domingo, setembro 16, 2001

Dia 15/09/2001

Acabei de chegar da viagem à Carcassonne. A cidade em si é bem pequena, onde a grande atração mesmo é a cidade medieval. Acordei muito cedo para pegar o trem 8 horas na gare aqui de Toulouse, e chegamos lá bem cedo também (é cerca de 1 hora só de viagem no máximo...). Procuramos um Office de Tourisme (sempre tem um por cidade) para pegar um mapa e se achar melhor. No caminho já compramos uns biscoitos para adicionar algum doce aos sanduíches que preparamos (grandes almoços nas viagens, não?). Passamos por duas igrejas no caminho (como no Brasil, várias igrejas por cidade também), e chegamos ao lugar desejado. A mulher nos deu um mapinha dizendo para visitar a cidade medieval (óbvio), a Mairie (prefeitura, que era uma porcaria de lugar, não tinha nada de mais), e uma exposição gratuita no museu de belas artes, que era sobre Camille Claudel. A gente acabou entrando lá, e foi bem legal, porque as esculturas são de uma perfeição incrível... Pode-se quase ver na expressão da estátua o sentimento... é impressionante... Eu queria ir direto para a cidade, mas mesmo assim continuamos lá mais um pouco e acabou sendo um passeio interessante... Tinha uma exposição permanente bem grandinha com pinturas e porcelanas de várias escolas (francesa, holandesa etc). O que eu fico mais impressionado é que o nosso francês deve ser muito ruim, porque toda hora que a gente chega em algum lugar e fala em francês, eles querem falar espanhol ou inglês com a gente... E a mulher ficou surpresa que eu queria o papel explicando as salas em francês, e não espanhol (claro, eu sou do Brasil, como eu saberia francês?). Ela ficou surpresa quando eu mostrei que eu sabia LER o papel... impressionante.

Fomos andando até a cidade, porque era meio perto, apesar de ter um micro-ônibus que leva os turistas até lá... Era melhor para ver o castelo de longe, e para conhecer melhor as coisas... A construção é impressionante vista de longe porque ela é enorme... é uma das maiores construções da época na França se não me engano... Podemos andar gratuitamente por toda a cidadezinha, menos no castel... a gente visitou o caminho que o guia da Folha falava para visitar, e não nos arrependemos... A cidade é algo de bem pitoresco, daquele tipo que dá vontade de sentar em um restaurante e ficar aproveitando a vista e o tempo (que já estava menos frio no momento)... Bom, a gente fez isso algumas vezes (não em restaurantes, mas em banquinhos no sol mesmo), e ficou pensando: como a vida de bolsista é dura...

Queríamos visitar a catedral, mas ela estava fechada na hora do almoço... Ou seja, utilizamos esse tempo para almoçar e ficar conversando um pouco, já que quase tudo na França fecha na hora do almoço também... Continuamos andando até o castelo e entramos. Logo entramos em uma das visitas guiadas. A guia nos resumiu 23 séculos de história do lugar em 10 minutos, desde a ocupação da área antes de cristo, passando pela ocupação romana e galo-romana, até a ocupação pelos francos. A cidade uma época foi abandonada e foi utilizada como fonte de pedras para a construção de casas no resto da cidade, até que alguém teve a brilhante idéia de salva-la, e ela foi reformada no século XIX por Eugène Violet-le-Duc, a mesma pessoa que reformou a Notre-Dame de Paris, entre outros monumentos históricos (ele reformou até a catedral aqui de Toulouse também). A gente fez uma pequena visita ao pátio interior do castelo, onde ficava a lareira (sempre tinha uma... também, nessa porcaria de país frio), e depois subimos na muralha. De lá dava para se ver muito da cidade, que era de onde ficavam observando movimentos fora do castelo... A cidade tem duas muralhas, uma construída no século 3 e 4 (o começo, pelo menos) e a segunda, mais exterior, foi construída na época do rei Luís 9 (o Saint-Louis). Depois disso que ela foi abandonada, porque a cidade de Carcassonne não era mais na fronteira como tinha sido antigamente (a fronteira da França foi para onde a gente conhece hoje em dia, quando tiveram um tratado com a Espanha). Assim, perdendo sua função estratégica, a cidade foi esvaziando, até que reformassem a cidade e ela ganhasse essa função turística. Descobrimos que há varias festas na cidade, notadamente a de 14 de julho, quando há um grande show de fogos de artifício (há um vídeo para comprar lá mostrando uma dessas festas... é magnífico ver fogos saindo da cidade medieval, iluminando todas as construções) e uma festa da Madame Carcas (da qual vou falar daqui a pouco).

Depois desse pequeno passeio, a guia falou da lenda que contam sobre a história do nome da cidade. Contam que uma tal Madame Carcas era a chefe da cidade em algum momento. Em uma dada época, o imperador Charlesmagne resolve fazer um cerco na cidade, para conquistá-la, e esse cerco dura 5 anos. Depois desse tempo, claro, a cidade estava sem comida, mas a tal Madame resolve pegar um porco, alimenta-lo com o que restava de comida, e joga-lo no meio do exército que fazia o cerco. O imperador, vendo que a cidade ainda tinha tanta comida que podia alimentar um porco tão bem, levantou o cerco e foi embora. Aí, para comemorar, a mulher manda todo mundo tocar suas cornetas, e assim ficou o nome: ‘Madam Carcas sonne!’. Claro que a guia falou que era uma lenda, e que o imperador nunca chegou a ir a Carcassonne, e que a gente não devia contar que foi ela que nos disse a lenda... Fazer o que, já disse agora.

Depois disso entramos na catedral... Os vitrais são magníficos, e novamente fiquei lá sentado um pouco ouvindo a música (que sempre existe nas igrejas daqui), e observando os turistas passando... Ainda faltava visitar o castelo de novo, porque como entramos diretamente na visita guiada não tínhamos visitado a grande exposição sobre a reconstrução da cidade. Realmente, era muito grande, com vários documentos, desenhos absurdamente detalhados do arquiteto, e até um cd-rom que estava em computadores lá, com joguinhos, história, auxílios áudio-visuais... Havia um filminho também, que eu achei muito interessante. Ele mostrava cenas de filmes que tinham utilizado como cenário Carcassonne, e entre eles estava aquele filme do Robin Wood com o Kevin Costner (alguém se lembra?). Todas as cenas externas com castelo foram filmadas lá... Depois teve umas cenas que eles gravaram de um helicóptero, e a gente teve que subir em uma escadinha para ver a tela de cima (parecendo que a gente estava voando também). É um dos lugares que eu fui que tinha mais auxílio áudio-visual junto com o passeio, e um dos lugares que eu aprendi mais a história do lugar. O castelo é famoso por ter abrigado um dos centros da religião Cathar, que eram católicos que não aceitavam a autoridade do papa. Então foi criada uma cruzada para destruir os cátaros, e obviamente depois de muita luta eles conseguiram. A cidade em questão foi tomada em apenas 15 dias... Não adiantou muito ter duas muralhas, ser super protegida, porque na época do cerco a população do resto da cidade entrou pelas muralhas, multiplicando a população normal por 20, e assim todo mundo começou a passar fome (óbvio, não precisa ser matemático para saber isso). Lá também tem várias informações sobre essa religião, com livros, filmes etc.

A gente voltou até meio cedo, porque não havia mesmo muita coisa para ver além de lá... Pegamos um trem mais cedo do que tínhamos reservado, e ele estava bem cheio. Sentamos separados, e o trem tava parecendo um daqueles ônibus de muambeiro, com cachorros andando pelo corredor (!!), um cara que tinha saído da prisão (segundo ele) pedindo dinheiro (ou sorrisos para quem não tivesse dinheiro), crianças chorando, pessoas fedidas (mais comum ainda aqui na França)... Ainda bem que eu estava morrendo de sono e dormi a viagem toda... Foi cansativa, mas quando cheguei em casa foi só o tempo de preparar o meu resto de macarrão e cair na cama...

sexta-feira, setembro 14, 2001

Agora com internet no meu quarto eu vou tentar fazer atualizações normais aqui, uma por dia... Vamos ver quanto tempo isso vai durar (no máximo até a primeira viagem grande, ou até começarem as provas e trabalhos daqui...).

Dia 14/09/2001

Acordei meio tarde hoje, sem a mínima pretensão de ir para a faculdade.. Aproveitei o final da manhã para arrumar o meu plano de saúde daqui, e depois fui comer no restaurante universitário bem ruinzinho que existe lá no centro... Depois tive minha última aula de inglês dessa semana horrível... Até que hoje foi legal também, porque a gente teve que escrever reportagens e fazer um telejornal, falando tudo em inglês... isso tudo e mais uns exercícios bizarros em 4 horas... Até que o resultado final ficou bem engraçado, claro que com os franceses avacalhando tudo... Eles são piores que brasileiros em algumas horas, porque eles não têm o menor medo de fazer papelão, já que só tem homem na faculdade deles (e nossa por enquanto) porque é só faculdade de engenharia...

Depois à tarde houve a segunda apresentação do BDE aqui, e hoje foi sobre os vários clubes que existem... Têm clube de tudo, desde futebol e xadrez até RPG e animações japonesas, passando por cinema, lutas medievais, bicicleta, escaladas, rugby... É indecente a quantidade de coisas diferentes que existem aqui, e cada uma tem um grupinho fazendo... Eu acho que vou entrar no clube cozinha, que é um que a galera fica uma tarde (até a madrugada) fazendo todas as etapas de um grande jantar, pegando a receita na internet, e fazendo porcarias... Deve ser bem interessante... Os outros clubes eu não sei ainda se eu vou entrar... talvez eu entre no de cinema, porque aí eu fico vendo filmes lá na faculdade com todo mundo (sem precisar pagar o cinema porque eles têm um telão por lá), e talvez o grupo de nerds que toma conta da rede dos alunos na faculdade... Deve ser interessante ao menos para aprender como funcionam as coisas lá...

Estou já morrendo de sono, é hora de dormir, porque amanhã cedinho eu estarei partindo para Carcassone, que é uma cidade que fica bem pertinho de Toulouse, e que tem um castelo Cathare, que foi a primeira grande cisão de cristãos em relação à Igreja Católica Romana... Como é uma viagem pequena, eu amanhã já estou de volta...

quinta-feira, setembro 13, 2001

Dia 13/09/2001

Heh, hoje foi dia de aulas chatas de manhã, um almoço muito ruim (tive que comer legumes! Comi vagem e berinjela! Quase morri hoje), e uma aula de inglês bem interessante... Hoje foi uma americana que deu aula (a gente muda de professor todos os dias durante essa semana) e ela deu aula sobre música, com direito a karaokê e tudo. Primeiro a gente teve praticamente uma aula sobre músicos de jazz (desnecessário falar que a professora gosta muito disso...) e a gente teve um exercício em que cada um tinha o nome de um músico nas costas e que tínhamos que descobrir quem éramos somente com perguntas ‘sim ou não’... Bem divertido. Depois foi uma apresentação de quem cada um era, falando da sua ‘própria’ vida. No final, direito a karaokê... A gente pegou a música ‘Johnny B Good’ e teve que descobrir as letras, e depois criar coreografias, falar sobre a música, sobre o que ela fala, sobre o contexto na qual ela foi criada... E o pior foi cantá-la e ensinar o refrão aos outros alunos... Escrevemos em papéis o ‘Go’, ‘Johnny’, ‘B’ e ‘Good’, e levantávamos os cartazes enquanto cantávamos. O pior foi o último grupo que pegou a música ‘Hot Stuff’, e fez igual ao filme do ‘The Full Monty’... Eles começaram a tirar a roupa e foi aquela baixaria hehe. Foi realmente incrível (ainda mais com a câmera digital do club Photo daqui, que imortalizou os momentos...).

Depois houve uma apresentação do BDE (o Bureau des Elèves, que é como o diretório dos estudantes da faculdade), mas a gente não ficou muito tempo... Eu não entendia quase nada do que eles diziam, porque estava muito cheio e a galera não parava quieta, e ainda por cima estava um calor do inferno... Teve que rolar aquela volta de ônibus para casa para fazer comida e descansar um pouco, porque tinha soirée de noite... Acabei de voltar da soirée, e foi bem legal, principalmente porque é muito engraçado bater papo de bêbado (os outros, porque eu acabei nem bebendo porque eu já tava com sono e não queria dormir por lá) com pessoas em francês... Fiquei falando com um cara que a namorada tinha deixado há duas semanas, e com um outro que é ‘casado’ há 1 ano e meio (é... eles usam a mesma expressão aqui heh). O pessoal é muito doido dançando aqui, eles não têm a mínima vergonha. Tinha também os promoters (e as promoters) de festa como tem no Brasil, que ficam distribuindo brindes... Dessa vez eu ganhei um chaveiro da cerveja 1664... O mais legal foi eu enchendo o saco de uma dessas promoters, porque ela quando os únicos três brasileiros entraram ela falou ‘não são franceses não...’. Aí, eu que tinha entendido, fui lá falar com elas ‘realmente, nós somos brasileiros, por quê?’. A mulher ficou completamente sem reação e sem graça, e eu só fiquei rindo da cara dela... Esses franceses não têm muita noção não... E ainda por cima tinha um dos bêbados que tava falando que amava Argentina, que queria virar argentino quando pudesse, que queria morar lá... Foi falar logo para quem! Quase mandei o cara à merda...

Dia 12/09/2001

Chegada do pessoal do 1o ano de engenharia... Hoje além das aulas de Equações diferenciais parciais e de inglês (aprendi gramática hoje, eca!), a gente teve um pot do N7 (um cocktail), e depois teve uma festinha, com uns hotdogs que estavam sendo assados em uma churrasqueira lá... Foi interessante para treinar francês (os franceses mesmo falam um dialeto sinistro... Não dá para entender muita coisa se eles falam entre eles... é meio bizarro). Quando eles falam com a gente fica até fácil, porque a maioria fala mais devagar, e com palavras mais conhecidas... Quando começam a falar entre eles, vem um monte de gírias e de palavras truncadas... Os caras não têm noção do quanto é difícil... Há outros estrangeiros que já estão aqui há algum tempo, e nem eles entendem... Mesmo os franceses falam que se eles ouvem rap daqui em francês eles não entendem nada também... Que língua idiota heh. Há mesmo alguns que esquecem que a gente é estrangeiro e começa a falar rápido (ainda mais quando o cara está bêbado...). É necessário aí falar para o cara ‘doucement’, pra ver se ele se toca da realidade...

Dia 11/09/2001

Terça feira... Fui à primeira aula de verdade lá, e até que gostei... Eu acho até que entendi bem o que o professor falava, mas não sei muito bem se eu vou seguir essa matéria... Optimisation... Sei lá se isso é importante para alguma coisa... A segunda aula o professor não foi, e eu aproveitei para ir resolver o meu problema de conexão internet, e vim para casa fazer o meu almoço... Acho que fazer comida cansa muito, porque eu não agüentei voltar para a faculdade para a aula de inglês não (é a primeira semana, que eles dizem semana intensiva de inglês, que tem 4 horas de aula de inglês por dia...). Acordei, fui ao mercado comprar comida porque já estava em uma situação perigosa aqui, e quando voltei o pessoal me dá a ótima notícia de que o World Trade Center tinha sido destruído... A princípio não acreditei, mas quando fui à sala de televisão que eu vi que não era um Cadu (nome do indivíduo aqui que mente muito, e que deu origem à palavra)... Que jeito legal de acabar o dia! A gente ainda foi em uma festa aqui do lado, no ENSIACET (a escola de engenharia química). Como sempre, em uma escola de engenharia, há muito mais homens que mulheres, mas o que eu achei mais legal é que os franceses parecem ser muito animados, até mais que os brasileiros... Eles bebem muito também hehe. Eu voltei mais cedo para casa, porque eu não estava com muito saco de ficar lá recebendo quilos de fumaça de cigarro (como esses franceses fumam!). Cheguei obviamente no meu quarto cheirando a cigarro (como eu detesto isso), e acendi um incenso para ver se tirava o cheiro (não tirou).

Dia 10/09/2001

Cheguei com sono logo no primeiro dia de aula/reuniões... Eu cheguei mais cedo que o necessário porque a gente foi de carro e os outros participantes do carro tinham que chegar 8 da manhã... Aproveitei esse tempo extra para ver a situação do nosso curso de inglês, porque a gente ainda não tinha feito a prova para ver em qual grupo a gente está... E, por isso, cheguei atrasado na palestra do diretor do departamento (que mico eu entrar pela frente e todo mundo ficar me olhando chegar atrasado!), e descobri que o grupo é de apenas 80 pessoas, mais os estrangeiros (que são uns 10)... As aulas vão ser animadas... Almocei no bandejão da faculdade mesmo (que não era ruim!), e à tarde fui para a aula de inglês... O mais interessante foi isso, porque aí já comecei a conhecer o pessoal... Eu acabei escolhendo o grupo mais forte de inglês para ver como eu me saía, e acho que não fui tão ruim não... O pessoal sabe muito inglês também (tem até um que tem o pai inglês, e não sei porque ele está fazendo aula), mas tem os piorezinhos lá também... O legal foi conversar com o pessoal depois, que nos disse que há vários grupos de estudantes, tipo o club Photo, que é de pessoas que tomam conta de tirar fotos dos eventos do N7, e o club Cuisine, que são pessoas que pegam um dia na semana para ficar testando receitas... Há outros também, e vai haver uma palestra na quinta e na sexta sobre eles... Na volta para casa deu só tempo de comprar o aparelho telefônico que eu ainda não tinha, só para ver se a linha telefônica estava funcionando... felizmente estava.

Dia 09/09/2001

Dessa vez pelo menos eu acordei bem descansado, tendo dormido bastante e em uma cama... A gente tomou de novo o café e se despediu do albergue (dessa vez em definitivo), e foi direto para Mônaco, por onde já tínhamos passado ontem, mas que não vimos quase nada. Logo que chegamos na cidade, estacionamos o carro em um estacionamento que estava vazio (estranho) e fomos ao Jardin Exotique de Mônaco. Lá dentro visitamos umas grutas cheias de estalactites e estalagmites (foram 300 degraus para descer e subir de novo depois). Como eu cansei com isso hehehe. Depois de um tempinho olhando a paisagem, a gente começou a andar de novo para conhecer o resto do jardim... Na verdade, é um jardim exótico para eles, porque a maioria das plantas eu já tinha visto no Brasil... São cactos, espinheiros bizarros, coisas da África e da Oceania, mas que tem seus parentes no Brasil... A única coisa engraçada foi uma planta que dava frutos parecidos com uvas, e que na plaquinha tava dizendo que eles usavam mesmo na África para fazer bebidas fermentadas... Aí o Baiano e a Andréa resolvem comer a porcaria da fruta... Não deu 10 minutos a boca deles secou e começou a arder tudo... Foi muito engraçado ver o Baiano correr para o banheiro passando mal, e vendo que custava 2 francos para entrar nele melhorar rapidinho, e bebendo água desesperadamente para ver se a sensação passava... Pelo menos nada mais de ruim aconteceu, e ficou só nisso.

O mais legal foi chegar no carro e ver que havia uma porcaria de multa no carro... Tínhamos estacionado em um local proibido (por isso que não havia outros carros!). Na verdade, havia outros carros na mesma situação, mas acho que eles tinham chegado depois de termos levado a multa... A gente ficou um tempinho pensando no que iríamos fazer com a porcaria da multa quando de repente aparece o guarda, com aquela pose de fodão andando de óculos escuro. O cara era muito metido, e a gente logo começou falando que não sabia que era proibido, que a sinalização era ambígua, mas ele dizia que não, de uma maneira bem ríspida... Mesmo falando que éramos turistas ele não amolecia. Aí falamos que éramos brasileiros e o cara logo começa a falar da copa do mundo e de como o Brasil está ruim (acho que já ouvi essa história umas mil vezes já). Depois de tanto encher o saco, ele acabou por retirar a multa, não sem antes pegar o nome do Ivan inteiro, e tudo possível da carteira de identidade dele, porque era ele o condutor ‘oficial’ do carro.

Depois desse susto a gente foi conhecer o palácio do príncipe (que estava cheio de turistas porque estava acontecendo a troca da guarda) e a catedral da cidade (que além de bonita ainda tinha uma parte que pedia caridade das pessoas para ajudar as crianças abandonadas no Rio de Janeiro... isso no meio da catedral, com uma baita bandeira do Brasil). Eu comprei as duas moedinhas para acrescentar na minha coleção hehe. Depois fomos ao cassino de Monte Carlo, para brincar um pouco. Entramos lá no caça-níqueis, porque acho que a outra parte não poderíamos entrar assim tão facilmente... Foi muito legal, porque eu logo na primeira moeda de 1 franco que eu joguei eu ganhei 5... Na segunda eu já ganhei mais 5... Eu estava muito sortudo na hora. Comecei a ganhar varias moedas, e como eu tinha ganhado mesmo, eu dei uma moeda para cada um lá... Claro que eu logo comecei a perder também, mas por pouco tempo... Do nada eu ganhei 60 francos em uma máquina, e tive que utilizar os tradicionais copinhos para guardar tantas moedas... Gastei metade disso me divertindo lá, e o saldo final foi 3000% de ganho... Que pena que eu não gastei 1000 francos lá... Seria legal sair de lá com um carrinho hehe. Depois de sairmos do cassino, fizemos o percurso da corrida de fórmula 1, passando pelo famoso túnel, pela frente do cassino, e pelas curvinhas... Até ultrapassamos um Porshe no percurso (uhuuu!), mas era porque ele tava passeando mesmo.

Saindo de Mônaco, começamos a voltar para casa porque já estava ficando meio tarde... Tínhamos planos de ir para Avignon e para St-Tropez, mas tivemos que escolher... infelizmente escolhemos St-Tropez... Não sei o que passou pela nossa cabeça de ir a uma cidade tão famosa pelas suas praias logo em um domingo à tarde, quando todo mundo quer voltar para casa... Podem imaginar que pegamos um engarrafamento dos diabos... Era muito tarde já, e estávamos a muitos quilômetros de St-Tropez ainda, sendo que ainda teríamos que voltar no meio daquele transito para poder pegar uma estrada decente para casa... Resolvemos mudar de caminho no meio, e ir direto para casa... Pegamos uma das piores estradas já tomadas aqui na França, com mais curvinhas que um intestino, mas acabamos voltando bonitinho sem trânsito até um McDonalds (sempre salvando a galera). A volta até que foi sem muitos problemas, porque voltamos pelas auto-routes até em casa, e como viemos a uma média de 150 por hora, chegamos muito mais cedo do que imaginávamos (2 da manhã hehe...). Aliás, teve outra coisa bizarra... Chegando em Toulouse, do nada uma mulher se jogou na frente do nosso carro tentando faze-lo parar. A gente desvia o carro, e quando fomos perceber um cara tava correndo atrás da mulher, a agarrou e começou a bater nela... Como o cara parecia estar armado, a gente decidiu não fazer nada, mas a gente parou mais na frente sem saber como ajudar... Um outro carro parou lá junto com a gente lá... A gente tentou ligar para a polícia, mas a gente ainda não sabe o número aqui em Toulouse hehe. De repente chegou um táxi e pegou a mulher e a salvou... Pra quem achava que aqui não tinha dessas coisas...

Ainda chegamos em casa com o portão fechado para carros, e o deixamos para fora mesmo... Todo mundo morrendo de sono, ninguém tava muito preocupado com o carro mesmo heh.

Dia 08/09/2001

Acordei (na verdade nem dormi direito mesmo), e fui tomar o café da manhã de lá. Havia um brasileiro (um carioca, vejam só) no albergue também, e a gente bateu um papo (o cara vai ficar 2 meses e meio só viajando...). O café da manhã não tinha nada de interessante, mas um chocolate com leite quente de vez em quando não mata ninguém... Comi bastante, e saímos para conhecer a cidade. Fomos primeiro a um parque, que tem o museu Matisse. Como ele estava fechado, ficamos conhecendo o parque, que tem também algumas ruínas da ocupação romana da região... o museu é muito legal também, com bastante coisa de Matisse... De novo, não poderíamos tirar fotos das coisas, porque eram coleções particulares, e não tínhamos o direito mesmo se pagássemos taxa... Então tivemos que tirar escondido... foi até engraçado colocar alguém para ficar cuidando numa porta, eu tirando foto de um sofá e escondendo as câmeras embaixo da mochila, e tirando foto de fininho... Ainda bem que eles não olham nas câmeras de segurança na hora, senão ia ser muito engraçado... A gente saiu do museu e foi encontrar o Tavares e o Baiano que não quiseram entrar no museu, mas antes passou pelo monastério que era logo do lado... A gente não pôde entrar lá porque estava acontecendo uma série de casamentos (eu contei pelo menos três noivas lá... deve ser concorrido casar lá...) e a gente só ficou no pequeno jardim... Depois passamos pela catedral russa, que tem a arquitetura característica, e fomos para a praia...

Parando lá, nos separamos em dois grupos: eu e o Ivan queríamos conhecer a cidade, enquanto os outros queriam ficar só na praia porque estavam mais cansados... A gente visitou os pontos turísticos interessantes, subiu num castelinho no final da praia para pegar a melhor vista da praia que existe eu acho, e depois ficou andando por lá... Em Nice estava tendo a etapa mundial do Elite Model Look, e do nada a gente viu as bilhões de modelos do concurso andando pela praia, todas com aquela camiseta preta que é encontrada facilmente no Brasil em alguma mulher muito feia (elas nem eram feias, no caso). A gente também achou outros brasileiros, que faziam capoeira lá na praia e que estavam com loiras francesas... descobrimos que homem feio e pobre no Brasil faz sucesso com o pessoal por aqui hehe. Eu também queria ir para a praia, e então a gente acabou ficando uma horinha por lá... A água estava muito boa, azulzinha... O que estragava eram as pedras, que machucaram até não poder mais... O pior era sair da água no caso... O pessoal aqui também é meio estranho porque vão cheios de roupa para a praia, tira tudo lá (às vezes até troca de roupa lá com auxílio de toalha ou até mesmo quase sem auxílio) e depois coloca tudo de novo... É meio estranho...

A gente já tinha ligado para o albergue de Menton reservando lugar para ficarmos e para acordar mais perto de Mônaco e não perder tempo no dia seguinte... Para chegar no albergue foi pior que no dia que chegamos em Nice... Era uma subida imensa, que nunca acabava, e que terminava em um camping, que tinha um prédio com o albergue lá... Chegamos, e tivemos a agradável surpresa de saber que não teríamos lugar, porque tínhamos que ter chegado às 5 horas, e não às 7 horas como chegamos... Eles não reservavam quartos... Ficamos procurando durante uma hora um hotel em Menton, mas como não achamos acabamos voltando para Nice (só o Ivan ficou meio chateado, mas fazer o que...). Em Nice comemos 15 hambúrgueres (não sei porque todos os atendentes do McDonalds sempre ficam surpresos quando pedimos 15 hambúrgueres...) . Chegamos no albergue (de novo, uma porcaria para achá-lo...) e lá tivemos que falar com o simpático ‘seu Madruga’ (o cara era igualzinho), que estava bêbado e demorou um ano para nos atender... Sem problema, pelo menos tínhamos onde dormir, e estávamos de novo num quarto só para nós, apesar de a mulher ter falado no telefone que não havia um quarto para os cinco ficarem juntos...

Dia 07/09/2001

Bom, não posso dizer necessariamente que eu dormi bem, porque eu tive a idéia idiota de dormir de bruços com um saco de dormir, e minhas costas estavam me matando... Mas tudo bem, eu iria ficar tranqüilo atrás no carro (que não era bem tranqüilo, porque tinha 3 pessoas atrás e estava MUITO apertado). Partimos em direção de Cannes. Chegamos na cidade, estacionamos o carro, e fomos visitar o Palais des Festivals, que é onde acontece o festival de cinema. Já tinham tirado a faixa que falava sobre o festival, mas existe na frente uma quantidade enorme de mãos de artistas. Ficamos vendo uma por uma, e tirei fotos de todo mundo que eu conhecia lá hehe (câmera digital é pra gastar mesmo).

Próxima cidade: Antibes. Praticamente só fomos lá pela praia e pelo museu Picasso. A praia é muito boa (é a última com areia... depois de Antibes, todas as praias são com pedras), e ficamos lá um tempinho (depois, é claro, da farofada). Visitamos depois o Museu Picasso, que tem várias obras do artista (ele murou durante um ano lá se eu não me engano) e obras de amigos dele... São poucas (e desconhecidas para um cara sem cultura como eu) mas são bem interessantes... Tirei fotos de alguma (sem flash, porque sempre tem alguém para reclamar quando se usa flash em um museu com pinturas...).

Passamos por St-Paul-de-Vence, que eu sinceramente nem sabia que existia, e estava dormindo como chegamos lá... Só acordei quando chegamos na Fundação Maeght, que foi onde entramos. É um museu de arte, que é meio caro para entrar (que eu me lembre foi 50 francos para estudante), e que não se pode tirar foto a não ser que pague 15 francos extra... A gente no começo viu bonitinho as pinturas (havia pinturas de um tal de Kandisky, que eu nem sabia que existia também, mas que são bem legais... o mais bizarro é ver como o cara muda de estilo várias vezes durante a vida dele...), e fora da casa havia várias esculturas de Miró e outros... A gente não agüentou e começou a tirar fotos escondido... A gente estava se achando muito malandro, até ver que todo mundo que tirava foto lá também fez a mesma coisa... Acho que ninguém deve pagar essa taxa mesmo hehe.

Peguei o carro (todo mundo estava com sono, menos eu que tinha dormido no carro heh) e fomos para Vence, onde havia uma capela que foi parcialmente projetada e totalmente decorada por Matisse (um artista francês que é muito conhecido, mas o aculturado aqui não conhecia). Agora estou aprendendo as coisas. Obviamente, na hora que a gente foi, já estava muito tarde e a capela estava fechada. Por fora ela realmente não tinha nada de interessante... A gente andou um pouco no centro histórico também, mas não tinha nada de interessante... Aí a gente tirou algumas fotos malucas, pagando mico na frente de várias pessoas que jantavam tranqüilamente no centro... Tudo bem, a gente é brasileiro (normal) e nunca mais vai ver essas pessoas (ao menos espero que não... não agüentaria alguém chegar em mim e falar: “ah, foi vc que estava em Vence fazendo pose pra tirar fotos?”).

Chegando em Nice (que cidade grande, que merda), a gente sofreu para achar o albergue (que não era um albergue oficial... era muito mais longe do centro), e teve que passar por umas ruazinhas que ninguém acredita que leva a algum lugar... Ficamos um bom tempo na rua... Quando finalmente achamos (depois de eu deixar morrer o carro umas 50 vezes nas subidas), descobrimos que o albergue era muito bom, e que ficamos os 5 em camas (estava vazio até o albergue...). A porcaria do lugar fechava 11 horas, então nos arrumamos rápido e saímos para comer algo rápido e voltar... Achamos uns lugares fechados, e o lugar mais perto que estava aberto vendia umas pizzas quadradas (geladas), que o cara pegava com a mão (e também mexia no dinheiro, sem lavar. Aliás, aproveitando que estou num parênteses, QUE NOJO!). Era uma porcaria a pizza, mas eu estava com muita fome... Logo, coloquei para dentro ajudado por uma coca-cola (que sempre dissolve tudo). Até teve gente que comeu duas pizzas! (fome mata, mas acho que aquela pizza também). Voltamos para o albergue, e quando eu fui tentar falar com o pessoal no telefone (lembra Vanessa?) eu não conseguia, porque tava meio ruim... Aí acabei ficando na fila várias vezes, e eu e o Tavares ficamos conversando com um americano maluco (Sam) que estava por lá ferrado porque tinha comprado o Europass errado e estava tentando trocar (o cara ainda não fala francês... ta muito ruim mesmo). De repente, chegam duas alemãs (isso era mais de meia-noite... lembrem-se que o albergue fechava às 11). O americano teve que ajudar as duas patas a pular o portão... Todo mundo acabou ficando lá até 2 horas conversando e bebendo vinho (eu até nem bebi, porque tinha pouco... preferi ficar passando frio lá fora... e que frio!).

Dia 06/09/2001

Dormimos muito pouco, para variar... Acordamos meio quebrados (dormir no chão, mesmo com saco de dormir e o isolante que serve de colchão não é uma das melhores experiências...) e pegamos o carro. Nem tomamos café porque não queríamos deixar o pessoal de Aix acordado, já que eles não tinham que acordar tão cedo... Partimos em direção aos gorges do Verdon, que são os canyons do rio de mesmo nome. No caminho paramos para tirar fotos de uma cidade que se chama Moustiers, que é uma cidade pela qual passou o rei da França depois que ele retornou das Cruzadas e colocou uma corrente entre duas montanhas que ficam na cidade, com uma estrela no meio. Obviamente a corrente desde aquela época já foi destruída e recolocada várias vezes, e estava lá dessa vez. Há uma pequena igreja lá, e um mosteiro que fica láaaa em cima. E óbvio que quisemos subir aquilo tudo, e andamos muito, quase morri. Era muito alto o negócio... Mas valeu a pena, demos umas voltinhas nas montanhas. Lá em cima a igreja era estilo romano, ou seja, com pouca luz, com os arcos redondos... Vou acabar mudando para arquitetura se der mole quando voltar para o Brasil. A gente desceu e tentou ligar para hotéis e albergues porque a gente ainda não tinha lugar para ficar... Saímos de lá do mesmo jeito, sem lugar para ficar ainda...

Andamos por estradinhas horríveis, cheias de curvas, com abismos gigantescos do lado (eu dirigindo, no caso), mas valeu pela vista. Durante toda a viagem o sol esteve presente, e ajudou bastante... A vista do rio e do lago lá de cima, daquela água azulzinha e das árvores nos canyons... Era uma coisa incrível. No meio do caminho o Ivan falou para pegar uma estrada menor ainda, que iria costeando mais os canyons, e a gente entrou nela. A estrada era realmente ruim, me deixando meio nervoso porque quando vinha carro eu tinha que ficar muito perto da ponta, mas foi bem tranqüilo até que chegamos em um ponto onde não podíamos mais seguir! Isso mesmo! Eles conseguiram deixar a gente andar quilômetros nessa estradinha horrível sem avisar que no meio do caminho a estrada virava sentido único... A gente teve que voltar por onde viemos, e voltar para a estrada principal para seguir viagem... A última vista dos gorges do Verdon foi em um lugar chamado Point Sublime, que tem uma vista bonitinha, mas nada como a visão do lago azul... Quase bati em um carro na saída do estacionamento, porque estava um caos para dar ré com um monte de gente passando, mas foi a coisa mais perigosa que aconteceu praticamente...

Chegamos em Frejus, que era a cidade onde queríamos dormir a primeira noite. Fomos direto a um hotel chamado Formule 1, que é um muito barato que tem pela França toda, mas que quase sempre está lotado (justamente por ser barato...). Quando chegamos lá o cara da recepção falou que estava tudo lotado, e que os outros Formule 1 da região estavam piores ainda. Com aquela cara de derrotados, voltamos para o carro para buscar o guia de albergues, e quando voltamos o cara acabou dizendo que tinha um quarto para 3 pessoas (que era o que a gente tinha pedido). Pegamos o quarto, sem falar para o cara que éramos cinco... Ficamos preocupados até com como a gente colocaria todo mundo dentro do carro, mas acabamos deixando para depois... Resolvemos antes visitar a cidade, e Saint-Raphael, que é ligada em Frejus. Fomos primeiro à praia, que era uma praia de areia comum, mas a água era muito azul... Como já estava meio frio, resolvemos nem nos molhar muito... Ficamos um pouco lá sentados conversando, e depois fomos para o carro fazer a farofada tradicional que consiste em comer nossos pães com queijo e salame, que são o nosso jantar... Realmente, não estamos muito bem. Visitamos também o centro histórico de Frejus, que tem coisas do século I, como por exemplo um anfiteatro, e tem igrejas e casas bem antigas. No centro, ainda por cima, tinha um quarteto de jazz muito legal tocando, e tinha uma grande audiência (da quarta idade... acho que a média de idade da galera lá passava de 100).

Voltamos para o nosso hotel, passando antes por um Carrefour para comprar comida (algumas frutas e suco de laranja), e entramos os cinco, sem ninguém perceber (não havia ninguém na recepção), em um quarto para três. Eu, como sempre sou sortudo, tive que dormir no meu saco de dormir no chão... Mas tudo bem, eu já havia dirigido muito esse dia e provavelmente não iria dirigir o dia seguinte mesmo... Os banheiros desse hotel são no corredor (é muito barato, tinha que ser), e são tipo de banheiros pré-fabricados (parecia que eu estava em um avião). Me queimei várias vezes no chuveiro porque quando alguém puxava a descarga no banheiro do lado a água fria parava e só ficava água quente (que era REALMENTE quente).

Dia 05/09/2001

Acordamos bem cedo para chegar bem cedinho tanto no banco (meu caso), quanto no lugar para alugar o carro (o resto do grupo). Nenhum dos dois grupos se deu bem. A OTU, que é uma agência de viagens que tem preços muito bons para estudantes estava fechada, e o banco, apesar de aberto, não me ajudou muito porque a mulher com os meus papéis não trabalha na quarta-feira (mais um exemplo de como os franceses adoram trabalhar!). Assim, fiquei andando sozinho até abrir a porcaria da agência de viagens e encontrar os outros para gastar dinheiro... Alugamos por 5 dias um Peugeout 206 a diesel, e iríamos pegar à tarde o carro. Depois saímos à procura de sacos de dormir e coisas do estilo (comprei um saco de dormir bem pequeno e um isolante térmico). Foi meio caro, mas vale a pena pro resto do ano também...

Rapidamente fomos para casa, e fizemos comida... E claro, aconteceu como da outra vez. Fiquei todo arrumado, mas o carro demorou anos para chegar (o Ivan, que foi buscá-lo, se perdeu várias vezes até chegar aqui...). Eu tinha ficado responsável de reservar os albergues ou hotéis, mas não adiantou muito... Não tinha lugar nenhum em nenhum hotel, e os albergues estavam lotados... Como tem gente que não tem o que fazer!!! (incluindo os bolsistas brasileiros). Saímos só cerca de 6 da tarde, e fomos quase que diretamente à Aix (paramos apenas em Bezier para tirar uma foto em cima de uma ponte... muito bonita a paisagem). Chegamos lá muuito tarde, e encontramos todo mundo fazendo reunião porque eles tavam querendo sair da residência... Realmente, eles estavam certos, porque eles estão no mesmo esquema que estávamos em La Rochelle, com um quarto pequeno, apenas com uma pia (o resto é todo comunitário), e muito mais velho e sujo que a nossa residência antiga... E ainda por cima disseram que lá tem violência, roubos etc... Acabei por achar que estou em um castelo aqui em Toulouse. Apenas três estavam em uma situação melhor, que era um quarto um pouco maior, no mesmo esquema, mas bem mais limpinho, e num prédio mais arrumado... Nós ficamos nesses quartos óbvio. O mais sinistro é que os dois que estão com namorada morando com eles lá estão justamente nos piores quartos... Eles tão indo para apartamentos a partir dessa semana, pagando muito mais caro, mas depois de ver tudo aquilo lá eu achei que valeria a pena... Dormimos por lá mesmo para sair bem cedo no dia seguinte...

Dia 04/09/2001

Hoje foi o grande dia: era a reunião com os nossos tutores lá no N7, para que pudéssemos saber quais matérias a gente iria cursar, e quando começariam as aulas, coisas do estilo. Saímos quase todos de manhã, já com os papéis necessários para abrir a conta do banco (menos 1500 francos no meu bolso, e ainda falta dar o calção! Mas agora tinha o atestado de residência). Chegamos ao BNP, que é onde estávamos tentando abrir a conta (tem muitas agencias pela França toda), e o máximo que conseguimos foi deixar os nossos documentos lá para voltar depois da reunião com os professores para terminar de abrir a conta.. Comemos na hora do almoço uma refeição tradicional (baguete com presunto), e fomos lá à nossa faculdade. Ela é um pouco longe do centro, mas mesmo assim fomos andando para conhecer o percurso a pé... Depois a gente dá um jeito de ir mais rapidamente.

A cara da faculdade, a um primeiro momento, é bem interessante. Ela parece pequena, mas como estavam me explicando depois, é porque ela está construída do lado de prédios históricos, e que não podem ser mexidos... De qualquer maneira, está de bom tamanho. O professor Noilles (que é um dos meus professores, e é o tutor geral dos brasileiros aqui) nos levou à sala de reuniões através de caminhos que até agora não sei como repetir, e lá recebemos suco, água, ou seja, o tratamento vip de sempre. Foram chegando um a um os tutores (o meu chegou atrasado...). Todos eles foram apresentando cada departamento (aqui eles dividiram os departamentos de engenharia, e não se pode fazer matéria de outro departamento uma vez que você está dentro de um). Assim, foi ali a chance de mudar caso quisesse fazer matérias de outro lugar... Eu resolvi não mudar, porque o departamento de Informatique me parecia o mais a ver com o que eu quero fazer da vida... Os outros departamentos de engenharia elétrica são muito mais hardware (e provavelmente mais difíceis também). Além do mais, os nerds como eu estão sempre ligados à informatique... O único problema de estar aqui na França é que a sala estava cheirando muito mal... Acho que nenhum dos professores toma banho, e uma sala fechada com vários deles não é a melhor coisa que pode acontecer em uma terça à tarde... (nenhum outro dia aliás). Depois da apresentação dos vários departamentos (eu até gostei do de Telecom e Redes, mas eu não vou mudar de curso só porque eu gostei de algumas matérias), a gente (eu e a Maira) foi levado à sala de nosso tutor, que se chama Alain Ayache, e lá recebemos uma lista das matérias do segundo ano de engenharia (aqui nas grandes ecoles de engenharia, o curso é de 3 anos...), que seria o que iríamos cursar.. Fiquei muito tentado a fazer o 3o ano de engenharia aqui, mas o problema é que a CAPES não deixa eu fazer um estágio de mais de 3 meses, não sei muito bem porque... Eu bem que queria fazer um estágio de 6 meses, e ganhar bastante dinheiro, abrindo contatos aqui do outro lado... Mas tudo bem, eu me contento com o pequeno estágio depois... Eu não sei muito bem ainda quais as matérias que eu vou escolher, mas com certeza eu vou ter muita coisa para fazer se eu começar que nem um maluco pegando as matérias que parecem interessantes... Acho que vou seguir o resto dos alunos, e pegar apenas algumas das matérias...

Como eu obviamente não consegui sair a tempo, eu fui o único da turma que deixou os papéis no banco que não abriu a conta no dia... Assim, eu estava indo para casa tranqüilamente quando passo de novo na frente da France Telecom e resolvo colocar o telefone de uma vez por todas. A mulher dessa vez foi bem mais simpática quando eu e o Rodrigo falamos que éramos brasileiros, e assim a gente conseguiu abrir... A instalação (na verdade é só ligar a linha) do telefone aqui dura só dois dias, e assim na quinta feira provavelmente (segundo a mulher, no caso), ela estará funcionando normalmente. Ainda falta, claro, comprar o aparelho de telefone, mas a gente acabou deixando para depois, porque a linha não estaria funcionando mesmo...

À noite rolou a reunião da galera para saber se iríamos viajar ou não para a Cote d’Azur. Decidimos que sim, e que iríamos partir amanhã à tarde (grande preparação, não?). Só ficaria faltando alugar o carro, reservar os lugares para ficar, e comprar comida e saco de dormir (isso porque a gente vai dormir em Aix en Provence, que é onde está um grupo de brasileiros, e fica no meio do caminho...).

Dia 03/09/2001

Hoje acordamos cedo para tentar abrir a conta no banco... Na verdade de manhã não conseguimos nem entrar em um banco. Entramos em uma loja que vende tudo para casa, e vimos que tinha muito mais variedade que onde tínhamos comprado grande parte de nossas coisas, mas era mais caro... Só notei que quando tiver meu apartamento de verdade, eu vou gastar tanto... Só quero ver hehe. Na verdade, só entramos lá para ver ferro de passar roupa, escorredor de prato, fornos elétricos e fornos de micro-ondas... Essas coisas que custam caro, mas que a gente não havia achado na loja, e que fazem a maior falta para algumas coisas... Acho que vou ter que gastar um dinheiro e comprar um forninho para mim... Nem que seja dividindo com mais alguém. O problema é que não tem ninguém nos quartos adjacentes. Acho que eles separaram mesmo os brasileiros para que eles não fizessem muito barulho heh.

À tarde fomos ao CROUS para receber a bolsa, e para conversar mais com a mulher que cuida da gente para requisitar mais informações. Descobrimos que tem bilhões de coisas a fazer ainda, e que talvez a gente não possa viajar nesse fim de semana (de novo!). De qualquer forma, a gente ainda não tem notícias do pessoal da faculdade, com quem vamos falar apenas amanhã... Depois de pegar a grana firme, a gente bateu na porta de vários bancos, mas todos eles disseram que para abrir conta não era suficiente o papel de atestado de bolsa, e sim precisavam de um papel da residência dizendo que a gente estava em dia... Não entendo isso. Agora vou ter que pagar o dobro do aluguel (somando com o caution) e só vou receber metade desse dinheiro na hora que estou indo embora... Só que eu queria dar um cheque, para que eles não descontassem... Só que não vou poder fazer isso porque para receber o cheque eu preciso abrir a conta, que precisa de um papel dizendo que eu paguei já a residência... Que diabos!

Fui tentar também pegar uma linha telefônica para o meu quarto... Não consegui, obviamente, porque parece uma fila de distribuição de dinheiro a France Telecom. E ainda por cima não tinha ninguém para me dar umas pequenas informações... Só me jogaram um papel e disseram para eu ir preenchendo.. Não gostei nada do tratamento, e saí, pensando em voltar de manhã bem cedo só para poder chegar à loja e ela estar mais vazia (ao menos eu espero...). Na volta a gente passou no mercado, e eu de novo comprei mais do que eu podia carregar... E ainda por cima minha mochila já estava cheia... Assim, fiquei andando e parando várias vezes porque meu braço começava a doer muito... Mas comprei também várias besteiras, água mineral, pão, queijo, manteiga... Tou bem agora... heh.

Dia 02/09/2001

Primeiro domingo em Toulouse. Resolvemos ontem ir hoje de manhã ao marché que se situa lá no centro, e que na verdade é uma feira... Dizem que é a feira mais barata da França (pelo menos é a propaganda da feira...). Não é tão barata assim, mas a qualidade dos produtos é algo de impressionar mesmo. As frutas e os legumes estavam realmente com uma cara boa (ahhhh! Estou virando gay! Achando fruta e legume com cara boa! E ainda por cima indo a feira!! Acho que vou me matar!! Aahhhhhh). Comprei limão, alho, cebola, frango, bilhões de coisas... Já tinha comprado legumes e saladinhas no mercado ontem, e aí completei minha geladeira com mais um monte de coisas... Tinha até limão verde lá (não comprei, ainda, porque não tenho açúcar para fazer a limonada). Na verdade eu não tinha nem sal, mas emprestei. Chegando em casa eu fiz um peito de frango assado no azeite de oliva extra virgem, mas fez uma bagunça! O óleo saltava para todos os lados (eu não tenho tampa de frigideira), e na outra panela eu fiz um arroz misturado com cebola cortadinha... ficou muito bom até. Ainda por cima fiz a minha saladinha de agrião e tomate.. Daqui a pouco vou comprar um livro de receitas em francês só para ficar aprendendo a cozinhar hehe. As coisas que eu tou fazendo ainda são muito simples, mas vão ficar mais elaboradas com o tempo...

Eu e o Ivan saímos à tarde para dar uma olhada nas redondezas e ver se tinha algo aberto no domingo, que é o dia que ninguém trabalha aqui (e segunda, e sábado... ninguém trabalha nesse país não...). Havia algumas boulangeries e um mercadinho abertos apenas... Comprei finalmente o meu sal, para não ficar enchendo o saco dos outros. Chegando em casa, encontrei os outros, junto com o brasileiro que tá aqui (André o nome dele) e a francesa, dizendo que iam abrir a sala de internet da faculdade. Me deram também a ótima (ou péssima) notícia de que os apartamentos do outro batiment estavam com internet no quarto... e eu obviamente estou no batiment 1. Todos quiseram mudar obviamente, mas não da para mudar de uma hora para outra lá... De qualquer maneira a gente foi para a sala de internet... Lá tem alguns computadores só (6), que estão ligados por ADSL com a France Telecom (exatamente o que eu queria colocar aqui...). Descobri também que o batiment 8 está cheio (droga!), mas que a internet lá ainda é um projeto (viva!), e assim não preciso me preocupar... Fiquei conversando com o cara que toma conta da sala, e ele me deu umas boas dicas... Talvez eu nem coloque muita coisa aqui não... O que eu quero realmente é um sistema de caixinhas de som ninjas para colocar aqui, porque as caixinhas dessa porcaria não dão conta... De qualquer forma, deu para se comunicar com o pessoal (em especial com a Vanessa!!! :))). Meus pais ainda não aprenderam pelo jeito a entrar no icq, mas o Guilherme sabe... quando eu tiver conexão no meu quarto, acho que vou falar com ele e tal...

Dia 01/09/2001

Começa mais um dia no meu quarto. Acordei cedo para arrumar as minhas coisas nos armários... Fiquei umas boas 3 horas colocando tudo no lugar, e no final até que ficou um resultado satisfatório... Estou me sentindo em casa agora. Estava tão cansado que dormi... só que eu havia esquecido a porcaria da porta aberta, e a galera me acordou entrando no meu quarto, perguntando se eu não ia ligar para a mulher do CROUS para irmos comprar coisas (ela tinha se oferecido no dia anterior para nos ajudar). Eu liguei, e marcamos à tarde com ela lá na praça central da cidade, que é a praça do Capitole (onde tínhamos ido ao McDonalds). Obviamente, com 9 brasileiros (o Coruja novamente resolve ficar de fora fazendo macarrão...) não poderia dar outra: chegamos bem atrasados. E com fome. Comemos na porcaria de lugar de novo porque acharíamos que ia ser mais rápido, mas o conceito de fast food na França é diferente do conceito dos Estados Unidos. Eu não procurei ainda no dicionário francês-português, mas acho que a palavra slow em francês quer dizer lento. Eu nunca vi serem tão lerdos naquele lugar... E ainda por cima sem higiene, porque pegaram nos meus hambúrgueres com a mão sem luvinha (como sempre). Como dizia a minha professora de francês, eles acham que o pão é divino por aqui, e não sofre de ataques de micróbios como os outros alimentos...

Passada a fase alimentícia, chegou a fase de gastar dinheiro: fomos a uma loja que tem de tudo: panelas, vassouras, pratos, talheres etc, e compramos bilhares de coisas lá... Gastei cerca de 1000 francos só com coisas para casa, em duas viagens. Na segunda viagem ainda passei no Casino, que é um supermercado que está bem mais perto da nossa residência, para comprar alguma coisa para fazer de noite (não agüento mais McDonalds! Aaaarghhh!). Comprei mais 200 francos e cacetada só de comida... Mas também fiz um super arroz com pedaços de frango e cebola (esses dois últimos faziam parte de uma refeição pronta que eu fiz em banho-maria... que falta faz um micro-ondas). Acho que vou pegar o jeito da cozinha... De noite todos quiseram sair, mas ninguém chegou realmente a fazer alguma coisa: acabamos ficando no quarto do Oto, tomando vinho (eu particularmente não tomei dessa vez) e ouvindo música (levei meu notebook e ficou tocando vários mp3...).

Dia 31/08/2001

Grande dia da viagem... Acordei hoje de manhã muito cedo para colocar as últimas coisas dentro da mala... Matei os últimos queijos e salames que eu tinha lá (alguns foram pro lixo, coitados), e desci com as malas (com a porcaria de elevador). Como elas tão pesadas! Vou ainda sofrer muito com isso durante essa viagem... A gente pegou um táxi que tínhamos chamado ontem, e mesmo eu avisando o cara que a gente ia ter muita bagagem o cara ficou surpreso com a quantidade de malas que duas pessoas poderiam levar... De qualquer maneira coube tudo no carro, e a gente veio sem problemas para a Gare. O problema obviamente vai ser o trem, que às vezes pode não ter espaço para todas aquelas malas, e tem sempre o esquema de que o trem não espera, e portanto a gente tem que jogar tudo pra dentro do trem e depois arruma... No final deu tudo certo porque o Fabiano ficou no mesmo vagão que eu e me deu uma mãozinha para colocar aquelas malas todas dentro do vagão... E tem lugar para caramba também... Então não precisamos nos preocupar ainda. Estou no momento dentro do trem que está indo para Bordeaux, onde a gente vai trocar de trem (em 20 minutos) para pegar um que vai para Toulouse... É essa parte que está me deixando com receio, porque não é fácil tirar malas de um trem para colocar em um outro, e o trem parte mesmo se a gente ainda estiver colocando as coisas! Eles têm um horário a cumprir, e danem-se os brasileiros burros que trouxeram muita coisa!

Bom, mudar as malas de um trem para outro foi meio traumático, mas deu tudo certo... Todos tinham muita coisa, mas eu e o meu amigo que estávamos separados do resto do grupo conseguimos carregar rapidinho as malas de um lugar para outro, descendo e subindo escadas com todo aquele peso (achava que eu não ia agüentar...). Conseguimos completar a operação em 15 minutos, que depois do atraso do primeiro trem seria o tempo exato para fazer a troca... só que o trem de Bordeaux-Toulouse demorou mais 15 minutos para sair... Ou seja, daria tempo para levar mala por mala, sem pressa... Fazer o que, a gente não sabia mesmo... No final ficamos em um vagão mais vazio ainda, e peguei quatro bancos que ficavam um de frente para o outro, e assim eu pude deitar muito bem...

Na chegada a Toulouse, três pessoas do CROUS (organismo que cuida dos estudantes aqui) estavam a nossa espera. Eles nos ajudaram a carregar as malas até o ônibus (na verdade só um, porque as outras duas mulheres não conseguiam carregar aquelas malas bizarramente pesadas...). Ainda por cima o ônibus estava muito longe da gare... A gente sofreu um bocado novamente... Colocado tudo no ônibus, fomos almoçar... não sabia que haviam preparado uma recepção como aquela... Até o diretor do CROUS de Toulouse estava lá para nos recepcionar e nos mostrar o drink local, que é chamado kirr. É uma mistura de vinho branco com licor de cassis, ou de framboesa... Bebemos muito (havia vinho branco e tinto da região), e comemos bastante (havia salmão, Roquefort, outros tipos de queijo, frango, e outras coisas) e ainda tinha sobremesa (saladas de frutas e uns tipos de tortas, todas devidamente provadas). O único que não participou da mamata foi o Coruja, que resolveu pegar outro trem só para poder trazer a bicicleta... Na verdade ele perdeu muita coisa, mas malandramente ele tinha deixado as duas malas dele com o grupo, e então a gente acabou carregando tudo dele... Ele também teve sua dose de sofrimento, mas eu carreguei muito mais que minhas malas...

Depois dessa primeira impressão muito boa, fomos ao escritório deles para assinar uma papelada, e saber que a bolsa iria chegar na segunda feira já... (iupiii). Lá que pegamos os papéis para as residências, e fomos separados em dois grupos: os que iam para o INSA, e que iam ter uma residência própria da faculdade, e a gente que vai para o INP, e que vai para a residência Daniel Faucher. Logo depois de arrumar toda a papelada, fomos trazidos para cá, onde fomos colocados todos em studettes equipadas com cozinha e banheiro próprios. O apartamento não é muito grande, mas é bem aconchegante... É muito bom saber que é uma coisa só nossa, e qualquer coisa que você suja é você que tem que limpar, mas pelo menos foi você que sujou... Daqui a pouco vou começar a achar que vai ser difícil morar com mais alguém de novo hehe (só estou falando isso porque é o começo provavelmente... em alguns meses vou estar cansado de ficar fazendo limpeza, lavar minha roupa, fazer comida... é a vida). O único problema que eu achei foi morar no 4o andar e não ter elevador.. E para levar todas as minhas malas para cima? Eu quase morri! Acho que vou ter que começar a malhar seriamente por aqui... Ainda bem que é obrigatória a educação física na faculdade.

Logo que começamos a arrumar as coisas, encontramos um brasileiro que mora aqui há um ano, acompanhado de uma francesa amiga dele, e que conheciam os brasileiros do programa do ano passado... Isso foi de uma grande ajuda, porque eles já nos falaram de como é a residência e a cidade, e nos levaram à noite para comer uns hambúrgueres no tradicional McDonalds, e nos mostraram o caminho para o centro da cidade... Voltamos até cedo, porque estávamos todos cansados de ficar carregando malas...

Dia 30/08/2001

Dia de arrumar as malas... Ainda tive aula de manhã, mas a tarde foi reservada para cortar o cabelo (caro! 76 francos com redução para estudante, mas ficou muito bom!) e comprar postais (ainda não tinha nenhum de La Rochelle!). Aproveitei para comprar uma capinha para a minha máquina (que já está toda arranhada e machucada por não ter uma ... snif). Voltamos, e eu aproveitei para mandar pela última vez as fotos aqui, e fiquei arrumando malas... Até que foi rápido no final, porque eu nem tinha desarrumado uma delas... Se bem que colocar as roupas não foi o mais difícil, mas arrumar as bugigangas... Na verdade, não sei como apareceu tanta coisa, e minha mala de ternos teve que virar minha terceira mala... Acabei ficando com 5 volumes mesmo, fazer o que... Vou me ferrar depois para carregar isso tudo.

À noite foi a última refeição de macarrão e a hora de abrir todos os vinhos... até porque não da para ficar levando garrafa de um lado para o outro... maior dor de cabeça hehe. Assim, a gente teve (é, teve sim! Tá rindo por quê?) que beber muito vinho... mas nem foi tanto quanto ontem... E foi só vinho bom, aqueles 3 litros que sobraram vão ser abandonados em La Rochelle, e boa sorte para a pessoa que achar aquilo. Acabei nem saindo porque eu já estava com sono acumulado da noite passada, e ainda por cima vinho dá um sono... Eu iria dormir 20 minutos para depois sair, mas na hora que eu acordei eu só consegui andar 2 minutos indo para o centro e voltei... No caminho eu joguei uma carta para o Brasil, mas eu coloquei no buraco errado (sono é foda). Espero que eles percebam isso e essa carta chegue no Brasil direitinho, porque se voltar para a residência em La Rochelle ela vai estar perdida para sempre.

Dia 29/08/2001

Mais um dia inútil... Acho que quando a gente está sozinho aqui (isto é, sem estrangeiros) acaba que a cidade fica meio morta... O máximo que acontece é um pequeno passeio no centro, e depois a gente faz o jantar... Hoje foi o último dia que a gente teve aula à tarde também... Eu ainda por cima apresentei meu trabalho sobre a catedral de La Rochelle. Foi até uma boa apresentação, e só nessas horas que a gente vê que falta muito vocabulário.Como todo brasileiro, a gente não preparou nada de especial para a apresentação, e usou o texto que tínhamos feito em casa para apresentar... Nada de mal, porque a gente pelo menos tinha feito alguma coisa de verdade... Teve a galera que nem ir no lugar foi, e inventou várias coisas... Mas como era para aprender francês, e na para realmente para saber do lugar, eu acho que o objetivo final foi atingido...

À noite foi o começo da matança da comida/bebida que tínhamos estocado... Eu tava com um barrilzinho de 5 litros de vinho (até que não é ruim! Afinal, é um vinho francês, mesmo sendo sangue de boi! Hah). A gente acabou bebendo uns dois litros (eu e mais umas 3 pessoas, sendo que eu bebi sozinho um litro) e saímos pela última vez pela cidade... Foi até engraçado, porque fomos em um bar, onde eu fiquei lá dançando, e os outros ficaram lá enchendo o saco de uma garota francesa.... Eles ficavam olhando direto pra ela, e ela ficou tão incomodada que foi falar com eles para ver o que estava acontecendo... Eu só fiquei rindo lá atrás..

Dia 28/08/2001

Terça feira... Houve uma visita hoje ao departamento de engenharia civil aqui em La Rochelle, mas não rolou de eu ir... Eu estava um pouco cansado demais, e ainda por cima tinha que começar os preparativos da viagem para Toulouse. Comprar coisas, arrumar malas, lavar roupas... tudo da muito trabalho... E também o assunto da visita não é tão legal assim pra mim, e ai eu preferi ficar na internet um pouquinho e passear no centro depois... Ainda comi mais macarrão (acho que vou comer isso até a hora de viajar, só para acabar com os quilos de macarrão e molho que eu tinha estocado no meu quarto...) À noite, para variar, nem vontade de sair... Preferi ficar em casa mesmo, mas pelo menos rolou uma social na cozinha e eu não fiquei sozinho...

Dia 27/08/2001

O dia seguinte da viagem foi praticamente ver as fotos, arrumar tudo, e dormir... dormi pouquíssimo durante a noite...

Dia 26/08/2001

Segundo dia de viagem para o noroeste da França. Acordamos bem cedo, para tomar o café da manhã. Eu até agora não entendi como o café da manhã do albergue em Tours era tão bom, porque o albergue de lá só tinha duas arvorezinhas, e os dois que ficamos nessa viagem tinham quatro... Mas o café da manhã em Tours foi muito bom, com tudo à vontade, bastante escolha... Os dois outros cafés foram uma porcaria, com doses limitadas de pão e sucrilhos, sem muita escolha do que se quer comer... Até sem suco de laranja... E ainda por cima paguei mais caro. Só que o cara que cuidava do café da manhã era um cara que deveria ter sido da marinha (o prédio é um antigo prédio da marinha) e o cara devia ser carregador de barcos, porque os braços do cara eram maiores que meu tronco... E ainda por cima falava um dialeto de francês que eu tenho até medo de ouvir... Por isso, peguei o meu queijinho que sobrou e fiz a festa... Mesmo assim, ainda fiquei com fome.

Passeamos por Cherbourg um pouco. Há também um porto de lazer, como existe aqui em La Rochelle, mas na verdade o porto de lá também é utilizado pelos ferrys que vão da França para a Inglaterra e para a Irlanda... E ainda tem a Marinha que utiliza uma parte do porto. A cidade foi o primeiro porto tomado pelos aliados depois do dia D, para que eles pudessem descarregar os armamentos... Há também uma praça Napoleão, e museus do dia D. Na verdade, o passeio foi mais para conhecer a cidade mesmo, e foi até pequeno, porque saímos de lá direto para conhecer as praias da invasão dos aliados, e alguns museus...

A primeira parada é a Ste Mere Eglise, que foi o local onde a 101st brigada de pára-quedistas dos aliados saltou. Se alguém se lembra, foi exatamente a brigada do soldado Ryan, no filme... Aliás, várias coisas do filme eu pude ver ao vivo, e isso é muito legal! Ali na verdade há um museu que fala disso, e a igreja tem um pára-quedista lá no teto para homenagear os soldados... Não entramos no museu porque havia vários outros que poderíamos visitar...

A praia que parece que tinha mais estrutura é a Utah Beach, que foi uma das praias na qual os americanos desceram. Lá há vários monumentos homenageando os soldados que morreram na entrada, há os tradicionais anti-tanques e um marco dizendo que foi ali que desceram os soldados americanos primeiro, no dia 6 de junho de 1944, às 6 e meia da manhã... Há também um pequeno museu... A praia em si não tem mais nada, mas é legal assim mesmo andar lá por cima, sabendo que cenas horríveis aconteceram ali...

No caminho para outra praia, há La Pointe du Hoc, que é um lugar onde os alemães foram destruídos pelos rangers americanos... Até hoje estão ali os bunkers destruídos pelas bombas (há buracos enormes lá), e podemos entrar em alguns deles... Em um dos maiores buracos a gente tirou uma foto deitado lá dentro, fingindo de morto... Ainda bem que passou um grupo que parecia ser de americanos, e eles só ficaram rindo... imagine se fosse um grupo de alemães... era capaz de a gente ficar lá morto mesmo...

A Omaha Beach não tinha nada demais. Pelo menos a gente não conseguiu ver nada, porque também a gente passou muito rápido, talvez pela fome que a gente estava... Pelo menos aproveitamos o momento para almoçar (os sandubas de 3 dias de idade), e tiramos só uma foto de uma tralha que estava na praia e que achamos que fosse alguma relíquia da guerra... pode até não ser, quem sabe!

O cemitério americano em Colleville sur Mer é impressionante. Esse pedaço de terra foi doado pela França ao governo americano (ou seja, entrei nos EUA sem visto!! Haha) para servir de cemitério... Há mais de 9 mil cruzes lá, perfeitamente alinhadas, um monumento com um cara em posição gay (alguém poderia me explicar que diabos o artista estava pensando quando ele fez aquela estátua?) e uma capela muito bonitinha também... Parece que foi ali que foi filmada a cena inicial e a final do Saving Private Ryan... É meio sinistro ficar andando no meio de um cemitério assim tirando fotos, mas é bem interessante...

Passamos por Bayeux, que é uma cidade onde parece que existe um dos museus mais interessantes sobre o dia D. Antes de irmos lá, passamos pela notre-dame de lá (mais uma!), que é uma das mais bonitas que eu já vi até agora porque ela está muito bem conservada... Não sei se ela foi reformada depois da guerra, porque como vimos depois no museu, todas as cidades daquela região foram detonadas ou pelos alemães (menos) ou pelos aliados (a maioria delas). Bayeux foi a primeira cidade a ser liberada pelos aliados, e por isso a sua importância. O museu em si era muito interessante, com um filme que passava imagens da época e tudo... O único problema é que chegamos muito tarde, e assim tivemos que fazer a visita super hiper flash, para que pudéssemos ver pelo menos tudo, sem ler as coisas praticamente... Lá havia roupas, utensílios (até creme de barbear e rações!) e outras coisas da guerra... E claro, muitas armas e tanques e coisas do estilo... Como a galera inventa coisa para matar! É impressionante a variedade...

E, finalmente, fomos à uma das baterias dos alemães que sobreviveram ao ataque dos aliados e ainda estão em ótimo estado. Obviamente tiramos as fotos que a gente estava dentro do canhão, e o Daniel até subiu em um dos canhões... O que eu fui tava cheio de água, e tive que ficar segurando lá em cima para não me molhar todo...

Depois de uma viagem super cansativa de volta, porque eram 350 quilômetros (ou mais até!), chegamos quase 3 da manhã aqui... Eu dirigi uma boa parte do caminho de volta, porque eu sentia que eu estava sendo inútil... Com certeza era a pessoa que mais dormia no carro... Alias, o carro foi um show à parte. Ele fez quase 20 quilômetros por litro com diesel, que é 2 francos mais barato (5 francos por litro mais ou menos) que a gasolina... O problema é que geralmente não podemos escolher qual vai ser o carro, e então temos que ir meio na sorte mesmo...

Dia 25/08/2001

Primeiro dia de viagem para o noroeste da França: Acordamos olhando pela janela a tradicional neblina do norte da França...Pensamos que seria um tempo horrível para sair e conhecer a cidade, mas logo ela se dissipou e o sol apareceu (e que sol!). Rennes é uma cidade bem bonitinha, com suas casas antigas (as que não foram destruídas na segunda guerra), as igrejas e os jardins... Na hora do almoço resolvemos comer um crepe-suzete (sei la como se escreve isso agora), que é a comida tradicional da região. Ele geralmente é flambado com um álcool, e o mais gostoso é o grand-manier (sei lá também como se escreve!). Quando joga o álcool em cima do crepe fica aparecendo um monte de foguinho (é até divertido), mas descobrimos que tirar foto disso não é tão interessante: não aparece nada do fogo praticamente... Assim, ficamos apenas com fotos mostrando nossa cara de bobo olhando para crepes perfeitamente normais. Tava muuuito bom, ainda mais com a cidra que a garçonete nos recomendou (ainda tomamos cidra no copo de água, porque o ‘copo’ de cidra é uma caneca... mais um mico para o Brasil! Hah). Logo depois saímos da cidade, porque também não havia tanto assim para ver.

Fomos direto para o Monte Saint-Michel, que fica mais ao norte. Esse monte é interessante por vários fatores: primeiro, que é uma abadia construída em cima de um monte, que tem água (e areia quando a maré está baixa) por todos os lados praticamente. Só tem uma pontezinha que não fica submersa na maré alta. Assim, fica um cenário impressionante (tanto que a moeda de 20 francos tem uma imagem desse monte). Outra coisa importante é que é um ponte estratégico que sempre foi disputado entre a Bretanha e a Normandia (sendo que agora é dessa última, porque o rio que separa os dois departamentos passa exatamente do lado do monte Saint-Michel). Terceiro porque tem uma verdadeira cidadezinha dentro (sendo que a maioria das casas que eu vi é loja, mas devem existir casas normais mais para dentro da ilha). Subimos diretamente para a abadia (diretamente não, porque a gente parava a cada lojinha para ver coisas para comprar... tinha umas espadas ninjas lá, que não tinham nada a ver com o lugar, mas que eram muito legais... tinha espadas medievais e até armaduras para comprar... impressionante levar uma armadura dentro da mala hein!). Os museus que existem na cidadezinha são extremamente caros pelo que eles oferecem (o cara disse que em 1 hora a gente vê os 4 museus... acho que não valeria à pena então...) e por isso a gente só entrou na abadia mesmo. Havia vários tipos de visita, sendo que escolhemos a que durava só uma hora... a que durava 2 horas devia ser muito chata, dado que a de 1 hora já era bem completa... Havia no mesmo horário duas visitas guiadas: a em francês e a em inglês. Claro que como ótimos estudantes de francês a gente escolheu essa língua e tal, mas quando chegamos lá o guia era uma coisa meio lerda... meio sonolento demais... enquanto que o guia que estava falando inglês parecia ser um doido, com um cabelo loiro espetado, e falando alto pra caramba cheio de gestos (tem uma definição para isso geralmente: gay. Mas como não sou preconceituoso mesmo...).O cara tinha uma apresentação muito mais dinâmica (e engraçada), porque ele tinha a atenção de americanos (na maioria) e de várias outras nacionalidades (incluindo a gente do Brasil! O cara do francês era muito lerdo). Ele foi nos contando toda a história da abadia, que foi construída lá devido a um sonho de um padre, que teve a cabeça furada (hum??) pelo dedo de fogo do arcanjo Michel... assim, eles construíram um templo para homenagear o arcanjo... Destruíram e reconstruíram uma porrada de vezes, até chegar na forma que está hoje. Ela foi reformada há pouco tempo (a estátua recoberta com ouro foi recolocada em 1989, com uma operação usando um helicóptero). O guia nos mostrou os detalhes da arquitetura (como sempre há uma parte que é romana e outra gótica). Há também o jardim onde os monges faziam sua meditação, e o refeitório, que é onde o pessoal comia (óbvio) e ouvia textos lidos durante as refeições (não tão óbvio assim). Para demonstrar a acústica da sala, o guia maluco conseguiu falar umas palavras de latim cantando bem alto (sendo que antes ele gritou pra galera dos outros grupos se calarem)... Eu nem ri tanto assim... só todo mundo ficou olhando pra mim de tanto que eu gargalhava da cena ridícula. Havia várias outras partes embaixo da igreja principal, que tinham sido destruídas bastante já (só sobrou um pedaço de um afresco na parede... como sempre a porcaria da revolução francesa. Tou começando a achar que essa revolução não foi tão boa assim não...). Uma época o monte foi utilizado como prisão, e então há várias coisas que foram adaptadas para esse fim... Uma delas é uma roda gigante, que servia como uma ‘roda de hamster’ para trazer comida através da janela. No final demos uma voltinha de novo para tirar novas fotos, e sempre tinha pessoas estragando as fotos que queríamos tirar no local onde os monges meditavam... Criancinhas chatas que dava vontade de jogar lá de cima... Mas no final tudo ficou bem.

Só paramos novamente em Cherbourg, que é uma cidade portuária que fica no norte da Normandia, que é onde havia um albergue muito bom (a mesma história das quatro arvorezinhas). Só que não sabíamos que era TÃO bom. Tinha até cartãozinho magnético para cada uma das pessoas ao invés de chaves... Tudo limpinho, novinho (foi inaugurado em 98)... Muito bom. O jantar foi o tradicional macarrão, feito em uma cozinha que um bando de italianos tinha deixado sujo... Tem horas que um macarrão é a melhor comida do mundo. Ainda por cima comi macarrão com um queijo Gouda que eu tinha trazido, e que tinha praticamente virado queijo derretido dentro da minha mochila com aquele calor todo... Pelo que eu sei, o queijo ainda estava bom...