terça-feira, fevereiro 19, 2002

Dia 20/01/2002

Mais uma viagem começa. Mais duas semanas de viagem... O trem chegou sem problemas na gare Montparnasse (TGV é muito legal, aliás...). Como eu não conseguia entrar em contato com o Xicaum, que era quem iria me hospedar durante esses dias em Paris, e eu também não queria perder o domingo indo pra casa dele deixar as minhas coisas para depois voltar, fui à consigne da estação e deixei minhas mochilas... Ajudou bastante porque eu tinha uma tarde para fazer coisas.

Primeira parada: cemitério Père Lachaise. A Vanessa estava me enchendo há uns 6 meses dizendo que quando eu fosse para Paris eu deveria ir lá e tirar fotos dos túmulos para ela. Sim amor, apesar de esse ser um pedido meio mórbido eu fui fazer isso para você, ta? Só não fui é pegar terra do túmulo do Jim Morrison porque isso é contra os meus princípios...

O cemitério é até legal, apesar de ser um cemitério. Acho que só tinha turista por lá, porque todo mundo estava com seu mapa... Eu acabei não comprando um porque eu tinha o guia visual da França que tinha um mapa meia-boca do cemitério (só fui descobrir depois que era muito ruim). Comecei a andar fazendo um caminho mínimo passando pelos túmulos famosos. Achá-los revelou-se uma tarefa muito mais difícil do que eu imaginava. O do Chopin por exemplo eu tou até agora procurando. Eu imaginava que eles estariam mais destacados, mas os túmulos são normais. Pensando bem agora eu não sei porque eu imaginava que ia ter luzes piscando e setas para os túmulos mais importantes em um cemitério... Tá certo que são pessoas famosas mas não deixa de ser um cemitério por causa disso... O do Jim Morrison foi mais fácil porque tinha um monte de gente olhando e tirando fotos, e ainda por cima tinha uma guarda do lado para não deixar ninguém roubar pedaços do túmulo nem começar a cavar (viu amor? ;)). Depois fui ver os túmulos do Molière e do La Fontaine (esses já estavam mais destacados, com uma grade em volta...) e finalmente do Oscar Wilde. Esse está todo coberto de marcas de batom dos seus admiradores (e realmente eles não devem sair quando tentam limpar... São milhares...). Na volta passei no túmulo do Allan Kardec (o criador do espiritismo, cujo túmulo era bem legal), onde tinha uma galera olhando e discutindo religião (até fiquei um pouco ouvindo hehe). Depois fui procurar o Yves Montand mas realmente não achei... Tinha a Edith Piaf mas era do outro lado do cemitério e eu já tava com preguiça de andar (e frio), e os outros não eram tão famosos assim para que me fizessem passar mais tempo ainda por lá procurando por eles...

Como a linha de metrô que passava pelo cemitério passava também por Montmartre eu resolvi matar isso também. Acho que eu era uma das únicas pessoas do programa que não tinha ido lá ainda. No meio do caminho consegui perder a minha última touca... Só tinha agora um chapéu de lã que o meu pai me mandou do Brasil mas que era quente demais... Fiquei passando frio na orelha mesmo. Montmartre é realmente um bairro muito bonito, com a Sacre-Coeur lá em cima e uma vista da cidade muito legal. Tanto que essa vista já foi retratada por Picasso em alguns de seus quadros.... O bairro aliás era no passado um lugar onde os artistas ficavam... Existem várias galerias de arte por lá (e lojas de souvenirs também hehe). A igreja é muito legal por fora, mas a parte interna não tem muita coisa não... Fiquei andando um pouco pelo bairro até acontecer uma coisa que eu adoro: pisei em um elemento sinistro gosmento. É impressionante a quantidade de cachorros nessa França. Eu só não mato alguns na rua porque eu gosto de animais o suficiente pra segurar esse meu impulso...

Obviamente a visita de Montmartre estava terminada. Desci para pegar o metrô meio sem saber para onde eu estava andando e acabei chegando em uma rua principal. Quando finalmente achei o buraco pra descer eu dei uma olhada no mapa e descobri que estava perto do Moulin Rouge (na mesma rua). Claro que como eu não tinha nada para fazer eu fui andando até lá. A rua tem uma das maiores concentrações de casas de putaria que eu já vi. Sex shops, casas de aluguel e compra de vídeos pornôs, cabines para ver mulheres ao vivo ou vídeos, strip teases... tinha também uns lugares de Kebab e umas farmácias que pareciam meio fora de lugar, mas o resto era só pornografia mesmo. Perto do Moulin Rouge fui quase arrastado para dentro por uma mulher que queria porque queria que eu pagasse 10 euros para ficar vendo mulheres peladas dançando. Não que isso não seja uma proposta tentadora, mas eu tinha coisas mais importantes para fazer ali. Depois podem até me perguntar o que pode ser mais importante que ver mulheres peladas... Convenhamos...

Tirei uma foto do Moulin Rouge e quase caí pra trás quando descobri que para entrar eu teria que pagar de 60 e poucos euros (o mais barato) a cento e poucos euros (com direito a meio litro de champagne enquanto você vê os shows...). Acho que não é o meu estilo de passatempo.

Saí correndo para a estação porque a princípio os ônibus terminariam às 8 e 45 e eu não conseguiria chegar com muita folga na estação de trem da casa do meu amigo... De qualquer forma eu não tinha conseguido falar com ele ainda e eu chegaria lá meio no escuro. Claro que outras coisas ainda podem dar errado. No metrô e no RER (o trem interno de superfície) foi tudo tranqüilo, mas no domingo o ônibus que eu deveria pegar não funcionava... Muito legal isso. Liguei desesperadamente para alguém que sabia chegar lá e descobri que não era tão difícil. O único problema era passar por um cemitério. À noite. Sozinho. Com mochilas que não me deixavam correr. Legal isso não?

Eu não tinha muito o que fazer mesmo a não ser comer. Passei no McDonalds (sempre o salvador), comi uma promoção gigante e fui andando. Claro que eu não encontrei de primeira o Xicaum. Fiquei lá esperando uns minutos e comecei a gastar créditos do meu celular para descobrir alguém mais na residência. Não encontrei ninguém. Fiquei sentado um bom tempo até que eu ouvi dois caras falando português e finalmente entrei no quarto do meu amigo... Foi praticamente chegar, tomar um banho, fazer uma social (afinal o cara não me conhecia tão bem... é a hospitalidade CAPES) e ir dormir... Os dias seguintes seriam reservados a turismo puro.