domingo, fevereiro 17, 2002

Dia 12/01/2002

Bom, eu tinha que fazer isso pelo menos uma vez aqui na Europa... Eu me inscrevi em uma journée de ski organizada pela faculdade. Eles tinham dito que seria só para avançados, mas como vários dos brasileiros se inscreveram eu resolvi fazer o mesmo... Eu sempre quis testar minha habilidade no ski... Acordamos muito cedo, já que o ônibus ia sair umas 6 e pouco lá da faculdade para poder aproveitar bem o dia... Todos os brasileiros foram juntos e lá encontramos o alemão Joachim, que iria também. Como ele já tinha uns 6 anos de experiência com ski ele iria nos ajudar. Ele ficou até como nosso professor durante o dia todo, avisando isso para o cara que estava organizando...

A estação que fomos é nos Pirineusm e se chama Peyragudes. Até chegar lá eu não tinha visto neve em nenhuma montanha. Achei até que a gente não iria encontrar neve na estação... Mas tinha bastante (ainda bem!). Fomos direto alugar os equipamentos...

Logo aí já começaram as situações ridículas. Eu fui pegar as botas de ski, mas como eu nunca tinha colocado uma eu não sabia se ela deveria ser apertada, ou meio solta... Não sabia nem fechar direito. Belezam essa parte ultrapassada, tinha os skis... Eu não sabia carregar os skis, e quase batia na cabeça dos outros (igual filme) quando eu me virava. Fui lá fora, coloquei as duas botas (ô dificuldade), e estava pronto para partir. Aliás, pronto nada, tive que tirar uma bota de novo para regular os skis. Como eu ia saber que tinha que regular os skis??

Tá. Agora eu estava pronto. Fomos para a neve, e eu coloquei os skis. Aliás, sofri para colocar os skis. Era mais difícil do que parecia, porque eu não conseguia colocar o segundo pé depois que eu já estava com o primeiro em um ski... Ficava escorregando.

Tá, agora eu estou mesmo pronto. Claro q não! Todo mundo tinha trazido a mochila (não sei por que) e eu tive que ir levar a minha pro ônibus.

Sim! Agora eu comecei a esquiar. Na verdade eu fui meio q deslizando ajudado pelos bastões até o elevador, quase que não consigo parar para esperar a cadeirinha passar... Subi na cadeira e fui até lá em cima. Nisso eu já me enrolei com os skis... Quando se chega lá em cima tem que dar um pulo e já começar a esquiar descendo por uma pequena elevação e chegar em uma parte meio plano. Preciso dizer que eu já caí? Acho que não. Eu fui esquiando meio agachado e pra parar eu caí de lado. Que dificuldade de me levantar! Com aqueles pés aumentados alguns metros pelo ski fica praticamente impossível. Acabei tirando meu ski e levantando normalmente. Coloquei ele de volta... O cara que estava responsável pela gente (um cara mais velho, que estava junto com o Joachim tentando ensinar alguma coisa) começou a mostrar como fazer para andar deslizando com o ski. Parecia fácil vendo ele fazer. É como patinar, só que com os skis... Mas eu nunca tinha patinado, e acabou sendo meio ridículo. Claro, os outros não estavam muito melhor. Uma hora eu consegui cair porque eu cruzei os skis só deslizando, e consegui até que um dos skis saísse do meu pé... Muito figura. Depois eu tinha que subir em um pequeno monte para tentar descer um pouquinho, mas não conseguia subir, nem mesmo andando de lado. Era uma cena muito babaca.

Não sei por que (acho q foi porque o cara já estava cansado de ficar com a gente), o professor manda a gente começar a descer. Tá, eu achava que seria tranqüilo. Eu cairia, mas a pista era para iniciantes e não seria tão ruim. Só que não era bem assim. A pista tinha curvas, e era muito mais íngreme do que eu pensava... O começo era até fácil, só que como eu não sabia como fazer para virar eu simplesmente caí. Foi uma queda meio feia, mas nada de mal aconteceu. A Maira que veio logo atrás levou um tombo tão feio que os skis dela já voaram, e foi o primeiro tombo! Bom, fazer curvas não era comigo e toda vez que eu tinha que fazer curva eu caía. Aliás, toda vez que eu tinha que fazer alguma coisa eu caía. Virar é muito difícil. Além de tudo eu tinha a mania de ficar curvado pra trás com medo de cair de cara, e aí eu caía de bunda mesmo. A pista tinha uma parte que para mim parecia ser uma queda de 90 graus. Claro que depois eu percebi que não era tão ruim assim. Mas aquela história de ir esquiando com os skis abertos atrás para ir mais devagar funcionava muito pouco comigo, principalmente quando eu conseguia cruzar as pontas dos skis. Claro que eu caía nessa hora. Aliás, eu tou tentando lembrar de algum momento que eu não caía. Para piorar a história a neve tava meio dura nessa parte e quando caía não tinha jeito de parar não... Eram uns 50 metros deslizando de bunda. A parte final da descida era mais tranqüila, mas aí já era hora de parar porque estava chegando no barzinho... Que falta de responsabilidade colocar um barzinho no final da pista... Quem disse que eu consigo parar antes de chegar na cadeira do pessoal? Qual a solução? Cair.

Era meio ridículo ficar vendo criancinhas de 3 anos de idade esquiando melhor que eu, mas eu não tinha muita opção. Depois de tanto esforço eu sentei um pouco para descansar, já que eu não conseguia me mexer direito, quanto mais colocar os skis de novo para poder subir. Mas inevitavelmente eu subi de novo (eu não ia ficar sentado o dia inteiro mesmo...). Nas outras vezes que eu desci não foi tão ruim. Eu caía menos, sim, mas caía mais feio porque ia pegando confiança, indo um pouco mais rápido, e aí doía mais a queda... O que me deixa mais com raiva é que eu caí todas as vezes que saí do teleférico, menos a última... Depois era uma beleza... Quedas e mais quedas, principalmente quando eu não conseguia virar (eu sou tão bom nisso que eu conseguia virar pra esquerda mas pra direita não ia de jeito nenhum...).

Bom, a queda mais legal foi quando eu tava indo rápido o suficiente, estava em pé por um bom tempo e encontrei pela minha frente um montinho de neve. Não preciso dizer que fui eu de cara na neve, comendo gelo... Minha toca voou longe, meu óculos de sol também e meus skis eu nem sei pra que lado eles foram. Só sei que os dois saíram do meu pé. Acho que a queda foi tão bonita que duas pessoas pararam, sendo que uma garota ainda foi buscar meus skis porque tava eu perdido no meio da pista sem skis, com todo mundo descendo e passando do meu lado. Agora... colocá-los no meio da pista não é fácil... Eu tentei , tentei mas finalmente desisti e desci a pé mesmo, carregando tudo no meu ombro. Foi uma cena meio ridícula...

Os outros brasileiros tiveram seus problemas também. Há, é claro, os que foram um pouco melhor... Mas o Tavares, que pegou snowboard, não conseguia ficar em pé, a namorada dele desceu uma vez só, e a Maíra consegui descer de lado na pista porque estava com medo de meter as caras...

Depois de mais de 50 quedas, muitas das quais bem interessantes (como eu queria que tivessem filmado isso...), chegamos ao final do dia. Eu até que não estava molhado, mesmo depois de cada quieta eu ficar completamente coberto de neve e ter neve entrando por baixo do meu casaco... Ainda bem que eu consegui emprestar de um alemão amigo nosso uma calça pra isso... O pessoal que usou calça jeans para esquiar estava “meio” molhado...

Tirar aquela bota de andar na Lua e colocar minha bota normal foi um prazer enorme... Parecia que eu estava flutuando. Aquela coisa pra esquiar parece que foi feita justamente para que eu não conseguisse mexer meu tornozelo. Agradeço muito aos criadores dessa bota. Aliás meu tornozelo agradece. Já meu joelho pede uma criação parecida pra ele...

Hora de ir embora. Pegamos o ônibus e chegamos sãos e salvos em Toulouse. Meio quebrado, eu diria, mas ainda conseguia andar (com dificuldade, claro).

Saldo da journée de ski:
- Nenhum osso quebrado (ainda bem).
- Braços doendo (de tanto ter que levantar de lado com os skis depois das quedas).
- Traseiro doendo (vocês não tem noção do quanto a neve é dura).
- Joelho praticamente destruído (toda vez que eu caía um ski ia pra um lado e o outro ia para uma direção diametralmente oposta... Não sei como ainda tenho pernas ligadas no meu corpo).