e salvo no albergue (que na verdade era um camping também mas essa parte estava fechada no inverno). O quarto não era ruim, além de só ter nós três lá... O problema era ter que andar tudo aquilo no meio do mato para chegar à estação de metrô. Comi uns sandubas (o com tortilla estava muuuito bom) lá no pequeno bar do albergue (ainda bem que tinha alguma coisa lá senão eu não iria jantar...) e fui dormir. Acho que foi a primeira boa noite de sono que eu tive desde que eu comecei a viagem...
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home